quinta-feira, 9 de junho de 2016

A fúria

No meio de uma grande alegria,
não prometas nada a ninguém.
No meio de uma grande fúria,
não respondas a carta alguma.
Provérbio Chinês



E mais uma vez, cheios de som e fúria, é marcada mais uma manifestação recorrente na Gávea, por um grupo de associados, eivados por um espírito marcado pela frustração pelos inúmeros erros cometidos, reais ou aparentes, pelo Departamento de Futebol. E como tal, captada pela imprensa, sempre alerta, para que holofotes iluminem o tal grupo e faça a todos verem sua indignação marcada por uma pauta que poderia ser resumida numa frase:"Fora todos".
Mas porque tanta gente cheia furiosa atualmente?
Porque o futebol foi uma decepção. Não só a performance do time em campo, como a falta de esmero em cuidar de uma casa próxima para o Flamengo jogar, como fizeram Fluminense e Botafogo. Não, preferiram o deserto de Volta Redonda com sua torcida que não comparece.  Também preferiram marcar um clássico em Brasília com o Palmeiras, cujo time não joga lá há anos, logo com alta demanda reprimida, mantendo a mesma filosofia de utilização de estádio que caracteriza esta gestão ao menos desde 2013. Setor ou setores para torcida adversária e uma zona mista. A torcida do Palmeiras compareceu em peso. Sua torcida alucinada pelo fato de estar lá, em estado de guerra por sua equipe, passou a dominar o estádio. Em que pese que eu seja favorável ao espírito da zona mista, porque, para mim, futebol não é uma guerra e sim esporte em que se joga contra adversários tão dignos quanto o Flamengo, sendo assim gosto da convivência entre torcidas. E ela em si foi harmoniosa justamente no setor de zona mista, em que pese a torcida do Palmeiras ter comparecido em peso e dividido em número com a torcida do Flamengo. O que não é comum. Pois bem, a torcida que sofre em estádios alheios, confinadas a espaços minúsculos, reclamou. Além do mais, há uma noção que time que joga em casa tem o domínio maior de torcida. Não tendo contra o Palmeiras isto gerou então uma suposta perda esportiva, na opinião de vários, nas quais discordo pois não poderia haver mais perda esportiva que um 4-3-3 com Marcio Araujo e Fernandinho.
Sendo assim, somando isto a violência protagonizada pela "torcida organizada" Mancha qualquer coisa da vez Verde, notória pela agressividade, em causar brigas e provocar crimes, que veio em peso ao estádio, prontos para provocar conflitos contra o inimigo que estes psicopatas escolheram. O caldo entornou. Embora o Flamengo esteja no quinto lugar da classificação em 5 jogos, podendo facilmente retornar ao G4 no próximo jogo, as pessoas ainda vêm que precisam se exaltar, tripudiar, reclamar, até consumir tudo em fogo, não importando o dano que possam provocar a imagem do CLUBE. O que importa, para alguns, é mostrar sua indignação e que grita mais que o outro.
É a fúria.
E como lidar com a fúria de pessoas que perderam a confiança no trabalho e se sentem traídas, por reais ou supostas promessas de campanha serem aparentemente quebradas, ida do Presidente aos EUA pela CBF, eliminação de Copa Brasil e derrotas para o time de Série B, Vasco, etc etc ? Traídos porque confiaram ou esperaram um trabalho melhor e diferente desde o início deste mandato. Mas não. Sem zagueiros Flamengo veio com elenco incompleto ainda na quinta rodada. Tudo isto faz acumular a revolta, que é insuflada por diversos setores de oposição política que, convenhamos, aproveitam o momento.
Para lidar com isto deve mostrar resultados aos furiosos. O Flamengo precisa ganhar em campo. Flamengo precisa de fato disputar o campeonato Brasileiro e a Sul Americana. Flamengo não pode "fugir do rebaixamento" de novo. O fato é que os nomes no futebol não foram trocados. A equipe executiva ainda continua. Então é preciso mostrar serviço. Deve chegar novo gerente mas ninguém sabe como se dará esta dinâmica embora, agora, mesmo sem ele, se nota uma outra postura dentro de campo com Zé Ricardo. Mais aguerrida. A carência desta postura é que parecia demonstrar desmotivação e desligamento dos jogadores com o "propósito" do futebol. Mas pode ter sido apenas problema dos técnicos. Enfim, em todo caso é mais um na escala de comando e, se vier, que seja um nome que preste um bom serviço. 
Porém não vejo nesta estrutura de comando algo que dispense um certo milagre para o elenco e departamento encaixarem. Seria preciso outra postura, outra forma de pensar e um fluxo de decisões diferentes. As linhas de comando parecem tênues, processos decisórios interpolados, em consonante com a ação do VP de Futebol, dirigente amador, que assumiu a condução das negociações, segundo veiculado pela imprensa. Junte-se a isto um técnico interino, que desde que assumiu o cargo não pára de haver manifestações no clube, idas ao Ninho, o que certamente lhe deve causar muita apreensão. Também não se sabe deste mesmo corpo executivo qual tipo de técnico contratariam. Surgiu o nome de Abel que ficará disponível em julho e parece ser a preferência, caso o Zé Ricardo sucumba.  Mas ele é um nome já em aparente decadência, tem um passado frustrante no Flamengo e não empolga ninguém.
Não será fácil. Espero que o time miraculosamente se torne potente, iluminado, em triunfo, e pise nas cinzas da desesperança que o fogo da fúria vai deixando pelo caminho.