Saudações flamengas a todos,
Breves
reflexões em pastilhas sobre o involuntário recesso de Carnaval em
pastilhas, inspiradas no célebre “Triplex Top Ten”, do colega
Alex Souteiro.
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Jogos do Flamengo costumam levar à euforia, à alegria desmedida, à
tristeza, ao desânimo, ao sarcasmo, à vontade de celebrar, à
frustração. Mas poucos, muito poucos jogos me fizeram rebentar
tanta irritação quando o empate dos reservas contra o Vasco,
sábado passado. Um ataque apoplético de fúria, com ganas de
arrebentar a tudo e a todos, a ira dardejando dos olhos injetados de
sangue, a boca febril espumando correntezas salivares de ódio.
Durou dias. E ainda não passou de todo. O Flamengo JOGOU NO LIXO o
que teria sido uma vitória consagradora, marcante, daquelas de se
comentar por anos.
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O que mais incomoda é que, pasmem, o time comportou-se
relativamente bem, dentro da controversa proposta “reativa” de
Abel, fechando-se razoavelmente bem no meio e, a rigor, somente
sofrendo perigo por conta da inexperiência da dupla de zaga (ainda
não se falará de arbitragem aqui). Contragolpes armados em
velocidade e tal. Mas a crônica incapacidade de matar jogos seguiu
dando o tom. E a bola puniu, aos gargalhos.
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Jogos de times reservas são interessantes para avaliar atuações
individuais, a despeito das formações coletivas algo modificadas.
Nesse contexto, a meu ver aproveitaram suas oportunidades e foram
bem: César (dessa vez seguro, mesmo nas saídas de gol, seu ponto
fraco), Thuler (soube sofrer na marcação do encrenqueiro ataque
vascaíno), Trauco (apesar de certos problemas na segunda etapa, foi
perigoso no apoio), Piris (limitado mas aguerrido, jogador de jogo
grande), Arrascaeta (além do gol, mostrou objetividade), Éverton
Ribeiro (a qualidade de sempre) e Vitinho (começou mal, mas depois
se soltou e foi um tormento no ataque).
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Por outro lado, acredito que não foram bem Hugo Moura (errou vários
botes, por cima e por baixo), Vitor Gabriel (apanhou bastante, é
verdade, mas mostrou-se muito tímido ainda), Lucas Silva
(embolou-se com a bola em vários momentos. Mas a seu favor conta a
personalidade. Não tem medo) e Bruno Henrique (errou vários lances
por displicência e sentiu a pressão de matar a bola do jogo,
transferindo a responsabilidade para Rodinei). Avaliação neutra,
com viés de baixa, para Klebinho (correu muito e fechou o lado
direito, mas mostrou certa incompatibilidade com a bola).
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Deixei tópicos em separado para falar de dois jogadores. O
primeiro, Ronaldo. O volante queridinho das redes sociais apresentou
notória aversão ao contato físico e às bolas divididas. Errou
alguns passes na intermediária (um deles com poucos segundos de
jogo), que felizmente não resultaram em nada mais grave. Muitas
vezes pareceu desconectado da partida, trotando para recompor e
demorando para tomar decisões. Mas, quando entrou no jogo, foi
sempre perigoso, com finalizações e passes verticais e de bom
nível, como o que originou a jogada do gol. Prendeu bem a bola,
soube rodar. A avaliação,
para mim, foi neutra. Acho um bom jogador. Mas ainda correndo sério
risco de se tornar algo como Muralha (o volante de 2011-13) ou
Júnior Boneca.
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O outro é a personagem negativa da partida. Rodinei. Jogador que
costuma apresentar graves problemas cognitivos e de leitura de jogo,
o que o fez, por exemplo, passar os noventa minutos atirando a esmo
bolas a escanteio, proporcionando a única jogada de real perigo dos
vascaínos, é voluntarioso e possui bom rendimento físico. No
entanto, já demonstrou, ao longo de três temporadas que não reúne
condição técnica de integrar um elenco com as aspirações do
nível das que o Flamengo apregoa possuir. O lance de sábado me fez
desistir, em caráter irrevogável e irreversível, do jogador.
Típico lateral que vai voar num Grêmio ou Cruzeiro da vida. Aqui,
não vai se criar. Que a chegada de Rafinha ou do Matheuzinho encerre de vez sua opaca
passagem pela Gávea.
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É aquilo. À inacreditável chance perdida por Rodinei, pode-se
acrescentar os pênaltis do Diego (Palmeiras e Cruzeiro em 2017), o
gol perdido pelo Éverton diante do goleiro do Independiente (2017),
o gol perdido pelo Diego (ele de novo) contra o Corinthians em 2017,
a bola, e o título, que o Paquetá mandou pro espaço ano passado
contra o Palmeiras, o gol perdido pelo Uribe contra o São Paulo
(sem goleiro), o Vitinho atirando na lua a vitória contra o mesmo
São Paulo (dessa vez, no Morumbi)… O Flamengo tem se
especializado em se recusar a vencer. A glória se lhe esfrega à
cara. Mas o time simplesmente refuga. Por que?
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Rever, Diego, Arão, Pará. No final do ano passado, eu identificava
que nenhum processo de reformulação seria bem-sucedido se algum
desses nomes fosse mantido no elenco. Depois, até mudei de ideia
com relação ao Diego, que poderia se tornar um bom nome “de
elenco”. Pois. Dos quatro, apenas o primeiro saiu. Os demais são
titulares absolutos e aparentemente intocáveis. Talvez isso ajude a
responder à pergunta anterior.
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Desnecessário se estender mais detalhadamente sobre a atuação da
arbitragem no sábado. Que, após o gol de Arrascaeta, dedicou-se,
com ímpeto raras vezes visto num campo de futebol, a cavar o
“honroso” empate para os de São Januário, cuja derrota para
nossos reservas poderia fazer do seu já turbulento ambiente
político um real inferno. E nisso, tome faltinhas inventadas na
beira da área, pescoções e voadoras nos nossos ignoradas
olimpicamente, e o previsível desfecho final de pastelão (ficou
claro o movimento sincronizado dos vascaínos começando a cair na
área assim que o relógio marcou 40 minutos). A questão é: “time
que não mata jogos”, “elenco mal formado (agora sem volantes e
tendo que recorrer a zagueiro improvisado)”, “dirigente saindo
de férias”, “dirigente que só mostra a cara na vitória”,
“escalação de jogador 'da panela'”, “time sendo perseguido e
roubado nos campeonatos”… Está-se falando de 2017, 18? Ou de
agora? Ainda é cedo para avaliar o desempenho da administração
nova, e não vou fazê-lo por ora. Mas que se travestir de pedra soa bem
menos oneroso do que se expor a vidraça, ah isso é.
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Vi LDU x Peñarol. Jogo de nível (técnico e tático) bem mais baixo que os de River
Plate, Emelec e Santa Fé ano passado. Mas bem mais baixo mesmo. Os dois
times são “ganháveis”. Mas extremamente perigosos, ainda
assim. Até porque, em Libertadores, qualquer time contra o Flamengo
é perigoso. Mas, enfim. A LDU é um time leve, veloz, que troca
passes com objetividade e usa muito o lado do campo, especialmente
com Ayovi, que tocou o terror contra os uruguaios. O ataque cria (e
perde) muitos gols. O meio é espaçado e de marcação gentil (o
fraco Orejuela, ex-Fluminense, é titular). A defesa não me pareceu
sólida. É aquele tipo de equipe que parece “jogar e deixar
jogar”. Ou, no caso, fortíssima em casa e vulnerável fora. Mas
essa é a lógica. Que nem sempre dá as caras. O Peñarol, por seu
turno, faz (ou tenta fazer) jogo reativo, de contragolpe. O goleiro
é bom, a defesa se vira. No meio, há uns dois jogadores de bom
nível. Mas o resto do time é tecnicamente pavoroso. Briga com a
bola. Mas a raça, a entrega e a atitude estão ali. Tiveram duas
chances claras de empatar o jogo em Quito, mas a ruindade dos
atacantes o impediu. Os dois jogos contra eles, especialmente o de
Montevideo, serão encardidos e catimbados. Tipo de contexto que,
como sabemos, ultimamente tem trazido problemas para o nosso time de
rapazes “do bem”.
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Vejo muitos nas redes sociais falando em “classificação antecipada” nesses três jogos do Maracanã e tal. Até acho que é algo possível, sim. Mas não custa lembrar que na edição passada da Libertadores o Flamengo, das quatro partidas que fez no Rio, ganhou apenas uma. Sempre é bom respeitar o contexto.
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Finalizando. Diego Alves, Pará, Léo Duarte, Rodrigo Caio, Renê,
Piris, Cuellar, Arrascaeta, Éverton Ribeiro, Gabigol, Bruno
Henrique. Essa é a escalação que considero, hoje, que deveria ser
a base da equipe. Que, se pretende ser reativa, precisa dispor de
jogadores verticais e velozes. E, principalmente, saber se compactar
atrás. Até porque hoje não temos nem uma coisa (agressividade no
contragolpe), nem outra (compactação na defesa).
Boa
semana a todos,
