sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Alfarrábios do Melo

DE COUTINHO A JESUS

Esta é a lista de treinadores que conseguiram emplacar ao menos um ano de trabalho ao longo de quase 50 anos de história do Flamengo.

Doze nomes. Boa semana a todos.

Claudio Coutinho (1978 – 1980), 28 meses

Após retornar da Copa do Mundo, reassume o comando do Flamengo, dando continuidade ao processo de montagem iniciado dois anos antes. Intensificando a fórmula de mesclar a talentosa base com jogadores veteranos, faz o time evoluir rapidamente, conquistando um Tricampeonato Estadual e um Brasileiro. Desgastado com a perda do Tetra Estadual, sai antes do auge de uma equipe que conquista o mundo.

2.    Paulo Cesar Carpegiani (1981 - 1983), 20 meses

Com as experiências mal-sucedidas de Modesto Bria e Dino Sani, assume, em caráter interino, poucas semanas após pendurar as chuteiras como jogador. Resgata o legado de Coutinho e consegue fazer a equipe se reencontrar com o bom futebol que parecia perdido. O resultado é espetacular, e em pouco tempo o Flamengo se torna o detentor de todos os títulos possíveis em uma temporada. Mas sua relação com o elenco se deteriora com o tempo e, após as perdas do Estadual e da Libertadores em 1982, torna-se fortemente contestado. Sem conseguir motivar o time, pede demissão no início do Brasileiro 1983, irritado com críticas e vaias.

3.    Sebastião Lazaroni (1985 – 1987), 18 meses

Assume como interino após a demissão de Joubert, e, de maneira um tanto forçada (excesso de lesões), dá início a um forte processo de reformulação no plantel, com intenso uso de jogadores da base e uma filosofia de jogo mais coletivo e intenso. Seu auge se dá com a conquista do Estadual 1986, mas a perda do Brasileiro e os atritos com alguns veteranos minam seu trabalho, que termina após uma sequência ruim no começo da Taça Guanabara 1987.

4.    Carlinhos (1991 - 1993), 18 meses

Chega para acalmar o ambiente, após a controversa passagem de Vanderlei Luxemburgo. Com alguns acertos pontuais, atinge o ponto de equilíbrio de um time que mescla com perfeição a presença de jogadores experientes e a exuberante base campeã da Copa SP de 1990, tudo sob a liderança do experiente Júnior. É campeão Estadual e Brasileiro, mas a saída de jogadores importantes e a troca de comando da Diretoria após as eleições presidenciais lhe fazem perder prestígio. Acaba saindo após o mau início na Libertadores.

5.    Vanderlei Luxemburgo (2010 – 2012), 15 meses

Assume como “bombeiro”, para salvar o time da real ameaça do rebaixamento, num dos anos mais tumultuados da história do clube. A duras penas, consegue evitar o desastre. No ano seguinte, com um elenco consideravelmente superior (comandado pelo astro Ronaldinho Gaúcho), emplaca o Estadual invicto e chega a disputar o título brasileiro na primeira metade da competição. Mas problemas estruturais corroem o trabalho, e no início de 2012 entra em rota de colisão com vários jogadores. Sem respaldo, acaba perdendo o emprego, em desfecho semelhante ao que ocorrera em 1995, com Romário.

6.     Zagalo (1984 – 1985), 14 meses

A traumática eliminação do Brasileiro custa a cabeça de Claudio Garcia. Experiente, Zagalo assume um elenco fortíssimo, com a proposta de simplificar o esquema de jogo, tornando-o ainda mais competitivo, e fazer um ou outro ajuste. Mas, apesar de manter o time como protagonista, fracassa na Libertadores e no Estadual. No ano seguinte, começa a renovar o time, mas a vexaminosa eliminação do Brasileiro, mesmo com Zico de volta, significa o fim. A passagem sem títulos se revela fatal para os planos de retorno à Seleção Brasileira.

7.     Ney Franco (2006 – 2007), 14 meses

Chama a atenção à frente do modesto Ipatinga, eliminado pelo próprio Flamengo das Semifinais da Copa do Brasil (após passar por Botafogo e Santos) de forma dramática. Chega para o lugar de Waldemar Lemos, demitido por “problemas internos” e se sai muito bem na fogueira da Final da Copa do Brasil, ganhando o título contra o Vasco. É marcado pela indicação de vários jogadores com quem trabalhara no Ipatinga (a jocosamente denominada “República do Pão de Queijo”). Termina de forma digna o Brasileiro, mas a eliminação precoce da Libertadores 2007 acentua a já crescente onda de críticas. Conquista, sem brilho, o Estadual, mas o desastroso início do Brasileiro é fatal. Seu principal legado é a introdução do esquema de “alas”, que seria aprimorado pelo sucessor, Joel Santana, e sua “Tropa de Elite”.

8.     Zé Ricardo (2016 – 2017), 14 meses

Recomendado pelo título da Copa SP, é içado ao comando do time principal após os problemas de saúde de Muricy Ramalho. Implementa um esquema simples, de fácil execução, e em poucos jogos organiza o time, o que o antecessor não conseguira em quase um semestre. De forma surpreendente, chega a disputar o Brasileiro, o que ergue seu prestígio às alturas. No ano seguinte, tenta (sem sucesso) arejar a forma de jogar do time, mas, apesar da conquista invicta do Estadual, é ferido de morte com a eliminação na Primeira Fase da Libertadores. Não consegue lidar com a lesão do principal jogador do time, Diego, e com a péssima fase de alguns jogadores, que hesita em barrar, o que gera muita reclamação da torcida, que contesta seus critérios de escalação. Cai na última rodada do primeiro turno do Brasileiro, após oscilar por toda a competição.

9.    Claudio Coutinho (1976 – 1977), 12 meses

Profissional conceituado, com experiência em outros clubes como preparador físico e supervisor, chega ao Flamengo com a missão de iniciar um trabalho a longo prazo, com ênfase no aproveitamento dos jogadores da base. Logo consegue trazer protagonismo ao time, que, após dois anos, volta a disputar o título do Estadual. No final de 1977, licencia-se para assumir a Seleção Brasileira para o preparo e a disputa da Copa do Mundo, dando lugar a Jayme Valente.

      Zagallo (2000 – 2001), 12 meses

Experiente, é tido como o nome ideal para lidar com um elenco cheio de medalhões, e buscar o tri estadual no ano seguinte. O cartão de visitas é exuberante, um 4-0 no Vasco logo na estreia. No ano seguinte, apesar dos graves problemas enfrentados (elenco desunido, salários atrasados, falta de estrutura), consegue mobilizar os jogadores para a conquista, de forma espetacular, do almejado Tricampeonato. Na esteira, emplaca a Copa dos Campeões, que dá vaga para a Libertadores. Contudo, a realidade se mostra cruel no Brasileiro e o Velho Lobo não consegue tirar uma equipe desmotivada da Zona do Rebaixamento. Ironicamente, o time voa na Copa Mercosul. Mas Zagallo acaba demitido nas rodadas finais do Brasileiro, quando o rebaixamento parece iminente.

      Jorge Jesus (2019 – 2020), 12 meses

O português se interessa em trabalhar no Brasil, e passa a assistir a alguns jogos, dizendo-se receptivo a propostas. As conversas com outros clubes não evoluem, e Jorge Jesus acaba no Flamengo, em lugar do contestado Abel Braga. Após início instável, Jesus consegue equilibrar um time repleto de jogadores de primeira linha e transforma o Flamengo em uma verdadeira máquina de jogar futebol. O resultado é a mais devastadora sequência de títulos desde a Era Zico. Pouco depois de renovar o contrato (num processo atribulado), aceita proposta do Benfica-POR e deixa o clube, amealhando a inacreditável marca de ter juntado mais troféus que derrotas.

      Joel Santana (1996), 11 meses

Não chega a passar 12 meses no cargo, mas integra a lista por ter comandado o Flamengo por uma temporada completa. Chega em 1996 credenciado pela ótima temporada à frente de um limitado Fluminense e pela conhecida boa relação com Romário. Joel consegue manter sob controle o difícil e estrelado plantel rubro-negro e, em resposta à decepção do Centenário, crava a conquista do Estadual, de forma invicta. Em todo o primeiro semestre, registra apenas uma derrota, o que faz do time candidato ao Brasileiro. No entanto, o já usual entra e sai de jogadores da época força a remontagem do time, que, mesmo de qualidade inferior, ainda é forte e ocupa as primeiras posições. Mas, após uma mal explicada “sondagem de um clube japonês”, Joel perde prestígio com o elenco, que cai vertiginosamente de rendimento e termina o ano de forma melancólica.