segunda-feira, 25 de abril de 2016

O Pavor de Vencer

Salve, Buteco! Não farei um histórico das dificuldades que Muricy Ramalho enfrentou nesses primeiros meses de trabalho no Flamengo e nem tampouco alterarei uma vírgula do que escrevi a respeito do quanto a disputa de três competições simultaneamente, a rotina cigana e as contusões atrapalharam a montagem de uma equipe que recebeu vários reforços e vinha de um 2015 absolutamente caótico no Departamento de Futebol. O certo, ao menos para mim, é que, após a eliminação da equipe na Primeira Liga para o Atlético/PR, o treinador começou a escalar a equipe em um esquema 4-4-2 na primeira partida subsequente, contra o Botafogo, em Juiz-de-Fora/MG, com um meio do campo técnico formado por Cuéllar, Willian Arão, Ederson e Alan Patrick, e Marcelo Cirino e Guerrero no ataque, para posteriormente, contra Boavista e Bangu, escalá-lo com Mancuello no lugar de Ederson. Precisando do resultado, chegou a escalar o time no 4-3-3 contra o Confiança pela Copa do Brasil, também aproveitando-se do fato de que o recém-contratado Fernandinho poderia ser usado por não ter sido inscrito no Estadual.

A despeito da qualidade inferior dos adversários, porém comparando o desempenho do time contra outras equipes de nível semelhante utilizando o 4-3-3 ou mesmo o 4-1-4-1, o time apresentou alguma evolução com o 4-4-2, especialmente porque viabilizou a utilização de seus jogadores mais talentosos. O esquema tático com Alan Patrick e Mancuello jogando juntos permitiu mais posse de bola ao time e melhorou bastante a articulação das jogadas. Como se pode perceber, trata-se de uma formação tática recente, que jogou poucas vezes junta, porém que vinha fazendo o time evoluir. Ainda estava lá a dificuldade contra sistemas defensivos fechados, mas insisto: mesmo estabelecendo como parâmetro de comparação equipes de menor investimento, a evolução do time era visível.

O que faz o treinador Muricy Ramalho no primeiro jogo decisivo e contra um adversário de grande porte? Volta ao 4-3-3. O motivo declarado foram os avanços do lateral direito Madson, do Vasco da Gama. Pouco convincente, convenhamos. É vem verdade que no último confronto entre as duas equipes, em Brasília, há quase 2 (dois) meses atrás (30 de março), o time entrou em campo com dois pontas - Emerson Sheik e o próprio Gabriel, posteriormente substituído pelo autor do gol Marcelo Cirino, e que jogou melhor do que o adversário; todavia, não menos verdade é que pouco depois o esquema tático foi modificado e o time desde então vinha se habituando a jogar de outra forma e, bem ou mal, o 4-4-2 vinha ganhando corpo. Ademais, ainda que muitos critiquem Emerson Sheik e a despeito de sua idade, sua experiência em decisões certamente fazem diferença no momento de se decidir entre um 4-3-3 formado por ele ou Gabriel e Marcelo Cirino e um 4-4-2 com Mancuello e Alan Patrick.

O domingo de Muricy Ramalho foi absolutamente lastimável, desde a escolha da formação tática da equipe, passando pela escalação e até a preparação psicológica. Como resultado, o primeiro semestre jogado no lixo.

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A opção tática de Muricy Ramalho colapsou desde os primeiros instantes, com o Vasco da Gama dominando as ações e encurralando o Flamengo. Logo após os quinze minutos de jogo, o escrete cruzmaltino passou a convenientemente explorar os contra-ataques, sendo sempre mais perigoso, até que abriu o placar em uma jogada na qual sucessivos erros grosseiros da defesa do Flamengo começaram a decidir o destino da semifinal. Desde os desmoralizantes dribles de Riascos em César Martins no setor direito da grande área, passando pelo avanço de Andrezinho pela intermediária inteiramente livre de marcação, pelo "pé-mole" de Jorge (que iniciou o lance de costas para Andrezinho) na dividida e o frangaço de Paulo Victor, que caiu sentado para a direita do gol enquanto a bola entrou relativamente devagar ao seu lado, o gol vascaíno decorreu naturalmente da superioridade de sua equipe dentro de campo, mas foi sobretudo injusto com a briosa e fiel torcida rubro-negra manauara e amazonense, que prestigiou a equipe dando-lhe todo o amor, porém recebendo em troca um time afoito, histérico e completamente desarrumado taticamente dentro de campo.

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Numa das maiores confissões de erro já feitas por um treinador na história do futebol, Muricy Ramalho substituiu Gabriel por Alan Patrick no intervalo. Tenho para mim que o time até voltou um pouco melhor na articulação das jogadas, mas francamente parece que psicologicamente já entrou derrotado com o esquisito episódio da bandeira fincada o meio do campo no início da partida e o abatimento evidente após o primeiro gol do Vasco da Gama, ainda no primeiro tempo. Repetindo 2015, quando o time apresentava alguma evolução ou bons resultados dentro de campo, como na ótima sequência de seis vitórias seguidas, a terceira pior zaga daquele campeonato brasileiro e a terceira meta mais vazada, que tomou fantásticos 53 (cinquenta e três) gols, tratou de, em mais uma trapalhada do capitão e do goleiro, sepultar qualquer sopro de esperança, como que dando vazão a um incontrolável instinto suicida.

O Flamengo estava entregue na Arena Amazônia antes mesmo da metade do primeiro tempo.

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Neste momento eu me dirijo uma vez mais ao Presidente Bandeira de Mello, que desastrosamente declarou à imprensa recentemente que o Flamengo "não tem a obrigação moral de vencer esse campeonato", bem como ao Vice de Futebol Flávio Godinho e ao Diretor-Executivo Rodrigo Caetano. A insistência com Paulo Victor, César Martins e Wallace é responsabilidade de vocês e não do treinador que acabara de chegar e cujos erros táticos não se está aqui a discutir, muito pelo contrário. Aliás, o espaço e a importância que os dois primeiros jogadores ocupam no elenco, inclusive em nível de liderança, revela não apenas falha de vocês no planejamento e ausência de critérios à altura do Flamengo, como incrível e decepcionante dificuldade de reconhecer o evidente erro que cometeram.

Mas a omissão não se dá apenas nesse ponto: ou a Diretoria aprende a exercer o seu papel e trabalhar ao lado do treinador, dizendo inclusive não a pedidos como o de Chiquinho, ou o futebol do Flamengo não evoluirá.

Vem aí o Campeonato Brasileiro/2015 com um sistema defensivo extremamente fraco no qual apenas Rodinei e Juan se salvam, além de Jorge pela habilidade e, como fica cada vez mais evidente, não pela capacidade de exercer as funções defensivas.

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O Flamengo não pode se acostumar a perder; o Flamengo não pode ter medo de vencer.

O Flamengo de hoje é não é nem indiferente à vitória; tem pavor dela.

Bom dia e SRN a tod@s.