segunda-feira, 15 de junho de 2020

Rivalidades


Charge: Mário Alberto
Salve, Buteco! Durante essa pandemia aproveitei para mergulhar no passado e levantar alguns dados importantes a respeito das principais competições que o Mais Querido disputo, ainda disputa e certamente disputará, no futuro. Os dois últimos posts foram dedicados às rivalidades contra os nossos três mais tradicionais adversários do Rio de Janeiro, porém não escondi minha impressão que os próximos anos se encarregarão de moldar novas rivalidades, haja vista o processo de franca decadência do trio arco-íris carioca. Mas para debater quais poderiam, potencialmente, ser essas novas rivalidades, seria bom partirmos de uma premissa minimamente consensual, para não corrermos o risco de conversarmos sobre coisas diferentes. Então, o que é rivalidade e o que seria o maior rival: a torcida que mais nos irrita ou o clube contra o qual foram disputados os jogos e decisões mais importantes? É aquele clube do qual é mais importante ganhar ou aquele de quem a gente prefere até a morte do que perder? Será que tem um pouco de tudo isso? E, nesse caso, qual o critério que deveria preponderar?

Bem, como o tema é muito subjetivo e, portanto, necessariamente polêmico, acho que cada torcedor pode ter livremente as suas “preferências”, certo? Porém, na minha cabeça, só faz sentido ser um pouco de cada coisa. Vejam o caso das torcidas rivais: se nos irritar fosse o fator exclusivo ou determinante para medir um oponente, o Sport Recife seria um rival maior do que o Grêmio, contra quem o Flamengo disputa, na minha opinião, o maior clássico interestadual do Brasil. Além disso, bastaria o presidente de ocasião de um rival decadente, como, por exemplo, o Botafogo, radicalizar o discurso para o seu clube poder se proclamar “o maior rival” do Flamengo. Não pode ser tão fácil para os minúsculos, concordam? Até porque estamos falando de futebol, que, basicamente, é uma modalidade… esportiva! Logo, o que acontece nas quatro linhas também há de ter um peso muito importante, como também devem ter as rivalidades entre torcidas.

Não farei um ranking neste post porque, como expliquei, considero o assunto muito subjetivo e, portanto, polêmico demais, e minha intenção passa longe de tentar impor o meu ponto de vista ou mesmo convencer alguém a adotá-lo. Vou deixar esse abacaxi para vocês descascarem. Quero apenas bater um papo com vocês a respeito do cenário que o Mais Querido enfrentará nos próximos anos e quem em tese ocupará o espaço do trio decadência carioca dentre as maiores rivalidades do clube. Para tanto, vou descrever um pouquinho as rivalidades contra os componentes e convidados do ex-Clube dos Treze, substituindo o Coritiba pelo Athletico/PR e o Santa Cruz pelo Sport Recife, pois os quase trinta e três anos que nos separam de 1987 mostram que dificilmente surgirá algum rival relevante de fora desse grupo de clubes. No final, vocês me dizem se eu consegui captar o "senso comum" da Nação Rubro-Negra.

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Palmeiras: nenhum clube rivalizou tantos anos seguidos com o Flamengo pelo título do campeonato brasileiro, como ocorreu em 2016, 2018 e 2019, repetindo 2009. Histórico de confrontos importantes em nível nacional, pela Copa do Brasil, e internacional, pela Mercosul. Semelhantes na estrutura política interna e totalmente antagônicos na história e nos perfis de torcida, Flamengo e Palmeiras ainda disputam espaço no campo das contratações e gestão financeira. Animosidade mútua recente e crescente em todos os níveis, com episódios de violência da torcida palmeirense em Brasília e São Paulo. Será que se tornará a maior rivalidade do clube no futuro?

Corinthians: chamado de “Encontro das Nações”, o clássico jamais atingiu a expectativa geral, possivelmente em razão do histórico esportivo sem grandes decisões e do mútuo respeito existente entre as torcidas, oriundo da grandiosidade de ambos os clubes. As diretorias negociam vários contratos conjuntamente. Contudo, há enorme competitividade entre as torcidas por tamanho e contabilização de títulos. A rivalidade é meramente esportiva, sem visceralidade e episódios relevantes de violência, embora seja apimentada pela tensão natural de sempre vigiar os movimentos do adversário. O tamanho gigantesco dos clubes sempre colocará essa rivalidade em posição de destaque. Ambas as torcidas dão grande peso esportivo a esse confronto direto. Aliás, o que é pior hoje em dia? Perder um clássico carioca ou um confronto contra Corinthians ou Palmeiras?

SãPaulo: rivalidade esportiva relevante, com finais de torneios nacionais e internacionais intermediários, porém morna entre as torcidas. Rola (ou já rolou) até "amizade" entre algumas organizadas, o que é absurdamente contraditório com o histórico de sérias divergências entre as Diretorias por conta da Copa União e da Taça das Bolinhas. Aliás, a torcida do Flamengo se ressente do Sport Recife, estranhamente “poupando” o São Paulo, o grande traidor do episódio. Confesso que não consigo entender. Rival matreiro e traiçoeiro no tapetão, ainda possui histórico de usar o estádio para pressionar adversários fora de campo. Acaso se recupere técnica e financeiramente, tem potencial para subir vários patamares na escala de rivalidades. É o rival contra o qual o Flamengo tem o pior retrospecto esportivo entre os grandes clubes brasileiros. Não seria hora de olhar com mais atenção para esse rival?

Santos: os clubes já decidiram uma taça dos campeões estaduais, um campeonato brasileiro e um Rio-São Paulo, além de já haverem se enfrentado na Copa Libertadores da América, porém o clássico jamais extrapolou os limites da rivalidade puramente esportiva.

Grêmio: é o maior adversário esportivo do Flamengo fora do Rio de Janeiro. Aliás, é o maior clássico interestadual brasileiro. O peso histórico do confronto é imenso e formado por grandiosos confrontos em finais de campeonato brasileiro e Copa do Brasil, duas semifinais de Libertadores, além de diversas disputas em fases classificatórias e eliminatórias dessas e outras competições nacionais e internacionais, em número muito maior do que qualquer outro adversário, carioca ou dos demais estados brasileiros. Gestão de primeiro patamar de ambos os clubes indica que o histórico de grandes confrontos se repetirá no futuro próximo. Contudo, entre as torcidas o clima é absolutamente morno, provando que há rivalidades de várias espécies.

Internacional: embora com menos peso do que o clássico contra o Grêmio, os confrontos entre Flamengo e Internacional já fazem parte da história do futebol brasileiro e sul-americano, com uma final de campeonato brasileiro (1987) e uma disputa de título direta na era dos pontos corridos (2009), além de importantes confrontos pela Copa do Brasil e pela Libertadores da América. Contudo, talvez a rivalidade mútua com o Grêmio jamais tenha deixado que o clima entre Flamengo e Internacional se acirrasse para além do campo esportivo. Aliás, o rival honrosamente manteve-se ao lado do Flamengo no episódio da Copa União e da Taça das Bolinhas.

Atlético/MG: histórico de grandiosos confrontos nos cenários nacional e internacional, seja pelo Campeonato Brasileiro, com uma final, uma semifinal e vários confrontos eliminatórios, seja pela Copa do Brasil e pela Libertadores da América. Grande rivalidade entre as torcidas, com histórico de violência da torcida atleticana e de ódio visceral de sucessivas diretorias e gerações de torcedores atleticanos pelo Flamengo, que, porém, sempre sentiu a rivalidade, mas jamais lhe deu o mesmo peso que os mineiros. Atualmente, a rivalidade arrefeceu, e para o torcedor rubro-negro vencer o Corinthians, o Palmeiras ou mesmo o Cruzeiro é muito mais importante do que bater no Galo. Dívida do rival ameaça o equilíbrio esportivo no futuro do confronto, porém bastará uma boa campanha atleticana para o ódio despertar e a rivalidade se reacender. Olhos abertos com o Sampaoli...

Cruzeiro: os confrontos decisivos ocorridos no Século XXI, com duas finais de Copa do Brasil e duas oitavas de final, uma pela Copa do Brasil e outra pela Libertadores, além das trocas de hegemonia nos confrontos pelo Campeonato Brasileiro de pontos corridos, elevaram o confronto a um patamar de destaque entre os clássicos interestaduais brasileiros. Porém, ganhar do Cruzeiro, para a torcida do Flamengo, não é a mesma coisa que ganhar do Corinthians, por exemplo. O histórico de união entre as torcidas pela mútua rivalidade contra o Atlético/MG aos poucos está cedendo para a tensão dos três confrontos eliminatórios da última década e da contratação de Arrascaeta, fazendo subir o tom entre os torcedores. Porém, apesar disso, não há registro de episódios de violência ou de visceralidade, talvez porque todos os confrontos tenham se resolvido dentro das quatro linhas, sem maiores polêmicas. Rivalidade muito menos intensa do que já foi a rivalidade entre Flamengo x Atlético/MG. Será testada nos próximos anos pelo rebaixamento cruzeirense.

Athletico/PR: confronto de jogos e decisões esportivamente importantes, com uma decisão de Copa do Brasil e outra de Supercopa do Brasil, além de uma fase de grupos de Libertadores da América e um confronto direto pela Copa do Brasil, e dois encontros marcados por ano pelo campeonato brasileiro de pontos corridos. Recentemente, o presidente Metralha, digo, Pegraglia andou seguindo o roteiro Eurico Miranda, porém não conseguiu ficar nas manchetes nem por meia semana. E nada disso foi capaz de criar uma rivalidade especial ou diferente entre os clubes.

Sport Recife: a rivalidade não tem origem em grandes confrontos esportivos dentro das quatro linhas, mas no Poder Judiciário, em razão do título do Campeonato Brasileiro de 1987. Porém, apesar de não usual, a rivalidade efetivamente existe e é incontestável e palpável. Aliás, o simples fato de ter que admitir que se trata de um rival já é suficientemente irritante. Não há um rubro-negro que se preze que não deteste o genérico de Recife. Para a torcida do Flamengo, ganhar do Sport tem relevância menor do que vitórias sobre qualquer adversário entre os 13 maiores; porém, perder do Sport revolta mais do que derrotas para boa parte deles...

Bahia: rivalidade puramente esportiva, com histórico antigo de confrontos entre os dois clubes em amistosos, campeonatos brasileiros e copas do Brasil. As declarações hostis da Diretoria do tricolor baiano no Brasileiro/2019 tiveram a força de uma brisa e são completamente irrelevantes.

Goiás: vou contar pra vocês: eles até tentaram criar um "clima de Libertadores" na final da Copa do Brasil/1990 (fui presente) e meio que tentaram repetir a dose no jogo em Goiânia pelo Brasileiro/2019, mas fracassaram em ambas as ocasiões e o máximo que conseguiram foi estimular ações individuais de alguns marginais, as quais podem ser tudo, menos rivalidade minimamente relevante. Confronto puramente esportivo contra o rival minúsculo, que em 2019 foi um belo saco de pancadas.

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Agora chegou o momento de descascar o abacaxi: contando Botafogo, Fluminense e Vasco da Gama, como vocês ranqueariam esses rivais do Mais Querido do Brasil?

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.