sexta-feira, 29 de abril de 2016

Ser Flamengo






Irmãos rubro-negros,



desde novembro de 2014 o Flamengo vem acumulando vexames. Um após o outro.

Sobre 2015, digo apenas que, dado o contexto, foi um dos piores anos da história do nosso futebol. Um ano que jamais deveria repetir-se. Me abstenho de detalhar isso.

A despeito, porém, das sucessivas humilhações impostas ao Flamengo em 2015, a diretoria passou quase doze meses contemporizando, dourando a pílula, valendo-se de retórica barata, e, no final, quando constataram que a vaca realmente tinha ido para o brejo, e que a campanha eleitoral exigia uma mudança no discurso, passaram a dizer que "tudo seria mudado". 

Muito conveniente, não é mesmo? 

A partir de certo momento, coincidentemente o acirramento da campanha eleitoral e a avalanche de críticas sobre a condução do futebol, tudo aquilo, que até então era considerado muito bom, carecia de ser "mudado". Puro discurso pragmático; política na veia.

Passaram dez, onze meses negando a realidade, vivendo uma fantasia criada por eles mesmos, alheios a tudo e a todos, herméticos, fechados em seu mundo do faz-de-conta, em que a noção de profissionalismo se resume a entregar as chaves do departamento de futebol ao diretor de futebol e ao técnico de ocasião.

Já que o regime é "profissional", e ganha-se muito bem para isso, quais são as metas dos "profissionais"?

Quais são os critérios objetivos de avaliação? Alguém sabe?

Futebol brasileiro não é futebol europeu. Não adianta, e é quase certeza de fracasso, transplantar para o Brasil, sem nenhuma adaptação, um modo de enxergar e gerir o esporte desenvolvido em contexto bastante distinto do nosso.

Mais ainda em se tratando do Flamengo, que tem de enfrentar, além dos adversários de campo, uma imprensa extremamente oportunista.


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2016, infelizmente, nestes primeiros quatro meses, manteve o nível medíocre do futebol flamengo.

Atuações pífias, eliminações melancólicas, declarações revoltantes de quem deveria, antes de tudo, agir sempre com total respeito à Nação Rubro-Negra.

Aliás, as declarações dadas após o jogo de domingo merecem um capítulo à parte na coletânea de sandices, idiotices e insensatez já ditas por dirigentes e profissionais do Flamengo.

Coisa de alienado. 

Acredito sinceramente que não seja assim, mas parece até que certas atitudes são tomadas para ferir, magoar ainda mais o orgulho do torcedor rubro-negro.

Não é possível que, sob o pretexto de não "desestabilizar o ambiente", de "resolver internamente", de "levantar o astral da equipe", tenha-se de fugir da realidade como um louco foge do hospício.

E surgem então, para estupefação da torcida do Flamengo, uma sucessão de frases como "o trabalho é excelente", "temos de lamber nossas feridas", "estamos mapeando o mercado", "a derrota foi pontual".

Pontual? Três eliminações seguidas, seis derrotas e três empates para um time três vezes rebaixado em seis edições do Campeonato Brasileiro, a partir de 2008. Um adversário que, pelo menos desde 1996, o Flamengo, dentro e fora de campo, nas arquibancadas, impôs uma sequência inédita de triunfos.

Não se está a exigir que a diretoria saia xingando a tudo e a todos, como nós, torcedores, fazemos. Fiar-se nisso para justificar as asneiras ditas é infantilizar o debate e infantilizar a própria torcida. Ninguém é idiota.

Mas um pouquinho, apenas um pouquinho, de respeito e consideração para com o torcedor do Flamengo seria reconfortante.

O que se viu após o jogo de domingo pode ser qualificado como tudo, menos como algo respeitoso ao rubro-negro, sobretudo após o lamentável retrospecto em 2015.


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Na verdade, o que reconfortará o coração do torcedor do Flamengo é o time voltar a vencer, é o time voltar a se comportar em campo como gigante.

E atualmente, no contexto do clube, para alcançar esse objetivo, e isso está evidente para qualquer um, mesmo para nós, reles torcedores, que "estamos de fora", depende-se quase que exclusivamente do Muricy Ramalho.

O futebol do Flamengo, tal como há um ano atrás, e diferentemente do que foi prometido na campanha eleitoral, quando se disse que "mudaria tudo",  mantém a mesmíssima estrutura hierárquica: Vice-presidente ausente, gerente e diretor de futebol totalmente desconectados do que é o Flamengo, e o departamento, assim, recaindo inteiramente nas costas do técnico.

É assim que funciona a ideia de profissionalismo da diretoria. Ninguém quer meter a mão na massa, ninguém tem tempo para viver o dia a dia do futebol clube.

Fábio Luciano? Leonardo? Petkovic? Ninguém presta. 

Aliás, alguém me faça o favor de explicar como a diretoria, nesta altura dos acontecimentos, em pleno século XXI, era do profissionalismo, da valorização dos produtos oficiais e do combate à pirataria, permitiu que o elenco entrasse em campo no domingo com uma bandeira pirata?

Seria cômico, não fosse trágico; ou vice-versa.


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Eu estou longe de achar que está tudo uma porcaria.

Reconheço a melhora na estrutura, na qualificação do elenco e na excelência da Comissão Técnica.

Reconheço o louvável esforço feito pela diretoria para finalizar o módulo profissional do Ninho do Urubu.

Não me alongarei sobre o sucesso administrativo e financeiro da gestão, pois trata-se de fato notório e eu mesmo já teci muitos elogios sobre isso aqui no Buteco.

Mas há o momento do elogio e há o momento da crítica.

E o momento, depois de praticamente dois anos de vexames e humilhações dentro de campo, é de apontar pelo menos alguns dos inúmeros erros cometidos no futebol do clube.


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Amigos, é juntar as mãos e rezar para que o Muricy Ramalho faça o time render em campo. 

A propósito, não tem cabimento algum romper o trabalho agora.

Ele tem de cumprir o contrato ao menos até o final do ano.

O ideal é que o Muricy Ramalho fique por dois, três, quatro, cinco anos, pois isso significará que o trabalho é exitoso.

Ele precisa se ambientar, viver, respirar Flamengo. O Flamengo é único, é diferente dos outros clubes.

Praticamente todas as nossas últimas grandes conquistas foram alcançadas com treinadores que jogaram pelo Mengo, ou seja, que conheciam a casa.

Não é um dado desprezível, muito pelo contrário.

Então, o Muricy necessita, sem açodamento, naturalmente e de coração aberto, se emprenhar da alma rubro-negra. Porque sem a alma flamenga ele pode até fazer um bom trabalho pontual, mas nunca conseguirá nada duradouro.

Quanto ao elenco, a diretoria tem no Juan um exemplo claro de como a relação e a ligação com o clube e a torcida são importantes. Eu mesmo fui contra a vinda dele. Me equivoquei. Graças à sua qualidade técnica, ele tem superado suas limitações físicas e protagonizado boas atuações.

Mas em vez de investir em qualidade, milhões são gastos, dentre outros, com Pará, César Martins, Márcio Araújo, Alan Patrick, Everton, Gabriel, Emerson, Chiquinho, Fernandinho.

Somemos os salários desses jogadores e multipliquemos por doze, vinte, trinta meses. Obteremos uma quantia milionária.

Essa quantia poderia, e deveria, ser direcionada para a adequada formação do elenco, que está carente em algumas posições.

Não nos esqueçamos, ainda, que, por pura inércia, omissão e incompetência da diretoria, o Flamengo disputará o Campeonato Brasileiro como clube itinerante, ora numa cidade, ora noutra, com evidente prejuízo técnico e físico.

Em Volta Redonda, o Flamengo vai jogar para três, quatro mil pessoas. Enfrentar os grandes paulistas lá significa diminuir bastante a vantagem do mando de campo, pois a cidade fica na Rodovia Dutra.

E a se confirmar essa história do Botafogo reformar o estádio da Portuguesa, na Ilha do Governador, ficará evidente para todos os rubro-negros que a diretoria jamais, em momento algum, tencionou de verdade jogar no Rio de Janeiro.

Tudo não passou de mais um jogo de cena, mais um episódio da série "engana trouxa".

Eui fui a vários jogos na Ilha, em 2005. Para quem não tem nada, lá era excelente. Local aparazivel, bem na entrada da Ilha do Governador, perto da Linha Vermelha e da Av. Brasil.





Mas não adianta o torcedor, o técnico e o elenco acharem bom se quem tem a caneta prefere tornar o time itinerante, jogando uma semana em Volta Redonda, outra em Brasília, outra em Manaus, outra em Natal.

Agora, fica o alerta: que a diretoria engula a soberba e a empáfia e escute caladinha as reclamações do Muricy Ramalho, pois ele tem toda a razão.

É inadmissível preterir o aspecto técnico em prol de fazer caixa. Porque o prejuízo de uma má campanha é infinitamente superior ao ganho monetário imediato pela venda dos jogos.

Campeonato Brasileiro não é para brincar, é para entrar e jogar tudo, o máximo, sempre fazendo o melhor.

Mas eu sou apenas torcedor do Clube de Regatas do Flamengo.

Eles sabem tudo, são oniscientes.

O erro é nosso.

Nós, apaixonados e iludidos, que pensamos em vitórias, títulos e glórias, não enxergamos quão maravilhoso e perfeito é o trabalho.

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Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.