terça-feira, 31 de maio de 2016

Alma

Alma. Deriva do latim animu, que significa “o que anima”. O texto de hoje se iniciou numa discussão entre amigos sobre o que faltava ao “Flamengo da crise”, de duas semanas atrás, o time derrotado, queixo de vidro que não conseguia reagir. O que seria a alma ou a falta dela em campo. Discussão forte com opiniões firmes e perspectivas diferentes. Discussão das boas, com ânimos à flor da pele, diferente daquele time em campo, apático, que corria, mas “não se matava”... Somos Flamengo, queremos o bem, e somos amigos, portanto a sanguínea conversa apenas expunha nossos pontos de vista sobre o que se passa no departamento de futebol, no time.

A ilustração que inicia o texto é o exemplo do que me proponho a dizer no decorrer do mesmo: o FlaBasquete no gramado do Maracanã. Seria lindo uma final por lá. Já pensaram? Em linhas gerais, todos reconhecemos que falta alma, um algo mais no futebol, que nos passa uma sensação de baixíssima reatividade, falta de ímpeto, diversas sensações subjetivas. Quando perde e quando vence. Falta uma fagulha, vergonha, empenho, sei lá. Ou faltava. No domingo essa fagulha se acendeu, o time agiu diferente, mesmo depois do gol sofrido, onde não se desesperou e venceu com justiça e suor ao time da Ponte Preta, em Campinas, depois de muitos anos. Literalmente o time se “animou”.

Pensamos em aspectos do mundo do futebol e das arquibancadas para tentar definir o que falta ao Flamengo. Pensamos geralmente em conceitos como “personalidade”, “orgulho”, “sangue”, “vontade”, “conhecimento do que seja o clube”, “paixão” e outros mais. Pensamos em “alma”, me apeguei a “Alma”, título do texto e ao termo “senso coletivo”. Mas como tentar explicar de modo menos subjetivo? Difícil. Tentarei com as minhas limitações, visões de um torcedor. Penso que a “tal” alma é a soma de conceitos da vida cotidiana que também se aplicam ao futebol. Às explicações:

Concentração
  • Proporção em massa, volume ou número de moléculas do soluto em relação ao solvente ou à solução; riqueza;
  • Ato ou efeito de agrupar o que se acha disperso ou separado;
  • Ato ou efeito de se reunirem várias pessoas ou coisas num ponto determinado;
  • Ato ou efeito de orientar a atenção ou as energias para um tema ou objetivo determinado.

Todas as definições anteriores se aplicam, porém fico com a última, a questão da atenção ao que se pede, ao que deseja o treinador, mas durante os 90 minutos e os acréscimos. Em geral, nossos jogadores são dispersos, talvez relapsos e essa falta de atenção tem como punição gols sofridos por erros bobos individuais, como erros de passe e posicionamento e falta de senso coletivo. Um atleta concentrado procura se posicionar melhor para receber a bola. O único que faz isso com naturalidade é Cuellar.

Sobre o “ato ou o efeito de agrupar o que se acha disperso” ou o “ato ou efeito de se reunirem várias pessoas ou coisas num ponto determinado”, em linhas gerais é “focar”, a palavra da moda no futebol. Foco. Objetivo. O elenco deve rumar para o mesmo lado, corrigindo as rotas, treinando com maior eficiência, para que nos jogos o resultado apareça. Tem treinado bem? Não dá pra saber. Mesmo em com meses de temporada. É provável que não, mas por quê? Aí mesmo é que não dá pra saber... nós, torcedores. O clube tem a obrigação de saber para aonde está caminhando.

Sem treinador não vai poder ficar. Mas qual o perfil? Quem? Avançando no assunto e recuando no tempo, me parece uma equipe mal treinada. Antes pela falta de equipamentos e ferramentas que auxiliam no dia a dia dos atletas, hoje por conta da proposta de trabalho e do entendimento dos atletas sobre o jogo, sobre sua profissão. Não creio que Muricy seja burro, Oswaldo, Mano, Dorival e os outros que passaram. Existem treinadores melhores, lógico, mas são tão burros assim? Culpas divididas entre clube (dirigentes), elenco e treinador.

Dentro de campo, individualizando a questão, os atletas estão preparados? Penso que falta QI esportivo para alguns, entendimento sobre o jogo, sobre suas funções e isso resvala na concentração, detalhes que podem e decidem, as partidas. Um passe errado, uma marcação frouxa, um atacante livre, desatenção na bola parada... tudo isso é treinável. Quanto melhores preparados, menos desatentos estarão os jogadores. Passemos para outro conceito.

Intensidade
  • Intensidade (física) — variação do fluxo de energia no tempo de uma onda;
  • Intensidade (radiação) — valor do fluxo de energia por unidade de área x unidade de tempo;
  • Intensidade (transferência de calor) — medida da distribuição de fluxo de calor radiante por unidade de área e ângulo sólido;
  • Intensidade sísmica — medida qualitativa que descreve os efeitos produzidos por sismos na superfície terrestre.

A intensidade deve ser aplicada, transferida para o futebol como o “fluxo de energia” deixada no campo pelos jogadores, ainda entregue nos 90 minutos, todo o tempo. Também com o “fluxo de calor radiante” e a capacidade de contagiar aos companheiros de equipe e o “efeitos produzidos por sismos na superfície terrestre”, os adversários devem tremer em campo, com o sufoco imposto pelo time do Flamengo e sua torcida, no estádio ou não.

Para Léo Miranda, esse é o maior problema do Flamengo. Compartilho dessa visão. “O problema mora no coletivo, nos movimentos de quem não está com a bola. Poucas vezes se vê aproximação de quem está com a bola, criando linhas de passes para circular até quebrar as linhas do adversário. Isso tem nome: apoio. O Fla trabalha mal o apoio, e quando o faz, é no seu próprio campo ou sob marcação intensa. Resultado: o adversário nunca é desequilibrado e a bola sempre volta pra defesa”.

E Ainda: “Não adianta copiar o 4-3-3. Na prática, o mais importante é o modelo de jogo. No Barça, as ações acontecem em alta velocidade e a equipe inteira trabalha para criar espaços no adversário. Os treinamentos são curtos, com máxima intensidade e sempre focam em um aspecto tático do modelo de jogo”. Para terminar: “Tudo no Fla parece acontecer numa velocidade e concentração abaixo do normal: os passes não se transformam em gols, o adversário se fecha, a recomposição defensiva é lenta e a linha de defesa fica vulnerável, como Vasco e Fortaleza bem aproveitaram”. O vídeo abaixo demonstra essa falta de intensidade ofensiva, um time imóvel, previsível.

 O problema não é o esquema é a execução, o sistema de jogo é como se treina e se joga, principalmente. Me iludi com Muricy. Não pelo “mimimi Barcelunático”, como diria o Jamílton, frequente comentarista e blogueiro aqui do Buteco. Me iludi porque achei que o Muricy vencedor e pragmático daria tranquilidade ao Flamengo. Com vitórias simples. Precisamos de paz. Observando jogo e conceito, aprofundo com um cara que virei fã e recomendo, Caio Gondo, bogueiro do GE no Blog do torcedor do Atlético-PR. Um cara que fala de coisas que eu enxergava mas não conseguia exprimir.

Para o Caio Gondo, a intensidade “está relacionada com a velocidade de pensar sobre as jogadas realizadas e/ou as serem realizadas e, também, com a velocidade de execução dos movimentos dos jogadores”. [...] “Como a intensidade é composta pela velocidade e a concentração, a maneira a qual a equipe deve atuar sem a bola devem estar muito claro para que os jogadores realizem os movimentos os mais rápidos e precisos possíveis”. Ele diz que a intensidade está sempre com o time sem a bola. É ali que se enxerga a tal intensidade. Acho que este é o setor que mais sofre o Flamengo, sua recomposição defensiva é ruim, geralmente “bagunçado” por recompor mal, até pela falta de concentração e a cultura de se esperar a bola. Mais um aspecto treinável. Na ilustração abaixo ele demonstra exatamente isso (está no post dele). A organização é a chave e a repetição, o treinamento. Perdemos tempo.
Motivação
  • Deriva do Latim movere, mover.
  • Refere-se em psicologia, em etologia e em outras ciências humanas à condição do organismo que influência a direção (orientação para um objetivo) do comportamento. Em outras palavras é o impulso interno que leva à ação.

Motivação é algo que vem de dentro, é interno, do individuo. Por mais que tentemos, cada pessoa reage de uma maneira, porém precisamos de ferramentas para que essa motivação permaneça. Nós torcedores, não precisamos, somos apaixonados pelo Flamengo, mas como motivar profissionais? Essa questão da personalidade e do “perfil do elenco” é complicada. O time é quieto, calado, não se cobra. E a cobrança interna? Não há. Suspeito dessas questões. É o que transparece em campo. Mas nem tudo é o que parece...

Como já disse neste mesmo texto, pode ser falta de treinamento, erro de treinamento, erro de gestão do elenco, do contato entre as pessoas. Presumo que haja erro de gestão. Mas como assim, se o Flamengo é premiado, reconhecido como melhor gestão? O clube sim, o futebol, não. No futebol a coisa parece funcionar diferente, existem coisas que nos escapam. Se foi executado o investimento no elenco (mesmo com falhas de planejamento, como no caso do zagueiro), se foi executado investimento nas condições de trabalho (CT), o que falta? Gestão.

O basquete demonstra que falta é competência, gestão, processos, organização, cada vez mais... no basquete temos alma, identificação, simbiose entre time e torcida. O futebol é um “clubinho hermético” e que acha que se basta, um local fechado. Observo de fora e penso que alguma coisa está errada, mas o que é? Porque só os processos do futebol não “performam”? Há sim alguma falha de gestão de elenco, treinamento, nos processos internos. Pode faltar o “tal” gerente, mas isso é “um achar meu”. Mas o que isso tem a ver com motivação?

Quanto melhor preparado está o atleta (individual e coletivamente) mais motivado estará. A motivação vem também do senso coletivo de cada atleta, de sua importância para o elenco, para o time, suas obrigações e funções, clareza de ações. Lembremos da melhor atuação contra o Vasco esse ano. Alguém se recorda o que ocorreu antes? A famosa palestra do Bope. Estavam bem preparados para aquele jogo e a palestra foi apenas a fagulha. Bope, corporação, senso coletivo. Time e torcida (e clube) devem estar em sintonia.

Dessa motivação, vem algo importante para nosso clube, para o time em campo, a vibração. O Flamengo vibra, pulsa, mas como vibrar desmotivado? Vibração que se define como “sentimento ou manifestação de intensa alegria ou entusiasmo”. Vamos nos entusiasmar despreparados? A alegria vem com a vitória, é um ciclo, um círculo virtuoso, retroalimentador. Trabalho correto, vitórias, alegria. Parece simples, mas vimos que não é.

Estamos cansados de perder, vivemos de vitórias. Devemos nos preparar melhor para atingir aos objetivos e corrigir rotas para trilhar o caminho de vitórias que merecemos depois de tanto tempo. Merecemos. Fizemos todo o caminho, agora é acertar e colher. Lutando. Não considero este time sem sangue, sem vontade. Em 2016, vejo um elenco/time correndo e muito, porém de forma desorganizada. Confio no campeão da Copinha, Zé Ricardo. Seu time era bem organizado, não se entregava, estava tranquilo e motivado.

O Flamengo sub-20 de Zé Ricardo, campeão da Copinha, era o que a gente imaginava para o time profissional. Um time com alma. No último domingo enxerguei um time tranquilo, sem desespero. Depois do gol de empate controlou o jogo e não sofreu. Willian Arão disse ontem em coletiva que o novo treinador modificou e instruiu o elenco para a melhoria da saída de bola e do posicionamento. São aspectos importantes, mesmo que iniciais. Aspectos explicados por Caio Gondo e Léo Miranda. Precisamos de Alma. Alma para mim é Concentração + Intensidade + Motivação. Vitórias.





segunda-feira, 30 de maio de 2016

Vibrações Positivas

Salve, Buteco! E não é que o Mais Querido, em quatro jogos disputados nesse Brasileiro/2016, está com pontuação de G4 e a três pontos do líder? Na vitória de ontem contra a Ponte Preta o que me deixou feliz não foi a quebra do "tabu" contra o adversário e nem a postura tática do time, onde sinceramente ainda não vi evolução comparado ao que o time dirigido por Muricy Ramalho chegou a apresentar esse ano em algumas oportunidades; foi a postura dentro de campo: recusar-se a perder; virar o placar adverso; dividir todas as bolas com mais de um jogador disputando-a a cada lance; vibração dentro de campo com cada jogador terminando os 90 (noventa) minutos e descontos com plena dedicação. O Flamengo ontem me fez vibrar, algo que realmente não ocorria há muito tempo. Percebam que é diferente de jogar em alto padrão de qualidade tática ou técnica; refiro-me a jogar com vibração, à chamada "entrega" por parte dos jogadores dentro de campo, à postura que sempre fez a Maior do Mundo incendiar os estádios Brasil a dentro e a fora. Pois ontem, no momento mais adverso, com um a menos dentro de campo por injusta e extravagante expulsão de Fernandinho por parte de Anderson Daronco, pôde-se ouvir nossa torcida ecoando o grito de guerra "Meeeengoooooo" em pleno Moisés Lucarelli, calando a torcida local. A sintonia voltou. A sinergia também, e é resultado direto da postura dos jogadores dentro de campo, algo que sempre encontrou resposta imediata nas arquibancadas.

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O que faltou para essa vibração acontecer sob a batuta de Muricy Ramalho? A demora para "limpar" o elenco de "lideranças" como Wallace e Paulo Victor e a impressão de que existiam "panelas"? A saída do rabugento Jayme de Almeida e suas pretensões frustradas, auxiliar que, dirigindo o time contra o Atlético/PR na Arena da Baixada, expusera (de forma bizarra) boa parte desse grupo (ainda que merecesse) a constrangimento público após a partida? Ou o trabalho do treinador simplesmente não foi bom e fracassou, não conseguindo persuadir e convencer ou alcançar os atletas? O certo é que, mesmo com todos os erros de arbitragens cometidos em seu desfavor, o Flamengo ontem foi altivo, jogou de cabeça erguida, não se abalou com o gol sofrido, teve uma postura completamente diferente da que temos visto desde o início de 2014 até o momento.

Quem me dá a honra de ler os meus textos sabe que gosto de recorrer ao passado e identificar situações semelhantes, de modo a encontrar a solução ideal para os problemas presentes. Muito embora estejamos falando de uma singela partida, a atuação de ontem me lembra a leveza de espírito do time sob os comandos de Andrade, em 2009, e do próprio Jayme de Almeida, em 2013. Vibrações positivas, sem a menor sombra de dúvida.

Em que pese estar muito satisfeito em ver de volta um Flamengo autêntico dentro de campo, gostaria da mesma forma de finalmente ver o clube devidamente estruturado e bem gerido profissionalmente em seu Departamento de Futebol, sem que os bons momentos aconteçam sem decorrer de estudado planejamento, ainda que se possa afirmar que, esse ano, evoluiu-se em vários aspectos no setor, o que sem dúvida beneficiará Zé Ricardo ou eventual sucessor de Muricy Ramalho.

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Não vi evolução tática no time em campo, mas, dentro desse contexto, o trabalho do Muricy Ramalho, com suas qualidades positivas e negativas - léguas de distância dos melhores times sul-americanos no quesito, que dirá europeus; dentro da medíocre média brasileira. Todavia, enxerguei Zé Ricardo no comando técnico do Flamengo e a impressão foi extremamente positiva. Como? Em primeiro lugar, utilizou a hoje boa estrutura do clube para estudar os dados disponíveis e identificar a melhor forma de escalar a equipe; segundo, nas substituições, feitas, ao meu ver, de forma absolutamente técnica e racional; terceiro, na administração e escolha das peças a serem substituídas e a permanecerem dentro de campo no momento do sufoco, após o time perder um jogador na injusta e absurda expulsão de Fernandinho por parte do árbitro Anderson Daronco.

Saberemos nas próximas partidas quais são as ideias de Zé Ricardo, em nível de titularidade, em relação a importantes peças do elenco, tais como Paulo Victor, Mancuello, Cuéllar, Willian Arão, Ederson, Emerson Sheik, Marcelo Cirino e Alan Patrick, assim como se tentará impor suas convicções pessoais ao elenco ou encontrará a melhor solução de acordo com as peças que dispõe.

Por enquanto, a maior parte da torcida curte a esplêndida atuação de Muralha e nutre a esperança de que conquiste a posição, assim como se deleita com o golaço do menino Jorge e com a perspectiva de termos um Brasileiro competitivo para o Mais Querido do Brasil.

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Ajudem Zé Ricardo e, como de praxe, mandem suas escalações para o confronto contra o Vitória, na quinta feira, no Estádio da Cidadania, em Volta Redonda.

Bom dia e SRN a tod@s.

domingo, 29 de maio de 2016

Ponte Preta x Flamengo



Campeonato Brasileiro 2016 - Série A - 4ª Rodada

Ponte Preta - João Carlos; Jefferson, Douglas Grolli, Kadu e Reinaldo; João Vítor, Matheus Jesus (Renê Júnior) e Ravanelli; Felipe Azevedo,  Wellington Paulista (Roger) e Galhardo (Clayson); Borges. Técnico - Eduardo Baptista.

FLAMENGO: Muralha; Rodinei, Léo Duarte, CésaMartins e Jorge; MárciAraujo, Willian Arão e AlaPatrick;  Marcelo Cirino, FelipVizeFernandinho. Técnico: Zé Ricardo - interino.

Data, Local e Horário: Domingo, 29 de Maio de 2016, as 11:00h (USA/ET 10:00h), no Estádio Moisés Lucarelli ou "Majestoso", em Campinas/SP.

Arbitragem - Anderson Daronco (FIFA/RS), auxiliado por José Eduardo Bernardi (RS) e Helton Nunes (ASP/FIFA/SC). Quarto Árbitro: Adriano Milksvski (PR).

sábado, 28 de maio de 2016

Pitacos


Luiz Filho trouxe um belo texto na terça "dissecando" o Zé Ricardo, Melo elencou os treinadores feitos em casa, tanto os que deram certo quanto os que foram fracassos retumbantes, Luiz Eduardo, sucinto, desejou todo sucesso ao nosso novo treinador, interino que seja. Não tenho muito a acrescentar sobre ele, não tenho nenhuma base para tentar prever como o seu Flamengo jogará a partir de amanhã. Talvez o 4-1-4-1 que ele usou no sub-20 mas eu não apostaria. Os jogadores que temos no elenco para fazer esse trabalho de recomposição pelos lados não seriam meus titulares, no caso Gabriel pela direita e Everton pela esquerda.

Ao contrário da grande maioria, eu gosto do 4-3-3. O problema não é o esquema, é a má execução dele. Com poucos jogadores no meio, muitas vezes em desvantagem numérica, não dá para William Arão e Mancuello desguarnecerem a posição juntos, abrindo uma cratera enorme para o coitado do Cuéllar cobrir. Cansei de ver o argentino no seu ex-clube atuar como segundo volante, criando as jogadas a partir da defesa, não como meia ofensivo que só Muricy e seu fiel escudeiro Tata entendiam.



Hoje, com tudo que eu vi do nosso elenco nesses cinco meses do ano, eu trabalharia com duas variações, 4-3-1-2 e 4-3-2-1, dependendo do adversário e da disponibilidade dos jogadores.




Outra questão importante para mim nessa reformulação meia-boca do departamento de futebol é o gerente. Também ao contrário da maioria, eu não demitiria o Rodrigo Caetano. O mercado de executivos nessa área é muito restrito, pouquíssimas seriam as opções para substituí-lo. Minha solução, a longo prazo, é formar profissionais de "pele rubro-negra" para trabalhar no clube. Enquanto isso não acontece, podemos aproveitar o que cada um tem de bom. Todos dizem que o Rodrigo é excelente negociador mas fraco de vestiário. Nada mais razoável do que adicionar ao departamento um profissional para fazer essa ponte entre diretor, treinador e jogadores.

Dos nomes ventilados nessa semana, o mais preparado talvez seja o Alessandro, que já faz esse trabalho há alguns anos no Corinthians. Eu, particularmente, não gosto do Fábio Luciano e Ricardo Rocha e Rodrigo Paiva são piadas.





Para começar a sair desse buraco em que estamos, Zé Ricardo não terá uma tarefa fácil. Enfrentaremos a Ponte Preta no domingo de manhã e nossa última vitória sobre a Macaca foi em agosto de 2005, uma vitória no Luso-Brasileiro com gol do Jônatas. Pior: desde 1999, foram dezessete partidas e apenas esse triunfo, com sete derrotas e nove empates. No ano passado, derrota por 1 a 0 em Campinas e empate no Mané Garrincha.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Sucesso, Zé Ricardo






Irmãos rubro-negros, 



Zé Ricardo foi anunciado como o técnico do time de futebol profissional após Muricy Ramalho ter comunicado ao clube sua decisão de não voltar a trabalhar.

Que o Zé Ricardo tenha competência para fazer o time produzir os resultados necessários e que receba todo o respaldo da direção. 

Desejo todo o sucesso ao Zé Ricardo.





... 

Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos. 

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. 


quinta-feira, 26 de maio de 2016

Flamengo 2 x 2 Chapecoense - Mais pasmaceira

Empate amargo

Em meio a um clima político sujeito a chuvas e trovoadas graças a péssima performance no time de futebol, que apresenta um jogo sem força, sem identidade, sem alma ou talento, o Flamengo foi a Volta Redonda, e, em meio a um público pequeno de cerca de 2.500 abnegados, sofreu para empatar com o time arrumadinho do Chapecoense.

Jayme é o técnico interino. Então não espere grandes coisas deste pacote. Demora a substituir, tem preferência por jogadores que já atuaram com ele e tem uma precária visão de jogo. Por algum motivo ele ainda trabalha no Flamengo depois de jogar o clube na lama na sua primeira demissão. Mas, veio o Luxemburgo, que pediu para ele ser reintegrado. O que foi feito alegremente pelo EBM, que gosta dele, e assim a presença do Jayme voltou a nos assolar, permanecendo, inclusive, com a demissão do Luxemburgo.

Começou o jogo com o time animado. Vizeu, escalado como centroavante, finalmente era uma referência necessária no ataque. E logo fez um gol em jogada pela direita. Flamengo bem. Parecia que seria uma noite ao menos não vexatória, como outros jogos.

Mas o juiz resolveu atrapalhar. Inventou um pênalti grotesco pro Chapecoense, que não só empatou como contundiu nosso melhor zagueiro e capitão Juan. Flamengo, então, desfaleceu em campo. Perdeu completamente o prumo. Entrou o zagueiro inexperiente Rafael Dumas e o Flamengo ficou em campo com 100% dos zagueiros disponíveis no elenco. Nenhum deles pode se contundir. O que evidencia o péssimo trabalho do Rodrigo Caetano, do futebol como um todo, no Planejamento, entre outros itens. 

Chapecoense se defendia em seu campo, dando poucos espaços, e os jogadores do Flamengo se escondiam um atrás do outro, dando poucas opções de passe. O juiz, aspirante FIFA, como sempre, amarelando como podia os jogadores do Flamengo. Numa sanha de se mostrar útil ao dono da arbitragem da CBF. Com este jogo certamente conseguiu um passo adiante na indicação, pois em uma jogada ríspida de Everton, que levantou um pouco mais a perna, deu cartão vermelho para o jogador onde certamente cabia um amarelo. Deixando o inoperante Flamengo com 10.

Jayme, com sua pouca inteligência de jogo, sacou a única referência posicional no ataque, o Vizeu, e colocou Ederson. No que foi merecidamente chamado de "burro" Depois tirou Cirino e colocou Mancuello para melhorar o passe? Não. Colocou...Sheik. E o Flamengo totalmente bagunçado, levou o segundo gol da Chapecoense. Ederson, completamente aturdido em campo, fez uma falta burra e desnecessária na entrada de nossa área.. PV, que até então fazia uma boa partida armou a barreira e ficou postado no meio do gol. Bateram a falta, a um metro de distância do PV, esticou seus bracinhos curtos mas não foi o suficiente, Chapecoense 2 x 1 e crise na Gávea e redes sociais. Xingamentos, ofensas, desespero. É duro ver seu time sendo representado por "aquilo" na TV. Não é Flamengo. É uma impostura. O Flamengo que se quer "profissional" não pode ser amador complacente. Precisa cobrar resultados, performance e metas. E se não alcança rever seus fluxos decisórios, cadeia de comando, etc. É evidente que há um enorme problema no poder do Flamengo que não consegue fazer com que seu core-business funcione a contento. Muito cacique dando decisão? Muito amador deslumbrado? Profissionais bem remunerados entregando péssimos serviços? O fato é que nem o Presidente nem o VP de Futebol ASSUMEM o futebol como donos do negócio. Seja institucional como presidente do Clube, seja do negócio, da pasta, como VP amador. Não dão declarações pós-derrota, não botam a cara, se escondem por trás de comunicados que "haverão decisões a serem tomadas" com declarações de que tudo "está indo muito bem", em meio a derrotas e vexames diversos.

O futebol do Flamengo precisa de um DONO. Uma pessoa que assuma a parada como de responsabilidade dela e solta e manda prender.  Não será o Rodrigo Caetano, um profissional sem sangue, nem Fernando Gonçalves, o psicólogo-consultor de Fred Luz. Também não será Fred Luz, que sendo responsável pela Instituição como um todo, deveria apenas COBRAR dos profissionais por metas especificadas em conjunto pelo Conselho Diretor e intervir na pasta o menos possível para não atrapalhar a cadeia de comando. Também não será o EBM, porque não tem este perfil de conduta. E , ao que me parece, pelos meses perdidos em 2016, não será o Godinho. Não serve como VP e aposto que ele, como executivo, certamente demitiria alguém em seu negócio que entregasse os resultados podres que ele entrega enquanto VP. Precisa ser coerente com ele mesmo e com o Flamengo, e se afastar.

Enfim, que nem acabei o jogo ainda. O juiz, no final, sabe-se lá por piedade de ver o Flamengo tão ruim e inepto, inventou um pênalti para o Flamengo cometido pelo outrora zagueiro do Flamengo, o Marcelão da Massa. Alan Patrick cobrou e o Flamengo empatou. Não é para comemorar. 

É para mudar. E esta mudança não será realizada com a vinda do Abel, como está especulado. É mais um técnico arcaico, medalhão, cuja fase passou. Igual a do Sheik, por exemplo. O Futebol do Flamengo precisa de choque de gestão e ousadia. De contratar Sampaoli por exemplo, e/ou demitir Jayme e fazer do bom técnico Zé Ricardo de interino. E zagueiros. Contratar um caro e inútil Fernandinho ao invés de zagueiro é algo que nunca terá explicação racional.






quarta-feira, 25 de maio de 2016

Flamengo x Chapecoense


Campeonato Brasileiro 2016 - Série A - 3ª Rodada

FLAMENGO: Paulo Victor; Rodinei, Léo Duarte, Juan e Jorge; MárciAraujo, Willian ArãoAlaPatrick e EvertonMarcelo Cirino e FelipVizeu. Técnico: Muricy Ramalh(Jayme de Almeida - interino).

Chapecoense - Danilo; Gimenez, Rafael Lima, Thiego e Dener; Josimar, Gil, Cleber Santana, Lucas Gomes e Silvinho; Bruno Rangel. Técnico - Guto Ferreira. 

Data, Local e Horário: Quarta-feira, 25 de maio de 2016, as 21:00h (USET 20:00h), no Estádio General Sylvio Raulino de Oliveira ou "Raulino de Oliveira" ou "Estádio da Cidadania", em Volta Redonda/RJ.

Arbitragem - Diego Almeida Real (ASP/FIFA/RS), auxiliado por Rafael da Silva Alves (ASP-FIFA/RS) e Lucio Beiersdorf Flor (RS). Quarto Árbitro - Aurélio Santana Martins (SP).


Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

A incerteza acerca da permanência de Muricy Ramalho no comando técnico da equipe (talvez já dirimida após a publicação deste texto) fez crescer um debate sobre o que se quer para dirigir o Flamengo no futuro. Mais do que nomes, começa-se a discutir perfis, o que julgo positivo.

Um perfil mais inovador ou conservador? Um medalhão ou um jovem talentoso? Um “da casa”, que “conhece o clube”, ou alguém com currículo fora?

Com base nisso, proponho trazer elementos de discussão, com base no relato de passagens marcantes de treinadores na história recente do Flamengo. Esta semana, treinadores “de dentro” ou com pouca experiência anterior. Que deram certo, ou não. A lista não é exaustiva, há outros exemplos, mas não houve espaço para listar todos.

Semana que vem, os “de fora”. Boa leitura e discussão.

* * *

OS “DE DENTRO” OU INICIANTES

QUANDO DÁ CERTO

CLÁUDIO COUTINHO (1976-1980, com interrupções)
Gaúcho, de origem militar, radicado no Rio de Janeiro, construiu carreira na comissão técnica da Seleção Brasileira, atuando como preparador físico e posteriormente auxiliar técnico nas Copas de 1970 e 1974. Assumiu o Flamengo por indicação da CBD, que desejava “dar cancha” a um provável candidato ao posto de treinador. Recebido inicialmente com desconfiança pelo elenco, soube cativar os jogadores com um perfil democrático e de diálogo, embora firme.
Estudioso, entusiasta e adepto das práticas mais modernas de fisiologia do desporto e preparação tática, possuía um perfil absolutamente distinto dos treinadores “paizões” e “boleirões” da época. O respaldo da CBD (lembrando que o país vivia um regime militar) foi importante para absorver os maus resultados iniciais. No entanto, ao ser indicado para dirigir a Seleção Brasileira para a preparação e disputa da Copa de 1978, trouxe um problema ao Flamengo, pois seu trabalho no clube sofreu interrupções. Apenas a partir do final de 1978, quando pôde se dedicar mais intensamente ao Flamengo, conseguiu imprimir mais rapidamente sua filosofia de trabalho, colhendo resultados relevantes.
No clube, soube integrar jovens valores a veteranos tidos como decadentes. Implantou um esquema de jogo atualizado, repleto de triangulações e movimentação em bloco. Introduziu a polivalência, com figuras como o “falso ponta” e o “falso nove”. Seu calcanhar de aquiles foi o sistema defensivo, problema que só conseguiu minimizar com a contratação do zagueiro Marinho e a volta do jovem Andrade. Conquistou um Tri Estadual e um Brasileiro.
Após o título nacional, não conseguiu manter o grupo motivado e, desgastado por atritos com o elenco, demitiu-se no início de 1981. Atribui-se a Coutinho o embrião do time que marcaria o que se convencionou chamar “Era Zico”.

PAULO CÉSAR CARPEGIANI (1981-1983)
Aposentou-se como jogador em maio de 81. Em julho, após passagem relâmpago como auxiliar de Dino Sani, assumiu o comando da equipe, após a recusa de Nelsinho Rosa (campeão estadual de 1980 pelo Fluminense, onde ainda estava empregado). Jogador de forte ascendência sobre o time, de quem era o capitão, sofreu com alguma desconfiança no início (cinco empates em seis jogos), mas a classificação às Semifinais da Libertadores lhe deu respaldo para seguir.
Seu mérito consistiu em retomar e aprimorar a metodologia de Coutinho, que havia sido deixada de lado pelo old-school Dino Sani. Encaixou o sistema defensivo com a ascensão de Mozer e Vítor (espécie de 12º titular) e com a efetivação de Lico, formando um time com dois “falsos-pontas”, algo sem similar no futebol do país na época. Conduziu com competência o processo que levou a equipe ao auge de sua performance, ganhando absolutamente tudo entre 1981 e 1982.
Seguiu a sistemática de dar chances a jovens valores, embora fosse adepto de uma utilização mais restrita do elenco (trabalhava com cerca de 13 a 14 jogadores, que eram mais usados nos jogos).
Também sofreu com o desgaste na relação com o elenco, não resistindo às perdas do Estadual e da Libertadores em 1982. Sua manutenção para o ano seguinte revelou-se um erro, que acabaria deflagrando uma séria crise, a custo debelada.

SEBASTIÃO LAZARONI (1985-1987)
Preparador físico de origem, ascendeu à condição de auxiliar técnico, posto que ocupava quando Joubert Meira foi demitido, após o fracasso na Taça GB de 1985. Indicado para comandar o time em uma excursão aos EUA, retornou com bons resultados e uma avaliação positiva da supervisão. Enquanto o clube procurava medalhões como Menotti e quetais, foi mantido para a estreia da Taça Rio, em que o Flamengo, desfalcado e desfigurado, arrancou um heroico empate contra o favorito Bangu, vice brasileiro (2-2). A atuação vibrante e aguerrida da equipe resultou em sua efetivação.
Lazaroni soube lidar com a necessidade de fazer a transição entre a geração da Era Zico, que, por problemas de lesão ou queda de rendimento, já não conseguia manter sequência, e uma ampla fornada de jovens de qualidade prontos para subir. Promoveu, ou efetivou, nomes como Aldair, Zé Carlos, Zé Carlos II, Guto, Valtinho, Ailton, Zinho, Vinicius, entre outros. Conquistou um Estadual.
Também era defensor da adoção de uma forma de jogo mais competitiva e veloz, mantendo o time atrás da linha da bola e saindo em velocidade em contragolpes fulminantes. Suas equipes transpiravam e jamais se rendiam em campo. Gostava de improvisar posições, herdando a “polivalência” de Coutinho. No entanto, padecia de certa falta de flexibilidade na forma de jogo.
Paradoxalmente, desgastou-se à medida que os melhores jogadores foram começando a reunir condições de jogo. Recusando-se a montar um time mais cadenciado e técnico, comprou briga com Adílio e Sócrates, acreditando ter força para confrontar o vestiário. Não foi o caso.

CARLINHOS (1987-1988, 1991-1993, 1999-2000)
Estão aqui listadas as três melhores passagens.
Cria da Gávea, onde fez carreira como jogador e como treinador, inicialmente trabalhando nas divisões de base, depois içado ao posto de auxiliar. Após passagem ruim em 1983, foi elogiado ao comandar o time como interino na Taça GB em 1987, entregando-o invicto a Antonio Lopes. Com o fracasso do “delegado”, tornou a ganhar chance de forma provisória no Brasileiro, mas os bons resultados contra Vasco (2-1) e Santos (0-0, fora de casa, jogando com 10 e melhor), aliados à dificuldade de contratação de um nome de ponta, o mantiveram no comando.
Em 1991, Carlinhos, como auxiliar, também herdou, de forma provisória, o comando da equipe, após a turbulenta passagem de Vanderlei Luxemburgo. E, em 1999, foi contratado para comandar um elenco ansioso por um “resgate” da identidade rubro-negra, tida como perdida nos anos de administração Kléber Leite.
Em síntese, Carlinhos caracterizou-se por uma visão intuitiva aguçada. Seu posto de auxiliar lhe permitiu observar atentamente o funcionamento das equipes e, ao ser promovido, realizar mudanças simples, pontuais, mas decisivas e capazes de alterar dramaticamente o seu funcionamento. Versátil, conseguiu trabalhar com elencos jovens, promovendo valores da base (especialmente em 1991 e 1999), e com grupos mais qualificados (1987). A exemplo de outros profissionais bem sucedidos, fez do diálogo e da abertura aos líderes do elenco sua marca. Com isso, tornou-se um dos mais vitoriosos treinadores da história do clube (dois Brasileiros, uma Mercosul, três Estaduais, entre outras conquistas).
No entanto, tinha dificuldades em momentos de turbulência. O perfil conciliador e de diálogo não se mostrou adequado para resolver conflitos. Nas três passagens citadas, perdeu o vestiário de forma inapelável, em decorrência de maus resultados em sequência.

ANDRADE (2009-2010)
Figura de controversas passagens anteriores, seguiu como auxiliar fixo de diversos treinadores, acompanhando alguns dos momentos mais difíceis da história do clube. Em 2009, após a demissão de Cuca, recebeu a incumbência de dirigir, em caráter interino, o time em duas partidas teoricamente difíceis (Santos F, Atlético-MG C). Venceu e convenceu em ambas, o que motivou sua efetivação.
Intuitivo, soube domar um elenco difícil, com jogadores de temperamento complicado. Capitalizou a motivação de atletas como Petkovic e Adriano, canalizando-as para dentro de campo. Montou um esquema simples, de fácil execução, e soube fazer o elenco comprar a briga de um título brasileiro que parecia improvável. O hexa veio, de forma histórica. Com ele, os problemas.
O elenco campeão de 2009 perdeu peças importantes, e Andrade não soube trabalhar com as peças de reposição. Também não conseguiu manter o elenco motivado e focado para a Libertadores, quase sendo eliminado precocemente na Primeira Fase. Sem comando, conviveu com episódios de indisciplina que beiraram o confrontamento direto. A perda do Estadual para o Botafogo foi-lhe fatal, e encerrou sua trajetória no clube.

QUANDO DÁ ERRADO

CARLINHOS (1983)
O Flamengo estava imerso em forte crise, jogadores desmotivados, arrastando-se em campo, jogando sob pesadas vaias. Carpegiani, visivelmente desgastado, foi demitido. Carlinhos, sem qualquer experiência no profissional, assumiu com a intenção de devolver uma vibração há muito perdida. Conseguiu apenas no primeiro jogo, um empate com o Palmeiras no Maracanã (1-1, em que o time perdeu inúmeras chances e cedeu a igualdade em lance isolado). Após algumas decisões confusas, como a barração de titulares importantes, perdeu o cargo nas desastrosas partidas do Flamengo na Bolívia pela Libertadores (0-0 Blooming e 1-3 Bolívar), que custaram a vaga à fase seguinte. Carlinhos, tido como muito “verde”, ainda teria que aguardar alguns anos.

JOSÉ ROBERTO FRANCALACCI (1983)
O Flamengo sangrava a saída de Zico. Uma aura de desânimo pairava sobre toda a instituição. Perdidos, os jogadores se ressentiam da falta de um líder (Raul, quase aposentado, não queria exercer esse papel e Júnior, ainda imaturo, não estava pronto). O treinador, Carlos Alberto Torres, somente bradava “raça, raça” pelos cantos. Foi demitido. Assumiu o preparador Francalacci, numa tentativa de repetir o sucesso de Coutinho. Mas o timing foi desastroso. Francalacci tentou inovar e aplicar sistemas de jogo requintados e complexos. Testou Leandro e Júnior na posição de Zico. Apenas trouxe mais confusão e desequilíbrio a um cenário devastado. Após algumas derrotas contundentes, foi devolvido à comissão técnica.

SEBASTIÃO ROCHA (1997)
Assumiu o time após a saída de Júnior, desgastado com a derrota para um time reserva do Botafogo na Taça GB. “Paizão”, “carinhoso”, inicialmente trouxe boas respostas, mostrando capacidade de trabalhar com um elenco jovem e de conciliar as necessidades da equipe ao temperamento de Romário. Conseguiu formar um time compacto e veloz, que foi avançando às fases finais da Copa do Brasil. No entanto, a hesitação mostrada na partida decisiva contra o Grêmio foi-lhe fatal. Demonstrando abatimento com as críticas, sucumbiu ao mau início do time no Brasileiro, quando chegou a beirar a ameaça de rebaixamento. Sua despedida, aos prantos, na goleada sobre o Atlético-MG (4-2 no Mineirão), revestiu-se de uma página particularmente constrangedora.

JÚLIO CÉSAR LEAL (2005)
Formado na Gávea, com experiência em Seleções Brasileiras de base e no Oriente Médio, enfim se julgou capaz de conduzir o time principal, especialmente diante de um elenco barato, onde seria necessário promover alguns jovens da base. No entanto, mostrou-se alheio e algo deslumbrado, parecendo desconectado da crise que assolava o clube. Em um elenco abatido pela péssima temporada anterior, com alguns reforços inexpressivos e torrados mesmo antes da apresentação, acenou com uma esdrúxula “cartilha” de conduta (onde figuravam “instruções”, como “bater faltas à la Zico”) e outras excentricidades, como o pedido de uniformes azuis de treino à fornecedora de material esportivo (“azul é a cor dos vencedores”). Não foi difícil prever o desfecho. Após uma humilhante estreia na Taça GB (0-3 Olaria no Maracanã, única vitória do adversário no campeonato), resistiu apenas por 6 jogos, sendo sumariamente demitido. Sua contratação, até hoje, é dolorosamente lembrada como um retumbante erro de avaliação.

ANDRADE (2005)
O momento caótico do Flamengo, afundado na Zona de Rebaixamento e com um dos mais deploráveis elencos de jogadores da sua história, requeria ações rápidas, enérgicas. Perdidos e sem dinheiro, os dirigentes não pareciam reunir muitas opções de ação. Optou-se pela efetivação de Andrade, que com um trabalho razoável no final do ano anterior havia salvo o time do descenso.
O início não foi ruim, dentro das circunstâncias. Andrade, com uma tática simples, “fechou a casinha” e tentou montar um time veloz e compacto. Conseguiu alguns resultados importantes e improváveis (0-0 contra os fortes Cruzeiro e Santos, ambos fora de casa, 2-0 sobre o São Caetano, entre outros). Mas, incapaz de conter uma forte guerra de egos e um elenco fragmentado em subgrupos, rapidamente sucumbiu à crise que parecia interminável. Após alguns resultados humilhantes, deixou o comando do Flamengo com a equipe na lanterna e com mais de 90% de chances de rebaixamento.

ROGÉRIO LOURENÇO (2010)
Assumiu o clube na esteira da perda do Estadual e de uma classificação quase inacreditável para a Segunda Fase da Libertadores. Conseguiu desfrutar do último sopro de motivação dos jogadores do hexa, o que foi suficiente para eliminar o Corinthians em duas partidas duríssimas. Poderia ter ido mais longe na competição continental, mas foi prejudicado por um erro primário de logística na partida de ida das Quartas de Final, contra a Universidad-CHI, que não foi revertido nem mesmo pela primorosa atuação da equipe no Chile.

Sua forma de jogo era simples, trazendo elementos da “tropa de elite” de Joel, montando um cinturão de zagueiros e volantes que trancavam a defesa e faziam o time jogar em função do talento de Adriano e Wagner Love. Com a eliminação da Libertadores e a saída dos dois atacantes, perdeu a referência ofensiva e não resistiu à aridez técnica do elenco remanescente. Seu temperamento difícil também não ajudou. Deixou o comando após o mau início no Brasileiro.


terça-feira, 24 de maio de 2016

É a Hora de Zé Ricardo no Profissional


Diante de todas as mudanças desta semana e do furacão político causado pelo futebol, meu texto foi por água abaixo! Muito do que eu escreveria foi dito e repetido à exaustão no texto de ontem do Gustavão, nos comentários dos Butequeiros e nas redes sociais. Provavelmente voltarei a ele em um outro momento, se achar necessário. Passando disso, li um texto bem bacana, enviado a mim pelo Max Amaral. Gostei das observações e vale muito a reflexão sobre ele. Precisamos mesmo de um medalhão? Será que um medalhão respeitaria a hierarquia do futebol? São questões alheias ao texto, portanto não as trarei para cá, atendo-me a ele.

O texto é de Ruan Lucas (@ruanlucas_fla) e foi publicado no Blog Plantão do Futebol. O texto fala sobre Zé Ricardo e sua utilidade no futebol profissional, traçando um panorama sobre sua carreira até aqui. Gostei do que vi e vale a reflexão, repito. Obrigado ao Ruan, que permitiu a publicação e boa leitura!


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ORIGEM E CARREIRA NO FLAMENGO
Com 45 anos, José Ricardo Mannarino começou a trajetória no Flamengo em 1998, quando foi levado por Anderson Barros para comandar o futsal do clube, onde se destacou tanto pelo talento, quanto pela tranquilidade no trato com comandados e adversários. Sete anos depois, migrou para o campo e assumiu comando da categoria Mirim. Depois de passagem de 3 anos pelo Audax, voltou para o clube em 2012, para comandar a categoria sub-15, onde treinou e manteve a incrível invencibilidade da cheia de expectativas “Geração 2000”. Depois de um trabalho excepcional, foi convidado para assumir o comando técnico do sub-15 da CBF, na sua maior oportunidade profissional até então, convite do qual declinou em prol de um projeto maior no Flamengo.

Em novembro de 2014, assumiu o sub-20, após devastadora derrota de 7x0 para o Fluminense, com o time fora das duas decisões de turno do Estadual sub-20 em 2014. Três meses após assumir, foi campeão invicto da Taça OPG. Em 2015, conquistou o Estadual, após vencer os dois turnos da competição. Em 2016, o auge: a conquista invicta da Copa São Paulo de Juniores, com uma reação heroica sobre o Corinthians, num Pacaembu lotado. Após a Copinha, seu time passa por uma intensa reformulação, mas, ainda assim, ocupa a liderança da Taça Rio no Estadual da categoria. Seu trabalho na base é irretocável: títulos acompanhados de formação e lançamento de bons atletas para o profissional, extraindo sempre o melhor de cada jogador.

PERSONALIDADE
Por ser professor da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro e ter toda a sua atuação no futebol voltada para as categorias de base, Zé Ricardo é conhecido pelo seu perfil didático no trato com seus comandados. Além disso, não abre mão da esportividade de seus atletas, exigindo sempre respeito ao adversário, em qualquer situação, o que ficou muito evidente na goleada por 5 a 0 sobre o Corinthians, na final da Copa Amizade Sub-15 em 2014. É conhecido pelo trato respeitoso com todos os funcionários, do roupeiro aos jogadores e diretores do clube.

Gosta de trabalhar com a ideia de equilíbrio, sabendo controlar os ânimos dos atletas seja na empolgação pelas vitórias ou na frustração pelas derrotas. Apesar do foco irrefutável na ideia de disciplina, consciência tática e total entrega dos jogadores para o sucesso do coletivo, Zé Ricardo também é conhecido pelo estilo “Paizão”, embora não hesite de cobrar nos momentos necessários, mas jamais abrindo mão do respeito aos seus comandados, razão pela qual sempre conquista a admiração deles. Num cenário de adversidade durante o jogo, entende que passar tranquilidade aos atletas, pela consciência de que sabem de sua capacidade, pode ser mais eficaz que se resumir a dar broncas.

No trato do elenco e da execução do trabalho com maior qualidade, encara com naturalidade a questão dos rodízios, caso haja a disputa simultânea de torneios importantes e acredita na necessidade do trabalho de longo prazo, no qual o jogador deve ser leal à proposta coletiva da equipe e crê não ser possível dissociar o caráter da postura profissional

ESTILO DE TREINOS E FILOSOFIA DE JOGO
Na aplicação e compreensão de treinos, é admirador da metodologia portuguesa e tenta aproximar sempre os treinos à realidade do jogo, à especificidade do jogo, prezando demais pelo jogador com massa cerebral, não massa muscular, isto é, estimulando a consciência tática e também o desenvolvimento técnico individual em detrimento da preocupação exacerbada com o condicionamento físico. Seu foco está sempre na tríade “trabalho, disciplina e dedicação”.

Zé Ricardo é perfeccionista, trabalha com afinco as suas determinações de propostas de jogo com os atletas. Por ser apaixonado pelo futsal, carrega consigo princípios e comportamentos do esporte e, por isso, é muito conhecido pelo estímulo às jogadas ensaiadas como forma de surpreender o adversário. Nos jogos, seus times são conhecidos pelo alto índice de passes certos, apesar da movimentação constante. Estimula a saída de jogo sem chutões, com domínio da bola, tudo repetido à exaustão nos treinos.

A formação no futsal permitiu ao treinador ter sempre as suas "cartas na manga". Jogadas ensaiadas e apreciação ao improviso do talento individual de seus atletas, sem permitir que os excessos egoístas de determinados jogadores possam acontecer e prejudicar o coletivo, é um grande estrategista. Sua proposta de jogo é um flexível 4-1-4-1, sistema que o treinador entende ser de fácil compreensão pelos atletas, além de permitir algo bastante apreciado por ele: a versatilidade dos atletas. Apesar de a predileção por esse sistema, o treinador entende que a eficiência de um modelo tático depende da execução da proposta do em campo.

Muito embora uma das principais preocupações seja com a organização tática de suas equipes, a adoção desta identidade tática não prejudica que o plano de ação para cada jogo seja feito com base em muito estudo do adversário. Seus times costumam ter grande organização defensiva, boa cobertura de espaços e sofrem poucos gols. Têm como característica marcar em bloco mais baixo e ter um contra-ataque extremamente organizado, alternando com a marcação por pressão, desde que com indicativos do adversário apresentados durante o jogo.

O QUE PODEMOS ESPERAR:
  1. Quando, em 2015, recusou o convite da CBF para comandar a categoria sub-15 da Seleção Brasileira, entendia ter havido melhora significativa na captação de atletas e estruturação da base nas mais variadas categorias do clube e isso demonstra o quão importante Zé Ricardo pode ser na formação de uma filosofia de jogo própria do clube, permitindo, agora sim, a unificação das metodologias, da filosofia geral de futebol para o clube, embora isso não signifique, de forma alguma, o engessamento das variações táticas diante de situações de jogo estimuladas por parte dos treinadores destas categorias;
  2. Obviamente, teria sido melhor que assumisse o comando técnico da equipe num início de temporada, planejando elenco, ou que, pelo menos, tivesse sido auxiliar de um dos vários medalhões bravateiros e apitadores de treino que passaram pelo banco de reservas da equipe nos últimos tempos, mas o Flamengo não pode mais esperar. Não podemos mais correr o risco de, em substituição a um destes treineiros, vir um novo treineiro de currículo vitorioso num passado cada vez mais distante e ficarmos mais uma temporada a ver navios, com um grande orçamento, um elenco de qualidade indubitável frente aos demais da Série A, mas que, pela má execução do planejamento, acaba sendo mal aproveitado, sem explorar o potencial máximo de cada jogador de nosso elenco. É certo que a falta de qualidade, de consonância dos treinos com aquilo que o futebol moderno preceitua tem desestimulado os atletas. Não há ânimo porque não há perspectiva de melhora. Treinos obsoletos, ideias ultrapassadas, objetivos sempre mal executados. E continuaremos correndo em círculos enquanto os medalhões obsoletos por aqui estiverem, com frustrações e vexames cada vez maiores;
  3. Precisamos de um treinador jovem, competente, estudioso, atualizado e, principalmente, com gana de vencer, de mostrar serviço. Sem sombra de dúvidas, Zé Ricardo é esse nome. Além do mais, carrega consigo o tal do rubronegrismo. A formação dentro do clube. Conhece cada metro quadrado daquelas instalações, a pressão da torcida, a instabilidade dos dirigentes. Num momento como esse, nada como resgatar as nossas raízes em nomes oxigenados. 
    Porém, para exercer um trabalho de qualidade, além de todos estes predicados, o treinador precisa FUNDAMENTALMENTE de autonomia, não apenas para escalar seu time, sem a pressão de dirigentes e empresários, mas também para a formação de sua comissão técnica. É preciso que um cara gabaritado como ele traga para perto, de si e do clube, profissionais de qualidade com a mesma competência e gana de vencer.
    Neste sentido, aproveito para fazer uma crítica: por falta de valorização profissional, seja em termos de salário como de perspectivas, perdemos excelentes profissionais para rivais regionais de poderio financeiro menor e ficamos presos a nomes como Jayme, que, apesar de todo respeito que tenho por sua história como profissional no clube, não tem a menor condição de integrar uma comissão técnica do futebol profissional do Flamengo. Pelo menos, se o clube pretende se soltar das amarras de um passado distante e caminhar em direção a um futuro vitorioso e altivo;
  4. O problema de saúde de Muricy foi mais uma intervenção divina no nosso caminho. Que Muricy se recupere logo e aproveite bastante a sua família e o patrimônio conquistado ao longo de seus vitoriosos e longos anos de trabalho, mas era óbvio que não havia a menor perspectiva de melhora do time sob seu comando. Um trabalho horroroso, pior que o dos tempos de Luxemburgo, por pior que possa parecer. Trabalho que não deixará legado algum, apenas uma sucessão de fracassos retumbantes e derrotas para times de todas as divisões do futebol nacional, de A a D.
    Mas aí lemos rumores que indicam a predileção da diretoria por Abel Braga para substituí-lo. Sim, aquele responsável pelo maior vexame da história do Flamengo, em 2004. Demitido de Fluminense, Internacional e Al Jazira-EAU. Mais um medalhão obsoleto. Mais um bravateiro. Mais um escudo para a direção. Assim como Muricy, Oswaldo, Mano e afins. Treinadores que, pelo estilo de gritar à beira do campo, chegam com grande aprovação da torcida, ganham os jogos iniciais, mas, ao longo do tempo, por estarem completamente desatualizados com o futebol moderno, caem na desgraça da mesmice e continuaremos nos convivendo com vexames.
  5. Portanto, cabe a nós, torcedores, protestarmos pelo fim desta ciranda maldita e inútil dos mesmos nomes. É preciso ousar, sair do lugar-comum. É preciso ser de vanguarda, como o Flamengo sempre foi, mas tem deixado de ser com o passar do tempo. Precisamos resgatar a nossa raiz, mas sem abrir mão da qualidade.
NÃO É POSSÍVEL QUE CONTINUAREMOS CAINDO NOS MESMOS ERROS!

Diferente dos medalhões, Zé Ricardo carrega consigo, ao menos, o benefício da dúvida. Os outros nos trazem certeza, a certeza de que continuaremos neste pesadelo que parece sem fim. Se o Flamengo não quiser ou puder trazer um grande treinador estrangeiro extraclasse, não pode apostar em nenhum outro nome senão em Zé Ricardo.