segunda-feira, 29 de julho de 2019

Viradas Rubro-Negras

Salve, Buteco! Escrevo esse texto no sábado, pois o que tenho a dizer independe do desfecho da partida contra o Botafogo, no Maracanã, pela 12ª Rodada do Campeonato Brasileiro. A derrota para o Emelec, na última quarta-feira, como não poderia deixar de ser, causou preocupação na Nação Rubro-Negra, que passou a temer a eliminação logo nas oitavas de final da Libertadores/2019, em relação a qual tantas expectativas foram criadas. Resolvi então puxar pela memória algumas situações de adversidade as quais o Mais Querido do Brasil conseguiu reverter. A expressão "virada", neste texto, recebe uma interpretação "extensiva", englobando não apenas a reversão de derrotas no jogo de ida de competições eliminatórias ou do tipo "mata-mata", como também vitórias em contextos de grande adversidade, mesmo que delas não tenha vindo a classificação.

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1) 1º de junho de 1980. Maracanã. Flamengo 3x2 Atlético/MG. Final do Campeonato Brasileiro

No jogo de ida, no Mineirão, o Mais Querido do Brasil foi derrotado por 0x1, chegando em desvantagem à finalíssima da competição, disputada desde 1971 e que, ao contrário do rival, jamais havia conquistado. O maior jogo de futebol de todos os tempos, como costumo descrevê-lo aqui no Buteco, teve contornos dramáticos e foi decidido por Nunes nos minutos finais. Foi o primeiro título da "Geração Zico" além das fronteiras do Rio de Janeiro.

Durante a campanha, o Flamengo foi derrotado, no Maracanã, pelo Botafogo/PB (1x2). Imagine, amigo do Buteco, o que você teria comentado se este espaço e a Internet já existissem...

Nada que o grande time que conquistou nosso primeiro título nacional não tenha superado.

2) 6 de dezembro de 1981. Flamengo 2x1 Vasco da Gama. 3º Jogo da Final do Estadual.

O "Jogo do Ladrilheiro". Terceiro jogo da final, time abalado por conta da morte de Cláudio Coutinho, ex-treinador de todo o elenco e do próprio treinador da ocasião (Paulo César Carpegiani). O Vasco da Gama vinha com a moral de duas vitórias nos dois confrontos anteriores da Final, nos quais bastaria ao Flamengo o empate para se sagrar campeão. Por sinal, no segundo jogo forçou o terceiro confronto com um gol de Roberto Dinamite nos últimos minutos da partida, debaixo de um verdadeiro dilúvio que caia sobre o Maracanã.

Imaginem o quanto o Buteco ferveria se existisse naquela época...

Realmente, nem tudo foi céu de brigadeiro para aquele time, ao contrário do que os mais novos possam imaginar. Pelo Campeonato Brasileiro, chegou a ser bizarramente goleado por 0x4 pelo Colorado, um dos precursores do Paraná clube. Imaginem um resultado como esse nos dias de hoje...

O bicampeonato brasileiro não veio em 1981, mas a vitória no terceiro jogo e o título estadual sim, com uma verdadeira blitz rubro-negra logo nos primeiros vinte minutos da primeira etapa. Uma semana depois, em Tóquio, o time conquistou a Copa Intercontinental, o Mundial Interclubes da época, com a goleada de 3x0 sobre o Liverpool.

3) 29 de maio de 1983. Maracanã. Flamengo 3x0 Santos. Finalíssima do Campeonato Brasileiro

No domingo anterior, o Santos saíra na frente com uma vitória por 2x1 no Morumbi. Zico já negociado com a Udinese, mas sua saída ainda não havia sido anunciada. O Flamengo já não era o mesmo dos anos anteriores. No caminho para o título, derrotas importantes, como 0x2 para o então Atlético/PR em Curitiba (semifinal) e uma sonora goleada de 1x4 para o Corinthians no Morumbi (quartas de final). A mídia paulista apostava em peso no título santista.

3x0, com show de Zico, Leandro e Adílio, com mais de 155 mil pagantes no Maracanã, decretaram nosso terceiro título brasileiro.

4) Anos 90: Supercopa dos Campeões da Libertadores/1993 e Copa do Brasil/1996

Todo mundo sabe que o Flamengo foi vice-campeão para o fabuloso São Paulo de Telê Santana, que, menos de um mês depois, conquistou seu segundo título mundial. Mas você se lembra que, nas oitavas e quartas de final, o Flamengo perdeu os jogos de ida para Olímpia (0x1) e River Plate (1x2), mas reverteu os resultados  (3x1 e 1x0/6x5) no Maracanã? 

Três anos depois, o Mais Querido parou nas semifinais em dois empates contra o Cruzeiro, pelo critério de desempate do gol fora de casa. Provavelmente a maioria não se lembra, mas na fase anterior, nas quartas de final, o Flamengo despachou o Internacional com uma contundente vitória de 3x1 no Maracanã, após haver perdido o primeiro jogo, no Beira-Rio, por 2x3.

Vocês teriam chegado confiantes a esses confrontos após o Flamengo perder o jogo de ida?

5) Copa do Brasil de 2013, Quartas de Final

O atropelo sobre o Botafogo por 4x0, com exuberantes atuações de Paulinho e Hernane Brocador, oriundos, respectivamente, do Mogi Mirim e do XV de Novembro de Piracicaba, ocorreu em um contexto de franca vantagem psicológica da Turma do Canil, ou você, amigo do Buteco, não se recorda da eliminação na Taça Guanabara (0x2), do empate com gol de Elias aos 49 do segundo tempo (1x1) pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro e da derrota no segundo turno (1x2), dez dias antes? Para refrescar a memória de quem não se lembra, sugiro seguir o fio dos tuítes do @pedrotorre e comparar os times da época.

Você se lembra do estado de espírito em que se encontrava antes dessa antológica partida?

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Claro que existem contra-exemplos. Nas duas últimas décadas as viradas rarearam, assim como os títulos. Afinal de contas, todos nos recordamos do que foi a primeira década e meia do Século XXI ou mesmo o que foram os anos pós-Geração Zico para o Mais Querido do Brasil. Ainda na década de 90, mais precisamente em 1998, o Flamengo foi a Salvador para disputar o primeiro jogo das oitavas de final da Copa do Brasil tranquilo, talvez achando que fosse encarar a moleza do Friburguense, que vencera por 3x0 no domingo anterior. Voltou com um histórico 0x5 na sacola e a obrigação de reverter o placar no Maracanã. Romário fez a sua parte, marcando nada menos do que 4 (quatro) gols na goleada por 5x2, porém a defesa, destaque negativo naqueles tempos, não segurou e ficamos sem a vaga.

Quase uma década depois, em 2007, uma briga extracampo entre o nanico Juninho Paulista e Ney Franco marcou o desastre em Montevidéu. Na semana seguinte, o Defensor Sporting teve a ajuda de um dos árbitros argentinos mais canalhas de todos os tempos, Hector Baldassi, que deixou de marcar um pênalti em Paulo Sérgio no lance final do jogo. Com certeza o nosso inesquecível Renato "Faraó" Abreu nos teria levado à disputa de pênaltis. O Mais Querido mais uma vez mostrou brio, mas pagou pelos erros cometidos antes e durante a primeira partida.

Já em 2010, quando Marcos Braz também era vice-presidente de futebol, a presidente da ocasião resolveu "passear" com os jogadores e determinou que o ônibus com a delegação a buscasse na Gávea. O atraso influenciou negativamente no aquecimento e a bem armada Universidad de Chile de Gerardo Pelusso abriu vantagem no Maracanã. O jogo de volta, no Estádio Santa Laura, em Santiago, foi a melhor exibição do Flamengo como visitante em Libertadores que vi nesse século, superior até mesmo aos 3x0 sobre o Cienciano ou os 4x2 sobre o América do México, ambos em 2008. Impossível apagar da memória o lance final desperdiçado por Vinicius Pacheco, que nos separou de uma classificação histórica para enfrentar o Chivas Guadalajara nas semifinais.

Em nenhum dos três últimos exemplos o Flamengo reverteu o resultado, mas ainda assim os considero positivos, pois o Mais Querido do Brasil teve brios, capacidade de reação e disputou no limite extremo a classificação. Esse é o ponto ao qual quero chegar: o adversário, Amigos, é o Emelec e não o Boca Juniors ou o Real Madrid. Logo, se não seria cogitável (e nunca foi) entregar os pontos para Atlético/MG, Vasco da Gama, Santos, Olimpia, River Plate e Internacional, não será, com todo o respeito, para o Emelec, como não foi para Vitória/BA, Defensor e Universidad de Chile.

Emelec, Senhoras e Senhores. E-me-lec, após um bico no rosto do Rafinha e uma entrada covarde e criminosa que resultou na fratura de Diego Ribas, capitão da equipe. O Mais Querido, historicamente, não deixa barato (futebolisticamente) esse tipo de insulto. Além disso, diferentemente do que ocorreu em 2007, 2008 e 2010, assim como em 1993 e 1996, fora de campo o trabalho vem sendo feito corretamente. Por isso mesmo, tenho convicção de que dessa vez será diferente e de que estamos muito próximos de desvirar o fio e rumar definitivamente para conquistas maiores.

Tudo começará na próxima quarta-feira.

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Futebol não é matemática e nem só razão, tática e técnica, mas também muita emoção. Se assim não fosse, o pedido de demissão de Mano Menezes não teria incendiado uma limitadíssima equipe em 2013, assim como o esquadrão de 1981 não teria encontrado forças para superar o trágico falecimento e a homenagem ao Mestre Cláudio Coutinho. Observem que, depois do confronto contra o Bahia, no domingo (3/8), e até o confronto contra o Vasco da Gama (sábado, 17/8), o Mais Querido terá exatos 14 (catorze) dias sem jogos no meio de semana, mas apenas o Grêmio, no Maracanã, no sábado (10/8). Portanto, sobrará tempo para recuperar os jogadores contundidos e desgastados.

O Flamengo precisa sobreviver a essa difícil semana. É aqui que entra o papel do torcedor, com seu apoio e sua fé. É hora da religião Flamengo ser vivida na prática. E como disse o @maurocezar neste tuíte, o Flamengo não está eliminado da Libertadores/2019.

Aliás, muito pelo contrário: vai dar Flamengo.

Bom dia e SRN a tod@s.