sexta-feira, 24 de junho de 2022

Alfarrábios do Melo

 Saudações flamengas a todos.

Penso que a única forma de viabilizar uma mínima perspectiva de viver uma temporada ao menos digna para o Flamengo está no que o clube irá fazer na janela de reforços que está para se abrir. Três ou quatro jogadores, que cheguem de imediato para o time titular, podem mudar dramaticamente o perfil da equipe, mesmo com todos os problemas estruturais em seu entorno. Não é fácil, mas já aconteceu algumas vezes. Deixo aqui algumas dessas ocasiões em que o Flamengo, após a passagem do meio do ano, mudou muito de “patamar”, mesmo, por vezes, trazendo jogadores de nível até semelhante aos já existentes. Que o milagre se repita esse ano.


QUANDO A JANELA DEU CERTO

2005

O rebaixamento quase certo é evitado de forma milagrosa após a contratação de Joel Santana, o quinto treinador do ano. Mas, para viabilizar a façanha, são fundamentais as mudanças feitas com relação ao plantel que iniciou o Brasileiro. Com efeito, a “barca” formada por Jean, Da Silva, Caio, Adrianinho, Marcos Dener, Ricardo Lopes e, mais tardiamente, Júnior Baiano, entre outros, é reposta por nomes como Leonardo Moura, Augusto Recife, Diego Souza e Cesar “El Tigre” Ramirez. O treinador consegue encaixar alguns dos reforços, que se mostram fundamentais para o aumento da qualificação da equipe que, mesmo ainda muito limitada, consegue se mobilizar e conquistar uma pontuação de “campeão” nas rodadas finais, escapando do pior.

2007

Na primeira parte da temporada, o Flamengo, com um time modesto cujo maior destaque é o meia Renato Abreu, conquista a duras penas o Estadual (sem vencer nenhum clássico) e faz campanha razoável na Libertadores (é goleado no único jogo de maior dificuldade, o que custa a eliminação). A “ressaca” pela queda na competição sul-americana, a certeza de saída de alguns jogadores e o desgaste do trabalho de Ney Franco fazem com que o Flamengo tenha um início desastroso no Brasileiro. O adiamento de alguns jogos e alguns vexames de um time que já não funciona atiram o rubro-negro à Zona de Rebaixamento. No meio do ano, a transformação. Joel Santana é novamente contratado para “salvar” o time, cujo elenco muda drasticamente. Saem Renato Abreu, Juninho Paulista, Roni e Claiton “Palminha”, e chegam Ibson, Fábio Luciano, Cristian, Roger Flores e Maxi Biancucchi. Os criticados zagueiros Irineu, Moisés e Thiago Gosling perdem espaço e Ronaldo Angelim volta à equipe, que, apesar de manter esquema tático semelhante, melhora exponencialmente seu desempenho, desenvolvendo uma trajetória inesquecível que leva o Flamengo ao 3º Lugar do Brasileiro, o que coloca o rubro-negro na Libertadores do ano seguinte.

2009

Apesar de chegar a frequentar os arredores da região da classificação para a Libertadores no início, nada parece indicar que o Flamengo fará um bom Brasileiro. A relação tumultuada com a torcida, ainda magoada com os vexames do ano anterior, o péssimo relacionamento do elenco com o treinador Cuca e a percepção de limitação do elenco contaminam a trajetória do rubro-negro, que começa a perder fôlego com algumas goleadas e reveses sofridos. Farta das idiossincrasias de Cuca, a Diretoria manda o treinador embora, mas pouco depois o próprio VP de Futebol renuncia, insatisfeito com a extravagante contratação do veteraníssimo meia Petkovic por conta da negociação de uma dívida. Mas as mudanças no elenco não se restringem ao sérvio. Ibson vai embora, junto com os contestados Obina, Josiel e o fugaz Emerson Sheik. Fábio Luciano se aposenta. Chegam os zagueiros Álvaro e David Braz, o volante Maldonado e o atacante Denis Marques, entre outros menos cotados. Andrade é efetivado treinador e, após um período de problemas, consegue montar um time que se encaixa de forma primorosa, arrancando da 14ª posição ao Hexacampeonato Brasileiro. Uma trajetória pouco sustentável em longo prazo, mas assim mesmo inolvidável.

2014

A baciada de contratações do primeiro semestre, juntando veteranos decadentes com desconhecidos “jovens promissores de potencial valor de revenda”, não resolve as limitações de um time que, ao menos, consegue conquistar o único título ao seu alcance, o Estadual. Mas a dura realidade logo se impõe no Brasileiro, e o time rapidamente se instala na Zona de Rebaixamento. Limitado, sem intensidade e com jogadores visivelmente acomodados, o time se arrasta em campo, numa crise que leva Treinador, VP de Futebol e Diretor-Executivo. Após o intervalo da Copa do Mundo, o rubro-negro, para sair da penúltima colocação no Brasileiro, reformula seu elenco. Não estão mais o atacante Hernane, os meias Elano e Carlos Eduardo, o lateral André Santos e alguns outros personagens esquecíveis. Chegam o volante Canteros, destaque do Velez-ARG, o atacante Eduardo da Silva, vindo do futebol europeu, o zagueiro Marcelo e o lateral Anderson Pico. O treinador Vanderlei Luxemburgo volta ao clube e, pregando humildade e simplicidade, devolve a competitividade à equipe, que rapidamente se livra da Zona de Rebaixamento e se estabiliza em uma posição “segura” na tabela. São os tempos do “saco de cimento”.

2016

As perspectivas para a disputa do Brasileiro são sombrias, após o retumbante fiasco do trabalho de Muricy Ramalho no primeiro semestre, onde o time acumulou vexames. O próprio Muricy sucumbe a um problema de saúde e precisa se afastar. Enquanto busca um treinador, o Flamengo recorre ao interino Jayme de Almeida e se aproxima da Zona de Rebaixamento. Zé Ricardo, campeão da Copa São Paulo, acaba efetivado e, aos poucos, vai juntando as peças que decorrem das mudanças de elenco. O zagueiro Wallace não resiste à pressão de uma torcida que não o tolera mais e pede rescisão contratual. O limitado César Martins é devolvido de empréstimo, e as lacunas deixadas na zaga são supridas com as chegadas de Rever e Rafael Vaz. Também chegam, entre outros, Leandro Damião, Fernandinho e, principalmente, o meia Diego, principal reforço da janela. Zé Ricardo consegue rapidamente construir uma equipe muito mais efetiva, que chega a sustentar, por várias rodadas, a briga pelo título brasileiro.

2019

Ansioso por enfim conquistar os títulos que persegue há anos, o Flamengo não economiza e qualifica o elenco com jogadores de primeira linha. No primeiro semestre, consegue resultados e títulos, mas o desempenho instável ainda traz insegurança. O treinador Abel, em litígio com a torcida, não resiste à pressão e é trocado pelo experiente português Jorge Jesus. O elenco também passa por ajustes. Saem o atacante Uribe, os laterais Pará e Trauco e o zagueiro Leo Duarte, vindo Rafinha, Felipe Luís, Gerson e Pablo Marí, o que transforma uma equipe já forte em uma verdadeira máquina de jogar bola. E o resto da história já se sabe.

Faltam 30 pontos.

Boa semana a todos,