segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A Volta do Mais Querido

Salve, Buteco! Por ora, esqueçam o presidente, o CEO e o gerente de futebol; os bajuladores, os perebas, o ex-treinador e a eliminação vexatória na Libertadores; a campanha decepcionante no Brasileiro e o vice-campeonato da Copa do Brasil. Esvaziem suas mentes. Tudo tem sua hora. Até dia 13 de dezembro de 2017, convido você, rubro-negra, e você, rubro-negro, a pensar apenas no título da Sul-Americana. A maré está favorável. A energia rubro-negra está de volta. Jogando bem ou mal, o Flamengo voltou a se impor como gigante e conseguir os resultados mais improváveis, superando-se nas condições mais adversas. O Flamengo voltou a ter cara de Flamengo e tem a chance de voltar a conquistar um título internacional, o primeiro desse século. A semana já havia começado bem com a classificação épica em Barranquilla, mas sem dúvida esse 3 de dezembro de 2017 será marcado como o dia virada, ou melhor, da desvirada do fio, da libertação do Flamengo dessa energia negativa que vem prejudicando o time nos momentos decisivos. 

O Flamengo voltou a ter raça e a vibrar, a base voltou a ter espaço e decidir. A torcida voltou a ficar confiante. O Flamengo voltou a ser Flamengo.

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Não foi uma exibição de gala. Não, muito longe disso. Eu diria até muito pelo contrário: qualidade só houve após a entrada do fio desencapado Vinícius Jr. Vejam bem, acredito que houve uma evolução com a escalação de dois meias em vez dos pontas "fechadores de corredor"; contudo, isso só funciona quando os meias estão em plenas condições. Do contrário, o time fica engessado e com muito pouca força ofensiva. Boa parte do jogo em Barranquilla se desenvolveu dessa forma. Como no primeiro tempo apenas Lucas Paquetá jogou bola do meio pra frente, as coisas só melhoraram quando Everton Ribeiro subiu um pouquinho de produção. 

Ontem, em Salvador, assistimos a algo semelhante, pois os volantes e Lucas Paquetá pareciam cansados e foi o dia de Everton Ribeiro ser o melhor dos armadores. Diego compensou o desgaste e a falta de inspiração com uma raça incomum. Porém o time seguia com extrema dificuldade para criar. A rigor, foram apenas duas jogadas no primeiro tempo, ambas com Vizeu, e após sofrer o primeiro gol em uma jogada de indecisão entre Trauco e Rafael Vaz, o time teve capacidade de superação graças à entrada de Vinicius Jr., muito menos desgastado do que os companheiros e cheio de inspiração. Vinícius, fora o seu extraordinário e absurdo talento, era o atacante agudo e objetivo que o time precisou em Barranquilla e precisava no Barradão. Mas a forma como tudo se resolveu, aos 48 minutos do segundo tempo, somada aos resultados paralelos, foi algo de sobrenatural. 

A gente sente quando a energia rubro-negra está presente e cria um cenário favorável. Sem exagero, está acontecendo.

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Reinaldo Rueda confirma uma máxima do futebol: todo treinador tem suas teimosias. Ou seria experiência? A insistência com determinados formatos ou ideias pode ser até uma qualidade quando a convicção se soma ao acerto. O nosso treinador colombiano estava entre a cruz e a espada diante de um time visivelmente desgastado, no qual alguns jogadores parecem estar no limite, como Arão e, ontem, Lucas Paquetá. Enquanto fico aqui na dúvida, pensando se deveriam mesmo ter sido escalados, Rueda parece confiar na estabilidade de um time titular com poucas mudanças. Talvez essa convicção venha de uma carreira longa e de muito sucesso, mas como torcedor não vou deixar de soprar minha corneta e pedir mais Vinicius Jr. Tenho minha convicção (de torcedor, claro) e ela me diz que o nosso jovem fio desencapado pode ser a diferença nessas finais contra o Independiente.

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Falando no rival argentino, acho que o nível das atuações, especialmente nos dois últimos jogos, não é o fator mais importante, dadas as duas vitórias fora de casa em momentos absolutamente decisivos e dramáticos, com todo o contexto desfavorável em ambos os casos. Dito isso, parece evidente que o Flamengo terá que jogar mais bola para ser campeão da Copa Sul-Americana/2017. Tradição e energia positiva fazem parte do futebol e são elementos importantes, mas apenas se aliam ao desempenho dentro de campo, sempre o principal fator. O maior desafio de Rueda e dos jogadores é encontrar uma forma do time ser mais ofensivo e objetivo jogando fora de casa sem perder a consistência defensiva. O título da Sul-Americana não será decidido em Avellaneda, mas da mesma forma não pode se inviabilizar com uma atuação sem intensidade e consistência. Impossível, aqui, não me lembrar novamente de Vinicius Jr.

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3 de dezembro de 2017, Estádio Manoel Barradas, Salvador, 48 minutos do segundo tempo. Diego cobra falta e o capitão do Vitória, em um gesto impensado, comete pênalti ao propositalmente cortar a trajetória da bola com o antebraço. Pênalti, improvável, impensável e inacreditável. Diego cobra, vira a partida que já havia sido empatada com um golaço, de categoria, marcado por... Rafael Vaz! Mas naquele mesmo minuto sagrado, rubro-negro, a ser lembrado pelo resto dos tempos, o Flamengo não apenas tira a vaga da fase de grupos da Libertadores do arqui-rival Vasco da Gama. Algo inusitado acontece: enquanto no Horto, em Belo Horizonte, as luzes misteriosa e convenientemente continuavam apagadas, em Chapecó aquela simpática agremiação verde e branca, a mesma a quem nosso treinador Reinaldo Rueda liderou o movimento de reconhecimento do título da Copa Sul-Americana/2016, vira a partida e tira até mesmo da fase preliminar da Libertadores o... Botafogo, aquele que debochou da eliminação para o San Lorenzo, aquele do Jair Ventura, o mesmo que reclamou da contratação do nosso treinador colombiano.

A conjunção de fatores positivos chega a assustar. Dia histórico, a ser contado aos nossos descendentes.

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O Flamengo chega à final motivado, sem pressão e respirando ares rubro-negros. Que nossos atletas e comissão técnica continuem inspirados. Quarta-feira a decisão começa em Avellaneda. Seremos campeões.

Como sempre, a palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.