quinta-feira, 2 de março de 2017

Visitei 2050

Não me perguntem como. De repente estive lá. No futuro, em 2050. Sem perguntas sobre minha existência, como morri (ou não?). Meu interesse era o Flamengo, afinal, ele sobrevive, resiste, permanece, muda, desfortalece e fortalece com o tempo. O perene é ele. Eu era apenas uma curiosidade passageira. E não tinha tempo a perder.

Para começar ele está bem forte. Muito forte. Depois da reviravolta de 2029, com com os clubes de futebol profissional obrigados a ter o Departamento de futebol separados em empresa, com seu Conselho de Administração, profissionais dedicados, orçamento, financeiro, etc separados,o futebol evoluiu muito. Os clubes pararam de brigas amadoras feitas por picaretas sedentos de poder e passaram a priorizar o trinômio esporte x entretenimento x lucratividade. Com ações na bolsa, seus torcedores investiam no clube de coração e obtinham retorno em seu patrimônio. Com orçamentos próprios e competições que retornavam premiações milionárias por títulos e boas colocações, era imperativo que os clubes buscassem de forma incessante, a melhor preparação, a melhor comissão técnica, o melhor treinamento, melhor estrutura, porque resultados e performance eram exaustivamente cobrados, de forma objetiva e profissional. Conselhos técnicos, especialistas de técnicas de ataque, defesa, ligação defesa x ataque, fundamentos, analisavam, treinavam e reforçavam as técnicas e táticas do time, comandados por um coach e seu staff, munidos de informações completas a tempo integral, inclusive dos adversários. Jogadores eram contratados não só por sua proficiência técnica mas disciplina e inteligência tática. Era importante ter jogadores na equipe que suportassem variações táticas incessantes e disciplinadas. Como o nível técnico das equipes de ponta iam se equivalendo, a parte tática adquiriu uma importância ainda maior que é hoje.

O Flamengo jogava muito em seu próprio estádio, deixando o Maracanã, recuperado e modernizado para jogos de grande público. Federações, CBF, etc acabaram depois da profissionalização. O modelo de dirigentes arcaicos, corruptos e parasitas simplesmente não cabia mais. Depois de uma grande ação na Justiça Comum, após a FIFA ser confrontada diretamente, os clubes se libertaram desta pocilga, e criaram uma grande Liga Nacional com seções regionais, com dirigentes eleitos a cada 4 anos, sem direito a reeleição. Arbitragem completamente profissionalizada e auditada por empresas esportivas independentes. Com o advento do uso de imagens para tirar dúvidas e corrigir erros de arbitragem, o jogo evoluiu muito, assim como a confiança nas competições realizadas. Não mais comitês de arbitragem paulistas e favorecimento explícito ao time de coração do dirigente da confederação, federação, whatever, como temos hoje. Isto não existe mais no futebol profissionalizado e de mercado.

O jogo ficou mais dinâmico, mesmo ficando diferente na parte de cronometragem de tempo. Atendendo ao pedido de entidades comerciais, mídia de internet e televisa, o jogo foi dividido conforme o modelo americano, 4 tempos úteis de 15 minutos, isto é, o tempo só é contado com o jogo em andamento. O que eliminou simulações de contusão e demora em cobrança de faltas, laterais, etc. Podem ser feitas 2 substituições por cada tempo de jogo, e o jogador substituído pode voltar em outro tempo, fazendo o jogo ganhar maior dinamismo e variação. Se der empate, as equipes fazem uma disputa de melhor de 3 pênaltis, e quem ganhar leva mais um ponto. O que foi uma mudança controversa, pois criou técnicos especialistas em "2 pontos". Hoje(lá) já há uma discussão para aumentar os pontos de vitória para 4, ao invés de 3. Mas o público ama as cobranças de pênalti. Você vê que mesmo o futuro tem suas discussões sem fim.

Enfim, explicado tudo isto, ainda deu tempo de vislumbrar como mudou o conceito de "ver o jogo em casa". Agora, em 2050, você simplesmente entra na experiência de estar no estádio. É impressionante. As TVs, todas curvas, podem estender um painel de cerca de 270º, e o expectador fica dentro de uma espécie de bolha, assistindo o jogo como uma experiência tridimensional, com som ambiente e visões de arquibancada, se preferir. Pode selecionar como quer a narração do jogo, se neutra, se passional, até mesmo de sites e blogs especializados. Pessoas com câmeras especiais, de incrível capacidade de estabilização de imagem, ficam em pontos da arquibancada, e sinalizadas em vídeo. Basta apontar na imagem para uma delas, e você vê o jogo como se fosse esta pessoa. Está no estádio. Literalmente. E pode conversar com pessoas que estejam na transmissão (se quiser) e próximas a este ponto. É uma experiência incrível de interação, o que fez o futebol ainda mais popular e buscando menos violência e mais jogo.

Enfim, tive que ir embora. Minha janela estava expirando. Agora de volta, temos que construir e reconstruir o nosso tempo.