A coluna de hoje falará sobre ligas esportivas, onde se encaixa a “Primeira Liga” (Sul-MG-Rio) ou qualquer outra que venha a ser criada, como uma possível futura Liga do Brasil. Muito do que tem se falado está restrito às cotas de TV, se o Flamengo vai receber mais, receber igual, perder ou ganhar dinheiro. Não penso que seja tão simplória a questão. Será que toda a arrecadação de um clube é apenas as das cotas de TV? A reação de boa parte da torcida nas redes sociais diante de uma liga que está se formando aos poucos, tirando os clubes das amarradas federativas, faz crer que só “existiremos” por conta das cotas de TV. Não vejo desta forma. Vou tentar simplificar e falar de alguns dos pontos que acho mais importantes, para o clube e para uma liga: Cota de participação de Transmissão de Conteúdo; Premiação por Classificação/Participação; Propriedades e Licenciados; e Calendário. Sou partidário da negociação coletiva.
Cota de participação de Transmissão de Conteúdo
A negociação coletiva não quer dizer que todos recebam partes iguais. Penso que não dê pra resumir o rateio do conteúdo à transmissão em TV, onde geralmente se pensa em TV aberta no Brasil. As transmissões de conteúdo, dos jogos principalmente, pode ser dividida em: TV Aberta, TV Fechada, Internet e mobiles (ao vivo e em demanda) e transmissão por rádio. O maior medo da torcida do Flamengo, especificamente, é reduzir receitas com um rateio que prejudique as contas do clube. Existem fórmulas que podem prejudicar o Flamengo e serem injustas, porém se formos pensar em conteúdo de transmissão, este assunto está diretamente ligado à AUDIÊNCIA, à compra de pacotes. Nisso o Fla goleia!
Como a torcida do Flamengo é maior, dá mais audiência e é a única que tem capilaridade e penetração nacional, não temo que se perca dinheiro em uma divisão mais justa, menos dispare. Muito se fala do modelo inglês, que é considerado o “mais justo”, a liga mais rica. Não há como comparar as dimensões e a população do Brasil com a da Inglaterra. As grandezas são diferentes, a população, o tamanho dos clubes, os interesses regionais... o Brasil é um continente!
Lá, a Premier League vendeu seus direitos televisivos de 2016-2019 por £3 bilhões para transmissão pelo redor do mundo. Para os direitos de TV apenas em solo britânico já tinham sido arrecadados por £5.1 bilhões pelo mesmo período.
Lá, a Premier League vendeu seus direitos televisivos de 2016-2019 por £3 bilhões para transmissão pelo redor do mundo. Para os direitos de TV apenas em solo britânico já tinham sido arrecadados por £5.1 bilhões pelo mesmo período.
http://chelseabrasil.com/chelsea-football-club/chelsea-recebe-premiacao-recorde-por-campanha-do-titulo-da-premier-league-valor-chega-a-quase-100-milhoes-de-libras/ |
Cota de TV nada mais são do que audiência, devemos ampliar os mercados consumidores e esgotar todo o mercado já existente, isso só uma liga profissional e organizada é capaz de fazer. Desde 2011, quando o "Clube dos 13" perdeu força, sendo destituído das negociações dos direitos de transmissão, elas se deram individualmente com cada clube. Em minha visão, o produto (campeonato) perde força com este tipo de negociação, alguns clubes saem fortalecidos, mesmo assim a divisão no Brasil não foi tão injusta como se apregoa. Veja as tabelas abaixo:
Me parece óbvio que apenas quem comprou os direitos desta, forma saiu beneficiado, os clubes não, já que não existe como se profissionalizar o campeonato mais importante desta forma, dependendo da CBF. Falo do campeonato brasileiro, logicamente.
Calculei uma forma do Flamengo arrecadar mais e sendo justo, todos vencem. A base não deve ser cota igualitária, sim a audiência + PPV. Arrecadaremos em 2016 aproximadamente 12,4% das cotas de TV do Brasileiro. De 20 clubes. Estimo que o Brasileiro de 2019, quando serão assinados os novos contratos, valha algo em torno de 2 Bilhões de Reais. Dividiria desta forma:- 45% audiência + compra de PPV (142.5MM)
- 45% divididos de forma igualitária (45MM)
- 5% profissionalização da arbitragem
- 5% custos de organização da liga (Profissionalismo na liga)
Como base, o Flamengo tem 15,2% de PPV do total vendido pela detentora dos direitos de transmissão, o que daria 136.8MM para o clube, que se somados aos 45MM divididos de forma igualitária chegariam à base de 181.8MM de Reais. Ninguém poderia reclamar de “espanholização”. A torcida do Flamengo é maior, consome mais. TV é audiência. Simples. Repito, o valor de 181.8MM é base, sem contar as luvas da assinatura do contrato. Em 2016 o Flamengo receberá 170MM. Quanto mais a torcida do Flamengo consumir, mais o clube poderá receber. Abaixo as premiações, que merecem algo à parte.
Premiação por Classificação/Participação
A meta de Premiação deve ser a de 100% de receitas oriundas de patrocinadores. Isso não é possível, não no nosso cenário atual. Portanto, somaria em um primeiro momento, o valor de transmissão por internet, mobile e internacionais no pacote de premiação. Estimo estes valores em aproximadamente 10% do valor total de 2BI de Reais também já estimados para 2018. Aqui se dá a maior falha dos clubes participantes do campeonato brasileiro.
Ao contrário do que a maioria pensa sobre cotas de TV, não é nelas que os clubes devem se ater, sim nas premiações. Como quem organiza o campeonato brasileiro é a CBF, a cobrança por melhores premiações deve ser à ela. As premiações atuais podem ser muito melhores à medida que a CBF não ajuda a fomentar o esporte, haja vista o que se percebe do trabalho das federações estaduais, sem esquecer que o calendário (assunto para frente) atrapalha os clubes, por consequência a seleção brasileira, além de uma estrutura péssima para cuidar de todos os aspectos do campeonato. O “acaso” resolve tudo ou quase tudo.
Nenhuma federação nacional do mundo (ao menos das seleções mais importantes) tem patrocínios maiores do que os principais clubes (talvez na Argentina), o que dá a medida do que ocorre do lado de baixo do Equador. Os clubes que recebem menos deveriam lutar por uma premiação melhor, mais igualitária, não sobre as cotas de transmissão, já que, repetindo, transmissão se deve à compra de pacotes somadas à audiência. Mesmo que a negociação seja de forma coletiva, o que defendo aqui. O produto deve ser resguardado.
A premiação deve ser o mais clara e objetiva possível, como já demonstrado na tabela do campeonato Inglês, a “Premier League”. Penso em porcentagens de premiação por desempenho no campeonato, onde todos os clubes receberão no mínimo 3% do valor (principalmente de patrocínios, no longo prazo). Os quatro últimos colocados da competição receberão o mesmo valor e haveria um escalonamento do 1º colocado ao 16º colocado. Veja tabela abaixo:
Aqui se encerraria publicamente a questão da transparência sobre os valores e as premiações, que portanto seriam valores fixos percentuais. A briga pelo quinhão da CBF só é válida enquanto ela organiza a competição. A premiação escalonada também é mais justa, já que o último colocado não receberia mais de 3x o valor do campeão. Nem dá pra se pensar em “espanholização” dessa forma. Aqui, o que conta é apenas o mérito esportivo. Com o Profut aprovado e os clubes tendo que entrar na linha, fica mais fácil ainda de se pensar o modelo.
Com uma liga, não é de direito dos clubes esta luta por cotas de patrocínios da CBF, mas a cobrança pelo fomento ao esporte e maior transparência se faz presente, já que não estariam ligados como hoje são. Tudo isso passa por uma reestruturação do modelo atual, diria até implosão do mesmo, já que o modelo federativo não se basta nos moldes atuais. É frágil sob todo e qualquer aspecto que se pense, menos na tradição de alguns campeonatos. Não todos.
Este modelo que tenta desvalorizar o associado em detrimento do "produto", resvala no calendário. Não consigo pensar em nenhum aspecto de organização e mudanaça no futebol atual que não resvale no tema "calendário". Falarei de calendário em um outro momento. Vislumbro algo aproximado à 200MM de Reais para premiações no primeiro ano (2019). Não me estenderei mais neste aspecto, deixo links sobre a CBF e as premiações do Brasileirão para que se pense a respeito:
Propriedades e Licenciados
Sobre propriedades e licenciados fica difícil falar sem muitos dados. Na verdade, nenhum no Brasil. O único modelo disponível para nós é o da liga do nordeste, que não sei exatamente como faz para vender seus produtos. Se os dados relativos à Copa do mundo e de Jogos Olímpicos fica difícil de saber, imaginem de outras ligas... Falta conhecimento, inclusive de minha parte, admito. Estes direitos comerciais (produtos relacionados à liga, placas de campo, propaganda com arbitragem, minutagem de transmissão, padronização gráfica, etc.) devem ser divididos igualmente por todos os clubes participantes, inclusive os que eventualmente estejam na segunda divisão (em se tratando de liga nacional).
Este é o lugar onde o Flamengo mais cresceu individualmente (licenciamento de produtos, Marketing), como clube, sozinho. Por isso, exatamente por isso, não tenho medo de “cota coletiva”. O profissional, o mais organizado, o de melhor trabalho, de maior torcida vai naturalmente se dar melhor do que os outros. Se trabalhar bem. Desde que o produto como um todo seja melhor. Um campeonato melhor é bom pra todos. Com gramados impecáveis, organização, comercialização, estádios cheios, mais patrocinadores... porque não pensar em negociação coletiva? Porque o medo? Se profissionalizar e fiscalizar, o risco de “maracutaia” diminui. É um bom caminho. Fui contra a “implosão do Clube dos 13”, da forma como se deu e com quem se deu. Não há o que temer com um Flamengo profissional.
Flamengo e “Primeira Liga”
Por mais que briguemos por todo centavo, de forma justa, o Flamengo não joga sozinho, sempre haverá um adversário, um campeonato. Quem não reconhece que cotas menos díspares são boas para o produto, caem na esparrela que os adversários querem, por não enxergar o todo. Cotas de TV são importantes, não fundamentais e "o dinheiro não aceita desaforo". Bom separar as eleições no Flamengo do todo. Observem onde o Flamengo cresceu mais, não foi via cota de TV que o faturamento aumentou. O Flamengo vai arrecadar mais, de forma natural, se estiver organizado e preparado para isso. Com premiações esportivas, licenciados e patrocínios, pela exposição maior, pelo maior consumo.
O dia que o Flamengo tiver os 70 funcionários que o marketing do Benfica tem, será um rolo compressor, e a cota de TV será importante, porém 20% a 25% da arrecadação anual. Que clube tem este potencial? O caminho da transmissão é o da mobilidade, dos conteúdos pagos, da TV fechada, como nos grandes eventos. Além disso, o PPV individual, por clube, não por torneio como se comercializa atualmente. Uma das grandes reclamações dos Rubro Negros é relativa a presidência da Liga, ocupada por Alexandre Kalil. É um caso a se observar de perto. É muito "fanfarrão" pro meu gosto...
Kalil sempre foi contra a disparidade de verbas entre Flamengo e Corinthians e os outros, e teme que aconteça a tal “espanholização”. Balela. Por outro lado, “morreu sozinho” com o Clube dos 13, sendo o último a assinar o contrato individual de TV, em 2011. É uma “raposa cuidando do galinheiro” (que ironia...). Kalil parece ser o cara certo, por linhas tortas. É bom confiar, desconfiando, já que uma “Liga do Brasil” parece caminhar, já que Goiás, Ponte Preta, Botafogo, São Paulo e Santos já se aproximaram, e existe a Liga do Nordeste. Pra fazer um brasileirão de 1a e 2a divisões, seria um pulo... Não há o que temer com um Flamengo profissional. Os adversários, sim, nos temem. No próximo texto falarei sobre calendário.