quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Tendo em vista as notícias sobre a provável contratação do atacante Henrique Dourado pelo Flamengo, e a controvérsia por ela gerada, uma linha de argumentação chamou a atenção. Jogadores revelados, ou com passagens marcantes em clubes rivais, efetivamente logram êxito no Flamengo?

Os exemplos negativos de Edmundo, Robertinho, Wilsinho, Leandro Amaral, Yan, William e Luís Carlos Wink, entre inúmeros outros que certamente serão lembrados, depõem contra a prática. As trajetórias, por enquanto, instáveis (para usar um termo ameno) dos atuais Willian Arão, Rômulo e Rafael Vaz e do recente Conca também ajudam a consolidar uma percepção negativa. No entanto, há exemplos positivos, a guisa de contraponto, que indicam que, esporadicamente, é possível, sim, algum ex-rival prosperar no Flamengo.

Donde, sem entrar no mérito da busca pelo “Ceifador”, segue uma “escalação” de jogadores que, com passagens anteriores por outro (ou outros) clubes do Rio, conseguiram entregar algum tipo de resultado com a camisa do Flamengo, mesmo, em alguns casos, não tendo se conectado com nossa torcida.

(Em tempo: o caso de Romário, por ser o mais controverso, não será analisado nesse texto. Sucesso, fracasso? A passagem do Baixinho pelo Flamengo mereceria, por si só, um post exclusivo. Por conta disso, não será aqui tratada.)

* * *

1 - UBIRAJARA MOTTA (1972-1977)
Após passagens vitoriosas por Bangu e Botafogo nos anos 1960 (chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira que disputaria o Mundial de 1966 mas acabou cortado), é contratado para formar, junto com Renato, o plantel de goleiros do Flamengo, que monta um elenco forte para a temporada de 1972. Curiosamente, o rubro-negro conta com outro Ubirajara (Alcântara) na equipe, e assim "Bira" passa a ser identificado por seu sobrenome. Já no final da carreira, participa de alguns jogos e se revela um reserva confiável, ajudando na orientação de jovens como Cantarele. Em sua passagem pelo Flamengo, conquista os Estaduais de 1972 e 1974. Encerra a carreira pelo rubro-negro em 1977.

2 - LEONARDO MOURA (2005-2015)
Revelado pelo Botafogo, vive passagem bem-sucedida no Vasco, de onde se transfere para Palmeiras (participando da campanha do rebaixamento alviverde em 2002 para a Série B do Brasileiro) e São Paulo (onde "ganha" o sobrenome Moura). Do futebol paulista sai sem deixar saudades, mas reencontra o bom futebol no Fluminense, onde conquista o Estadual de 2005. No segundo semestre da mesma temporada, divergências de seu empresário com o clube das Laranjeiras facilitam sua transferência para o Flamengo. No rubro-negro vive o auge técnico da carreira, sendo muitas vezes considerado o melhor lateral-direito em atividade no país, o que lhe vale uma convocação para a Seleção Brasileira. No entanto, a partir do início da década de 2010 passa a viver relação conturbada com a torcida, em função da irregularidade de suas atuações. Com a prisão do goleiro Bruno, ascende à condição de capitão da equipe, que ostenta até deixar o clube, no início de 2015. Embora tenha sido agraciado com a rara honraria de um jogo de despedida, dá sequência à carreira, seguindo em atividade. Algumas declarações e atitudes controversas o fazem cair em desgraça com o torcedor rubro-negro. Pelo Flamengo, vence o Brasileiro de 2009, as Copas do Brasil de 2006 e 2013 e os Estaduais de 2007, 2008, 2009, 2011 e 2014.

3 - WILSON GOTARDO (1991-1993)
Após perder o jovem meia Carlos Alberto Dias (por conta de uma negociação "atravessada") e o atacante Renato Gaúcho para o Botafogo, o Flamengo espera o momento de dar o troco no rival. E a oportunidade surge quando Wilson Gottardo entra em litígio com os de General Severiano, em função de problemas na renovação contratual. Precisando de um zagueiro experiente, o Flamengo se intromete no negócio e acaba conseguindo recrutar o jogador, um dos pilares do bicampeonato estadual alvinegro de 89-90. Na Gávea logo impressiona pela segurança e seriedade, tomando conta da posição. Gotardo, além do futebol vigoroso, torna-se um líder positivo para talentos em ascensão como Rogério, Júnior Baiano e Gélson Baresi. Sempre como titular, conquista o Brasileiro de 1992 e o Estadual de 1991. Permanece no rubro-negro até a disputa da Libertadores de 1993, após a qual é negociado com o futebol português.

4 - EDINHO (1987-1988)
Profundamente identificado com o Fluminense, do qual saiu como o maior ídolo em 1982 para uma bem-sucedida passagem pela Udinese, retorna ao futebol brasileiro em 1987 sem jamais esconder seu desejo em voltar às Laranjeiras. No entanto, o tricolor vive grave crise financeira e não reúne condições de competir com uma proposta bem mais consistente apresentada pelo Flamengo. O rubro-negro precisa de um zagueiro de ponta, uma vez que acaba de negociar Mozer com o Benfica-POR. Dessa forma, consegue se impor e contrata Edinho para assumir a zaga ao lado de Leandro. No entanto, Edinho jamais demonstra estar à vontade na Gávea, e por pouco o negócio não se desfaz antes mesmo da apresentação (em uma entrevista a uma revista, quase lamenta a opção pelo Flamengo, dizendo não ter havido outra alternativa, o que irrita os dirigentes e obriga o jogador a se retratar). No Brasileiro de 1987, mais problemas. Já no segundo jogo é agredido pelo meia vascaíno Geovani, sofrendo afundamento no malar, em um caso que vai parar na Justiça. Volta justamente na estreia do Segundo Turno e enfim justifica a contratação, com grandes atuações, estabilizando o sistema defensivo da equipe, que arranca para o Tetracampeonato Brasileiro. Na virada para o ano seguinte, tenta se transferir para o Palmeiras mas é bloqueado por uma Diretoria irritada com a postura do jogador. Desmotivado, disputa o Estadual sem o mesmo brilho. Na preparação para o Brasileiro, desentende-se com o novo treinador Candinho, que recomenda sua dispensa ("lento e decadente"). E, enfim, o Flamengo facilita sua transferência para o Fluminense. Pelo Flamengo, além do Brasileiro de 1987, conquista a Copa Kirin de 1988, no Japão.

5 – LEANDRO ÁVILA (1998-2002)
Volante clássico, de desarme limpo e bom passe, com trajetórias vencedoras no Vasco (onde foi revelado) e no Botafogo, chegando a ter defendido a Seleção Brasileira. Antigo sonho de consumo do Flamengo, que enfim consegue contratá-lo para o Brasileiro de 1998, rapidamente se torna titular absoluto, resolvendo antiga carência do rubro-negro. Tímido e avesso aos holofotes, torna-se referência e um daqueles jogadores “discretos mas indispensáveis”. Sua importância para a equipe se faz notar quando está ausente, vítima de um crônico problema no joelho, lesão recorrente que acaba por abreviar sua carreira. Pelo Flamengo, conquista a Copa Mercosul de 1999, os Estaduais de 1999, 2000 e 2001 e a Copa dos Campeões de 2001.

6 - JUAN (2006-2010)
Lateral-esquerdo revelado pelo São Paulo e com anônima passagem pelo futebol inglês, "estoura" com grandes atuações pelo Fluminense, por onde conquista o Estadual de 2005. No entanto, no final da temporada acerta sua transferência para o Flamengo (novamente por conta de problemas de seu empresário com o tricolor). No rubro-negro demora a se firmar, chegando, na primeira temporada, a ser barrado. Começa a crescer com a chegada de Ney Franco, que o fixa na equipe e monta um esquema que favorece seu potencial ofensivo. Marca, contra o Vasco, o gol do título da Copa do Brasil de 2006. Mas apenas no ano seguinte seu futebol de fato explode, com atuações exuberantes durante a espetacular arrancada no Brasileiro que leva o rubro-negro à Libertadores. Irrequieto e enfezado, ganha a alcunha de “Marrentinho”. Enfim titular absoluto e destaque da equipe, Juan chega à Seleção Brasileira e segue como referência do Flamengo. No entanto, a relação com a torcida, que sempre o elege “bode expiatório” em algum momento ruim (como a eliminação da Copa do Brasil de 2009), jamais deixa de ser conturbada. No Brasileiro de 2009 sofre séria lesão, mas se recupera a tempo de participar da reta final e da arrancada para o Hexacampeonato. Ainda permanece mais um ano no Flamengo mas, em declínio, é negociado. Na Gávea, conquista o Brasileiro de 2009, a Copa do Brasil de 2006 e os Estaduais de 2007, 2008 e 2009.

7 – BETO (1998-2002)
Revelado no futebol matogrossense, chega ao Botafogo trocado por bolas e chuteiras. No alvinegro rapidamente se destaca, conquistando títulos e chegando à Seleção Brasileira, o que lhe vale uma transferência para o futebol italiano. Ao retornar, passa pelo Grêmio e chega ao Flamengo, onde não demora a se identificar com o torcedor. Declarar-se rubro-negro de coração ajuda, mas é dentro de campo, onde exibe fôlego incansável, disciplina tática, alguma técnica e mesmo bom senso goleador, que conquista a nação flamenga, a despeito do seu controverso comportamento extracampo. Coadjuvante indispensável, vê, sempre como titular, chegarem e saírem jogadores, alguns renomados. Marca vários gols importantes, mas é na Final do Estadual de 2000 que vive seu grande momento, ao executar uma sequência de embaixadinhas contra o Vasco, em resposta a atitude semelhante de um rival em um jogo anterior. Desgasta-se com o início da crise que assolaria o clube no início da Década de 2000 e acaba negociado. Pelo Flamengo, conquista uma Mercosul (1999), uma Copa dos Campeões (2001) e um Tricampeonato Estadual (1999, 2000, 2001).

8 – FELIPE (2003-2004)
Um dos principais jogadores da equipe do Vasco que marcou história no final dos anos 1990, atuando como lateral-esquerdo, vê abreviada sua passagem pelo cruzmaltino ao se desentender com a Diretoria dos de São Januário. Chega a ser vendido à Roma, mas o negócio “mela” e Felipe posteriormente vai parar na Turquia, de onde retorna após desempenho discreto. Ainda em litígio com a Diretoria vascaína, aceita a proposta do Flamengo, agora para atuar como meia. No rubro-negro logo se mostra tecnicamente diferenciado, tornando-se um dos destaques de uma equipe limitada. Conduz o Flamengo à Final da Copa do Brasil, mas não resiste ao melhor conjunto do Cruzeiro. No ano seguinte vive seu grande momento no Flamengo, onde assume um inédito protagonismo na carreira. Com atuações exuberantes e mostrando imparável capacidade de se livrar de marcações individuais, leva o rubro-negro, com um time bastante modesto, à conquista indiscutível do Estadual de 2004. Num Flamengo x Vasco transmitido pela TV, o narrador compara sua atuação à dos “grandes momentos de Garrincha”. Volta à Seleção Brasileira. Mas, no segundo semestre, a traumática perda da Copa do Brasil para o Santo André e os atritos decorrentes dos crônicos atrasos salariais, além de sucessivas lesões, o desgastam com a torcida. Na última partida da temporada, o Flamengo goleia o Cruzeiro por 6-2, jogo que salva o rubro-negro do rebaixamento. Felipe marca um gol de placa, o último, e na comemoração atira a camisa ao chão, gesto jamais perdoado pelos flamengos. É o fim da linha para o jogador na Gávea.

9 – NUNES (1980-1982, 1984, 1987)
Dispensado das divisões de base do Flamengo, vai embora prometendo retornar um dia. Começa a se destacar no futebol nordestino, atingindo o auge em 1975, comandando o ataque do Santa Cruz que surpreendeu o país, Semifinalista do Brasileiro. Pouco tempo depois, vai jogar no Fluminense, onde suscita reações de amor e ódio, pela facilidade de marcar e perder gols. Estigmatizado por uma época sem títulos nas Laranjeiras, é transferido para o futebol mexicano. Em 1980, precisando energicamente de um centroavante após Cláudio Adão ter brigado com Coutinho, o Flamengo tenta, e quase consegue, repatriar Roberto Dinamite junto ao Barcelona-ESP, mas o Vasco logra reverter a transação. O jeito é recorrer ao Plano B, e assim vem Nunes, que cumpre sua promessa, retornando à Gávea. De futebol tecnicamente limitado mas de muita movimentação, Nunes encaixa-se como uma luva na equipe de Coutinho, que arranca para a conquista do Brasileiro. Nunes marca dois gols na Final contra o Atlético-MG, estabelecendo o apelido de “Artilheiro das Decisões”, que ratificará em vários outros momentos, como o Mundial do ano seguinte, contra o Liverpool-ING. No entanto, apesar de contar com a admiração do torcedor, Nunes possui temperamento difícil e personalidade controversa, o que lhe faz angariar uma série de desavenças. Desentende-se com Coutinho em 1980 e, principalmente, com Carpegiani no final de 1982 e, após ofender o treinador pelos jornais, acaba emprestado para o Botafogo. Retorna em 1984, já sem exibir a mesma explosão. No final da temporada, é negociado com o Náutico. Ainda retorna ao Flamengo em 1987, numa passagem efêmera, polêmica e sem brilho. Seu currículo de títulos na Gávea impressiona. Campeão Mundial (1981), da Libertadores (1981), Brasileiro (1980, 1982, 1987) e Estadual (1981), entre outras conquistas.

10 – IRANILDO (1996-2000, 2002-2003)
Vamos anunciar amanhã um jogador de Seleção Brasileira”. A bombástica entrevista do Presidente do Flamengo acende aguda nuvem de expectativa, que se esfuma em certa decepção quando se revela o nome do contratado. Iranildo, o Chuchu, é um jovem talentoso, mas até então, sua passagem pela Seleção Brasileira havia sido incidental, impulsionada por alguns bons, mas efêmeros, momentos exibidos no Botafogo-1995. De qualquer forma, Iranildo, apesar do físico franzino e das dificuldades em atuar com consistência durante 90 minutos, impressiona com sua rapidez e capacidade técnica. Vive bons momentos na conquista do Estadual de 1996 (chega a barrar o consagrado Amoroso), dando a impressão de constante evolução. Mas sente a instabilidade rubro-negra e jamais consegue se firmar de fato. Esporadicamente vive de lampejos e boas fases (como no Brasileiro de 1997 e, principalmente, no Brasileiro de 1998 onde, sob Evaristo, coleciona suas melhores atuações pelo Flamengo), mas aos poucos vai perdendo espaço. Com a enxurrada de medalhões chegada em 2000, vê suas portas fechadas e é transferido para o Bahia. Volta ao Flamengo em 2002, mas sucumbe diante da pesada crise por que passa o clube. Pelo Flamengo, conquista a Mercosul de 1999, a Copa Ouro de 1996 e os Estaduais de 1996, 1999 e 2000.

11 – MARQUINHO (1985-1987)
Lembrado com carinho pela torcida vascaína pelo gol do título do Estadual em 1982, encerra seu ciclo em São Januário no final de 1984, quando a Diretoria cruzmaltina entende ser necessário renovar seu elenco. Assim, surge a oportunidade de uma troca com o Flamengo, que manda ao Vasco o volante Vítor, recebendo em troca o “falso ponta” Marquinho. Tipo de jogador que agrada em cheio aos treinadores, é um típico “motorzinho” que, sem a bola, fecha o meio e exerce marcação implacável e, com a pelota, sabe triangular, infiltrar e mesmo driblar, em que pese certas deficiências no passe e na finalização. Prestigiado com Zagalo e, principalmente, com Sebastião Lazaroni, é sempre titular e peça-chave da equipe, em termos táticos. Seus melhores momentos são o “hat-trick” em um 7-0 contra o Santa Cruz, pelo Brasileiro-85, a assistência para Bebeto marcar o primeiro gol nos 2-0 contra o Vasco na Final do Estadual-86 e o gol do título do Terceiro Turno do Estadual-87 (muito parecido, aliás, com que marcara na fatídica final de 82). Perde espaço com a saída de Lazaroni e a chegada de Antonio Lopes, com quem tivera problemas no passado, e com a ascensão de Zinho, igualmente disciplinado taticamente, porém mais jovem e melhor tecnicamente. No segundo semestre, é vendido ao Atlético-MG. Pelo Flamengo, conquista o Estadual de 1986.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Aquecendo


Bom dia, Buteco!

Disputados os quatro primeiros jogos oficiais da temporada, as discussões apontam para duas linhas de raciocínio:

1. Molecada da base vem forte e pode ser mais bem aproveitada esse ano, principalmente no campeonato brasileiro, conforme o excelente texto de ontem do Gustavo; 

2. Time titular ainda indefinido, preocupa o substituto do Cuellar para os jogos da Libertadores e o aproveitamento dos laterais. Na armação/pontas temos Diego, Everton Ribeiro, Paquetá, Marlos Moreno, Éverton Cardoso e Vinícius Jr para três vagas. 

Esse ano o clube acertou na programação para o estadual: jogadores como Jonas, Rômulo e Ronaldo, que disputam efetivamente a posição de 1o volante, já foram testados e, além disso, ainda teremos semifinal e final de Taça Guanabara para acertar o time da estreia. Por conta disso, entendo que nesses dois jogos devemos entrar com força máxima.

A conferir.

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Sobre esquema tático e time titular, proponho as seguintes discussões no fórum:
- 433 ou 4141?
- Pará ou Rodinei?
- Trauco ou Renê? Éverton Cardoso na lateral não conto, porque ele já disse que não quer. 
- Substituto do Cuellar para o jogo do River?
- Melhor posição para o Paquetá no time titular?
- Entre Diego, Everton Ribeiro e Everton Cardoso, acredito que pelo menos um vai bancar... Quem?

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Flamengo campeão da Copinha. Flamengo campeão do Fanáticos - parabéns à dupla Lucena e Caruso que representaram muito bem as nossas cores. 2018 começou bem!!!





segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Base, Libertadores e Série A

Salve, Buteco!  Após a incrível conquista do quarto título da Copa São Paulo de Juniores e o ótimo aproveitamento da base nos confrontos das três primeiras rodadas da Taça Guanabara contra adversários de menor expressão, passou-se a discutir a utilização da base nas principais competições do Flamengo no ano. Não falta quem defenda a promoção dos jovens atletas ao profissional e sua escalação como titulares. Nessa discussão, é importante observar algumas importantes diferenças entre as competições brasileiras, promovidas pela CBF, e o torneio sul-americano, promovido pela CONMEBOL. No contexto atual em que vive o Flamengo, a que se destaca em primeiro plano é relacionada com a forma de aproveitamento dos atletas.

Regulamento-Geral das Competições - 2018 da CBF não prevê numeração fixa para os atletas (salvo solicitações expressas dos clubes) e possibilita levar 12 (doze) jogadores para o banco de reservas em cada partida (artigo 26, §§ 1º e 2º), ou seja, um total de 23 (vinte e três) atletas por partida (onze titulares e doze reservas), com a facultativa inclusão, dentre eles, de até 5 (cinco) jogadores não profissionais (artigo 41, parágrafo único) e 5 (cinco) estrangeiros (artigo 42). O regulamento específico da Série A 2018 ainda não foi divulgado; porém, tomando por base as regras da Série A 2017, que provavelmente não serão modificadas neste ponto, não há limitação de número de inscritos, mas tão somente a exigência de registro do contrato na Delegacia Regional do Trabalho respectiva e publicação no BID até o último dia útil antes da partida (artigo 7º), além do limite de registro de novos contratos de trabalho até a data-limite com a competição em curso, que, em 2017, foi 8 de setembro (artigo 7º, parágrafo único).

Agora vejam só a diferença para as regras da CONMEBOL: segundo o Regulamento da Libertadores/2018, para a fase de grupos é possível a inscrição de no máximo 30 (trinta) jogadores, com numeração fixa (artigo 52), porém sem restrições referentes a nacionalidade e não profissionais, e, apesar da exigência do estádio do mandante ter banco de reservas com capacidade para 25 (vinte e cinco) jogadores, limita a lista de relacionados a 18 (dezoito) por partida (artigo 92), ou seja, 11 (onze) titulares e 7 (sete) reservas. E mais: para as fases seguintes, a possibilidade de modificar o elenco de inscritos vai diminuindo até não existir mais, na seguinte proporção: 5 (cinco) atletas para as oitavas-de-final (art. 53), 2 (dois) para as quartas-de-final (art. 54) e semifinais (art. 55) e nenhum para as finais (art. 56).

A rigidez das regras referentes ao elenco inscrito para a Libertadores exige alta precisão na escolha não apenas dos atletas que disputarão a competição, como dos relacionados para cada partida. Se ainda levarmos em consideração o nível de hostilidade que os clubes brasileiros costumam enfrentar das torcidas adversárias e da arbitragem, além da acirrada disputa dentro de campo entre os melhores de cada país do continente, é até natural concluir que a competição está longe de ser o melhor ambiente para promover a transição de atletas da base para o profissional. Aliás, arrisco afirmar que inscrever atletas em fase final de formação ou que não se afirmaram no profissional é flertar com o desastre, experimentado nas edições de 2012 e 2014.

Por outro lado, é fácil constatar que o Campeonato Brasileiro facilita a transição paulatina, tornando possível a jogadores que iniciaram o ano disputando partidas de menor expressão no Campeonato Estadual mostrarem todo seu talento e quem sabe conseguirem uma vaga no time titular. Lucas Paquetá é o melhor exemplo e uma ótima referência.

Quero deixar claro que, para mim, ser campeão brasileiro é tão difícil quanto da Libertadores. A diferença é que, para o Flamengo atual, diante da grande diferença de formato e dinâmica entre as duas competições, ficar entre os seis, sete primeiros da Série A no final do campeonato é relativamente simples, apesar do susto em 2017, enquanto disputar a Libertadores até as fases finais é muito mais difícil.

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Estamos a menos de um mês da estreia no Grupo 4 da Libertadores, contra o River Plate, no Rio de Janeiro, já que a partida está marcada para o dia 28 de fevereiro. No último sábado tivemos uma espécie de "choque de realidade" com o desempenho já de boa parte do elenco profissional no clássico contra o Vasco da Gama. Algumas ressalvas devem ser feitas e todo mundo sabe quais são: primeiro jogo do ano para vários atletas em tese importantes, início de trabalho, "pernas pesadas" pela pré-temporada e se alguém se lembrar de alguma outra, por favor não se acanhe em compartilhar.

Mas então. Sabem aquela diferença básica entre razão e emoção? Pois é. O jogo começou e alguns "flashes" dos últimos anos foram me atormentando, tipo Pará avançando até a linha de fundo marcado por dois ou três adversários (ninguém acompanhando), posse de bola improdutiva, falta de movimentação dos homens de frente, cedendo à marcação adversária; volantes sem força ofensiva e algumas poucas oportunidades de gol criadas e incrivelmente desperdiçadas. Foi a tônica da partida. Como se não bastasse, teve até um gol mal anulado pela arbitragem "cirúrgica". O Vasco da Gama incomodou muito pouco, mas saiu comemorando mais um 0x0 contra o Flamengo. Terminei o primeiro clássico do ano irritado e incomodado.

***

Coletivo burocrático tornando-se campo fértil para as limitações individuais de cada atleta, quando o ideal seria o oposto: comportamento tático solidário, inclusive ofensivamente, otimizando o que cada atleta tem de melhor. Pode ser muito cedo para qualquer conclusão, mas 2018 começou como as temporadas anteriores.

Já assimilei que a Diretoria e o elenco são esses e, salvo algum imprevisto, pouco ou nada se modificará até o final do ano. Diante desse quadro, eu não tenho a menor dúvida em afirmar que a única saída para vivermos algo diferente é o Flamengo evoluir muito em nível tático. Resta saber se Paulo César Carpegiani e a comissão técnica atual serão capazes de elevar o padrão de jogo ou serão apenas mais do mesmo.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Flamengo x Vasco da Gama


Campeonato Estadual 2018 - Taça Guanabara - 4ª Rodada

FLAMENGO: César; Pará, Léo Duarte, Rhodolfo e Renê; Cuéllar, Rômulo e Éverton Ribeiro; Lucas Paquetá, FelipVizeu e Vinícius JrTécnico: Paulo César Carpegiani.

Vasco da Gama: Martín Silva; Yago Pikachu, Erazo, Ricardo e Henrique; Desábato e Wellington; Wagner, Evandro e Paulinho; Andrés Rios. Técnico: Zé Ricardo.

Data, Local e Horário: Sábado, 27 de janeiro de 2018, as 17:00h (USA ET 14:00h), no Estádio Mário Filho ou "Maracanã", no Rio de Janeiro/RJ.

Arbitragem: Bruno Arleu de Araújo, auxiliado por Luiz Cláudio Regazone e Thiago Farinha.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Tetracampeão na Raça








Irmãos rubro-negros,



o Mengão conquistou na manhã de ontem o Tetracampeonato da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Uma vitória na raça e no coração, em que, mais que jogadas de efeito e firulagens, o bravo e jovem time rubro-negro mostrou muito brio, vontade e valentia.

Vale lembrar que há jovens de dezesseis e dezessete anos entre os Tetracampeões, já que atletas do nosso Sub-20 foram integrados ao elenco profissional.

Aliás, digno dos mais altos elogios foi o esforço dos jogadores que se dividiram entre a disputa do Campeonato Carioca e da Copa São Paulo. A ponte aérea e os ônibus tornaram-se rotina para esses atletas, que foram merecidamente premiados.

Uma conquista sofrida, como nos é tão comum. 

Todos sabemos que a base é para formar e não conquistar títulos, mas vencer é o nosso lema e o Flamengo sempre se caracterizou por conquistas em todas as idades e categorias.

Gostar de vencer, apreciar o sabor da glória é parte fundamental da educação flamenga.

E a vitória de ontem traz em si outra importante lição: acostumar nossa juventude a colonizar a cidade e o Estado de São Paulo.

Normalmente, a base se inspira nos ídolos que jogam no time profissional; eu diria, contudo, que essa regra se inverteu no clube neste momento: os profissionais deveriam aprender com esse grupo tão especial de jovens atletas rubro-negros como se comportar em campo com o Manto Sagrado.

Ao adversário fica minha sincera admiração pelo belo gesto de participar da premiação do Flamengo, aplaudindo nosso elenco no momento do recebimento da medalhas.

Um ato de grandeza esportiva que os dirigentes de lá não têm demonstrado quanto à taça representativa do primeiro pentacampeonato brasileiro.

Mas esse assunto fica para outra ocasião.

O momento exige alegria e euforia.

O Clube de Regatas do Flamengo é Tetracampeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Parabéns aos atletas, aos membros da comissão técnica, da direção da base e a todos aqueles que, mesmo não estando mais no clube, contribuíram para essa conquista.

E parabéns, naturalmente, à maior e melhor torcida do mundo, que se fez presente durante toda a competição e apoiou incondicionalmente nosso time.

A colonização protagonizada pelo nosso time dentro de campo já é realizada, há muito tempo, pela torcida do Flamengo nas arquibancadas, ruas e casas de toda cidade e Estado de São Paulo.

O Flamengo é o mundo!








...


Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. 


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Flamengo 1 x 0 Bangu - Uma vitória OK

Flamengo foi a vazia Ilha do Urubu com seu time FlaKids + reforços de 2017 e jogou o suficiente para ganhar do fraco time do Bangu de 1 x 0, com o gol de estréia nos profissionais de Lincoln, após uma jogada espetacular pela direita de Vinicius Jr, o nome do jogo.

Carpegiani, nitidamente, resolveu rodar o time. Fazer experimentações, usando o carioqueta como laboratório. O que, aliás, faz muito bem. Evidente que, quando a Liberta começar, haverá "o time titular" para esta dura competição. Espero que junte forme o time alternativo para o carioquinha, uma espécie de "Flamengo B", para poder ir bem em ambas competições. A julgar pelos maus resultados dos ditos "outros grandes" do Rio, dá para ganhar tranquilo com um time B, mas para isto tem que ser um time, e consegue-se com conjunto e não mesclando toda hora reservas com titulares.

Nas experimentações de ontem, Rômulo jogou bem como volante. Atento, correndo muito, não parecendo o Risadinha sonado de 2017, que fez a torcida volte e meia colocá-lo na barca tão sonhada e que, graças a Deus, já partiu este ano levando perebas e protegidos.

Geuvânio entrou no segundo tempo e já levou vaias. Parece que os haters já o estigmatizaram. Terá que jogar muito mais este ano para fazer a torcida esquecer sua melancólica participação ano passado. Mas vejamos, descansado e com pré-temporada, talvez vire o Geuvânio do Santos e não do...Olaria.

Cuellar entrou também, e fez um bom jogo. Paquetá em que pese o fato do Carpegiani o ter colocado pela direita, mais fixo (não sei porque) fez uma partida OK, com alguns lances plásticos.

Rodinei não fez boa partida. O que faz a torcida ficar sempre lembrando à diretoria da necessidade de laterais e, claro, de centroavante. Aparentemente peças bem difíceis para o Rodrigo Caetano buscar no modo "pago seus salários mas agita aí sua liberação de grátis".

Flamengo segue com sua terceira vitória seguida na pré-temporada. Bons augúrios. Mas ainda não tem time pronto para a Liberta. Reforçado com bons valores que surgiram na base, não tem necessidade de contratações que apenas componham o elenco. A base faz um papel espetacular na Copinha paulista, enfrentando os jogos com um elenco despedaçado e roubos de arbitragem, mas chegou a decisão jogando melhor que os demais. É um backup de jogadores de qualidade que também podem servir ao profissional.

Enfim, Flamengo começa 2018 com outro astral. Mais jovem. Sem o peso daquela perebagem que incomodava demais. Pode ter um bom futuro este ano. Tenho esperança.



quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Flamengo x Bangu


Campeonato Estadual 2018 - Taça Guanabara - 3ª Rodada

FLAMENGO: Gabriel Batista; Rodinei, Léo Duarte, Thuler e Renê; Rômulo, Jean Lucas e Ronaldo; Lucas Paquetá, Lincoln e Vinícius JrTécnico: Paulo César Carpegiani.

Bangu: Célio Gabriel; Valdir, Michel, Dalton e Guilherme; Magno, Marcos Junior, Rodney e Almir; Sidney e Nilson. Técnico: Alfredo Sampaio.

Data, Local e Horário: Quarta-feira, 24 de janeiro de 2018, as 19:30h (USA ET 16:30h), no Estádio Luso-Brasileiro ou "Ilha do Urubu", no Rio de Janeiro/RJ.

Arbitragem: Leonardo Garcia Cavaleiro, auxiliado por Wagner de Almeida Santos e Rafael Gomes Rosa.




Alfarrábios do Melo

1 9 8 9 - 2

PRELÚDIO
O time do primeiro semestre não existe mais. A equipe de Telê, que encantou o país e perdeu a taça, vive um processo de desmanche. O lateral Jorginho, após cerrada insistência e sistemáticas declarações aos jornais, enfim consegue sua transferência ao exterior. Vai jogar no B.Leverkusen-ALE. Aldair, cujo nível de atuações lhe valeu inédita convocação à Seleção Brasileira, é negociado com o Benfica-POR. O rival dos encarnados, o Porto-POR, não deixa por menos e leva seu colega de zaga, o sólido Zé Carlos II, que enfim se tornara o dono da camisa 4 do rubro-negro. Outros coadjuvantes, como o meia Renato Carioca e o atacante Sérgio Araújo, também perdem espaço. Mas a saída mais traumática para o torcedor flamengo é a de seu camisa 9, Bebeto, que, vivendo, até então, o ápice da carreira, é o melhor jogador brasileiro em atividade no país. O Baianinho recebe sondagens e propostas de clubes como Roma, Olympique e Bayern Munique (que é o maior interessado), mas, após uma sucessão de acontecimentos em que a Diretoria do Flamengo demonstra inacreditável falta de habilidade para lidar com o desejo do jogador (e de seu procurador) em se transferir, o rubro-negro “consegue” perder o atleta para o Vasco, ocasionando um trauma sem precedentes na década que está por se findar. Enfurecidos, torcedores fazem violento protesto na Gávea durante uma partida contra o Paysandu, pela Copa do Brasil, que redunda em um princípio de incêndio que por pouco não assume proporções trágicas. Para piorar, dias depois o time é eliminado de forma humilhante da Copa do Brasil, ao sofrer uma das piores goleadas de sua história em Porto Alegre (1-6 Grêmio). O clima é o pior possível.

Ainda há seis meses por jogar. Mas o ano está terminado.

Com o dinheiro das negociações, a Diretoria corre para tentar estancar a hemorragia em sua credibilidade. Repatria os ex-ídolos Júnior (que volta ao País para se aposentar em seu clube de coração) e Renato Gaúcho (com o prestígio carbonizado após desastrosa passagem pela Roma-ITA). Começa a disputar jogadores com o Vasco e ganha uma queda de braço pelo razoável zagueiro Fernando, que se destacara no cruzmaltino e estava radicado no futebol português. Traz do Botafogo o lateral-direito Josimar, destaque na Copa-1986, que após um período ruim parece ter recuperado seu futebol no Estadual, onde foi um dos principais destaques do título alvinegro. Contrata o experiente e limitado zagueiro Márcio Rossini. Consegue tirar do Goiás o habilidoso volante Uidemar (que é recebido com ironia no Rio, por conta do nome estranho). Aposta no centroavante Nando, ex-Bangu. E, como joia da coroa, elege o jogador que será o substituto de Bebeto. O meia-atacante Claudio Borghi, campeão mundial pela Seleção Argentina e com passagens vitoriosas em clubes como o Milan-ITA. Borghi é recebido no Galeão como celebridade, com fogos, cânticos e muita festa, numa manifestação desproporcional que demonstra o profundo nível de carência da massa rubro-negra. O Flamengo está enfermo.

Zé Carlos, Josimar, Márcio Rossini, Fernando e Leonardo; Uidemar, Júnior e Borghi; Renato Gaúcho, Nando e Zinho

Com esse time-base, o Flamengo inicia a disputa do Brasileiro. A Diretoria ainda tenta convencer Zico a participar do torneio, que será seu último com a camisa do Flamengo. Mas o Galinho, receoso de sua condição física, prefere jogar apenas a Supercopa. E é com esse arranjo que o segundo semestre se inicia.

NO QUE DEU
A campanha do Flamengo no Brasileiro é um reflexo do péssimo momento dentro e fora das quatro linhas. O time, repleto de forasteiros, não encaixa. Telê Santana tenta usar um esquema de três zagueiros. Não dá certo, muda de ideia. Mas, sem contar com o tempo e a paciência outrora disponíveis, naufraga no primeiro revés. Após uma derrota para o Corinthians (0-1), o velho treinador é demitido (a gota d'água é a substituição do desafeto Renato, que sai de campo xingando). Poucas rodadas mais tarde, o Flamengo contrata Valdir Espinoza que, após ligeira melhora, também não consegue fazer a equipe funcionar.

Os reforços não dão liga. Renato, após arrumar confusão com Telê, não consegue entrar em forma e se lesiona. Márcio Rossini logo impressiona o torcedor, dado o apreço que demonstra pela prática de danificar canelas e tornozelos adversários. Nando até marca alguns gols, mas é lento e pouco vibrante. Josimar em nenhum momento reedita o futebol que o tornou conhecido. Ademais, volta a se envolver em pesadas confusões extracampo. Fernando mostra alguma capacidade, mas em nível inferior ao da dupla de zaga do primeiro semestre. Apenas Uidemar (o menos badalado dos reforços) surpreende pela personalidade e alto nível técnico, e Júnior, que rapidamente se torna o ponto de equilíbrio de um time com vários problemas, dizem a que vieram.

O caso de Borghi é emblemático. Gordo, encrenqueiro e desmotivado, atua 50 minutos em sua estreia. Depois, aparece com uma lesão que logo se descobre crônica. Alega estar “inadaptado” ao Rio. Queixa-se de estar treinando “na posição errada”. Começa a faltar treinos. Briga com companheiros. E, em poucos meses, já está fora dos planos do clube. Passa a treinar em separado. Um mico colossal, já faz o Flamengo se empenhar em tentar devolvê-lo com apenas seis meses de empréstimo, metade do tempo previsto.

A boa notícia é Zico. O Flamengo é eliminado precocemente da Supercopa e o Galinho é convencido a participar do Brasileiro. Com o “Camisa 10 da Gávea” o rubro-negro melhora na competição. Espinoza, impaciente com o péssimo desempenho dos reforços, promove jogadores da base, como os atacantes Luís Carlos e Bujica. Volta a dar chances ao irrequieto ponta Alcindo. E, com um time “desfigurado”, vai enfrentar o favorito Vasco, que montara uma seleção, com jogadores qualificados em todas as posições.

Zé Carlos, Josimar, Júnior (improvisado na zaga), Fernando, Leonardo; Aílton, Zico, Zinho; Alcindo, Bujica, Luís Carlos.

Com esse time, que conta com apenas TRÊS das contratações do meio do ano, o Flamengo não toma conhecimento do Vasco de Bebeto. Vence por 2-0, com dois gols do improvável Bujica, num Maracanã engalanado, em placar que se mostra até barato, tal o volume de jogo rubro-negro. É o grande momento do Flamengo na temporada. A vitória volta a colocar um sorriso na cara do torcedor. Anabolizado, o time chega a ensaiar uma arrancada em busca de vaga para a Final, mas não consegue transpor a grande diferença de pontos que o separa do objetivo. Resta a melancolia de presenciar o final da carreira de Zico, que se despede com um belo gol de falta nos 5-0 sobre o Fluminense, no simpático mas acanhado Estádio Mário Helênio, em Juiz de Fora.

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PRELÚDIO
A temporada de 1990 se inicia com uma agradável surpresa. Pela primeira vez em sua história, o Flamengo conquista a Copa SP de Juniores, expondo ao cenário brasileiro a luxuriante qualidade de uma das mais talentosas gerações de sua existência. É chegada a hora de nomes como Júnior Baiano, Piá, Marquinhos, Marcelinho, Fabinho, Nélio, Paulo Nunes e Djalminha. Este último, o grande destaque da competição, assombra o país ao marcar CINCO gols (um deles de placa) num acachapante 7-1 sobre o Corinthians em pleno Pacaembu lotado, numa das mais exuberantes atuações de toda a história do torneio. A conquista do troféu acende em muitos a certeza de que o Flamengo deveria voltar a caminhar em consonância com sua história e a estimular o aproveitamento dos garotos (muitos deles, aliás, já utilizados por Telê em 1988/89).

Mas a Diretoria tem outros planos a curto prazo. Promove ajustes no elenco, tido como já qualificado. Márcio Rossini, Nando e Borghi são dispensados/negociados. Josimar, após muita hesitação, é bancado por Espinoza, que decide lhe dar mais uma oportunidade. Para reforçar o elenco, o Flamengo consegue, enfim, desatar um intrincado nó jurídico e, mais uma vez, impõe-se ao Vasco trazendo o zagueiro André Cruz, titular da Seleção Brasileira de Sebastião Lazaroni. Junto com André Cruz, chega o volante-meia Edu Marangon, que também ostenta passagens pela Seleção em seu currículo. Ambos desembarcam para um empréstimo de seis meses.

Outro “reforço” vem de casa. O zagueiro Leandro, após longa e dolorosa recuperação decorrente de uma complexa cirurgia realizada na tentativa de atenuar sua malformação congênita, enfim reaparece em condições de jogo, e deverá comandar a zaga. Terá, ao lado de Júnior, a missão de ocupar o vácuo de liderança deixado pela aposentadoria de Zico.

As últimas apostas recaem sobre Luís Carlos e principalmente Bujica, promovido à condição de centroavante titular da equipe, por conta dos gols marcados na reta final da última temporada. Dessa forma, o time-base que Espinoza pretende colocar em campo, podendo variar formações com dois ou três zagueiros: Zé Carlos, Josimar, Leandro, André Cruz, Fernando (Aílton), Leonardo; Uidemar, Júnior, Edu Marangon; Renato Gaúcho, Bujica, Zinho.

É com essa equipe que o Flamengo pretende retomar o Estadual que não conquista desde 1986 e vencer o Brasileiro.

NO QUE DEU
O primeiro semestre se mostra um retumbante desastre. Em nenhum momento o Flamengo se apresenta como um real candidato ao título do Estadual. Seu time é lento, pouco criativo, burocrático. As peças simplesmente não funcionam, embora Renato enfim tenha reencontrado boa parte de seu futebol, sendo o principal jogador do time na competição. Mas é figura isolada. As contratações não dão certo. André Cruz, visivelmente sem ritmo em função da longa inatividade (decorrente do imbróglio envolvendo sua contratação), é caricatura do zagueiro que impressionou os italianos um ano antes, sendo facilmente envolvido por jogadores de equipes menores. Ademais, desmotiva-se com supostos atrasos salariais e com sua escalação como volante, no meio. Lesiona-se e perde vários jogos. Com Edu Marangon a decepção é ainda mais flagrante. Mostrando-se acuado desde sua chegada (chegou a se declarar “assustado” com a camisa 10 que recebera), é escalado fora de sua posição. Meia de ligação, ou “camisa 8” de origem, gosta de atuar entre as intermediárias, organizando o jogo. Mas, com a presença de Júnior (que exerce a função), passa a jogar mais perto do gol adversário, como um ponta-de-lança, ou “meia-atacante”. Sem a velocidade e o dinamismo que a função exige, começa a “travar” o time e a ser agraciado com uma colcha de vaias pela torcida. Sem suportar a pressão, pede a Espinoza para ser afastado da equipe. É atendido e não recebe mais chances como titular. Ao final do Estadual, Edu e André Cruz vão embora sem deixar a mais tênue saudade.

Mas a decepção não se resume aos “forasteiros”. Bujica, nas primeiras partidas, demonstra insuperável incapacidade de desperdiçar oportunidades, várias delas fáceis. Num Fla-Flu o preço é cobrado. Bujica até marca um gol, mas empilha chances perdidas e o castigo vem com um amargo empate. Impaciente, a Diretoria logo percebe que o jogador ainda está “verde” e aproveita uma oportunidade de mercado, trazendo por empréstimo o atacante Gaúcho, antiga cria da Gávea que anda tendo problemas com a torcida do Palmeiras (é responsabilizado, por seu comportamento extracampo, pelas traumáticas perdas do Estadual e do Brasileiro do ano anterior). Gaúcho rapidamente “veste” a Camisa 9 e desanda a marcar gols, conquistando o torcedor e fechando de vez as portas para qualquer futura oportunidade a Bujica.

A campanha no Estadual beira o deprimente. O time termina em quarto lugar, sua pior participação desde 1976. Disputa seis clássicos e perde quatro. Não vence nenhum, o que carimba um dos piores retrospectos de sua história. Durante a Taça Rio, Espinoza, percebendo estar por um fio, denuncia um “complô” promovido por alguns Vice-Presidentes, que o querem fora do cargo para colocar em seu lugar Ernesto Paulo, o Treinador campeão da Copa SP, e com isso dar aos jovens as oportunidades que lhes estão sendo negadas. Com o escândalo, Espinoza ganha curta sobrevida, e “coincidentemente” passa a utilizar os garotos. Num desses jogos, o Flamengo faz 4-0 no América, em grande atuação de Marcelinho, numa das poucas exibições realmente boas da equipe. Mas, ao final do Estadual (que se decide com um humilhante triangular entre Botafogo, Vasco e Fluminense), Espinoza não resiste e é mesmo demitido.
Assim, encerra-se a primeira parte da temporada. Que, até então, para o torcedor resume-se, em termos de emoção, ao inesquecível jogo de despedida de Zico, que parou o Rio de Janeiro e, em plena noite de terça-feira, colocou quase 100 mil no Maracanã, numa noite em que o Flamengo mostrou-se com a grandeza, a força e o brilho que há muito parecem estar perdidos.


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PRELÚDIO
A catastrófica campanha do primeiro semestre acende na Diretoria a necessidade de “mudar tudo”. Até porque é ano de eleições, e a administração atual convive com a incômoda marca de, até então, não ter conquistado nenhum título, algo inimaginável dado o histórico recente.

Num primeiro movimento, a Diretoria acena com a perspectiva de, enfim, dar oportunidades aos jogadores da base, ao confirmar a contratação de Ernesto Paulo para o lugar de Espinoza. No entanto, resolve “profissionalizar” o Futebol, trazendo para a função de Executivo o ex-presidente do Fluminense, Francisco Horta. Boquirroto, polêmico, ousado e marrento, Horta reúne características tidas como ideais pela Diretoria, que pretende “chacoalhar” o elenco e devolver a vibração a um time diagnosticado como “sem sangue” e “sem alma”. Confrontado por sua origem tricolor, Horta rapidamente devolve: “não interessa para quem torço, interessa pra quem trabalho. Até porque o grande Domingos Bosco era tricolor, veio do Flu e mesmo assim foi muito vitorioso aqui” (aludindo ao saudoso Supervisor da Era Zico).

Horta não “decepciona”. Sua primeira medida é afastar Ernesto Paulo (que, assim, é desligado sem sequer ter assumido o cargo) e efetivar Jair Pereira (em grande momento na carreira). Horta deixa claro o que pretende para o rubro-negro: “Jogar num clube da grandeza do Flamengo é para iniciados, não para iniciantes. Flamengo é o ápice, é o auge. Aqui só tem lugar pra protagonista”. E logo nova baciada de reforços irá desembarcar na Gávea.

Horta reedita os célebres troca-trocas dos anos 1970 e negocia com o São Paulo o atacante Alcindo e o lateral Leonardo, ambos em baixa. Na transação, chegam à Gávea o também lateral Nelsinho e o meia Bobô, que também não vivem bom momento. Tudo por empréstimo de seis meses. A Diretoria também perde de vez a paciência com Josimar e anuncia a contratação de Zanata, ex-Bahia e Palmeiras, que será o titular enquanto o rubro-negro arruma um destino para o ex-botafoguense. Para a zaga, ainda é contratado o jovem Victor Hugo, revelação do Guarani.

Zé Carlos, Zanata, Fernando, Victor Hugo, Nelsinho; Uidemar, Júnior, Bobô; Renato, Gaúcho, Zinho.

Bobô, recebido com festa no Galeão, é o novo candidato a ídolo. Será o dono da camisa 10. E no início as coisas de fato parecem ir bem. O Flamengo sai para excursionar dentro e fora do país. Apresenta bom desempenho. Jair Pereira parece mais determinado a encontrar uma formação que efetivamente encaixe, independente de quem tenha que escalar ou sacar da equipe (numa dessas experiências, chega a barrar Júnior, mas logo desiste da bizarra ideia). Com um treinador de ponta, reforços de nível competitivo e bom elenco de apoio, enfim o Flamengo parece reunir condições de realizar uma boa temporada. O torcedor, desconfiado, ainda reluta.

Parece prever a tormenta.

NO QUE DEU
A primeira turbulência se dá entre as duas pricipais estrelas da companhia. Renato e Horta não demoram a se estranhar. O atacante, que volta sem ritmo de jogo da Copa do Mundo, demora a engrenar, e é ironizado publicamente pelo dirigente. “Nosso tenor parece que anda rouco. Acontece”. Renato retruca, hostil, num bate-boca que faz a festa dos setoristas. Horta chega a cogitar a venda do jogador mas é repelido pelo Presidente, sensível ao contexto político potencialmente desfavorável com a reação à perda de um ídolo. Mas a corrosão no ambiente cresce. Num amistoso no Japão, o Flamengo massacra o Real Sociedad-ESP, 7-0. Na solenidade de entrega do troféu alusivo à vitória, Renato ignora um cumprimento de Horta, numa cena constrangedora. Na volta ao Brasil, o rubro-negro se arrasta em campo, jogando um futebol caricato. Perde no Maracanã para Bragantino, Corinthians e Botafogo. É derrotado pelo Bahia. Empata com Goiás e Internacional e, sem vitórias, é o lanterna de seu grupo, numa campanha que faz acender um inacreditável fantasma de rebaixamento. Um grupo de jogadores, liderado por Renato, faz aberta campanha contra Horta. Que não resiste e cai.

A saída de Francisco Horta assinala uma guinada. Na partida seguinte, contra o Vasco, o Flamengo voa em campo e sai do Maracanã vencedor por 1-0, gol marcado, a exemplo do ano anterior, por mais um jovem quase estreante, o garoto Nélio. Nessa partida, o rubro-negro foi escalado com quatro jogadores egressos da Copa SP (Nélio, Marcelinho, Júnior Baiano e Piá), sinalizando uma tendência que se manterá até o final da temporada.

Porque, mais uma vez, as contratações não suprem a demanda. Bobô, após bom início, sucumbe à crise e some. Lesiona-se e só volta no final do ano, exibindo até um bom jogo, mas insuficiente para reverter a pecha de jogador irregular. Nelsinho, por sua vez, não demora a ser barrado por Piá, que é o primeiro jogador da Copa SP a efetivamente ganhar um lugar no time. Zanata, a exemplo de Josimar, não é propriamente um modelo de comportamento extracampo e acaba perdendo a vaga para um improvisado Aílton. Victor Hugo, consegue uma sequência como titular, disputando posição com o jovem Rogério.

O Flamengo se recupera no Brasileiro e faz bom segundo turno, tornando-se, inclusive, sério candidato a uma das vagas às Finais. Renato enfim volta a jogar em alto nível e protagoniza com Gaúcho uma devastadora dupla de ataque, totalmente afinada dentro e fora de campo. No entanto há um fato novo: a Copa do Brasil. Ansiosa pela conquista de um título, a Diretoria “larga de mão” o Brasileiro e aposta todas as fichas na competição onde o rubro-negro já está nas Semifinais. E, com efeito, o Flamengo passa por Náutico e Goiás (com maciça utilização de jogadores da base) e efetivamente conquista um título nacional que não lograva obter desde 1987. Finalmente com o elenco na mão, Jair Pereira consegue engatar uma sequência de vitórias nos últimos jogos e, por pouco, o rubro-negro também não se classifica para as finais do Brasileiro.

Com a eliminação precoce, o Flamengo vai excursionar pelo Norte-Nordeste, em um melancólico clima de “fim de feira”. A oposição vence as eleições. O novo Presidente desde cedo demonstra índole de renovação. Avisa que não “fará loucuras” e que saneará o clube. Para mostrar estar falando sério, “perde” Renato para o Botafogo. Jair Pereira, Bobô, Zanata e Nelsinho vão embora. Leonardo é vendido ao São Paulo, em nova troca de jogadores. Para treinador, traz Vanderlei Luxemburgo, que “elege” Júnior como o líder de um time jovem, aproveitando os talentos de 1990. “É com esses que vamos”, declara.

E se dá a ruptura.