segunda-feira, 20 de agosto de 2018

20 Minutos

Curitiba, 6 de setembro de 1914. O Clube de Regatas do Flamengo inicia uma série de três partidas amistosas no Estado do Paraná. O primeiro jogo ocorre na capital paranaense, no estádio “Baixada da Água Verde”, que na ocasião recebia sua partida inaugural. O adversário e mandante foi o alvinegro (camisa estilo Botafogo, Atlético/MG e Juventus) International Football-Club, sobre quem o Mais Querido aplicou impiedosos 7x1, porém módicos se comparados aos 9x1 na Seleção de Curitiba, no dia seguinte, no mesmo estádio, ou então aos 15x0 sobre o Paranaguá no dia 9, no Estádio Municipal daquela cidade. O confronto contra o International atraiu 3.000 (três mil) pessoas, público recorde para o Baixada da Água Verde, e o primeiro gol nele marcado foi rubro-negro, aparentemente do atacante Arnaldo (há registros contraditórios quanto ao autor do tento). Quase dez anos depois, aos 26 de março de 1924, o fundador do International, Joaquim Américo Guimarães, promoveu a fusão do alvinegro com o alvirubro América Futebol Clube, formando o Clube Atlético Paranaense, também conhecido por “Furacão”, que então rebatizou o antigo Estádio da Baixada da Água Verde com o nome do fundador, como uma forma de homenageá-lo.

O Flamengo só voltou ao Estádio Joaquim Américo Guimarães, então já conhecido popularmente como “Arena da Baixada”, em 22 de maio de 1994, quando disputou um amistoso e foi derrotado pelo Atlético/PR por 0x1. Desde então, até 18 de agosto de 2018, disputara 18 (dezoito) partidas no estádio contra o mesmo anfitrião, alcançando ao todo 1 (uma) vitória, 5 (cinco) empates e 12 (doze) derrotas, marcando 11 (onze) gols e sofrendo 33 (trinta e três) gols. Entre a partida inaugural do Estádio da Baixada da Água Verde, no longínquo 1914, e a de maio/1994, o Flamengo voltou a Curitiba para enfrentar o Atlético/PR por 12 (dez) ocasiões, porém nos estádios Durival de Britto, Pinheirão ou Couto Pereira. Nesses estádios, o retrospecto do Mais Querido é bem melhor: 14 (catorze) jogos, já contando os posteriores à inauguração da Arena da Baixada, inclusive o empate por 1x1 na final da Copa do Brasil/2013, totalizando 4 (quatro) vitórias, 6 (seis) empates e 4 (quatro) derrotas. As últimas vitórias em Curitiba contra o Atlético/PR ocorreram em 1974, pelo Campeonato Brasileiro, no Couto Pereira, com direito a gol do então jovem Galinho de Quintino, e em 2011, pela Copa Sul-Americana, na Arena da Baixada, gol de Ronaldinho Gaúcho.

A esmagadora maioria das partidas disputadas na Arena da Baixada foram oficiais e pelo Campeonato Brasileiro. Má fases à parte, é possível constatar que, tal como ocorre nos confrontos contra o Grêmio em Porto Alegre por esta específica competição, o Flamengo, como visitante, historicamente não encara o confronto com a mesma seriedade que o adversário.

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Curitiba, 19 de agosto de 2018, 11:00 AM. Arena da Baixada, 19ª Rodada do Campeonato Brasileiro. Última partida do primeiro turno. É claro que, entre nós, havia os céticos, que já previam o resultado adverso, seja pela ausência de Diego Alves, seja pelo temor do desgaste. Mas havia os que, como eu, nutriam a esperança de que a lição havia sido aprendida com as derrotas por 0x2 para os reservas do Grêmio e para o Cruzeiro. Tudo ruiu em vinte minutos, o suficiente para o Atlético/PR, penúltimo colocado, desfalcado e com treinador interino, marcar três gols e repetir a história de derrotas na era moderna do estádio.

Vejam bem, considero normal levar pressão de um time menos descansado, ainda mais como visitante, acabando de sair de uma verdadeira batalha campal na última quarta-feira. Isso não se confunde com desatenção. É injustificável entrar desligado em campo e apresentar tantas falhas individuais. O remédio para a pressão deveria ser a firmeza defensiva em conjunto com a consistência tática, mas o que se viu, mais uma vez, durante vinte minutos, foi um quadro de extrema fragilidade, como se o time estivesse alheio ao ímpeto adversário.

Rodinei foi a personificação desse estado de espírito. Em apenas dezesseis minutos o Atlético/PR forçou o jogo em cima dele e achou as jogadas dos dois primeiros gols. O terceiro veio aos vinte, na falha de marcação da bola aérea paranaense por Arão e Uribe. Com 3x0 no placar, o Furacão ficou no melhor dos mundos, aguardando, bem postado defensivamente, o desespero do Flamengo, armando sucessivos contra-ataques. Mérito para o interino treinador adversário, que observou um ponto fraco em nosso sistema defensivo e apostou nas jogadas certas contra o nosso setor direito. 

Não gosto de eleger culpados e atribuir derrotas a atuações individuais, mas é impossível entender como um Departamento de Futebol que resolve ter Rodinei e Pará como opções para a lateral direita não enxerga que ambos, limitados, são incapazes de manter a concentração necessária para jogar em alto nível durante grandes sequências. O erro de 2017, cometido com Pará, em 2018 é repetido com Rodinei. Reiterando o que escrevi segunda passada, é latente sua dificuldade para se posicionar bem na marcação, seja nas bolas paradas ou longas, aéreas ou rasteiras. Jogadores medianos precisam participar da rodagem de elenco, pois sua função primordial é dar consistência defensiva ao time. Desgastados física e mentalmente, tendem a falhar, ao contrário das peças de maior qualidade.

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É bom esclarecer que, após o terceiro gol, não faltou atitude ao Flamengo. Vitinho criou as melhores oportunidades e demonstrou inconformismo com a situação; Everton Ribeiro, mesmo sem render, não se omitiu, Cuéllar mostrou a raça de sempre e Lucas Paquetá novamente subiu de produção nos minutos finais da partida, criando boas jogadas. Contudo, o leite já estava derramado e minha impressão foi de que o time se desgastou mais tentando inutilmente reverter o resultado do que se tivesse entrado em campo atento e resistido ao tradicional ímpeto inicial do visitante.

Maurício Barbieri precisa ficar esperto. A fase da novidade já acabou, não apenas pela efetivação, mas sobretudo porque as competições entraram no momento que exige a chamada "sintonia fina", no qual praticamente não se pode errar. Pior ainda é a repetição dos mesmos erros. Não há mais espaço para abstrações nem insistência com o que não dá certo. Vale lembrar que, dos adversários diretos (São Paulo, Internacional, Cruzeiro, Atlético/MG e Palmeiras), nenhum perdeu na Arena da Baixada. O único a não vencer foi o Internacional. Logo, a grama sintética não causou a derrota, certo, Barbieri? E de nada adianta ressaltar mais uma vez que alertou o time quanto à estratégia adversária. Ao assim proceder, nosso jovem treinador aparenta que não consegue transmitir aos atletas suas orientações.

É claro que Barbieri está longe de ser o principal responsável. A incapacidade da Diretoria se autoavaliar seriamente mostra que, se melhorou o clube em nível de patrimônio, estrutura, finanças e até no nível do elenco profissional, pouco ou nada evoluiu em mentalidade e filosofia. São essas pessoas as responsáveis a traçar um rumo para o Departamento de Futebol.

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Acabei me esquecendo de ressaltar um interessante aspecto, daí a atualização do texto.

Apesar do retrospecto, o Flamengo só havia sido goleado (derrota por diferença igual ou maior do que três gols) na Arena da Baixada para o Atlético/PR em duas ocasiões: 2001 e 2003. Desde 2013 perdeu duas vezes por 0x3 e, para o mesmo adversário, pela primeira vez no Maracanã: os 2x4 pelo Brasileiro, culminando com o pedido de demissão de Mano Menezes.


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Quinta-feira, 23 de agosto, o Mais Querido recebe o Vitória, na abertura do segundo turno. A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.