terça-feira, 17 de março de 2020

Buteco - Ponto de Encontro


Quando aceitei o convite para fazer parte do time de colunistas do Buteco, a preocupação em não deixar a peteca cair me fez antecipar alguns textos.
Na coluna que havia preparado para hoje, eu analisava a ocorrência, no atual Flamengo vencedor, do fenômeno da formação de uma equipe real, a caminho de se consolidar como equipe de alto desempenho, e analisava, também, alguns aspectos interessantes da liderança de Jorge Jesus.
Ocorre que a vida não é foto, é filme.
O texto que, muito recentemente, tentava filmar a realidade do futebol do Flamengo a partir de um ângulo menos explorado pela mídia, permitindo projeções muito otimistas, só pode ser, agora, a foto de um momento mágico, que não sabemos em que medida poderá ter continuidade quando controlada a pandemia causada pelo novo coronavírus.
A coluna terminava com um apelo pela renovação de contrato do técnico Jorge Jesus, personagem fundamental na construção do ciclo vitorioso cuja materialização em conquistas começou a acontecer em 2019.
Neste assunto da renovação do contrato do Mister, o que tínhamos era uma grande interrogação sobre o futuro, agravada, no fim da tarde de ontem, com a notícia de que Jorge Jesus testou positivo para a COVID19 e passou a ser objeto das preocupações e orações de todos nós.
O mundo vive uma pandemia e as providências preventivas necessárias à sua contenção em limites administráveis impõem duras restrições à circulação de pessoas e a consequente suspensão de eventos de vários tipos, inclusive os esportivos, criando uma nova realidade ainda impossível de compreender, quanto à sua extensão e aos seus efeitos.
No primeiro parágrafo do post de ontem, o Gustavo registrou que, “neste cenário, o futebol se torna uma preocupação menor”.
Ou, como disse Camões, nos Lusíadas:
“Cessa tudo quando a antiga musa canta e um valor mais alto se alevanta.”
O valor mais alto, no momento, é a luta pela vida das pessoas e a manutenção das melhores condições operacionais possíveis para as sociedades, durante o período de combate duro à epidemia.
É difícil, neste contexto, encontrar motivação para falar de futebol e, até mesmo, da nossa paixão rubro-negra.
Ainda assim, o Buteco pode cumprir um importante papel e, com a colaboração dos amigos que me leem, espero que cumpra.
O Buteco do Flamengo é, essencialmente, um Ponto de Encontro.
Cumpre tão bem esse papel que, recentemente, num dia em que o Buteco estava muito devagar, o Roberto apelou para a hilária criação de um “clone”, desenvolveu um papo entre Roberto 1 e Roberto 2 e, até mesmo, para não abrir mão do seu lado polêmico, discordou dele mesmo.
Viveremos um período de restrição da circulação de pessoas, que deve levar à limitação da possibilidade de encontrar parentes e amigos por um prazo ainda difícil de definir.
Os italianos têm respondido com cantorias nas janelas ao duro isolamento a que estão sendo submetidos.
Num dos melhores vídeos que vi a respeito da crise do novo coronavírus, a neurocientista Cláudia Feitosa Santana comenta que o isolamento social traz danos psicológicos. Diz ela:
“Nós não queremos nos sentir aprisionados, não queremos nos sentir isolados. Nós estávamos, até agora, em contato físico e social o tempo todo, mas ligados no celular. E agora, vem um vírus que faz com que sejamos obrigados a mudar nosso comportamento e a fazer um bom uso do celular.”
Parte da nossa resposta ao provável isolamento que viveremos pode ser continuarmos falando de Flamengo neste nosso Ponto de Encontro.
Palpites, cobranças, opiniões convictas e apaixonadas, cornetagens, manifestações de sentimentos nos dias de alegria e de tristeza, explosões de emoção nas conquistas memoráveis, tudo isto expressa, em cada momento e à moda de cada frequentador do Buteco, aquilo que nos une: a paixão pelo Flamengo.
Nos últimos tempos, o Buteco tem sido corretamente usado para informações e debates voltados para nosso comportamento frente à pandemia, mas acho que ele pode e deve continuar sendo, também, um ponto de encontro que nos ajude a passar por esse período difícil, reduzindo nosso isolamento.
Cada um de nós, por óbvio, terá suas principais atenções voltadas para as muito justas preocupações com a grave crise da COVID19, mas pode ser bom nós aparecermos no Buteco no nosso tempo livre, para nos fazermos companhia, seja no acompanhamento da saúde do Mister, seja para relembrar histórias do Flamengo, seja, enfim, para fazer das nossas conversas e do nosso convívio um instrumento de luta contra o isolamento.
Neste sentido, para não deixar de falar de Flamengo, transcrevo aqui os dois trechos finais da coluna que originalmente, com a pretensão de que fosse o começo de um filme, eu havia preparado.
Pelo menos por ora, porém, ela é apenas a foto de um lindo momento rubro-negro.
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Tudo aponta para estarmos presenciando o fenômeno de formação e desenvolvimento de uma equipe real que já colhe alguns resultados espetaculares e, o que é muito bom para a Nação, vestida com o Manto Sagrado.
Temos um líder que sabe e ensina muito, mas que se renova ao descobrir a possibilidade e o prazer de aprender com seus liderados, inclusive sobre amizade e alegria no trabalho.
E temos hoje, no clube, um suporte orgânico saudável que permite que sonhemos com um ciclo mágico.
O gato escaldado não pode deixar de registrar que não existe jogo ganho de véspera, mas o caminho que o Flamengo vem seguindo me entusiasma muito.
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Um recado final para Mister Jorge Jesus:
Eu tive a sorte de fazer parte de algumas equipes de alto desempenho.
É um privilégio.
Pare de sonhar com a Europa, Mister.
Fique com a gente.
Você está abraçado com a felicidade.
E esse abraço não tem preço.
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O pedaço de coluna acima evidencia a reviravolta que a vida do Flamengo está sofrendo.
Afinal, os últimos dias atropelaram a realidade mundial com um impacto que ninguém poderia prever.
Como célula do mundo, o Flamengo não estava imune a esse impacto e já se via diante de grandes ameaças às perspectivas de sucesso que vinha construindo com muita competência e engajamento.
Com o teste positivo do Mister para a COVID19, passa a enfrentar uma ameaça ainda maior.
É prematuro e inoportuno tentar prever qual será o futuro deste Flamengo vencedor, quando tiver passado a crise do coronavírus e, espero, quando Mister Jorge Jesus tiver recuperado sua saúde.
No papel de cidadãos, cabe colaborarmos para que a sociedade consiga responder bem ao enorme desafio que enfrenta, cumprindo as determinações e protocolos das autoridades e, tanto quanto possível, praticando o isolamento, principal arma a que pode recorrer a pessoa comum.
Na qualidade de rubro-negros, nosso papel é torcer para que o Mister se recupere bem e sem sequelas e para que, no campo da nossa paixão clubística, o Flamengo consiga atravessar bem essa tormenta e saia dela em condições de retomar seu ciclo vitorioso.
Que, com a ajuda e a força da Nação Rubro-Negra, o Mister e o Mais Querido consigam superar esses momentos difíceis e se fortaleçam para cumprir seu compromisso e destino:
Vencer, Vencer, Vencer.