sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Flamengo, Tua Glória é Lutar!


 



Irmãos rubro-negros,

quer dizer que o Flamengo começa a assustar os demais clubes brasileiros? 

Primeiro foi o chororô atleticano, quando Muricy Ramalho preferiu treinar o Clube de Regatas do Flamengo, mesmo recebendo um salário inferior.

Agora são os gaúchos pedindo arrego ante as investidas do Mais Querido.

Outra boa notícia foi o retorno do Cruzeiro e a confirmação da Liga. Maravilha!

Nutro muita esperança pelos próximos meses e anos. O Flamengo segue muito forte no caminho da sua reestruturação, agora não apenas financeira, mas também esportiva.

Falta qualificar, e muito, o elenco, o que acredito será feito, e concluir logo o estádio na Ilha do Governador.

Talvez, Salve São Judas Tadeu, 2016 nos reserve gratas surpresas.

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Este post é uma singela homenagem ao Buteco do Flamengo e a todos os amigos que frequentam o melhor blog da internet.

E nada melhor do que, em tempo de especulações, compartilhar com vocês um pouco da mais pura e genuína tradição flamenga.

São textos de grande profundidade e que mostram a grandeza do nosso amado Mengo.

O post de hoje abordará diversos episódios da história do Clube de Regatas do Flamengo, trechos em regra curtos, alguns sem conexão com o antecessor.

Todos os textos são dele, Mario Filho, o grande biógrafo do Mais Querido. Entre parênteses, algumas observações que achei pertinentes.

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“O Fluminense tinha um hino, música do maestro Cardoso de Meneses Filho, que não era cantado. Quer dizer: bem que o quiseram cantar. Mas começava assim: o Fluminense é um crisol. Os moleques emendaram: é um urinol. E acabou-se o hino, só tocado, de longe em longe, por orquestras, de violino e tudo.

Quando apareceu o hino do Flamengo ou quando o Flamengo achou que era o momento do hino, quem era Flamengo cantou-o como um ‘God Save the King’ (Mario Filho se refere ao hino oficial do clube, que tem o refrão ‘Flamengo, Tua Glória é Lutar!’).

Letra, e ele diz que música também, de Paulo de Magalhães que, noutros tempos, entrava em campo de fez na cabeça, para jogar de quíper no segundo time do Flamengo.

E que andava com um bruto charuto na boca para irritar os que lhe negavam o valor ‘Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar’. O que era muito mais profundo do que parecia.

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Gravou-se, em disco, o hino de Paulo de Magalhães, Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar. O que certos cantores fazem hoje com os ‘disc-jockeys’, convencendo-os a tocar quase que só os discos que gravam, o Flamengo fez com o que então tinha outro nome ou não tinha nome nenhum.

Rodava-se o dial de um rádio, daqui a pouco lá vinha o hino do Flamengo.

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O Flamengo entrava em campo e podia estar por baixo: sabia-se que ia lutar, que ia molhar a camisa, que ia correr até o último instante. Só se reconhecia o Flamengo assim, como o clube da força de vontade. Ou da fibra. Quando, por qualquer motivo, o Flamengo não fazia isso não era o Flamengo.

Quem vestia a camisa do Flamengo tinha de encharcá-la de suor. Podia perder, mas dando tudo pela vitória.

Daí ter pegado o hino de Paulo de Magalhães. O Flamengo, tua glória é lutar.

Nas quadras de basquete cantava-se o ‘Lá vem o gigante do mar, o Flamengo que me faz chorar’.
Chorar de dor e de alegria.

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Ari Barroso tornou-se speaker de futebol por causa do Flamengo.

Num gol do Flamengo a gaitinha do Ari chegava a gargalhar. Era para isso que a usava, embora, algumas vezes, tivesse que tocá-la, mais baixo, sem entusiasmo, num gol do outro clube.

E Ari Barroso fora tricolor. Em Álvaro Chaves sentia-se em casa, até o dia em que, depois de uma derrota, vieram chamá-lo, como se não tivesse acontecido nada, para distrair os sócios, ao piano, num chá-dançante.

Naquele momento o compositor de ‘Aquarela do Brasil’ descobriu que era flamengo desde criancinha.

Pretextos não faltavam para quem quisesse ser flamengo.

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Os muros das avenidas, as paredes dos edifícios, enchiam-se de cartazes: uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

Preparava, assim, um concurso de slogans. Só para crianças.

O que acontecia era que toda a família ficava pensando no Flamengo. Numa frase, e caprichada, sobre o Flamengo. A imaginar coisas bonitas para o Flamengo.  Para virar Flamengo era um passo. O garoto, o pai, a mãe.

O resultado foi que o Flamengo ficou cheio de slogans:

o Flamengo ensina a amar o Brasil, sobre todas as coisas;

onde encontrares um flamengo encontrarás um amigo;

ser Flamengo é ser forte na adversidade.

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E nas competições de torcidas do Fla-Flu esticava (a torcida rubro-negra, na década de 1930) faixas nas grades das gerais do Fluminense: Flamengo, o Grito da Mocidade; Fluminense, a Bonequinha de Seda (desde aqueles anos saudosos); CBD, João Ninguém (o Flamengo na época estava rompido com a CBD, a CBF da época), que eram três filmes brasileiros que estavam passando.

Aparecia na pista um escafandrista, de escafandro, autêntico, pesadão, como se carregasse pés de chumbo. Trazia um cartaz: Flamengo até debaixo d’água.

Logo depois se ouvia um barulho de motor de avião. Olhava-se para cima e via-se descer um pára-quedas trazendo uma galinha morta com as cores do Fluminense.

E charangas tocavam o Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar.

De tarde, por causa do Flamengo, o Fla-Flu era um carnaval; de noite, um São João.

O Flamengo trazia as festas mais populares para o futebol.

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Como não falar mais no Flamengo do que nos outros?

O Flamengo parecia mais vivo, sempre agitado, como em ebulição permanente. Era o que dava a impressão de que o Flamengo não mudara. No fundo não mudara mesmo. Apenas estava em guerra, e estando em guerra aceitou a disciplina prussiana de Padilha (José Bastos Padilha, presidente do Clube de Regatas do Flamengo entre 1933 a 1938).

O mais curioso é que Padilha pertencera à República Paz e Amor (grupo fundado por remadores rubro-negros nos primórdios do clube), vivera aquela vida de estudantadas. Ou de garajadas, que talvez a expressão seja melhor.

O Flamengo, porém, quando foi buscá-lo para presidente, fez como a Inglaterra, toda vez que precisou de Churchill. Escolheu o homem forte, inflexível, imperialista, Flamengo Über Alles.

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O Flamengo, assim, tinha uma espécie de Polícia. Teve um DIP (polícia política de Getúlio Vargas): o Rio Branco (café exclusivamente frequentado por rubro-negros, localizado no Centro do Rio de Janeiro, na esquina das Ruas São José e Rodrigo Silva. Hoje, no local, existe uma ótica).

Fosse alguém escrever mal do Flamengo que a máquina do DIP rubro-negro se movimentava logo.

Uma vez Tenório de Albuquerque, hoje um filólogo camiliano, então cronista esportivo de nome, rabiscou um comentário contra o Flamengo como fizera tantas vezes em tempos de paz.

Mas o Flamengo estava em guerra e o Rio Branco suspendeu Tenório de Albuquerque por seis dias.

Um campeão de queda de braço foi para a porta do jornal em que trabalhava Tenório de Albuquerque. Esperou-o na calçada, o paletó já desabotoado, os punhos fechados.

Quando o plumitivo chegou, recebeu, em tom grave, seco, em poucas palavras, a comunicação de que estava suspenso por seis dias. Se tentasse trabalhar, escrever uma linha mesmo de retificação, ia apanhar uma surra.

Tenório de Albuquerque não teve a menor hesitação, que conhecia muito bem o pessoal do Rio Branco: tomou seis dias de férias e nunca mais meteu o pau no Flamengo.”


Mario Filho, Histórias do Flamengo.

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Antes de encerrar, quero parabenizar o nosso amigo e grande rubro-negro Guilherme de Baère, que fez aniversário ontem. Parabéns, Guilherme! Saúde, paz e amor para você e sua família e que o Mengão conquiste muitas glórias, pois, tenho certeza, isso lhe trará enorme felicidade.

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Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.