terça-feira, 4 de agosto de 2020

Página Virada - Como será o amanhã?




RESUMÃO DA COLUNA

1 - Introdução - Tô botando fé.

2 - Viagem no tempo - Parte 1 - Quem imaginou O Ano Mágico? E agora? Como será?

3 - Viagem no tempo - Parte 2 - Quais eram nossas expectativas há um ano? E agora?

4 - Vai ser difícil, mas podemos até melhorar.

5 - Jogo de Posição - A dificuldade de adaptação. Desafio pro Dome.

6 - Riscos existem (claro!), mas tô otimista e explico por quê.

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Tô botando fé

Domènec Torrent chegou ontem ao Rio, para substituir Jorge Jesus.

Desafio-Pedreira, inegavelmente.

Na qualidade de gato escaldado militante, não costumo ter posições otimistas, mas abro a coluna de hoje informando ao Buteco que estou confiante de que o amanhã rubro-negro será bom.

Com um pouco de sorte, mais do que bom.

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Viagem no tempo - Parte 1 - O potencial insuspeitado

Pra começar o papo, convido amigas e amigos do Buteco para uma viagem no tempo.

Viajemos para o começo de junho de 2019.

Com baixa aprovação perante a torcida rubro-negra, Abel Braga deixara o clube e o Flamengo acabara de contratar Jorge Jesus, fato que alimentava esperanças de dias melhores.

Em que medida seriam melhores os dias que estavam por vir?

Você foi capaz de imaginar que no fim de novembro, menos de seis meses depois, o Flamengo estaria conquistando a Copa Libertadores da América (jejum de 38 anos) e o Campeonato Brasileiro (jejum de 10 anos)?

Conseguiu prever que, sob o comando do novo treinador, o Flamengo se transformaria numa máquina de vitórias capaz de conquistar 81,2% dos pontos disputados em 57 partidas (incluídas as disputadas em 2020, ainda com Jorge Jesus de técnico)?

Passou pela sua cabeça que, liderada pelo Mister, essa máquina jogaria 34 partidas no Maracanã, venceria 30, empataria 4 e terminaria esse conjunto de jogos em casa com incríveis 92,1% de aproveitamento?

Quantos de nós fomos capazes de sonhar com o Ano Mágico que, naquele início de junho do ano passado, estava começando a acontecer?

Neste início de agosto de 2020 estamos, de novo, diante de um momento assim.

Jesus voltou pra Portugal e o Flamengo acaba de contratar um novo treinador.

Que Flamengo nós teremos sob o comando de Domènec Torrent?

Como será o amanhã?

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Viagem no tempo - Parte 2 - Visita a um post do Gustavo de 01/07/2019

Pra recuperar a lembrança de quais eram as nossas expectativas naquele começo de trabalho do Mister, fiz uma visita a um post do Gustavo (“No desembalo da Copa América”), o primeiro publicado após o histórico jogo-treino que nos apresentou ao trabalho de campo e ao estilo pessoal do Mister, incluindo o célebre grito “Tá mal, Arão”.

No post, Gustavo fez considerações sobre o jogo-treino e falou da Copa América, que “se arrastava de maneira deprimente” e – agora sou eu que digo – atrasava nossos planos de contratar o Filipe Luiz.

O post ferveu, teve mais de dois mil comentários, mas pouquíssimos revelavam otimismo que se aproximasse da feliz perspectiva que o futuro nos reservava.

Estávamos mais preocupados em questionar se o Gerson viria mesmo para o Flamengo e, caso viesse, se seria uma solução ou um mico (lembrando-me do Gerson dos tempos de Fluminense, eu me incluía entre os que achavam que o risco de mico era grande). Pausa para um kkkkk.

Muitas eram as reclamações sobre a lentidão da diretoria em contratar novos reforços naquela janela (só Rafinha havia chegado), rolavam interrogações sobre o desfecho da novela Filipe Luiz e havia dúvidas sobre o que, de fato, Gabigol poderia produzir no Flamengo. Mais uma pausa: kkkkk.

Alimentava-se, aí com maior empolgação dos butequeiros, a expectativa de que o Flamengo conseguisse comprar 50% dos direitos do Pedro, diretamente ao Fluminense.

O tricolor não aceitou a proposta, Pedro foi para a Europa e acabou vindo para o Flamengo, meses depois, em condições muito mais vantajosas para o nosso clube (empréstimo inicial e preço do passe fixado em valor mais baixo do que o atribuído ao jogador quando da proposta direta feita ao Fluminense). Outra pausa: kkkkkkkk.

Havia uma discreta predisposição ao otimismo, por conta de algumas intervenções iniciais do Mister que mostravam que as coisas estavam começando a mudar no futebol profissional do clube (treinos em dois turnos, todos almoçando juntos, treinos aos domingos).

Naquele post, o único que, em comentário, falou em conquistarmos o Brasileirão e a Libertadores foi o Wesley Silas. Transcrevo:

“Ansioso pra ver o time titular com
Diego Alves
Rafinha, RC, Miranda e FL
Cuellar
ER, Trauco e Arrascaeta
BH e Gabigol/Pedro
Brasileirão e Libertadores ao alcance das mãos.”

O Wesley não acertou toda a escalação do time titular, porque tivemos Pablo Marí, Arão e Gerson nos lugares de Miranda, Cuellar e Trauco, mas mirou nas conquistas certas. Ganhamos o Brasileirão e a Libertadores.

Veio 2020, continuamos conquistando tudo, mas Jorge Jesus resolveu voltar pra Portugal, decisão que lançou novas interrogações sobre o futuro do futebol rubro-negro.

Num primeiro momento, enquanto não se definia o nome do sucessor de Jorge Jesus, a pergunta que mais se fazia era: Como será o Flamengo pós-Mister?

Uma amostra do que poderia ser o time do Flamengo “sem Jorge Jesus” foi apresentada na sequência dos três Fla-Flus que decidiram o estadual de 2020.

Digo “sem Jorge Jesus” porque, naqueles três jogos, o corpo e o intelecto do treinador ainda estavam à beira do campo, mas a alma e o coração do grande líder já tinham partido pra Portugal.

E o time sentiu o tranco, apresentando vibração, ritmo e futebol muito inferiores àqueles a que estávamos acostumados.

Apesar disso, na viagem de volta para os dias atuais, ao analisar os comentários ao novo post do Gustavo (“Benvingut, Dome”), publicado ontem, percebi os frequentadores do Buteco bem mais otimistas do que na época da chegada de Jorge Jesus, ainda que justificadamente preocupados com as dificuldades que Dome terá que enfrentar.

De minha parte, considerado o histórico do nosso novo técnico e o patamar alcançado pelo Flamengo, acho que temos razão em sermos otimistas.

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Não vai ser fácil, mas sonhar não custa nada

Domènec Torrent terá pela frente um enorme desafio, maior do que o de simplesmente treinar um clube gigante, que é apoiado por uma apaixonada Nação formada por dezenas de milhões de torcedores.

Afinal, quando um profissional substitui outro que não tinha boa aprovação, tem seus desafios, mas também a vantagem de ser comparado com alguém que não estava agradando.

Nosso novo técnico vai substituir aquele que foi, nesses primeiros 125 anos de existência do clube, o maior treinador da história do Flamengo.

Não é pouca coisa.

É certo que Torrent encontrará, no Flamengo, uma ótima base de trabalho.

Clube organizado, melhor elenco do futebol brasileiro atual e um dos melhores da América do Sul, jogadores muito comprometidos com a busca de conquistas e herdeiros do repertório tático vencedor implantado por Jorge Jesus e sua “comissão de portugas”.

Mas Torrent pode encontrar, também, expectativas exageradas e o risco de enfrentar, prematuramente, impaciência e intolerância, se não conseguir manter o time num patamar de competitividade suficiente para brigar, desde o início das competições, pelos títulos importantes que o Flamengo vai disputar.

Com Torrent, uma hipótese não descartável é de que passemos a ver, pelo menos por algum tempo, um Flamengo mais “normal”, mais comum, não massacrante como foi o de Jorge Jesus.

Se isso acontecer, é claro que vamos estranhar e sentir falta daquela mágica que reinou no futebol do Flamengo, no segundo semestre de 2019 e no primeiro trimestre de 2020.

Mas, sabe-se lá, e se nosso novo técnico acertar a mão e enriquecer o repertório do time com soluções táticas capazes de torná-lo ainda mais forte?

É sonho?

Talvez, mas sou adepto daquele grande samba da Mocidade Independente de Padre Miguel: Sonhar não custa nada.

Tô sonhando alto, sem medo de ser ainda mais feliz.

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Jogo de Posição?

Domènec Torrent é apontado como alguém que valoriza e investe num método de trabalho disciplinado e, creio, vai encontrar campo fértil para desenvolvê-lo no Flamengo.

Este pode ser considerado um bom legado do Mister.

Jorge Jesus tem método, é obsessivo nisto e, pelas vitórias e títulos que conseguiu com o atual elenco do Flamengo, certamente deixou nossos jogadores convencidos de que vale a pena investir em treinamento tático e em disciplina de movimentações, sempre a serviço de um jogo de marcação adiantada, posse de bola e manobras ensaiadas para criação de oportunidades de gol.

Essas características gerais também fazem parte do modelo usado por Torrent e por seu mentor Pep Guardiola, mas quando descemos ao detalhe de como o time deve agir para alcançar essas condições de jogo (marcação adiantada, posse de bola e manobras ensaiadas para criação de oportunidades de gol), o método do novo treinador se distancia do adotado por Jorge Jesus.

E é neste ponto que se evidencia uma importante dificuldade a ser enfrentada por Dome e sua comissão técnica e pelo elenco.

Por melhor que seja o novo método, o tal “Jogo de Posição” didaticamente descrito por Leonardo Miranda em artigo para o site “ge.globo” (“Entenda o Jogo de Posição, filosofia de Domènec Torrent...”), e por maiores que sejam as qualificações do elenco, haverá um período de adaptação em que o time poderá render menos.

Como agravante para essa dificuldade de adaptação, o calendário do time será insano, com pouquíssimo tempo para treinos.

Conseguirá Domènec Torrent adotar, inicialmente, algum modelo híbrido que proporcione um bom padrão de desempenho nos primeiros jogos para que, aos poucos, o time possa ajustar-se ao seu modelo?

Haverá paciência e confiança de torcedores, dirigentes e elenco para atravessarem com serenidade uma eventual queda de rendimento nos primeiros jogos?

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Gato escaldado otimista?

É óbvio que, considerado o cenário de dificuldades acima descrito e a troca emergencial de técnico imposta pela saída de Jorge Jesus, temos que incluir, no rol das hipóteses possíveis, a de que Domènec nos decepcione.

Sim, isto pode acontecer, mas o gato escaldado aqui, de hábito ressabiado com o futuro, está otimista.

Não espero um Flamengo massacrante como foi o do Mister, mas espero um time arrumado, competitivo e capaz de preservar nível de futebol suficiente para brigar pelos títulos que passará a disputar em breve.

Não há certezas em futebol, mas há, sim, alguma lógica.

O Flamengo tem um elenco qualificado, não apenas tecnicamente, mas também pela inteligência tática e pelo profissionalismo de seus integrantes.

Tem condições de vanguarda em termos de infraestrutura e de suporte às atividades do Departamento de Futebol.

E tem dirigentes que se mostraram muito capazes na lida com os desafios que o clube tem enfrentado.

Essas qualificações podem ser insuficientes para novas conquistas?

Claro que podem.

Como disse o Thomas, em comentário ao post do Leandro de 28/07:

“Risco sempre haverá depois do JJ – afinal, tudo deu certo no ano passado.”

É isso mesmo.

Riscos sempre existem e sempre existirão, mas nossos adversários também estão sujeitos a eles e ao cenário difícil das competições que se aproximam.

Domènec Torrent é, hoje, um de nossos principais riscos, porque não há como adivinharmos que desempenho terá, mas, levadas em conta a necessidade de uma contratação relâmpago e as outras reais opções que o Flamengo poderia ter (não vale incluir entre as opções os profissionais inalcançáveis no momento), parece uma aposta com boa chance de dar certo.

Por tudo isso, pesados os nossos riscos e a força que o Flamengo desenvolveu, minha expectativa é positiva.

Espero que o amanhã me dê razão.

SRN.