quinta-feira, 30 de julho de 2020

O Rei está morto. Viva o Rei.

A vida é composta por eternos ciclos. Sempre haverão mudanças e nenhuma delas será permanente. A era divinal no Flamengo acabou. Após um ano intenso de vitórias e glórias. Dificilmente se repetirá desta forma em algum futuro recente. Mas, dado a infinitude do Flamengo, teremos vários e vários destes momentos no futuro. Para termos um técnico de qualidade no clube é preciso contratar no estrangeiro, dado a miséria técnica, intelectual e tática dos técnicos brasileiros, que preferiram, como bons preguiçosos, deitar em berço esplêndido, na reserva de mercado que seus agentes, dirigentes parceiros e colegas jornalistas os colocaram. Revezando entre si, colecionando multas milionárias contratuais, pois não dificilmente conseguiam durar mais de um ano no mesmo clube. Seus jogadores não o aguentavam mais, suas soluções táticas manjadas e para não perder o elenco, os presenteava com churrascos e rachões, fazendo a miséria técnica e tática do time se deteriorar mais e mais. 

Assim vive o futebol brasileiro por longos e longos anos. Mas alguns clubes acordaram. Cruzeiro quis Sampaoli e Flamengo contratou Rueda. E em pouco tempo teve uma enorme diferenciação na competitividade, quase conquistando dois títulos. Infelizmente Rueda optou por sair bruscamente do clube acertando com a seleção chilena. E os dirigentes do Flamengo na ocasião não tiveram a percepção que a saída pro clube continuava em técnico estrangeiro. Optaram, mais uma vez, por este ciclo medonho de técnicos brasileiros, entrelaçado por "estagiários" (auxiliares técnicos alçados a técnicos sem qualificação e experiência para tal). O que, evidente, atrapalhou demais a busca por títulos ainda que com bons e qualificados jogadores no elenco.

Mas esta gestão atual foi eleita. E começou mal. Da mesma forma que a anterior optou por um venho conhecido técnico brasileiro, com prazo de validade curto, como todos eles são.  Presenteado com um elenco fortíssimo, Abel manteve o jogo previsível e tacanho, se recusando a colocar em jogo os melhores jogadores devido a sua própria limitação técnica e tática. Ainda que tenha conquistado o carioquinha, o jogo medíocre disputado pelo Flamengo degringolou em maus resultados no Brasileirão ocasionando seu justo afastamento. E, assim, em um plot twist inesperado, a gestão de futebol do Flamengo resolveu partir para um técnico estrangeiro. E, então, tudo mudou.

Jesus subiu o patamar técnico, tático e competitivo. Flamengo conquistou tudo em um esquema de jogo rápido, arrojado, de troca de posições, forte marcação e saída de bola veloz. Um diamante tático em um país de lama tática. Ganhou tudo. Santos contratou Sampaoli e mostrou também intensa variação tática, fazendo partidas incríveis. Mas sem a mesma qualidade de elenco do Flamengo não conseguiu resultados tão fantásticos.

Jesus resolveu sair. Direito dele. Flamengo agora espera, pelo que tudo indica, pelo catalão Domenec Torrent. ex-auxiliar de Guardiola, mas com alguma experiência como técnico e louco para alavancar sua carreira no melhor elenco que já teve enquanto treinador. O jeito de jogar dos times de Guardiola é bem diferente do legado do Jesus. Espero que o Dome consiga se adaptar a isto e não fique preso às próprias convicções. 

Flamengo, infelizmente, ainda não criou sua "cultura de jogo". Jesus sequer permitia que algum auxiliar do Flamengo participasse de sua comissão técnica. E pode ser que, mais uma vez, criemos uma forma diferente de jogar. Tomara que resulte em vitórias e títulos tão expressivos como os de 2019.