domingo, 17 de julho de 2022

3 Pontos Importantes

 


Salve, Buteco! Naqueles tempos em que a Internet era apenas um restrito projeto em uma universidade norte-americana e as transmissões de televisão eram muito menores em quantidade, já que eram feitas apenas em rede aberta, torcedores off-Rio como eu, que queriam se manter conectados com o dia-a-dia do Mais Querido, precisavam recorrer ao rádio. Quando tenho a sorte de poder ir a uma partida em Estádio, no Rio ou em Brasília, eu sempre dou um jeito de escutar a resenha das rádios cariocas. Foi o que fiz ontem, dirigindo o carro na saída do Mané Garrincha.

No comando do programa da CBN Rio, retransmitido pela CBN Brasília, estava Eraldo Leite, que criticou com alguma ênfase a escalação de Dorival Júnior, e de repente eu me vi com um pé naquele mundo do Século XX e outro no tecnológico mundo do futebol atual, com um ensandecido calendário brasileiro e sul-americano de 2022 e o Mais Querido disputando três grandes competições de maneira simultânea.

Acho que não tem jeito e jamais haverá consenso sobre o tema, até porque existem maneiras diferentes de abordar o grave problema da maratona de jogos e do calendário. Mas no plano geral, eu discordo do Eraldo e concordo com o que Dorival disse na coletiva. O jogo contra o Atlético Mineiro foi daquele tipo que leva o elenco ao máximo do  desgaste e, se perder algum jogador nesse momento da temporada, será por 30 ou 40 dias, e estamos falando de final e início de turnos no Campeonato Brasileiro, além da sequência quartas de final e, quem sabe, semifinais das copas.

Por mais que Eraldo (no programa), meio que usando um argumento de autoridade, tenha ponderado que trabalha no futebol há alguns anos e "sempre foi assim", não foi sempre que o Flamengo disputou 3 competições simultâneas e eu não me lembro de algum clube conquistando as três. Mas o Flamengo, Amigos, está vivo nas três, e se vencer o Corinthians pelas quartas de final da Libertadores, será, rigorosamente, o único brasileiro em tal condição.

Devido a esse contexto, o jogo de ontem foi disputado "no limite" do elenco e posso testemunhar, pois estive em loco no Mané Garrincha, que se não fossem as bolas paradas e as limitações do time do Coritiba, o Flamengo teria se complicado. Para começar, inexistiu transição ofensiva. Simplesmente inexistiu. Não foram poucos os momentos em que o time deixou de contra-atacar, diante de espaços abertos maiores do que todo o planalto central. Os jogadores simplesmente trotavam atrasando o lance de propósito, na minha opinião não por desgaste, mas por pura incapacidade de fazer algo diferente, além das poucas opções de velocidade na frente.

Para piorar, as atuações individuais, de uma maneira geral, deixaram muito a desejar. Gostei do Gustavo Henrique e do Ayrton Lucas, com destaque pro "Golem", que foi artilheiro e uma parede ao mesmo tempo, mas Matheuzinho foi praticamente uma nulidade e Pablo e Marinho foram muito mal no primeiro tempo, muito embora tenha sido bacana ver os dois últimos reagindo no segundo tempo e jogando bem, o que pode ser mérito também do Dorival e sua conversa com o grupo no intervalo.

Pelo meio de campo, o menino Victor Hugo, de apenas 18 anos e que acabou de renovar o seu contrato com o Flamengo, sentiu o erro que cometeu em um lance ainda no primeiro tempo, quando perdeu de maneira boba a bola e cedeu um contra-ataque ao Coritiba. Depois disso, sumiu na partida. É compreensível a oscilação de alguém tão jovem.

Por outro lado, João Gomes e Diego Ribas foram pura transpiração e o capitão e veterano ainda marcou um belo gol de voleio ao definir o placar, dando-lhe inclusive muita confiança, pois jogou por 90 minutos e melhorou o desempenho na etapa final. Só que ambos têm suas limitações na construção, e como a atuação de Lázaro só se se salvou da nulidade pela cobrança de escanteio no primeiro gol, o time teve muitas dificuldades na construção, tendo seus melhores momentos em lançamentos longos, no tipo "ligação direta".

Em razão disso, fiquei com pena de Pedro, isolado como uma ilha deserta no ataque. E quem entrou pelas substituições muito pouco ajudou. Arrascaeta, lento e pesado, nada acertou. Everton Ribeiro foi, digamos, econômico, e Filipe Luís parece que nem entrou. Thiago Maia foi o único que efetivamente contribuiu após substituir o esgotado João Gomes.

As vaias a Vitinho me deixaram triste, muito triste. Por mais que a impaciência da torcida seja compreensível, é um atleta que tem histórico de depressão no próprio Flamengo. Talvez esse tenha sido o maior erro de Dorival. Por que não dar uma chance ao menino Mateusão, se Pedro precisou sair? Vitinho não é centroavante e não me recordo de ter sido utilizado nessa função desde que chegou ao clube. E lá se vão 4 anos... Logo, a decisão do treinador piorou a situação do contestado jogador.

O que me revolta, depois das lamentáveis vaias, é que a maioria daqueles que criticam as vaias faz o mesmo no Twitter e/ou no Maracanã. Não tem nem duas semanas e um público de perfil semelhante ao de ontem, num jogo que não esgotou a carga de ingressos cobrados a um preço altíssimo, só que para o time titular e não os escombros do elenco, como ontem, vaiou Willian Arão em seu último jogo pelo clube.

Com nada menos do que QUINZE títulos pelo clube, como titular, o atleta, que fazia sua última partida, entrou em campo quando o Flamengo vencia o Tolima por 4x0, mas foi vaiado a cada vez em que tocava na bola. Despediu-se sem uma homenagem digna, graças ao comportamento da "torcida do Rio", muito pior do que o de ontem da "torcida de Brasília".

O Flamengo é uma Nação, mas sua casa é o Rio de Janeiro e, até o sonho do estádio próprio em local bem localizado na cidade for concretizado, tem sua casa no Maracanã, ainda que tenha que ocasionalmente dividi-la com alguns inquilinos indesejáveis. O Mané Garrincha é apenas um substituto eventual, para que o Flamengo momentaneamente não se torne um "sem-teto".

Só que a Nação Rubro-Negra é mais numerosa fora do Rio do que na própria Cidade Maravilhosa, o que provoca um curioso paradoxo, no qual a "torcida do Rio" se "autoempodera" e acha que pode utilizar torcedores off-Rio como bodes expiatórios de seus próprios demônios.

Não foi por conta da "torcida de Brasília" que Vitinho e Michael tiveram depressão, podem ter certeza.

***

O melhor a fazer é comemorar esses três pontos diante do adverso contexto no qual o Mais Querido entrou em campo. Amanhã falo sobre a semana e os próximos dois adversários.

A palavra está com vocês.

Bodomingo e SRN a tod@s.