sábado, 8 de agosto de 2015

Carioqueta, a briga que eu quero brigar



Não sei se todos sabem, mas sou um treinador de futebol frustrado. A frustração é no sentido de que eu fiz o curso mas, por diversos motivos, nunca me dei a oportunidade de tentar carreira na área. Tento aplacar esse desaponto na frente do computador, jogando Football Manager. Jogo com vários times diferentes, às vezes em modo carreira, mas, a cada versão lançada, eu tenho que começar jogando com o nosso Mais Querido. No entanto, essas "aventuras" dificilmente duram muito e o principal motivo atende pelo nome de Campeonato Estadual, vulgo Carioqueta.

São três meses de jogos, em sua maioria, deficitários e inúteis, uma vez que sabemos que, em 98% dos anos, o campeonato será decidido por Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. No jogo, minha vontade é de entrar de férias e voltar em maio; na vida real não podemos fazer isso. Sempre tivemos a forma de disputa que era considerada a melhor (ou menos ruim) entre todos os Estaduais, com menos clubes e duas decisões intermediárias mas, nos últimos anos, os dirigentes tem conseguido estragar o que já não era tão bom. Incharam o torneio, que hoje tem 16 clubes, inventaram fórmulas esdrúxulas, como uma em que os quatro grandes não poderiam vencer a Taça Rio, por exemplo.

Na última 5ª feira foram definidos fórmula e regulamento do Carioca de 2016 e eles conseguiram se superar. São dois grupos de oito times que vão enfrentar adversários da outra chave e os quatro primeiros colocados de cada um dos grupos passarão de fase e vão formar o Grupo C, que jogará pela Taça Guanabara. Os quatro melhores do Grupo C vão se classificar para as semifinais do Campeonato Carioca. A Taça Rio, outrora tão almejada, será disputada pelos quatro últimos de cada chave e decidirá os dois rebaixados. Um monstrengo!

E aí, você me pergunta, qual a solução? Pra mim, passa por uma reformulação completa do calendário brasileiro. Até, quem sabe, adequando ao europeu, o que poderia também resolver outro problema pelo qual estamos passando, que é a reformulação dos elencos no meio do ano. Perdemos jogadores para outros centros mais ricos porque eles estão montando seus grupos para o início de mais uma temporada. O que pode parecer falta de planejamento como o fato de perder o Cáceres agora nada mais é do que a dificuldade de disputá-lo com quem tem mais dinheiro. E isso vale para todos os times que veem alguns de seus jogadores deixando o Brasil em pleno campeonato.

Além disso, o campeonato nacional seria disputado durante toda a temporada em paralelo com a Copa do Brasil e os torneios continentais. Três ou quatro divisões nacionais de 18 ou 20 times. Ah, mas e os pequenos? Divisões inferiores regionalizadas, como é feito na Inglaterra, na Alemanha, na Espanha e na Itália. Esses clubes menores podem receber um percentual das cotas de TV dos grandes como um mecanismo de solidariedade para que mantenham um nível de competitividade razoável. Até "permito" a manutenção dos Estaduais, desde que mais enxutos e também em paralelo ao Brasileiro.

Bom, a viagem é longa. Mas o que fazemos no curto prazo? O que fazemos em 2016, se nosso presidente já disse que não disputa o Carioqueta nesses moldes? Ah, fácil, Bruno, bota o time reserva, o sub-20, o FlaMaster... Seria fácil, se não fossem os artifícios colocados pelos nefastos Srs. Rubens Lopes e Marcelo Vianna no Regulamento Geral das Competições da FERJ. Basicamente, como mostra o excerto abaixo, só podem ser inscritos cinco atletas com idade inferior a 20 anos e três atletas não profissionais. Pior: "é obrigatório constar na relação de inscritos os atletas inscritos ou registrados para a participação em competições nacionais ou internacionais, concomitantes, sob pena de multa administrativa de até R$ 50.000,00 por cada atleta que faça parte da relação dos atletas para qualquer dessas duas últimas hipóteses e não faça parte dos inscritos para o campeonato estadual". Ou seja, os jogadores que estiverm disputando Copa do Brasil e/ou Libertadores tem que estar entre os 28 inscritos no Carioqueta.




Essa, senhores, seria a briga fundamental que o presidente do Flamengo no próximo triênio deveria abraçar. Nós nunca nos equivaleremos aos gigantes do futebol mundial enquanto estivermos limitados a esse calendário que, além disso tudo que eu expliquei, ainda nos deixa desfalcados do nosso principal craque enquanto ele disputa amistosos por sua seleção nacional. Enquanto isso, vou jogando Football Manager com o Tottenham, o Deportivo La Coruña, o Lens, o Royal Antwerp, tentando levá-los onde eu quero ver o Flamengo...