segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Da Retranca à Pressão Gaúcha

Salve, Buteco! O emblemático jogo de quarta-feira passada, contra o Internacional, no Maracanã, acendeu minhas memórias e me fez viajar no tempo, para o longínquo 1982, quando, no primeiro semestre, o Mais Querido conquistou seu segundo título brasileiro em cima do Grêmio, no antigo Estádio Olímpico, em Porto Alegre. Para quem não sabe, a vitória de 1x0 (gol de Nunes), que nos deu o título, foi a negra após dois empates nos jogos que, em tese, deveriam ter decidido o campeonato: 1x1 no Maracanã e 0x0 no próprio Estádio Olímpico. A dinâmica da nossa recente vitória por 2x0 sobre o Internacional me fez lembrar do empate contra o Grêmio no Maracanã. Aliás, algumas características do Flamengo de Jorge Jesus me lembram o Flamengo de Paulo César Carpegiani (1981/1982). Assistindo ao videotape de 1982, deparei-me com a intensa movimentação dos meias e atacantes, associada aos passes verticais e "de primeira", bem como à marcação alta, com apoio dos laterais, que volta e meia armavam o jogo pelo meio, tudo isso sempre em busca dos espaços nas defesas adversárias, quase sempre retrancadas. Adílio, Tita, Zico, Lico e Nunes, os mais avançados, com apoio dos laterais Leandro e Júnior, a grosso modo ocupavam a faixa de campo na qual hoje vemos Gérson, Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol flutuarem, com o apoio de Rafinha e Filipe Luís.

Naquele distante 18 de abril de 1982, contudo, os espaços não foram encontrados, tal como ocorria quarta-feira passada até os 29 minutos do segundo tempo, quando o nosso matador Bruno Henrique, após primorosos passes de Filipe Luís e Gérson, abriu caminho para a importante vitória. A retranca gremista, verdadeiro ferrolho, parecia impenetrável. Pior: com um gol de Tonho, aos 38 minutos do segundo tempo (calculem o drama!), num dos esporádicos, mas sempre perigosíssimos contra-ataques gaúchos (que também ocorreram na última quarta-feira), o Grêmio abriu o placar e passou a impressão a todos os que acompanhavam, presencialmente ou pela narração de Luciano do Valle, que havia colocado as mãos na taça.

Mas o Flamengo tinha Arthur Antunes Coimbra, que empatou a partida aos 44 minutos ao marcar um dos 5 gols mais importantes de sua carreira, segundo suas próprias palavras. A narração de Luciano do Valle destacou: "é um jogador que nasceu com o gol, tem cheiro de gol, e principalmente (em) final de partida." O gol salvador de Zico levou o Flamengo vivo para Porto Alegre, mas teoricamente em desvantagem para decidir o campeonato no território inimigo.

O que aconteceu nos 180 minutos disputados na sequência, em 1982, é o ponto que quero destacar para vocês.

***

Antes, porém, uma pequena explicação: escrevi "a grosso modo", logo acima, porque não estamos falando de esquemas táticos idênticos e nem comparando individualidades. Trata-se puramente de constatar a coincidência entre pontuais características de dois times taticamente bem diferentes, porém tendo em comum algumas estratégias de jogo e a quantidade de jogadores usados para atacar. Tampouco estou recorrendo a qualquer pensamento mágico insinuando que a temporada/2019 reviverá 1981/1982 e tudo acabará bem para o Mais Querido do Brasil. A intenção é apenas destacar algumas coincidências, sendo que uma delas merece especial atenção.

É o caso das "acusações" às equipes gaúchas de terem sido "covardes" no Maracanã, comuns em 1982 e 2019. Logo após o fim do primeiro jogo contra o Grêmio, o Galinho de Quintino foi enfático ao empregar explicitamente o termo e criticar a postura retrancada do tricolor gaúcho, cenário que lembra muito o que li e ouvi de jornalistas e torcedores em programas esportivos e nas redes sociais após o 2x0 de quarta-feira. Ocorre que, em 1982, nos 180 minutos seguintes ao jogo do Maracanã, o Flamengo, jogando no Estádio Olímpico, sofreu pressão como poucas vezes em sua história, como se pode constatar nos videotapes cujos links postei lá em cima. Inclusive, após o 0x0, Paulo Isidoro, o "Tiziu" (que fez grande partida no Maracanã), em entrevista pós-jogo perguntou nessas exatas palavras: "será que podemos dizer agora que o Flamengo foi covarde?" Não se esqueçam que estamos falando do melhor e mais vitorioso Flamengo da História.

Amigos, a dupla Gre-Nal certamente já teve timaços que não encontraram problemas para se imporem em jogos fora de casa contra grandes adversários, mas também é certo que, quando lhes convinha, esses mesmos timaços sempre souberam montar verdadeiros ferrolhos atuando como visitantes. Inversamente, como mandantes sempre exerceram enorme pressão sobre os adversários, tanto que possuem números extremamente positivos em seus estádios. Não é a toa que conquistaram um expressivo cartel de títulos de maior grandeza.

É claro que em futebol tudo pode acontecer, mas não se enganem: quarta-feira o normal é o Flamengo de Jorge Jesus tomar muita pressão Beira-Rio, tal como ocorreu no Olímpico com o Flamengo de Zico em 1982. Aliás, alguém aí tem a ilusão de que Libertadores se ganha confortavelmente? Pode até acontecer algo próximo a isso, como ocorreu com o próprio Grêmio em 2017, mas via de regra a competição é disputada em níveis extremos. Nessa temporada, uma simples olhada na tabela mostra que ninguém terá moleza, muito menos o Flamengo, para quem tudo tem sempre que ser muito difícil, com aquela dose extra de tensão e adrenalina. Além disso, olhando para o presente, as recentes edições da Champions League mostram que abrir vantagem no primeiro jogo não é garantia alguma de classificação.

Portanto, saibamos identificar bem a diferença entre a confiança e a empolgação. O desafio atual do Flamengo de Jorge Jesus é melhorar a performance como visitante, especialmente no setor defensivo, mas sem perder o poder de fogo, até porque o gol marcado fora de casa é critério de desempate na Libertadores.

Todos os corações rubro-negros estarão no Beira-Rio na próxima quarta-feira.

***

Falando em sistema defensivo, pelo segundo jogo seguido o time não tomou gol, muito embora o jogo aéreo adversário tenha preocupado, tal como ocorreu no confronto em Brasília, contra o Vasco da Gama. O Mais Querido jogou apenas o minimamente necessário para vencer com tranquilidade o Ceará por 3x0 no Castelão. Mais uma exibição no modo "freio-de-mão puxado", mas que garantiu três pontos e uma inesperada liderança, por conta da maravilhosa rodada, repleta de resultados favoráveis.

Poderia ter sido uma goleada histórica, pela quantidade de gols perdidos, porém o time sobriamente administrou o desgaste, não parecendo estar 100% focado no momento das finalizações. Destaque para o primeiro gol de Pablo Marí com a camisa rubro-negra e para o golaço de placa do Arrascaeta.

***

Domingo o Flamengo receberá um Palmeiras mais descansado pelo adiamento da partida contra o Fluminense, que deveria ter ocorrido neste final de semana. Beneficiado pela CBF, o Palestra jogará sabendo de todos os resultados da rodada e o que precisa fazer para alcançar o Santos e o Flamengo. Curioso como o Fluminense, que empatou com o Corinthians na quinta-feira (0x0 em Itaquera), foi pretexto para o adiamento, enquanto o Grêmio não foi contemplado com a mesma medida, pois jogou na quarta-feira (0x1 Palmeiras pela Libertadores) e no sábado (2x1 Athletico/PR em Porto Alegre).

Boa oportunidade para sacramentar a liderança em pleno Maracanã.

A palavra está com vocês. #segueolider

Bom dia e SRN a tod@s.