terça-feira, 24 de maio de 2016

É a Hora de Zé Ricardo no Profissional


Diante de todas as mudanças desta semana e do furacão político causado pelo futebol, meu texto foi por água abaixo! Muito do que eu escreveria foi dito e repetido à exaustão no texto de ontem do Gustavão, nos comentários dos Butequeiros e nas redes sociais. Provavelmente voltarei a ele em um outro momento, se achar necessário. Passando disso, li um texto bem bacana, enviado a mim pelo Max Amaral. Gostei das observações e vale muito a reflexão sobre ele. Precisamos mesmo de um medalhão? Será que um medalhão respeitaria a hierarquia do futebol? São questões alheias ao texto, portanto não as trarei para cá, atendo-me a ele.

O texto é de Ruan Lucas (@ruanlucas_fla) e foi publicado no Blog Plantão do Futebol. O texto fala sobre Zé Ricardo e sua utilidade no futebol profissional, traçando um panorama sobre sua carreira até aqui. Gostei do que vi e vale a reflexão, repito. Obrigado ao Ruan, que permitiu a publicação e boa leitura!


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ORIGEM E CARREIRA NO FLAMENGO
Com 45 anos, José Ricardo Mannarino começou a trajetória no Flamengo em 1998, quando foi levado por Anderson Barros para comandar o futsal do clube, onde se destacou tanto pelo talento, quanto pela tranquilidade no trato com comandados e adversários. Sete anos depois, migrou para o campo e assumiu comando da categoria Mirim. Depois de passagem de 3 anos pelo Audax, voltou para o clube em 2012, para comandar a categoria sub-15, onde treinou e manteve a incrível invencibilidade da cheia de expectativas “Geração 2000”. Depois de um trabalho excepcional, foi convidado para assumir o comando técnico do sub-15 da CBF, na sua maior oportunidade profissional até então, convite do qual declinou em prol de um projeto maior no Flamengo.

Em novembro de 2014, assumiu o sub-20, após devastadora derrota de 7x0 para o Fluminense, com o time fora das duas decisões de turno do Estadual sub-20 em 2014. Três meses após assumir, foi campeão invicto da Taça OPG. Em 2015, conquistou o Estadual, após vencer os dois turnos da competição. Em 2016, o auge: a conquista invicta da Copa São Paulo de Juniores, com uma reação heroica sobre o Corinthians, num Pacaembu lotado. Após a Copinha, seu time passa por uma intensa reformulação, mas, ainda assim, ocupa a liderança da Taça Rio no Estadual da categoria. Seu trabalho na base é irretocável: títulos acompanhados de formação e lançamento de bons atletas para o profissional, extraindo sempre o melhor de cada jogador.

PERSONALIDADE
Por ser professor da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro e ter toda a sua atuação no futebol voltada para as categorias de base, Zé Ricardo é conhecido pelo seu perfil didático no trato com seus comandados. Além disso, não abre mão da esportividade de seus atletas, exigindo sempre respeito ao adversário, em qualquer situação, o que ficou muito evidente na goleada por 5 a 0 sobre o Corinthians, na final da Copa Amizade Sub-15 em 2014. É conhecido pelo trato respeitoso com todos os funcionários, do roupeiro aos jogadores e diretores do clube.

Gosta de trabalhar com a ideia de equilíbrio, sabendo controlar os ânimos dos atletas seja na empolgação pelas vitórias ou na frustração pelas derrotas. Apesar do foco irrefutável na ideia de disciplina, consciência tática e total entrega dos jogadores para o sucesso do coletivo, Zé Ricardo também é conhecido pelo estilo “Paizão”, embora não hesite de cobrar nos momentos necessários, mas jamais abrindo mão do respeito aos seus comandados, razão pela qual sempre conquista a admiração deles. Num cenário de adversidade durante o jogo, entende que passar tranquilidade aos atletas, pela consciência de que sabem de sua capacidade, pode ser mais eficaz que se resumir a dar broncas.

No trato do elenco e da execução do trabalho com maior qualidade, encara com naturalidade a questão dos rodízios, caso haja a disputa simultânea de torneios importantes e acredita na necessidade do trabalho de longo prazo, no qual o jogador deve ser leal à proposta coletiva da equipe e crê não ser possível dissociar o caráter da postura profissional

ESTILO DE TREINOS E FILOSOFIA DE JOGO
Na aplicação e compreensão de treinos, é admirador da metodologia portuguesa e tenta aproximar sempre os treinos à realidade do jogo, à especificidade do jogo, prezando demais pelo jogador com massa cerebral, não massa muscular, isto é, estimulando a consciência tática e também o desenvolvimento técnico individual em detrimento da preocupação exacerbada com o condicionamento físico. Seu foco está sempre na tríade “trabalho, disciplina e dedicação”.

Zé Ricardo é perfeccionista, trabalha com afinco as suas determinações de propostas de jogo com os atletas. Por ser apaixonado pelo futsal, carrega consigo princípios e comportamentos do esporte e, por isso, é muito conhecido pelo estímulo às jogadas ensaiadas como forma de surpreender o adversário. Nos jogos, seus times são conhecidos pelo alto índice de passes certos, apesar da movimentação constante. Estimula a saída de jogo sem chutões, com domínio da bola, tudo repetido à exaustão nos treinos.

A formação no futsal permitiu ao treinador ter sempre as suas "cartas na manga". Jogadas ensaiadas e apreciação ao improviso do talento individual de seus atletas, sem permitir que os excessos egoístas de determinados jogadores possam acontecer e prejudicar o coletivo, é um grande estrategista. Sua proposta de jogo é um flexível 4-1-4-1, sistema que o treinador entende ser de fácil compreensão pelos atletas, além de permitir algo bastante apreciado por ele: a versatilidade dos atletas. Apesar de a predileção por esse sistema, o treinador entende que a eficiência de um modelo tático depende da execução da proposta do em campo.

Muito embora uma das principais preocupações seja com a organização tática de suas equipes, a adoção desta identidade tática não prejudica que o plano de ação para cada jogo seja feito com base em muito estudo do adversário. Seus times costumam ter grande organização defensiva, boa cobertura de espaços e sofrem poucos gols. Têm como característica marcar em bloco mais baixo e ter um contra-ataque extremamente organizado, alternando com a marcação por pressão, desde que com indicativos do adversário apresentados durante o jogo.

O QUE PODEMOS ESPERAR:
  1. Quando, em 2015, recusou o convite da CBF para comandar a categoria sub-15 da Seleção Brasileira, entendia ter havido melhora significativa na captação de atletas e estruturação da base nas mais variadas categorias do clube e isso demonstra o quão importante Zé Ricardo pode ser na formação de uma filosofia de jogo própria do clube, permitindo, agora sim, a unificação das metodologias, da filosofia geral de futebol para o clube, embora isso não signifique, de forma alguma, o engessamento das variações táticas diante de situações de jogo estimuladas por parte dos treinadores destas categorias;
  2. Obviamente, teria sido melhor que assumisse o comando técnico da equipe num início de temporada, planejando elenco, ou que, pelo menos, tivesse sido auxiliar de um dos vários medalhões bravateiros e apitadores de treino que passaram pelo banco de reservas da equipe nos últimos tempos, mas o Flamengo não pode mais esperar. Não podemos mais correr o risco de, em substituição a um destes treineiros, vir um novo treineiro de currículo vitorioso num passado cada vez mais distante e ficarmos mais uma temporada a ver navios, com um grande orçamento, um elenco de qualidade indubitável frente aos demais da Série A, mas que, pela má execução do planejamento, acaba sendo mal aproveitado, sem explorar o potencial máximo de cada jogador de nosso elenco. É certo que a falta de qualidade, de consonância dos treinos com aquilo que o futebol moderno preceitua tem desestimulado os atletas. Não há ânimo porque não há perspectiva de melhora. Treinos obsoletos, ideias ultrapassadas, objetivos sempre mal executados. E continuaremos correndo em círculos enquanto os medalhões obsoletos por aqui estiverem, com frustrações e vexames cada vez maiores;
  3. Precisamos de um treinador jovem, competente, estudioso, atualizado e, principalmente, com gana de vencer, de mostrar serviço. Sem sombra de dúvidas, Zé Ricardo é esse nome. Além do mais, carrega consigo o tal do rubronegrismo. A formação dentro do clube. Conhece cada metro quadrado daquelas instalações, a pressão da torcida, a instabilidade dos dirigentes. Num momento como esse, nada como resgatar as nossas raízes em nomes oxigenados. 
    Porém, para exercer um trabalho de qualidade, além de todos estes predicados, o treinador precisa FUNDAMENTALMENTE de autonomia, não apenas para escalar seu time, sem a pressão de dirigentes e empresários, mas também para a formação de sua comissão técnica. É preciso que um cara gabaritado como ele traga para perto, de si e do clube, profissionais de qualidade com a mesma competência e gana de vencer.
    Neste sentido, aproveito para fazer uma crítica: por falta de valorização profissional, seja em termos de salário como de perspectivas, perdemos excelentes profissionais para rivais regionais de poderio financeiro menor e ficamos presos a nomes como Jayme, que, apesar de todo respeito que tenho por sua história como profissional no clube, não tem a menor condição de integrar uma comissão técnica do futebol profissional do Flamengo. Pelo menos, se o clube pretende se soltar das amarras de um passado distante e caminhar em direção a um futuro vitorioso e altivo;
  4. O problema de saúde de Muricy foi mais uma intervenção divina no nosso caminho. Que Muricy se recupere logo e aproveite bastante a sua família e o patrimônio conquistado ao longo de seus vitoriosos e longos anos de trabalho, mas era óbvio que não havia a menor perspectiva de melhora do time sob seu comando. Um trabalho horroroso, pior que o dos tempos de Luxemburgo, por pior que possa parecer. Trabalho que não deixará legado algum, apenas uma sucessão de fracassos retumbantes e derrotas para times de todas as divisões do futebol nacional, de A a D.
    Mas aí lemos rumores que indicam a predileção da diretoria por Abel Braga para substituí-lo. Sim, aquele responsável pelo maior vexame da história do Flamengo, em 2004. Demitido de Fluminense, Internacional e Al Jazira-EAU. Mais um medalhão obsoleto. Mais um bravateiro. Mais um escudo para a direção. Assim como Muricy, Oswaldo, Mano e afins. Treinadores que, pelo estilo de gritar à beira do campo, chegam com grande aprovação da torcida, ganham os jogos iniciais, mas, ao longo do tempo, por estarem completamente desatualizados com o futebol moderno, caem na desgraça da mesmice e continuaremos nos convivendo com vexames.
  5. Portanto, cabe a nós, torcedores, protestarmos pelo fim desta ciranda maldita e inútil dos mesmos nomes. É preciso ousar, sair do lugar-comum. É preciso ser de vanguarda, como o Flamengo sempre foi, mas tem deixado de ser com o passar do tempo. Precisamos resgatar a nossa raiz, mas sem abrir mão da qualidade.
NÃO É POSSÍVEL QUE CONTINUAREMOS CAINDO NOS MESMOS ERROS!

Diferente dos medalhões, Zé Ricardo carrega consigo, ao menos, o benefício da dúvida. Os outros nos trazem certeza, a certeza de que continuaremos neste pesadelo que parece sem fim. Se o Flamengo não quiser ou puder trazer um grande treinador estrangeiro extraclasse, não pode apostar em nenhum outro nome senão em Zé Ricardo.