quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Cuellar e gestão de carreira

Observando o "caso Cuellar", em que um jogador muito importante, identificado com a torcida,  mal-remunerado em relação aos seus pares,  de uma posição relevante e sem muitos substitutos no mercado estar querendo muito sair do Flamengo e  em vias de conseguir,  é necessário dizer que houve e há falhas de todos os lados. Tantas relativas ao atleta como do próprio clube, da gestão atual como anterior. 

Como pode o Flamengo, que está se posicionando como uma potência de fato no futebol brasileiro, através do poder econômico conseguido nos anos de labuta e rigor administrativo desde 2013, ter um jogador como Cuellar preferindo ir se esconder em um clube árabe para ganhar o que já poderia estar ganhando aqui? Como deixaram crescer esta onda de desejo de mudança do Cuellar a ponto de já estourar na praia?

O problema começou com a renovação do Cuellar em 2018, além de, claro, um desejo perene do jogador em fazer sua carreira na Europa. O que acredito que seja o sonho de 10 entre 10 meninos que iniciam carreira no futebol, seja que país sul-americano, africano ou asiático seja. Lá é Olimpo do futebol mundial. Embora, claro, mesmo o Olimpo tem lá suas múltiplas divisões internas e mercados menos ou mais relevantes.

Cuellar renovou em 2018 muito mal. Sua remuneração foi inferior a jogadores menos cotados e bem mais contestados do elenco. Quando se deu conta do ocorrido (não leu o contrato antes?) ficou tão amargurado que demitiu seu procurador. O Flamengo lavou as mãos. O que para mim foi um erro. É necessário que um clube como o Flamengo leve em consideração o peso do jogador em cada renovação e não queira "se dar bem" fazendo um bom negócio com um contrato de valor inferior ao que merece considerando o resto do elenco. É preciso que o Flamengo tenha em seu Departamento de Futebol um "Plano de Gestão e Carreira", para evitar profunda insatisfações futuras. Evidente que não prego aqui que um clube vá aumentando o salário de todos, e sim que haja um entendimento do que é "o justo", considerando a relevância do jogador e o quanto é remunerado o resto dos jogadores.

Se um jogador renova mal, como é o caso do Cuellar, cria um problema que vira uma bola de neve. O jogador, ainda que seja responsável por seus atos, no caso a assinatura do contrato, se sente mal consigo mesmo e ainda pode tecer teorias de conspiração diversas, envolvendo seu procurador e o clube. Fica uma situação insustentável.

A gestão atual, assumindo em 2019, teve consciência do problema. E assim como a anterior lavou as mãos. "Você propôs o contrato e assinou. Que culpa temos nozes?".  Mas era o momento de considerar o erro e oferecer o aumento merecido tal a relevância do Cuellar quando assumiram. Claro que analisando a postura do clube ela é correta aos olhos frios da lei. Jogador assinou o contrato então que o cumpra. Mas o futebol é um mundo à parte. Considere, por exemplo, a disparidade de salários entre jogadores da mesma função, o que o TRT condena em relação a qualquer outra atividade empresarial.  

Com a chegada do Jesus e sua preferência nítida por Arão, Cuellar se viu mais propenso a sair. O desprezo do Flamengo por suas solicitações de aumento ("Quando tiver alguma proposta nos sentamos e podemos negociar seu aumento") entornaram o caldo. Agora sua alma já está fora daqui e conta os dias para ir sumir na Arábia. Até outro clube brasileiro contratá-lo, talvez.