quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Time e Torcida


Que torcida sozinha só ganha jogo na poesia todo mundo sabe. A começar por não entrar em campo. E se ganhasse, partidas realizadas nos domínios dos adversários, geralmente, seriam pontos certos para os donos da casa e não é assim que a coisa funciona desde quando o Uruguai nos tirou uma Copa do Mundo dentro do Maracanã, diante de nada mais nada menos 200 mil torcedores;

Um time apático tem o dom de esfriar o entusiasmo do torcedor em Brasília, na Bahia ou no Maracanã. Desconstrói a empolgação inicial, desanima, enraivece, desmonta o sonho sonhado ao longo de vários dias na chuva que caiu sobre a fila no momento da compra do ingresso, ou sob o sol inclemente, ou ainda nas horas que teimavam em não passar no trabalho. Tudo o que aconteceu na derrota do Flamengo para o Coritiba há uma semana, em Brasília, foi exatamente tudo o que não precisávamos naquele momento de lua de mel com o G-4;

E as consequências momentâneas são as mais variadas possíveis. Uns vaiam o time todo, outros pegam no pé de quem cometeu o erro mais grosseiro. E há aquele pragmático, que prefere não vaiar durante o desenrolar da partida para não desestabilizar mais ainda quem o representa dentro de campo, pois o que está ruim pode ficar muito pior com a retirada do apoio ao longo dos 90 minutos, optando pelo incentivo enquanto a bola estiver rolando, numa tentativa de mudar o quadro que lhe é desfavorável;

Caso não mude, sempre prefere calar o grito e atender a uma limitação emocional que o impede de vaiar o Flamengo antes que o jogo termine. Aí, então, é diferente. É chegada a hora do ajuste de contas através de muitas maneiras, inclusive com a pressão para a exclusão do elenco dos profissionais que não satisfazem os requisitos mínimos para trabalhar no clube;

Reconheço e admito o jeito e o direito de reagir de cada torcedor, com civilidade, e ante um placar adverso. Por isso somos indivíduos, cada um com seu modo de ser e agir;

Mas não desce goela abaixo o risível argumento de que o Flamengo perdeu porque o jogo foi realizado em Brasília ou por serem os brasilienses frios, menos isso ou mais aquilo. Uma besteira sem tamanho em busca dos motivos para a derrota, facilmente encontráveis na ridícula apresentação do time, abaixo de todas as expectativas;

Frequento estádio de futebol desde guri, quando ainda era possível pular os muros dos campos do São Cristóvão, Bonsucesso, Olaria, Madureira, Campo Grande e Bangu, e jamais vi uma torcida levantar um time indisposto para jogar, de salto alto, preguiçoso e indolente. Em geral, o resultado é a produção de uma frustração como a que foi causada aos torcedores do Planalto Central, que proporcionaram o maior público do atual Brasileirão;

O comum é a equipe, focada e com boa atuação, oferecer gás às arquibancadas já empolgadas, recebendo a contrapartida em forma de mais energia contagiante que a leva à obtenção de vitórias, muitas vezes, consideradas como impossíveis, numa simbiose perfeita;

Perde tempo quem quiser que apenas do grito da torcida saia o passe perfeito ou o chute indefensável, no ângulo, com efeito;

SRN!