segunda-feira, 6 de maio de 2019

(In) Coerência

Salve, Buteco! Noto que boa parte da torcida que gosta de interagir no Buteco e nas redes sociais ficou aliviada com o empate de ontem. Incluo-me entre esses torcedores e confesso que temia pelo pior (uma goleada). Ontem, Abel foi autêntico e fez do limão uma limonada. Parecia estar em seu "habitat natural": desfalques, time muito menos entrosado e treinado do que o titular, e evidentemente mais fraco do que o do adversário, trazendo a oportunidade perfeita para entupir a escalação de volantes. Por isso mesmo, o Flamengo atacou pouco e quase não ficou com a bola, surpreendendo o São Paulo com o gol de Berrío. Seu maior mérito durante os 90 minutos foi resistir, bloquear e marcar o tricolor paulista com raça e obstinação. Até poderia ter vencido se o VAR não tivesse sumido providencialmente (afinal, era o time do presidente da CBF) no momento do toque no braço de Bruno Alves... Dentro do peculiar contexto da partida de ontem, ofensivamente o time foi quase inexpressivo durante a maior parte do tempo, porém exibiu interessante variação do desenho tático na linha defensiva, variando entre o 4-1-4-1 e uma linha de 3, composta pelos zagueiros centrais e um dos laterais, a depender do lado que o São Paulo atacava. Enfim, Abel extraiu daqueles jogadores o que poderia, se ainda considerarmos o desmaio de Berrío, no final do primeiro tempo, e uma inoportuna contusão de Matheus Dantas.

Então, afinal de contas, o resultado foi bom ou ruim? Para mim, mediano, por dois motivos: primeiro, pela posição na tabela, não só em relação ao líder, mas principalmente pela distância aberta pelo Palmeiras, nosso real concorrente. 9º lugar em três rodadas está muito longe de ser um bom desempenho para esse elenco. Em segundo lugar, porque de nada adianta "isolar" o contexto de ontem e enxergar heroísmo onde prevalece (ao meu ver) a incompetência, já que a pressão por resultado na Libertadores e a decorrente necessidade de poupar titulares no Brasileiro não nasceu de causas imprevisíveis e sim das derrotas para LDU em Quito e, principalmente, Peñarol no Maracanã. 

Somando as duas últimas rodadas do Brasileiro, o Flamengo conquistou apenas um ponto em seis disputados, apesar de se tratar de dois clássicos interestaduais. Somando os jogos de maior peso (não é o caso do San José), a rigor o Flamengo só venceu o Cruzeiro e a LDU no Maracanã, tendo sido derrotado por Peñarol, LDU em Quito e Internacional, além do empate de ontem com o São Paulo, totalizando modestos 7 pontos em 18 disputados nos jogos de maior porte por ambas as competições (Brasileiro e Libertadores). Vale lembrar que semana que vem virão os jogos fora de casa contra Corinthians (ida pela Copa do Brasil) e Atlético/MG (5ª Rodada), apenas três dias depois.

A rigor, não tem ninguém nadando de braçada no futebol brasileiro e não há como deixar de considerar que o Flamengo teve a pior sequência de adversários, comparando com os concorrentes. Além disso, a maior parte dos jogos ocorreu fora de casa. A preocupação está na baixa pontuação e no fraco futebol apresentado. Quem aspira o título brasileiro precisa pontuar bastante como visitante e se garantir como mandante. O Flamengo não vem fazendo nenhuma das duas coisas.

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O tempo pode mostrar que estou errado, mas não vejo sentido na opção de Abel de priorizar o jogo reativo e de contra-ataques com o elenco que o Flamengo possui. O elenco escolhido pela Diretoria, composto na parte de criação por jogadores leves e técnicos, tem vocação ofensiva e propositiva. Conversando com os amigos no post do Dudu, na sexta-feira passada, comparei a média de altura dos jogadores do meio campo titular do Palmeiras com a dos nossos da mesma posição. Até brinquei montando um time fictício com ex-jogadores rubro-negros que teriam características parecidas com o meio palmeirense, apenas para ressaltar o contraste. 

Observem que não é apenas quanto cada um mede, mas a característica dos atletas, que inclusive fogem do jogo físico. Enquanto a média do Palmeiras supera 1,80m e tem jogadores efetivamente fortes, a nossa fica abaixo, sendo que o jogador mais alto (Willian Arão) às vezes apresenta dentro de campo a consistência defensiva de uma samambaia chorona. Logo, não é de surpreender a alta média de gols sofridos pelo Flamengo até aqui. O time titular não tem jogadores com físico adequado para executar a estratégia de entregar a bola para o adversário suportar pressão durante a maior parte dos 90 minutos, o que provavelmente explica ter melhores momentos quando, inversamente, marca por pressão o adversário em seu campo, não deixando-o respirar com a posse de bola, ainda que exercida em jogadas mais agudas.

Suspeito que o assunto voltará à tona em breve.

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Questionamentos táticos à parte e apesar de haver criado a enrascada em que se meteu, o Flamengo tem condições de voltar de Montevidéu com a vaga. Contudo, confesso que estou dividido, um pouco cético, mas sem chegar a estar pessimista. Nada me surpreenderá quarta-feira.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.