Saudações flamengas a todos,
Hoje o texto é em clima de “esquenta”.
Trago dez partidas históricas disputadas entre Flamengo e Santos no Maracanã,
jogos que ficaram marcados na memória. Para curtir e relembrar. E que venha a
vitória logo mais. Venceremos.
1 – FLAMENGO 2-0 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 1980
É a última rodada da Terceira
Fase, o confronto direto que definirá uma vaga para a Semifinal. O Santos perde
a chance de jogar em vantagem, ao empatar na Vila Belmiro contra a azarã
Desportiva-ES (0-0). Agora, irá expiar seus pecados em um Maracanã infernalmente
lotado (110 mil), diante de um Flamengo motivado ao extremo. Logo no início, em
uma jogada que se tornaria a marca da equipe na competição, Nunes avança pela
ponta e cruza para a cabeçada certeira de Zico. O estádio trepida alucinante,
ignorando as frustrações recentes (Santa Cruz-75, Palmeiras-79). Chegou a hora.
O momento é do Flamengo. O time de Coutinho faz uma partida segura, sem correr
riscos. O Santos, que possui uma boa equipe (Marola, Pita, João Paulo, Nilton
Batata, os Meninos da Vila), luta bravamente, mas não resiste ao maior volume
de jogo rubro-negro. No segundo tempo, Zico faz bela jogada individual e sofre
pênalti, que ele mesmo cobra para cravar os 2-0 e a classificação entre os
quatro melhores. O caminho para o topo do Brasil está pavimentado.
2 – FLAMENGO 2-1 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 1982
Quartas-de-Final. Por uma
extravagância do regulamento, o Flamengo, apesar da melhor campanha, decidirá a
vaga fora e em desvantagem. Dois resultados iguais classificam os paulistas. A
primeira partida, no Maracanã, é disputada em um sábado à noite. Mesmo assim,
65 mil estão no estádio. O Santos, com um time bem mais experiente (Gilberto
Sorriso, o troglodita Chicão, Nilson Dias, além da amadurecida base dos anos
70), monta um ferrolho, atrapalhando a movimentação do rubro-negro. Para
piorar, em um lance bobo os praianos abrem o placar. O bloqueio defensivo
santista se torna intransponível. O Maracanã sofre com a luta insana e inglória dos seus heróis. O Flamengo roda, gira, troca posições em altíssima
velocidade, mas tudo parece em vão. Marola simplesmente fecha o gol com defesas
sobrenaturais. Já em meados do segundo tempo, em uma bola perdida recuperada
por Júnior, Marola comete sua única falha, sai mal e Tita, de cabeça, empata. O
jogo vira ataque contra defesa, o ar se torna irrespirável, o Flamengo segue
empilhando gols perdidos, até que, no último minuto, numa trama em que todo o
time troca passes dentro da área adversária, o improvável Marinho aproveita um
cruzamento rasteiro e manda uma bicuda pra dentro do gol, num lance em que SEIS
santistas estão aglomerados na pequena área. O Maracanã rebenta e vai pra casa
feliz. Esse gol suado, chorado, é o que basta para a classificação, após o
Flamengo arrancar um empate no Morumbi, em outro jogo dramático.
3 – FLAMENGO 3-0 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 1983
O Santos teve e desperdiçou a
oportunidade de golear no primeiro jogo. Agora, bastam dois gols ao Flamengo
para a conquista do tri. O primeiro deles sai logo aos 40 segundos, em um bem
elaborado ataque flamengo finalizado por Zico. 155 mil quebram o recorde de público da história dos
Brasileiros, que jamais será quebrado. O Flamengo pulsa com a torcida, mas o
Santos, com várias estrelas (Serginho, Paulo Isidoro, João Paulo) é um time
manhoso e perigoso. O jogo é equilibrado, os dois goleiros têm trabalho. Quando
a pressão santista é forte, Zico cobra uma falta e Leandro, surpreendente,
amplia de cabeça. O gol dá tranquilidade, o time segura as linhas e só ataca na
boa. Não fosse a ansiedade de Baltasar, ampliaria mais cedo. Quando o Santos
enfim parece soçobrar, Robertinho (que entrara no lugar do Artilheiro de Deus)
faz boa jogada e Adílio, o nome do jogo, sentencia de cabeça o veredicto final
da partida e do campeonato. Enquanto o estádio vem abaixo, os santistas,
nervosos, agridem jornalistas, o que não tira o brilho da festa do merecido
tri. Festa que durará muito pouco, brutalmente interrompida pelo anúncio da
venda de Zico.
4 – FLAMENGO 4-1 SANTOS, TAÇA
LIBERTADORES 1984
O Flamengo mantém a já forte base
com que terminou o ano anterior, reforçando-a com o goleiro Fillol, que supre a
aposentadoria de Raul, e o ponta-esquerda João Paulo, além da volta de Nunes. A estreia na Libertadores
acontece justamente contra o Santos, que também mantém o forte time de 1983. Pouco
menos de 40 mil pagantes proporcionam uma arrecadação razoável. A partida é
aberta, disputada, muito vistosa tecnicamente. Fillol e principalmente o
goleiro uruguaio Rodolfo Rodriguez (a grande contratação santista) encantam o
público com belíssimas defesas. Mas a noite é de Mozer que, em uma jornada
iluminada, faz talvez seu melhor jogo com a camisa do Flamengo. No primeiro
gol, o zagueiro aproveita um bate-rebate após uma cobrança de falta e fuzila de
sem-pulo. No segundo, já na etapa final, antecipa-se a uma reposição de bola
mal feita, avança, dá um corte pra dentro e manda uma varada, uma raquetada, um
míssil que rebenta luva, goleiro, rede e o diabo. O Santos ainda se aproveita
de certo relaxamento, diminui, mas o Flamengo retoma o vigor com a entrada de
Lico, que marca um belo gol, com Tita completando a goleada. A vitória abre
caminho para uma campanha devastadora na Primeira Fase e para uma (não tão)
velada briga entre João Paulo e Lico por uma vaga no ataque. Vaga essa que, lá
na frente, acabará sendo do jovem baiano Bebeto.
5 – FLAMENGO 1-0 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 1988
O controvertido treinador
Candinho pede demissão, encerrando uma passagem desastrosa pelo Flamengo. O
rubro-negro enfim consuma um namoro antigo e contrata Telê Santana, que estará
no Maracanã, “vendo os novos comandados”, antes de enfim estrear no jogo seguinte. Zico está de volta, recuperado de
lesão. O time treina pilhado e motivado durante a semana. O torcedor se
contagia e quebra o recorde, até então, do campeonato, 60 mil. Sol, Zico, Telê
e Maraca lotado. Não dá outra. O Flamengo recupera o bom futebol perdido no
início do ano e simplesmente demole o já limitado time do Santos (César Sampaio
ilhado entre Giba, Zimmermann, Cipó etc). O adversário, nos 90 minutos, mal
passa do meio-campo. O goleiro Zé Carlos é o espectador mais privilegiado. Na
frente, Sérgio Araújo, Alcindo e Zinho enlouquecem a defesa adversária, e a
goleada não sai por conta da falta de um finalizador nato. No fim, um magro 1-0
que não reflete nem de longe o que foi a partida. Pelo menos, o gol vale o
ingresso, uma verdadeira pintura protagonizada por Leonardo, Zinho, Alcindo e
Sérgio Araújo. Tudo sob a égide refinada de Zico, o craque que ajeita a
orquestra. Telê, das tribunas, aprova, encantado.
6 – FLAMENGO 3-1 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 1992
Última rodada da Segunda Fase, e
todas as equipes dentro do grupo possuem chances de chegar à Final. O Flamengo
precisa da vitória e de um triunfo do Vasco sobre o favorito São Paulo. Talvez
desconfiada que os rivais fossem “entregar”, a torcida não vai em peso ao
Maracanã (30 mil). E perde uma partida sensacional. O Flamengo sai na frente
com Nélio, mas o tinhoso Santos, que nunca dá um jogo por vencido, segue
fustigando. Na segunda etapa, um gol contra de Bernardo parece dar
tranquilidade, mas o time recua em demasia. O Santos desperdiça um pênalti, mas
após outras chances chega ao gol, o que torna a partida dramática. Atordoado, o
Flamengo resiste à pressão, e nos minutos finais, num contragolpe, consegue o
alívio, quando Gaúcho quebra um jejum de gols e marca o terceiro e definitivo
tento. Em São Januário, apesar do desesperado coro de “entrega, entrega”, o
Vasco mostra dignidade e derrota o apático tricolor (3-0), classificando o
Flamengo para a Final e aproximando-o do penta brasileiro.
7 – FLAMENGO 4-1 SANTOS, TORNEIO
RIO-SP 2000
É a última rodada da Primeira
Fase, o Flamengo possui remotas chances de classificação. Mas o torcedor
interessa-se mesmo pela estreia do badalado Petkovic, que brilhou no modesto
Vitória-BA e está de volta ao Brasil, após apagada passagem pelo futebol
italiano. Pet logo mostra estrela, ao abrir o placar em uma jogada muito
bonita. Logo depois, um escanteio milimétrico para o gol de Juan. O Santos
diminui, mas o Flamengo, motivado, segue em cima, ampliando com Lúcio e Leandro
Machado. A vaga, como esperado, não vem, mas a torcida sai feliz do estádio,
satisfeita com a exibição de seu novo camisa 10. Mal sabe o que a espera nos
anos seguintes.
8 – FLAMENGO 1-0 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 2007
A inacreditável recuperação do
Flamengo está chegando à reta final. A três rodadas do término, o rubro-negro
precisa derrotar o Santos de Luxemburgo, concorrente direto na briga por uma
vaga na Libertadores. Quase 90 mil torcedores quebram o recorde de público do
campeonato (que será superado novamente na semana seguinte, contra o Atlético-PR). A
partida é nervosa, truncada, cheia de faltas. E é justamente nas bolas paradas
que o Flamengo consegue levar algum perigo ao gol de Fábio Costa. O Santos,
recuado, ameaça apenas numa jogada de Rodrigo Souto. Na segunda etapa, o
Flamengo, pressionado pelo resultado, sai mais pro jogo e começa a abrir
perigosos espaços em sua defesa. O adversário, assim, vai criando algumas
oportunidades, criando a expectativa de um final dramático. Só aos 30 minutos,
num cruzamento de Juan que termina numa incrível linha de passes de cabeça
dentro da área, Souza escora a bola para dentro das redes, pondo fim à angústia
do torcedor. A Nação ainda leva um susto, quando (novamente) Rodrigo Souto
finaliza livre da marca do pênalti, numa bola defendida de forma espetacular
por Bruno. Depois disso, a “Tropa de Elite” de Joel entra em ação, trancando a
porta da intermediária na base da bicuda e da porrada. O Flamengo vence e está
a três pontos da Libertadores, a dois jogos do fim. A vaga virá no jogo
seguinte.
9 – FLAMENGO 1-0 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 2009
Após a inesperada (e contundente)
derrota para o Barueri, o Flamengo entra na reta final do Brasileiro sem poder
sequer empatar a partida seguinte, diante do Santos, numa tarde de sábado no
Maracanã. O torcedor ignora o revés anterior e lota o estádio (77 mil), vai
jogar junto. O Flamengo começa agressivo, sufocando o adversário. E já nos primeiros minutos chega
ao gol, numa jogada de Leonardo Moura concluída por Adriano. A partir daí, o
time recua em excesso e deixa o controle do jogo com os santistas, numa tática
que se revela perigosa. O adversário, um franco-atirador, joga solto, leve,
cria chances e mais chances de gol, perdidas graças à má pontaria de seus
atacantes (Jean e André) e à grande atuação de Bruno. É quando a arbitragem
entra em cena. Primeiro, enxerga pênalti em uma disputa entre Aírton e Ganso. O
jovem meia santista cobra fraco, rasteiro, Bruno defende sem sequer dar rebote.
O Flamengo volta do intervalo disposto a decidir a partida, mas esbarra na má
atuação de Adriano (apesar do gol), que desperdiça três oportunidades claras, entre elas uma bola que explode na trave. O Santos reequilibra o jogo, a
partida se torna tensa e o árbitro pernambucano (que já havia prejudicado o
Flamengo num jogo contra o Vitória) inventa outro pênalti, ao “interpretar”
como falta um esbarrão entre Angelim e um santista. Ganso dessa vez cobra no meio do gol, e a bola é novamente defendida por Bruno, com os pés. O Santos,
com isso, perde o pudor e parte de vez para cima. Com Adriano cansado (está
visivelmente gordo), Andrade tira Petkovic e Zé Roberto, entrando Fierro e
Wellinton. O adversário vem pra cima, desperdiça várias chances agudas de gol
(numa delas, Álvaro salva em cima da linha), mas não consegue reverter o
resultado. No fim, a vitória num jogo extremamente tenso, ao coro de “ei, juiz,
vá t...”, e o preparo do sprint final para o hexa.
10 – FLAMENGO 0-0 SANTOS, CAMP
BRASILEIRO 2010
A última partida da história do
“velho” Maracanã é assistida por 35 mil almas, que testemunham um jogo triste.
Um Flamengo sem perspectivas, ainda se recobrando das saídas de seus ídolos
(Bruno é detido, Adriano resolve retornar à Itália e Wagner Love não consegue
dissuadir os russos a permanecer no Brasil), apresenta um time novo, com
Correa, Renato Abreu (que retorna), Deivid e Diogo. Mas o futebol é lento,
previsível e não consegue ameaçar um Santos coberto de desfalques. O jogo é
chato, melancólico, sem ânimo. O torcedor, que parece pressentir os anos que
estão por vir, não se empolga. Petkovic, heroi do hexa, ainda entra no final,
mas já é sombra do futebol que jogou. Venta. Faz frio. E o apito trila, 60 anos
depois. O Maracanã não existe mais.