segunda-feira, 7 de março de 2022

(Mais) Discursos de Ódio e a Vitória que Não Convenceu

 

Salve, Buteco! Após os eventos abomináveis ocorridos em Querétaro, México, no final de semana, foi inevitável virem a tona lembranças de episódios envolvendo confrontos entre torcidas dos clubes de futebol brasileiro. A melhor análise, a meu ver, foi do rubro-negro Marcus Castro (@mvpcastro), que, no Twitter, de maneira lúcida escreveu que "o tipo de hostilidade que se cria contra a torcida do Flamengo vai acabar gerando alguma tragédia contra a gente de visitante."

Ontem, o também rubro-negro Cláudio @poetafratello, em resposta a um tuite do nosso amigo e frequentador do Buteco Exilado Carioca (@Cariocaexilado), trouxe algumas lembranças do segundo jogo da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1987, contra o Atlético Mineiro, no Mineirão:

"Quem ajudou no Mineirão foi a própria torcida do CAM nas tribunas que ajudaram a derrubar as grades pra gente poder ficar ali com um pouco de segurança. Levei pedrada e porrada junto com meu pai. Saímos vivos graças a Deus. Ali teria sido a maior tragédia do país no futebol.

Na saída ficamos duas horas pra sair do estádio, nós fomos de carro e ficamos hospedados em um hotel na avenida Santos Dumont, até chegar no hotel foi um desespero. A torcida deles estava caçando flamenguistas na cidade."

Não foi o primeiro relato do tipo que chegou ao meu conhecimento a respeito dos acontecimentos na arquibancada do Mineirão e nas adjacências do Estádio, envolvendo o segundo jogo da semifinal de 1987. Acredito que ocorra o mesmo com vocês. Mas alguém já parou para refletir como a parte tóxica dessa importante rivalidade esportiva vem sendo alimentada? 

Semana passada eu falava sobre o nascedouro do ódio (diretorias de clubes e redações de jornais e tevês). Para reflexão, deixo o link de um artigo publicado no último 19 de fevereiro, antes da decisão da Supercopa do Brasil, repercutido por um jornalista do grupo que detém os direitos de transmissão do evento, bem como do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil. O profissional, que costumeiramente participa, e participará, de mesas redondas e transmissões dessas competições, qualificou o artigo como uma obra de talento e graça.

Tirem as suas próprias conclusões.

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O mais bacana do relato do @poetafratello é a seguinte parte, a qual faço questão de repetir e destacar:

"Quem ajudou no Mineirão foi a própria torcida do CAM nas tribunas que ajudaram a derrubar as grades pra gente poder ficar ali com um pouco de segurança."

Presto, neste ato, singela homenagem aos anônimos coirmãos atleticanos que salvaram os torcedores rubro-negros naquela noite.

Antes de tudo, somos seres humanos. Rivalidade esportiva e ódio não deveriam coexistir.

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Meus pêsames à mãe, aos amigos e familiares do torcedor cruzeirense, membro da Máfia Azul, morto ontem em confronto contra integrantes da Galoucura.

Pênalti pro Galo.

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Numa dessas coincidências do destino, ontem foi dia de mais uma edição do tradicional Clássico dos Milhões, importantíssima rivalidade esportiva entre dois gigantes do futebol brasileiro e carioca, infelizmente manchada nas três décadas anteriores pelo "euriquismo", doença ainda não diagnosticada, mas que deveria ser muito bem estudada, até porque contamina muita gente até hoje, anos após o falecimento de seu paciente zero e criador.

Antes do jogo, a ótima jornalista Cris Dissat (@fimdejogo), em seu indispensável perfil no Twitter, deu importantes dicas e recomendações de segurança a torcedores de ambos os clubes, explicando detalhadamente a logística das ruas nas cercanias do Engenhão.

Querem um exemplo de imprensa esportiva do bem? Sigam a Cris Dissat (@fimdejogo) no Twitter.

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Há quem diga que o time jogou bem até a parada para hidratação, mas minha visão é um pouco mais pessimista. Para mim, jogou bem até o gol. E só. Até então, parecia que estava com alguma fome; contudo, aberto o placar, aparentemente saciado, preocupou-se o Flamengo apenas com a dieta restritiva a bom futebol e a digestão do gol. No tatiquês, recuou os blocos e passou a fazer algo semelhante a uma "meia pressão". E pensando bem, talvez nem isso.

O Bruno Pet (@obrunopet), na transmissão da FlaTv, explicou que, com a liberdade que lhe foi concedida, a zaga do Vasco da Gama passou a encaixar lançamentos que encontravam Nenê entre as linhas rubro-negras, nas costas do nosso meio de campo. Com isso, o adversário ganhou volume de jogo, mas a rigor só conseguiu ameaçar com uma bola parada, que levou Hugo a praticar grande defesa. 

Individualmente, no primeiro tempo, gostei de Hugo, David Luiz, Filipe Luís e, principalmente, de Arrascaeta, o melhor do time. Os destaques negativos foram os alas Matheuzinho e Everton Ribeiro, bem como a dupla de ataque, absolutamente nula (nu-la). Os volantes ou meias internos também foram muito mal e tomaram cartões amarelos ridículos e totalmente desnecessários. O de Willian Arão chegou a me provocar raiva, tamanha a displicência.

A sensação, no intervalo, era de frustração pelo pobre e sonolento futebol apresentado pela equipe.

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Sem demonstrar as mesmas disposição e intensidade do início da partida, o time voltou para o segundo tempo levantando as linhas e tentando exercer pressão sobre a saída de bola vascaína, mas logo aos cinco minutos Andreas, que já não vinha fazendo uma brilhante partida, falhou na intermediária vascaína e foi desarmado por Juninho, o qual acionou Gabriel Pec, que partiu em disparada de sua intermediária até a entrada da grande área rubro-negra sem ser incomodado (David Luiz perdeu o timing do lance), até que lançou um petardo cruzado, indefensável, que ainda bateu na trave direita do gol de Hugo antes de entrar para o fundo das redes.

O time sentiu bastante o gol e se desarticulou. A partir de então, a única jogada de construção que levou perigo à meta vascaína foi feita por Vitinho e Filipe Luís pela esquerda, tendo o goleiro Thiago Rodrigues afastado o perigoso cruzamento por baixo do nosso terceiro zagueiro, ex-lateral esquerdo. Além desse lance, o Flamengo só levou perigo em um outro de bola parada, quando Fabrício Bruno cabeceou a bola por cima do travessão adversário.

Individualmente, Rodinei, João Gomes e Vitinho entraram bem, mas coletivamente o time, mais desarrumado a cada substituição, passou a abandonar a construção de jogadas e abusou dos cruzamentos. A entrada de Pedro não surtiu efeito e o trio de ataque nada criou, individualmente ou articulando entre si. Marinho, pedido pela torcida presente ao estádio, entrou somente aos 35 minutos e, além de infantilmente se indispor com adversários, errou tudo o que tentou.

Arrascaeta, mais uma vez, foi o melhor do time e decidiu com um chute de fora da área, após assistência de Vitinho. Os três pontos foram comemorados, até porque Arrasca decidiu aos 44 do segundo tempo.

A vitória e o golaço do ídolo uruguaio, porém, não afastaram a preocupação com o fraco rendimento da equipe.

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No Twitter, antes da partida, alguns rubro-negros que respeito fizeram pouco de cobranças da torcida quanto ao futebol praticado até aqui na Taça Guanabara. Como escrevi na mesma plataforma, o time vem de vice-campeonatos no Brasileiro, na Libertadores e na Supercopa, além de uma eliminação vexatória na semifinal da Copa do Brasil para o Athletico/PR, sofrendo uma goleada em pleno Maracanã. 

Portanto, o problema não é de ordem filosófica ou conceitual, ou seja, se o Estadual é ou não pré-temporada ou se a torcida e o clube devem ou não com ele se preocupar, mas o fato do time, além de não jogar bem a maioria dos jogos, parecer que se acostumou a não se impor nos maiores confrontos e momentos decisivos em geral. 

Está em puro e simples estado de negação quem se recusa a admitir o fato.

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A mim não convenceram as supostas declarações de Mister Paulo Sousa, divulgadas por setoristas e "influencers", de que teria pedido a permanência de Andreas Pereira no Flamengo. Aliás, sendo ou não verdade (o que duvido), é justo perguntar se a "fissura" de parte da diretoria nessa inexplicável negociação comprometeu o nosso bom treinador português.

A essa altura do campeonato (literalmente), nada, absolutamente nada explica Andreas ser titular e João Gomes reserva. Everton Ribeiro também está jogando só com o nome, na base da carteirada. Vitinho e Lázaro mostraram resultados muito superiores na ala esquerda. E se minutagem for mesmo critério para rodagem, não vale para Gabigol, o novo insubstituível do clube. Ontem, ele e Bruno Henrique não mereceram terminar a partida.

Abra os olhos, Mister Paulo. São muitos vices e insucessos (ou quase isso) se acumulando. Escale o que tiver de melhor (com base no rendimento dentro das quatro linhas) e traga o inédito tetracampeonato para a Gávea (e o Ninho). 

Conceda a si próprio o direito de ter um mínimo de paz antes do início da Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro. 

Só não reclame depois que não foi avisado.

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A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.