segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O Próximo... Não, Pera!

Salve, Buteco! O período de Festas, no futebol brasileiro, sempre traz as “tradicionais” especulações envolvendo transferências de atletas e negociações com treinadores. Contudo, poucas vezes se viu algo semelhante ao frisson da imprensa e "apuradores" a respeito da suposta saída de Reinaldo Rueda do Flamengo, ao menos envolvendo um profissional com contrato em vigor. Especulou-se sua contratação pelas Federações de Futebol do Equador, Paraguai e Uruguai, além dos clubes Deportivo Cáli e Emelec, mas nada se compara ao que fizeram a Associação Nacional de Futebol Profissional e a imprensa chilenas. O acerto foi confirmado por diversas vezes, chegou-se a afirmar que a contratação estava por uma assinatura e que Rueda se apresentaria ao Flamengo apenas para comunicar seu desligamento, porém um desacordo financeiro poderia melar todo o negócio na última hora, o que é confirmado pela sucursal colombiana Fox Sports, segundo a qual Rueda agradeceu à ANFP e disse que seguiria seu trabalho no Flamengo (até o momento em que terminei de escrever esse post). Do lado de cá, a Diretoria todo o tempo manteve o discurso de que o colombiano confirmou várias vezes que voltaria ao Rio de Janeiro para retomar normalmente os trabalhos no clube.

Retrocedendo no tempo um pouquinho mais do que dois anos, lembrei-me da campanha para a Presidência do Flamengo no final de 2015, quando Wallim Vasconcellos, concorrente pela Chapa Verde, anunciou, como plataforma de campanha, o acerto do clube com o treinador argentino Jorge Sampaoli, que então tinha contrato em vigor com… a Associação Nacional de Futebol Profissional do Chile (!). Embora Jorge Sampaoli tenha negado o acordo, ninguém tem a menor dúvida de que as negociações existiram, assim como de que o treinador argentino considerou seriamente a hipótese de se mudar para o Rio de Janeiro, já que tinha a pretensão de deixar o comando da Seleção Chilena. O assunto inclusive estendeu-se por bastante tempo: divulgou-se a ocorrência de jantar em Santiago e cresceu ao ponto de Sampaoli negar sequer conhecer quem se dizia seu representante no Brasil.

Nada me tira da cabeça que lá no Chile uniram o interesse no trabalho do colombiano à oportunidade de dar o troco no Mais Querido do Brasil. Não custa lembrar que, muito embora não apenas por conta desse episódio, a relação entre Sampaoli e a ANFP azedou irremediavelmente. No momento, o fator tempo é parceiro da ANFP; já o Flamengo tem uma Libertadores logo à frente.

***

Fala-se muito em uma cláusula do contrato de trabalho celebrado entre Flamengo e Reinaldo Rueda, segundo a qual a partir de janeiro/2018 a multa rescisória teve seu valor substancialmente reduzido. Noticiou-se também que existe previsão de rescisão em caso de proposta de alguma seleção nacional, também mediante pagamento de multa. Até onde se sabe, nada disso decorre de alteração contratual e sim do acordo que levou à celebração do contrato, o que prova que ambas as partes tinham insegurança quanto à conveniência de seu cumprimento até seu termo final, daí a possibilidade de sua rescisão, antes do tempo, em condições financeiras mais favoráveis para quem tomar a iniciativa. O contexto em que se acordou o valor do salário de Rueda no Flamengo pode explicar a própria existência da cláusula, além das sondagens e negociações, como vocês podem constatar em duas reportagens (1 e 2), segundo as quais os valores foram significativamente menores do que a pedida inicial do colombiano. Portanto, não é caso nem de se afirmar que a ocorrência de negociações faz parte do jogo, pois nesse caso foi até prevista. 

Como ressaltei neste post, não vejo sintonia entre Rueda e a Diretoria do Flamengo e acho que a contratação se deu muito mais por pressão da torcida do que por convicção em seus critérios de trabalho, tanto que, como já se sabia, Roger Machado foi a primeira opção e agora se sabe que Renato Gaúcho chegou a ser sondado. Aliás, a falta de sintonia acabou se confirmando na prática, pois nas entrevistas que concedeu à imprensa esportiva brasileira Rueda externou convicções muito distintas das publicamente defendidas por Eduardo Bandeira de Melo, Fred Luz e Rodrigo Caetano. Apenas alguns exemplos: apontou carências no elenco e a necessidade de ser rejuvenescido, assim como a importância de sua formação no início e não no meio da temporada; não relativizou derrotas; destacou a importância de ter mentalidade vencedora e vontade de conquistar títulos; trouxe informalmente um profissional colombiano, que trabalha no setor de psicologia esportiva, para acompanhar a equipe em momentos decisivos, contrariando o prestigiado (pela Diretoria) Fernando Gonçalves, e ainda cobrou postura de time grande, especialmente no cenário internacional.

A partir do momento em que se junta todas essas peças, é tolice alguém se surpreender com a existência de alguma negociação, inclusive por parte do Flamengo, o qual não escondeu de ninguém a procura por Paulo César Carpegiani, treinador, para o cargo de coordenador técnico. Quem quiser que acredite nessa versão, mas certamente há, como eu, quem desconfie que na verdade já se preparava a sucessão do colombiano, ainda que como uma espécie de "Plano B", o que acabou sendo confirmado nesta recente reportagem. Enfim, ninguém foi enganado ou é inocente nesse caso, que por certo tem muito mais detalhes do que até aqui se revelou.

O problema é que, nesse clássico das ilusões pela Copa "Quem Paga a Multa", disputado entre a Diretoria que aposta em trabalhos de longo prazo e o treinador que não gosta de romper seus vínculos contratuais, o episódio ganhou vida própria e fugiu do controle de seus protagonistas. A Diretoria queria um treinador que seguisse sua filosofia e apostou no pedido de demissão, não cogitando se desgastar em ano eleitoral mandando embora a "menina dos olhos" da torcida. Já Rueda queria ganhar mais treinando uma seleção, mas perdeu o timing para se valorizar com a proposta e encerrar a negociação. Se ficar, arrisca um clima de "acabou o amor" com sua maior avalista: a torcida.

O Flamengo e a Nação Rubro-Negra com certeza não mereciam um processo tão tumultuado desrespeitoso. Afinal de contas, é hoje a data marcada para a reapresentação de Rueda, parte do elenco profissional já trabalha desde o dia 4 de janeiro e o Mais Querido do Brasil é muito maior do que a relação profissional do treinador com a Diretoria.

No frigir dos ovos, tenho a esperança de que o Flamengo extraia ao menos uma lição de ambos os episódios (Sampaoli e Rueda): para trazer um treinador estrangeiro de prestígio, o clube deve fortalecer bem melhor sua posição quando celebrar o contrato, pois a tendência desse tipo de profissional, invariavelmente muito disputado, é sempre tentar melhorar sua posição no mercado, como aliás também ocorre com os atletas de ponta. Diferentemente do que ocorreu com vários craques, o Flamengo, nas últimas décadas, praticamente não teve reinadores com tanto prestígio e no ápice da carreira. Se Rueda permanecer, não duvido que tudo se repita durante a Copa do Mundo.

***

No cenário sul-americano (não no mundial), Rueda é acima da média. Apesar de toda a confusão, melhor seria que ficasse. O acerto com outro treinador estrangeiro do mesmo nível, por certo igualmente disputado, provavelmente envolveria um processo complexo e demorado, enquanto a troca por um treinador brasileiro acarretaria inevitável perda esportiva para o Flamengo, considerando os nomes atualmente disponíveis no mercado nacional. O próprio Carpegiani, apesar do eterno carinho da torcida e dos elogios aos recentes trabalhos no Coritiba e no Bahia (clubes tradicionais, porém "médios"), não é mais o mesmo técnico que conquistou o Brasil, a América do Sul e o Mundo pelo Flamengo há 36 (trinta e seis) anos.

Seja quem for o treinador, é necessário que se cobre uma boa elevação no padrão tático do time e uma melhor rodagem do elenco, vindo ou não reforços. Serão principalmente a Libertadores e o Campeonato Brasileiro, antes até do que a Copa do Brasil, que darão o tom da relação desse profissional com a torcida em 2018. Só as vitórias trarão paz.

***

E por falar em Libertadores e Campeonato Brasileiro, a primeira janela de transferências internacionais do futebol brasileiro em 2018 está aberta desde 1º de janeiro e se fechará somente em 16 de abril.

A palavra está com vocês para que comentem todos os aspectos desse início de temporada para o Mais Querido do Brasil.

Bom dia e SRN a tod@s.