quarta-feira, 22 de maio de 2019

Alfarrábios do Melo

SETE PERGUNTAS...

1 – Classificado em primeiro lugar em seu grupo na Taça Libertadores, com a melhor campanha da Primeira Fase, e agraciado com um adversário teoricamente fraco (comemorado no sorteio) para o confronto na fase seguinte. Garantido nas Quartas-de-Final da Copa do Brasil. Vice-campeão Estadual e, decorridas quinze rodadas do Brasileiro, ocupando a sétima colocação, com 51% de aproveitamento, a 8 pontos do líder. Destaque negativo para o sistema defensivo, que sofreu 15 gols, média de 1,00 por jogo. Apesar do bom posicionamento nos torneios eliminatórios, o desempenho da equipe tem sofrido críticas, notadamente em função da falta de regularidade. As principais reclamações chamam a atenção para o nível do elenco, que não está conseguindo entregar aquilo de que se espera. Diante desse contexto, e com a proximidade de jogos que poderão definir a temporada, o que fazer? Manter a comissão técnica, buscando evolução? Ou partir em busca de alterações? Os mais argutos terão percebido que o quadro descreve a realidade do Palmeiras em julho de 2018. Desnecessário expor os desdobramentos. Ainda assim, tendo em vista a evidente analogia com o momento atual do Flamengo, repete-se a pergunta: diante de um cenário como o exposto, o que fazer? Aguardar a evolução que nunca chega? Ou fazer acontecer?


2 – Referindo-se ao fiasco de sábado passado, quando o Flamengo, com um time e elenco muito superior, deixou-se impor por um adversário de nível mediano, coalhado de jovens e veteranos decadentes, que atuou com um a menos por um tempo inteiro: chamou a atenção o time ter demorado a “voltar pro jogo” após sofrer o segundo gol e a sensível superioridade de intensidade da equipe mineira. Pode-se explicar o acontecido pelo cansaço (ou seja, preparo físico/mental inadequado)? Ou será que a temida postura “banana” arrisca estar de volta?


3 - “As pessoas reclamam dos jogadores, mas não reclamam de quem está lá trabalhando ao lado dos jogadores quando o desempenho está ruim. Quem está avaliando? Quais as metas que essas pessoas têm? Quais resultados? Esse processo foi bem feito?” (LANDIM, Rodolfo, entrevista ao GloboEsporte.com, 23/11/2018).

Aproveitando um gancho deixado na pergunta anterior: em janeiro de 2018, o Flamengo trouxe o preparador de goleiros Rogério Maia, em substituição ao controverso Victor Hugo. A contratação, ainda assim, foi duramente criticada nas redes sociais, em função do novo profissional ser procedente da Chapecoense, cartão de visitas teoricamente inadequado para um clube do nível do Flamengo. “Contratar profissional de Chapecoense, Audax, com todo o respeito…" etc. Com a reformulação no futebol levada a cabo no início de 2019, chegaram para a nova comissão técnica o auxiliar Marcelo Salles, o “Fera”, com trabalhos recentes no Volta Redonda e no Nova Iguaçu, e o preparador físico Alexandre Sanz que, segundo apurado por reportagens da época, estava se dedicando a “treinamentos funcionais na praia”. Ambos fizeram parte da comissão técnica de 2009, dez anos atrás. Rogério Maia foi demitido, e em seu lugar chegou o preparador Wagner Miranda, vindo justamente da… Chapecoense. Pergunta-se: considera-se realmente adequado o currículo dos profissionais que compõem esta nova comissão técnica do Flamengo?


4 – “O processo de liderança começa por quem comanda. O que vemos hoje é uma mediocridade, no sentido mais puro da palavra: mediano. Um conformismo com as derrotas, aquele sentimento de que tudo está bom, que é assim mesmo.” (LANDIM, Rodolfo, entrevista ao site FutRio, 07/12/2018).

Uma das críticas mais pertinentes à administração que se encerrou em 2018 se debruçava sobre a crônica incapacidade de conquistar títulos expressivos. Em uma entrevista concedida ao Portal UOL em outubro de 2017, o Gerente de Futebol Mozer declarou, em tom de exaltação: “Alcançamos três finais, a Taça Guanabara, o Campeonato Carioca e a Copa do Brasil”. Naturalmente, a declaração foi massacrada nas redes sociais e objeto de chacota, muito por conta da postura de enaltecimento de resultados inexpressivos. Pergunta-se: em que diferem, em essência, a declaração do Mozer e a recente nota oficial expelida pela Diretoria em 03 de maio, onde se celebram as “relevantes” conquistas da Copa Mickey e do Campeonato Estadual?

5 – Em uma guinada digna de elogios, o Flamengo, em 2019, tem buscado no mercado a contratação de jogadores de nível mais elevado, procurando minimizar o risco de erros nesse aspecto, algo recorrente nas “janelas” passadas. Nesse contexto, chegaram Arrascaeta, Rodrigo Caio, Gabigol e Bruno Henrique, sem a incidência, até aqui, de baixas relevantes no plantel. Com isso, pode-se afirmar categoricamente que o Flamengo de 2019 possui jogadores melhores que o do final do ano passado. No entanto, há uma percepção nítida e generalizada de que o time piorou. Temos jogadores melhores, mas o time é pior. A que se pode atribuir este inusitado fenômeno?


6 - Tem uma coisa que eu não suporto. Eu não suporto perder, eu acho que o Flamengo tem que ganhar tudo. O Flamengo pode perder, isso é da vida, mas tem que estar sempre querendo ganhar. E tem de estar sempre indignado com a derrota.” (LANDIM, Rodolfo, entrevista à ESPN, 09/08/2018).

Essa história de relativizar derrotas, em partes, como times medíocres, essa falta de indignação com o mau resultado, é uma coisa que leva o clube a não ganhar. Ninguém com esse tipo de discurso ganha nada" (LANDIM, Rodolfo, entrevista à Fox Sports, 07/12/2018).

Tornaram-se célebres as entrevistas pós-jogo do treinador Zé Ricardo (2016-17), elogiando e congratulando a equipe mesmo diante de resultados negativos: “Fizemos bom jogo”, “parabenizo a equipe pela luta”, “jogar aqui é sempre difícil”, entre outras pérolas de resignação que levavam à loucura os torcedores e ajudaram a impingir a pecha de “banana” ao Flamengo do triênio 2016-18.

Eis que, em pleno 2019, com o Flamengo sob o comando de um grupo que tomou como “carro-chefe” de sua gestão “eliminar o conformismo”, o treinador Abel Braga, após derrotas fora de casa para Internacional e Atlético-MG (esta última, pelas circunstâncias, absolutamente inaceitável), crava, nos dois casos, à guisa de repetição para que não reste dúvidas, que “perder aqui é normal”, aludindo ao ocorrido no Beira-Rio e no Independência. E essa conversa de “tem que ganhar tudo”? De “indignação com o mau resultado”? Vamos ver isso na prática? Ou era só papo pra ganhar eleição?


7 – Em outubro de 2018, o Flamengo sacramentou a venda de um dos seus principais jogadores, Lucas Paquetá, por um valor equivalente a 70% da multa rescisória. A divulgação do preço de venda (entre outros fatores, como o momento esportivo ostensivamente inadequado e a inusitada pressa do clube em fechar o negócio) fez cadeira voar, subir dedo na cara, enfim. Quase saiu tiro. Abriram processo, inquérito, no melhor estilo “prendo e arrebento”. Uma gritaria generalizada, evidentemente bastante explorada em um momento político conturbado. Pois. Passam-se alguns meses, e o GloboEsporte.com divulga, agora em 21 de maio, reportagem em que “Flamengo e responsáveis pela carreira” do volante Gustavo Cuellar, seguramente o principal ídolo atual da torcida, “admitem” que a multa rescisória do jogador encontra-se “fora da realidade” e acenam com “discussão, sem interesse em conflito que possa gerar litígio por cobrança irredutível de multa”, caso chegue ao clube uma proposta que se aproxime do correspondente a 1/7, ou cerca de 14%, da multa contratual.

Cada caso é um caso? Ou depende de quem está com a caneta? “Eles não podem mas nós podemos”? Como é isso?



… E UMA CONSTATAÇÃO

Uma das piores coisas que temos na vida é o burro com iniciativa. Burro com iniciativa. Ele quebra você” (BAPTISTA, Luiz Eduardo, declaração ao GloboEsporte.com, 27/10/2015)

Ultimamente tenho me lembrado dessa declaração do Luiz Eduardo Baptista, o Bap, atual VP de Relações Externas do Flamengo, e tido como responsável por, entre outras intervenções, indicar a contratação do treinador Ney Franco em 2014 e avalizar a permanência de Abel Braga no comando atual do elenco rubro-negro.

Pois é… Essa frase… Acho que ele tem razão...