terça-feira, 1 de setembro de 2015

Medíocre*

A coluna de hoje foi escrita por Max Amaral. É polêmica, controversa, porém válida para discussão e principalmente reflexão. Boa leitura!

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Eu estava conversando com o Luiz Filho sobre a enorme frustração que esse time do Flamengo nos causa semana sim, outra também, quando expus a ele uma teoria que apareceu na minha cabeça. Ele me intimou a colocar no papel e trazer aqui para discutir com os amigos do Buteco, então ‘tamos aí.

Para começar, me permitam apenas explicar algo rápido: sou tão Flamengo quanto qualquer um aqui mas, por ter nascido em Minas e morar nos EUA, acho que minha visão do Flamengo tende a ser um pouco diferente da de quem está aí vendo o Cristo Redentor todos os dias, nem que apenas na novela das 9. Minha análise é fruto, sim, da raiva de perder para aquele time ridículo do Vasco repetidas vezes esse ano, mas também vem da observação do comportamento da torcida do Flamengo – é nóis! – frente a vitórias e derrotas. Essa nossa bipolaridade que nos faz acreditar piamente em G4 no domingo e em rebaixamento na quarta feira.

Pois então.

Vendo as críticas endereçadas ao EBM após o jogo contra o Vasco, eu cheguei a conclusão que os ataques à administração Azul não se dão por causa de um trabalho particularmente ruim.

Mas pelo fato de não ser absurdamente bom.

Essa diretoria não é pior, em termos de administração do futebol, que a de nenhum de seus antecessores (recolham as pedras, eu explico isso melhor aí embaixo).

Mas a nossa paciencia acabou. Exigimos excelência. Perfeição. Grandeza.

E não vamos perdoar ninguém que nos ofereça menos que isso.

Agora, peguem esses dois exemplos aqui embaixo, duas idéias que tentam explicar os Estados Unidos.

Primeiro, essa imagem aqui, a capa de um livro do Stephen Colbert:
Traduzindo livremente, seria algo como America de Novo: Recuperando a grandeza que nós nunca tivemos”.
(Para quem não conhece, o Colbert é um humorista americano que criou um personagem engraçadíssimo, um apresentador de programas políticos ultra-conservador. Algo bem comum aqui nos States).
O segundo exemplo é de uma série de TV sensacional que, infelizmente, só durou 3 temporadas: Newsroom.

Um jornalista, em uma palestra em uma universidade, tem que responder a pergunta: “O que faz da America o melhor país do mundo?”
A resposta dele é das coisas mais sensacionais da história da televisão. Assistam, vale a pena.

O que esses dois exemplos têm em comum? Uma chamada à autocrítica, uma reflexão sobre a imagem que se vende, na qual se acredita, sobre a qual se trabalha e, do outro lado, a dura realidade.

É aqui que voltamos ao Flamengo. Voltamos à enorme revolta de todo mundo – minha, inclusive – depois da desclassificação frente ao pior time do Vasco da história.
Voltamos às críticas à diretoria do Flamengo por falhar tão espetacularmente na sua missão de fazer do Flamengo um time imbatível.
Voltamos ao Flamengo no meio da tabela do Brasileiro.

Nossa revolta é pelo fato do Flamengo não estar à altura de sua grandeza. Pelo fato de os Azuis não conseguirem implementar uma administração profissional no futebol do Flamengo. Pelo fato de não sermos campeões de tudo.

E é precisamente aqui que eu acho que nós nos iludimos. O Flamengo não tem essa grandeza toda que nós imaginamos. O Flamengo nem é o maior protagonista do futebol brasileiro.
O Flamengo é um dos 12 times “grandes” do Brasil, mas se desconsiderarmos o período maravilhoso da Era Zico, nunca foi O grande time do Brasil, exceto por pequenos lampejos.
Dos nossos 6 títulos brasileiros, 5 aconteceram dentro de um período de 12 anos com Zico e Júnior comandando a bagaça. E o último, após um hiato de 17 anos, só aconteceu por causa de uma confluência astrológica absurdamente improvável.
Tirando o nosso título na Libertadores em 81, só passamos vergonha na competição.
Quanto tempo faz que não entramos nem no G4 do Brasileiro?
Quando foi que tivemos uma administração profissional, séria, dedicada?
Quando foi que o futebol do Flamengo foi melhor do que é hoje?
































Essa é a minha teoria. Somos um dos “grandes” do Brasil, mas apenas um dos grandes.
Médio, na verdade. Mediocre. Meio de tabela, como o provam os últimos 25 anos.
O que temos de realmente excepcional é o tamanho da torcida.

Sim, eu sei. Não é nada agradável ler isso. Mas os fatos estão aí, se esfregando nas nossas caras o tempo todo.

Só que, da mesma maneira que fica implícito no vídeo do Newsroom aí em cima, os mesmos fatos que gritam que nós não somos os melhores do mundo (não mais, não ainda) também nos mostram que temos tudo para ser.

Só dependemos de nós mesmos.

*Medíocre:
adj. Que está entre o grande e o pequeno, entre o bom e o mau: obra medíocre.
Mediano; falta de criatividade ou originalidade; característica do que é comum.
s.m. Algo ou alguém que não tem grande valor intelectual; sem capacidade para realizar algo; desprovido de talento e que está abaixo da média.