quarta-feira, 30 de março de 2016

Dez na bola



Quando o árbitro apitou o final do baile Brasil 0 x 2 Holanda, valendo pela semifinal da Copa do Mundo de 1974, um atônito treinador Zagallo manifestou-se surpreendido com a forma de jogar do adversário, pois os bambambãs do futebol tricampeão mundial, arrogantemente, não se deram o mínimo trabalho de pesquisar como a Laranja vinha atuando;

O futebol ganhou mais uma estrela fulgurante. Eu que já torcia por um grande time rubro-negro que ganhava tudo, passei a torcer também por uma seleção que jogava tudo e mais um pouco, porém, nada ganhou em dimensões interplanetárias, além da admiração eterna dos amantes da bola;

​A partida para o andar de cima do craque holandês Johan Crujff reavivou em minhas lembranças uma grande foto publicada no antigo Jornal do Brasil e por anos guardada em meus arquivos, na qual os dez jogadores de linha da inesquecível seleção holandesa cercavam um solitário Dirceu para tomar-lhe a bola, no meio de campo, e sair num contra-ataque, geralmente fatal, pra cima da desesperada defesa brasileira, numa partida valendo vaga na final de mais uma Copa;

Naquele jogo, a Laranja Mecânica habilitou-se a disputar a Taça de Ouro com a Alemanha Ocidental, outro grande time de futebol, pragmático, de resultados e eficiente sob o comando do cracaço Franz Beckembauer. A Holanda perdeu a final, mas encantou o mundo com seu carroussel, esquema compactado, sem posições fixas, com toques de bola rápidos e precisos, e de lá para cá esse jogo de bola nunca mais foi igual ao praticado anteriormente, mesmo quando Crujff saiu de campo para sentar-se fora dele, inicialmente, dirigindo o Ajax;


Às vezes, arrumando a papelada, eu me deparava sem querer com a cena envolvendo o jogador brasileiro e os dez adversários. Sorria admirado, mas agora a procuro, preciso encontrá-la e não acho. Creio que foi perdida em algum ponto do meu caminho. Recorri, então, ao acervo digital do JB para recuperar o momento para sempre presente e não o encontrei. Como um carma contra os históricos adversários hermanos, consegui copiar as que ilustram esse texto, ocorridas também em 1974, da mesma forma, variando a quantidade de adversários cercados pelos mesmos dez holandeses;

Do Ajax para o Barcelona, onde o gênio comandou a equipe catalã composta por Romário, Stoichkov, Guardiola e Koeman e de lá para os dias de hoje, traduzido por uma simples expressão "Toque e posse de bola", num momento em que Muricy Ramalho tenta implantar semelhante filosofia no Mais-Querido;

Mas é aí que a porca torce literalmente o rabo. Para fazer a bola chegar no fundo da rede, a caprichosa "posse de bola" exige disciplina tática, talento e boa finalização, recursos escassos no elenco do Flamengo como temos visto e revisto há algum tempo;

No último jogo, perdido para o Volta Redonda, a posse ficou em torno dos improducentes 70%, refletidos em toques para os lados e para trás. A bola era nossa, mas o tempo passava em favor do Voltaço, que buscava apenas uma oportunidade para transformá-la em gol, o que aconteceu no final da lacônica partida;

Hoje pegamos o Vasco em Brasília, tradicional e maior rival do Flamengo, restando-nos como alternativa vencer ou vencer para evitar dar volume a uma possível crise logo no início do ano, afinal o Estadual está decadente e não leva a lugar algum mas, infelizmente, derruba treinadores;

Creio numa vitória redentora. Para que tal aconteça apenas peço que o time entre em campo focado em cada lance, com vontade rubro-negra e dispute cada bola como se fosse a última da vida de cada jogador;

Rumo à vitória!

SRN!