segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Cobrança

Salve, Buteco! Três pontos! O jogo não foi nada bom e para mim lembrou as vitórias sobre o Atlético/GO e o Bahia no primeiro turno, mas foi um alívio ver o Flamengo vencer novamente fora de casa, ainda mais depois de tanto tempo sem marcar gol como visitante. No primeiro tempo praticamente não fomos incomodados, salvo por algumas bolas alçadas da Chape, porém tampouco criamos. O jogo morno, truncado, transcorreu com o Mais Querido tendo dificuldades para penetrar na defesa adversária. No segundo tempo os espaços apareceram e o time começou a sina de perder oportunidades. Primeiro Diego se desequilibrou após driblar o goleiro Jandrei, depois Everton Ribeiro apareceu mal em dois lances importantes, num errando um passe fácil, noutro perdendo a cobrança de pênalti. Em compensação, Diego Alves salvou o Flamengo em duas bolas aéreas importantes da Chape, mostrando que é o nosso primeiro grande goleiro depois que Bruno se afastou do futebol. Taticamente, achei que o time ficou mais agudo com a entrada do Berrío, que deu a assistência para Guerrero na jogada do pênalti. Quando a torcida já começava a perder as esperanças, a vitória chegou em jogada individual de Diego. Ainda houve tempo para Berrío perder um gol de inacreditável após boa jogada de Guerrero, e o árbitro paraense apontou o centro do campo, para alívio da Nação Rubro-Negra.

***

Gostei dos dois Diegos. O Alves, nosso goleiro, praticou ao menos duas defesas muito difíceis, a primeira delas, não tenho dúvida, nenhum dos nossos goleiros nos últimos anos teria defendido; o Ribas voltava de contusão e mal havia treinado com bola, porém mesmo assim assumiu o encargo de comandar o time e efetivamente foi o principal responsável pelo volume de jogo, ainda que não tenha sido uma boa apresentação coletiva. Gostei também do Réver, que está em boa fase. O ponto negativo ficou por conta dos dois Evertons, muito abaixo do que costumam render.

***

Em vários momentos do jogo o time tocou a bola burocraticamente na defesa entre os zagueiros, como se estivesse goleando. Gabriel entrou no final da partida e praticamente recuou todas as bolas, numa delas cobrou para trás uma falta na lateral, ao lado da grande área adversária, e a bola chegou a ser bizarramente recuada até Diego Alves. Sem dúvida há um problema de postura com o elenco, um dos mais apáticos e acomodados da história do clube. Falta vontade de vencer e conquistar. Os jogadores se agrupam burocraticamente em campo e não se postam de forma solidária.

Contudo, a causa do rendimento abaixo do esperado não é única e outro fator de igual importância é de ordem tática. A propósito, nos últimos dias o ex-jogador e excelente cronista Tostão escreveu com a precisão de sempre a respeito da origem dessa dificuldade, que vem desde 2016, fruto da opção tática que mantém grande distância entre os jogadores dentro de campo. Essa constatação não surpreende, já que o time foi concebido para ocupar espaços em contra-ataques à base de lançamentos longos, não para criá-los. Daí os jogadores se manterem distantes entre si. Um efeito negativo dessa opção tática é que nossos jogadores, isolados, costumam ser facilmente marcados pelas defesas adversárias. Outro efeito negativo foi apontado pelo nosso ídolo Júnior Capacete na transmissão da Globo: as jogadas pelas pontas costumam ser feitas por dois jogadores e não por triangulações, algo que sempre existiu no futebol brasileiro e foi amplamente desenvolvido nos últimos anos na Europa, como, por exemplo, pelo Barcelona de Guardiola.

Duas causas bem diferentes, mas por mais incrível que pareça, uma influi na outra. Se os jogadores estivessem, por exemplo, com a mesma gana que o grupo de 2013 passou a ter após o pedido de demissão e a saída de Mano Menezes, certamente se movimentariam mais em campo e as alterações táticas das quais o time precisa seriam implementadas de forma muito mais rápida. É claro que o desenho tático e a forma do time jogar podem melhorar e contribuir, mas se os jogadores não se engajarem nada mudará significativamente.

***

Por isso mesmo, o momento pede cobrança e comprometimento. Não há desculpas. O clube dá todas as condições de trabalho para os atletas, desde a parte financeira, passando pela preparação atlética, fisiológica e assistência médica. Não sei se a recente mudança na Vice-Presidência de Futebol viabilizará que a cobrança aconteça, mas a torcida tem que fazer a sua parte, não apenas apoiando o time dentro de campo, como também cobrando que se comporte à altura das tradições rubro-negras.

Nada acontecerá se a egocêntrica diretoria rubro-negra mantiver o discurso de que "está tudo bem, o trabalho é ótimo, uma hora a gente ganha" e continuar adotando como prioridade contrariar os torcedores que não concordam com suas decisões no comando do futebol.

***

O Mais Querido volta a campo na próxima quinta-feira contra o Bahia na Ilha do Urubu. Deixem suas impressões e sugestões de escalação, como de costume.

Bom dia e SRN a tod@s.