quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Na Mesa do Buteco

Lá no Estácio. Bar do Peixe. Estranho nome escolhido pelo pai do português Nunes, que comanda o "espetáculo" gastro e beberrômico local. Nunes odeia o trio de amigos urubus, Barão, Mamute e Adão, que volte e meia pintam no bar, em que o cheiro de gordura empesteada por figuras recortadas de jornais de times remotos do Vasco, servem como motivos de piadas frequentes.

- O que vocês, mulambos, querem?
- Bota aquela cerveja na moral pra gente aí, portuga. Geladona e da novinha, hem? Não vai servir uma vascaína, segunda categoria, velha e choca que a gente não bebe e não paga!
- Se vocês não fossem meus fregueses daria uma porrada em cada um!
- Anda portuga! Cliente feliz é cliente bem servido...
Nunes chama lá dentro. 
- Pedroca! Manda aí duas garrafas geladas aí da boa pros canalhas aqui!

Pedroca era filho da Antônia, irmã de Nunes. De pai vascaíno resolveu ser Flamengo por influência da empregada da casa, a velha Altamira, já falecida. Mulher de magia, incensos e muito amor no coração. Em meio a velas e rezas aos seus ídolos, em retratos desgastados na parede de Zico, Geraldo, Doval e Paulo César Caju , ele sentiu na pele o amor visceral a um time. Via a Altamira ali, encarnada, no vermelho e preto, a torcer por algo mágico além de sua compreensão de garoto. Então se tornou mais um. Os outros clubes não tem isto. Pensou ele.

Barão começa os trabalhos da resenha.
- Mas fala aí, galera. Pronto para irmos ao jogo contra o Corinthians? Já comprei os ingressos na Norte.
- Não vou nem a porrada! - disse Adão, sempre crítico. - Vou pagar para ver Marcio Araújo? Aquele técnico que parece uma estátua? O desgraçado nunca mostra nenhuma emoção, e vai fazendo aquele monte de burrada jogo após jogo?
- Que burrada rapá, o cara colocou a gente em segundo no campeonato! Tamo disputando título!
- Segundo é lugar de Vasco, porra. E tem mais. Que merda de campeonato é este que os times que disputam  parecem tudo piranha de filme de terror?
- Piranha de filme de terror?
- Não conhece o padrão, caralho? A piranha chega na porra da casa vazia, atrás de gato perdido, namorado canalha, sei lá o que, e é atacada por todo tipo de monstro filho da puta?!
- E daí? 
- Deixa de ser burro. Esta merda de campeonato é assim. Presidente da CBF paulista e do Palmeiras, presidente daquele tribunal safado escroto, paulista também, ligado a este cara que nem sair do Brasil pode, que vai em cana, e tem o que manda na arbitragem, paulista também, ligados a estes caras todos. Estes aí são os fantasmas, dráculas, freddy krueger, que vão lá atacar os otários que entram na porra da casa. Não vou dar minha moral e meu dinheiro para estes sanguessugas ainda rirem da nossa cara!
- Mas é Flamengo porra! Foda-se esta gente! Amanhã estes merdas saem de lá e ninguém mais sabe deles, mas o Mengão continua.
- Não vou lá! Não fode.
Mamute então começa a falar.
- Isto mesmo Adão. Não vai mesmo.
- Não vou!
Pedroca aparece com as geladas e a carnezinha no molho madeira, que eles nem precisam pedir.
Continuou Mamute.
- Pois é, já pensando nisso, vou convidar a Karol para ir comigo em seu lugar. 
- Karol, aquela gostosa filha daquele tricolor babaca? - Pergunta Barão.
- Isto. Descobri que ela quer ir ao Maracanã. 
Pedroca então intervém.
- Mamute, desculpe cara, mas como não tinha grana para ir ao jogo, já tinha dado um papo na Karol e vamos dar uma saída domingo.
- Porra Pedroca! Atrasando meu lado?
- Mas eu quero ir ao jogo. Deixa eu ir com vocês.
- Puta que pariu. Me botou na cilada. 
Barão interviu: - Se fudeu. Se Pedroca for a Karol não vai, mas se Pedroca não for, Karol não vai também, porque vai se encontrar com ele.
Adão então falou. 
- Você vai ter que levar o Pedroca.
- Caralho. Que empata-foda você é. Estragou minha parada.
- Mas, Pedroca, o que você vai falar pra Karol?
- Ela que recorra ao STJD...

Riram todos.