quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

A crítica é livre

Evidentemente não é uma fenomenologia inerente ao universo de futebol e seus torcedores. Mas o acompanhamento das críticas realizadas nas redes sociais, mesas de bar, conversas com amigos, conhecidos e parentes revela algo intrínseco ao ser humano. A crítica implacável em relação aquilo que lhe é controverso ainda que distante, ou mesmo desconheça o  processo de decisão e  as implicações que levaram o sujeito, objeto de sua crítica, a não tomar determinadas decisões e ações em cima delas. Então se atira forte, se metralha, como se o crítico, hipoteticamente, se estivesse no papel contrário, não fizesse "atrocidades" ainda maiores que ele mesmo crucificaria em seu papel de pedra.

E o efeito manada torna tudo ainda pior. Quando o crítico se vê rodeado por pessoas, que juntas, chegam a conclusões semelhantes mesmo com conhecimento pífio ou bastante superficial sobre o objeto de suas críticas, ele se vê mais potente e mais qualificado a vociferar e berrar suas contrariedades, na maioria das vezes sem sugerir o que faria diferente. 

E o objeto de sua crítica passa então a ser estigmatizado. E o estigmatizado passa então a ser um objeto desumanizado. O que deixa o terreno livre para berrarem toda sorte de ofensas, fazerem alusões mentirosas, inventarem apelidos e debocharem dos mesmos.

Claro que isto não é "só no futebol". É em todo lugar. O que nos contraria só pode estar errado. O resultado que não vem como gostaríamos não se conseguiu porque as pessoas no poder de decisão são "objetos desumanizados" e não tão brilhantes e perspicazes como nós.

E assim vai. Os que fazem almejam resultados. Os que não fazem, criticam. Ainda se resultados vierem. É comum ver pessoas criticando até resultados bons, de forma ríspida, agressiva e ofensiva, porque simplesmente não admite que os "objetos desumanizados" sejam congratulados por qualquer coisa.

E isto no futebol é uma constante. Até pelo poder que tem junta a massa, é inebriante. É algo que parece de fácil entendimento, mas não é. Junto do futebol tem orçamento, tem agentes, tem estrutura, tem os jogadores e suas necessidades múltiplas, tem comissão técnica e sua relação com o todo, tem a imprensa, tem o jogo de poder dentro dos clubes, tem o entendimento dos principais players do que seria melhor para eles. Precisa equacionar tudo isto para obter melhores resultados a despeito de adversários com iguais problemas ou vantagens.

Vivemos numa época de crítica farta e desesperada. As redes sociais se tornaram o instrumento de percussão de cada indivíduo. E para ser ouvido cada um toca mais alto, formando uma bateria, na maior parte das vezes, desafinada e contraditória.