segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Convivendo com o Favoritismo

 

Salve, Buteco! Em um dos "gadgets" localizados à direita da página do nosso Blog, vocês provavelmente já devem ter visto o da "Localização do Buteco do Flamengo", sito à "Avenida Teófilo Mitchell, n.º 1981, Bairro Flamengo". O Mitchell era um grande rubro-negro, figura muito importante no começo do Blog e grande amigo do nosso querido Rocco Fermo, mas infelizmente falecido há alguns anos, o que motivou essa homenagem, assim como a da foto inserta no banner da parte mais acima da página, como se fosse o "barman" do Buteco, ao fundo das mesas, na parte esquerda de quem visualiza a tela.

Mitchell sempre repetia uma célebre frase: "o Flamengo só perde para ele mesmo".

A frase, que certamente não soará bem aos ouvidos de quem escutá-la e não torcer para o Flamengo, no frigir dos ovos acaba por espelhar uma verdade difícil de ser aceita pela torcida arco-íris: o Flamengo, bem-organizado e mobilizado, é um ente praticamente invencível. Um bom exemplo é a derrota para o Liverpool na prorrogação da final do Mundial de 2019 - o Flamengo, bem organizado, jogou de igual para igual com o melhor Reds da História e futuro campeão do mundo, porém na prática começou perdendo para ele mesmo, com aquela absolutamente desnecessária e evitável confusão sobre a divisão da premiação com os funcionários do Departamento de Futebol, horas antes do jogo.

Outro exemplo trágico, um pouco mais antigo, é o de 2008, a fatídica derrota para o América do México por 0x3 no Maracanã. O time coletivamente mais forte montado desde 1992 abriu vantagem de 4x2 no Estádio Azteca. Não bastasse o treinador desconcentrado e desatento quanto ao regulamento da competição, o fogueteiro "Mago das Engenharias Financeiras" tinha que fazer uma presepada de despedida para Joel Santana. Tenho 53 anos de idade e, como já contei algumas vezes para vocês, acompanho o Flamengo desde 1976, pois começar a ler as resenhas esportivas de "O Globo" completou o meu processo de alfabetização. Até hoje, foi a derrota do Flamengo que mais me doeu entre todas as que já assisti.

Dois anos depois, em 2010, a então presidente Patrícia Amorim, em um surto de populismo, resolveu mandar o ônibus buscá-la na Gávea, alterando a trajetória para o Maracanã. Como choveu aos cântaros no Rio de Janeiro naquele final de tarde e início de noite, o trânsito caótico, decorrente de um engarrafamento gigantesco, atrasou a chegada do time ao estádio. Sem aquecimento adequado, foi surpreendido pela Universidad de Chile do uruguaio Gerardo Pelusso (2x3) e eliminado, mesmo com a vitória no jogo de volta em Santiago (2x1), com grande atuação no Estádio Santa Laura, por conta do critério de desempate dos gols marcados fora de casa.

Há outros exemplos, mas ficarei com a frase do eterno Mister Jorge Jesus: "O maior adversário do Flamengo em 2020 será o próprio Flamengo". O Mister errou apenas o ano. Sua previsão se confirmou mesmo, efetivamente, apenas em 2021.

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Fala-se na boca miúda uma grande festa, incluindo a apresentação de Oscar à torcida, com palco no gramado do Maracanã e tudo.

Que venha a ser apenas um devaneio impensado, coisa de momento. Ou mesmo uma mera fofoca.

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Um debate que me chamou a atenção neste último final de semana foi o da pergunta de um repórter na coletiva pós jogo, quando o profissional resumiu o trabalho de Dorival Júnior como "fazer o simples".

Ora, de simples não tem nada. A formação titular joga em um 4-4-2 com dois meias armadores (Everton Ribeiro e De Arrascaeta) e dois centroavantes, um "típico de área" (Pedro) e outro mais estilo "segundo atacante", com grande mobilidade pelo ataque (Gabigol), ao passo que a reserva joga em um 4-3-3 com um meia armador (Victor Hugo), dois pontas abertos (Marinho e Everton Cebolinha) e um meia como "falso 9" (Lázaro). E ambas vêm vencendo e convencendo, claro que com maior destaque para os titulares.

Até acho que Dorival não conseguiria fazer um trabalho tão brilhante sozinho. Tenho para mim que está extraindo o máximo da estrutura de pessoal e tecnológica do Departamento de Futebol. Mas é a sabedoria do reitor ou o chefe de departamento em uma universidade, selecionando e apoiando as melhores teses ou linhas de pesquisa, ou do diretor da empresa, utilizando os empregados cientistas de modo a colher resultados eficientes.

Utilizar bem um departamento de futebol do tamanho do que tem o Flamengo e unir um elenco tão estrelado, a ponto de fazer todos (titulares no banco, substituídos e reservas) acompanharem correndo a longa corrida de Gabigol para marcar o segundo gol da vitória de sábado, contra o São Paulo, no Morumbi, não é um "trabalho simples", mas um trabalho de maestria.

O Flamengo tem tudo para conquistar grandes títulos nesse segundo semestre e jamais teve tanta chance de vencer as três maiores na mesma temporada.

É claro que existem grandes adversários e competição acirrada. O ponto é que tudo começa por não perder para si mesmo.

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Faturando mais a cada temporada, a ponto de romper a barreira do R$ 1 bilhão, o Flamengo precisa aprender a conter o oba-oba, eis que o favoritismo passará a ser a tônica, a cada temporada, ainda que dividido com um ou outro adversário.

Então, é preciso aprender a conviver com o favoritismo, a começar pelo jogo de amanhã, contra o Corinthians.

E Corinthians não é Tolima, que fique muito claro.

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Confio em você, Flamengo!

Saudades, Mitchell.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.

* Texto em homenagem a Teófilo Mitchell (in memorian)