segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Bomba-Relógio

Salve, Buteco! É claro que, neste primeiro semestre de 2018, a prioridade do Flamengo tem que ser a classificação na Fase de Grupos da Copa Libertadores da América. Já houve tempos em que a Diretoria e parte da torcida questionavam a priorização da competição sul-americana, mas hoje simplesmente inexiste espaço para a menor discussão a respeito do tema. Até sábado, para os padrões do Clube de Regatas do Flamengo, tudo transcorria em sobrenatural calmaria com excelente campanha no Campeonato Estadual, de tal modo que esse texto deveria abordar exclusivamente o tão-aguardado jogo da próxima quarta-feira, que por sinal vem despertando muita ansiedade. Porém, eis que surge o imponderável desastre e dele nasce a turbulência dispensável e absolutamente fora de hora. Não é que o Estadual tenha passado a "valer", como muitos jornalistas distorceram em suas análises; é que o Flamengo de hoje não precisa tomar de 4 (quatro!) em um clássico regional para priorizar outra competição. O Mais Querido, definitivamente, tem atração natural pela confusão. 

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Carpegiani saiu de um 4-1-4-1 do time titular, com quarto meias de características ofensivas na segunda linha, para uma desentrosada e desorganizada escalação com três volantes de características defensivas e três atacantes, que foi uma tentativa de 4-1-4-1, mas ora parecia um 3-4-3, ora um 4-3-3. Rômulo, que teve atuação desastrosa, chegou a se alinhar com a zaga e, nessa posição, falhou no primeiro gol. O miolo de zaga também comprometeu nos três gols seguintes posicionando-se mal na bola aérea. Para piorar, Trauco, que pela primeira vez iniciou uma partida no ano, tornou a lateral esquerda uma verdadeira autoban alemã. A derrota, até previsível pela diferença de entrosamento e ritmo de jogo entre as equipes, além do lapso de quase dois anos sem derrotas para o rival, subitamente se transformou em um vexame que era perfeitamente evitável. Carpa confessou na entrevista pós-jogo que a formação foi pouco treinada. Mesmo levando em conta que ao menos quatro jogadores comprometeram individualmente, o desastre foi facilitado pelas infelizes escolhas do desenho tático e das peças para executá-lo.

Mas falar da atuação do nosso treinador é a parte fácil. Há quanto tempo nossos bravos diretores sabem que o treinador decidiu implantar um 4-1-4-1 com apenas um volante e privilegiando meias ofensivos? Não seria lógico diminuir o número de volantes e aumentar o de meias ofensivos no elenco? Observem que não estou questionando jogadores com características diferentes dos titulares, viabilizando as variações táticas ou de estilo de jogo. Portanto, nada de errado em ter jogadores como Willian Arão e Jean Lucas, "volantes de aproximação" que também podem jogar como meias internos, ou atacantes como Vinicius Jr. e Marlos Moreno, que podem atuar nas extremas. O problema é que o elenco precisa contar com ao menos alguns reservas que possuam características semelhantes aos principais titulares, de modo a que possa suportar a fortíssima maratona de jogos do segundo semestre. Hoje, Everton Ribeiro, Diego e Lucas Paquetá, meias ofensivos e titulares, peças-chave no esquema 4-1-4-1, não têm reservas com características semelhantes.

Percebam que foi armada uma verdadeira bomba-relógio, programada para ser detonada no segundo semestre: todos os meias ofensivos do elenco são titulares e compõem a segunda linha de quatro. Logo, como a temporada promete ser longa, provavelmente com um número exorbitante de partidas, tal qual 2017, toda vez que o treinador escalar um time reserva mandará para campo uma formação muito diferente da titular. Time titular com três meias ofensivos, reservas com volantes, ofensivos ou defensivos, e atacantes. Enquanto as competições forem apenas a Libertadores e o Estadual, salvo escolhas infelizes como as de sábado, não haverá maiores consequências. Contudo, a partir do início do Campeonato Brasileiro e especialmente no segundo semestre virão as inevitáveis sequências de clássicos e partidas decisivas. Alguém imagina Diego e Everton Ribeiro rendendo em alto nível após sucessivas sequências pelas Copas do Brasil e Libertadores, além do Campeonato Brasileiro?

Não acredito que tenha passado desapercebido. Receio que o Departamento de Futebol cogite priorizar alguma competição na reta final da temporada. O que ainda não foram capazes de perceber é que o Flamengo não é o Grêmio do "desejado" Renato Gaúcho e nem muito menos tem elenco para, por exemplo, priorizar a Libertadores sem ter severas (atenção, severas!) perdas esportivas no Campeonato Brasileiro. Será preciso contratar no meio do ano.

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Jogando como lateral, não raro Trauco apresenta dificuldades defensivas. Contudo, é forte no apoio, tanto nos cruzamentos, como lançamentos em profundidade e também na bola parada. Teve participação ofensiva importante em partidas da Libertadores e da Sul-Americana. Ontem, as duas únicas jogadas de perigo do Flamengo no primeiro tempo nasceram de seus pés. Um contraste com as falhas no segundo e quarto gols do Fluminense. É preciso cuidado na avaliação desse específico atleta e não colocá-lo no mesmo patamar de outros que não dão retorno esportivo algum. No contexto atual, talvez não fosse má-ideia estudar sua utilização como meia, na condição de reserva (o que ensejaria a subida de um lateral esquerdo dos juniores).

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A bomba-relógio da "priorização" tende a ser detonada a partir do início da participação do Flamengo na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro. Até lá, o clube tem time titular para se classificar na Fase de Grupos, muito embora o elenco pudesse estar melhor formado. O desafio começa na próxima quarta-feira, na tão aguardada estreia contra o River Plate.

A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.