quarta-feira, 24 de junho de 2015

Um Stradivarius


Ir ao Maracanã, pela primeira vez na vida e ver Carlinhos jogar foi um presente precioso que recebi em minha recém-iniciada jornada de torcedor do Flamengo. Parafraseando a letra de uma música, "o Violino não jogava bola, o Violino desfilava" com a redonda para deleite da massa torcedora;

Na linha do tempo do futebol houve uma fase em que torcedores de clubes não envolvidos numa determinada partida compareciam a estes jogos motivados pelo encantamento técnico que eles proporcionavam, dentro de campo, através dos artistas do espetáculo. Sendo assim, lembro que o rubro-negro aqui, levado pelas mãos de um cunhado vascaíno, foi à final do Campeonato Carioca de 1971 entre Fluminense e Botafogo, vencido pelos tricolores com um gol escandalosamente irregular marcado por Lula, após um companheiro deslocar o goleiro Ubirajara Mota, com falta, o que permitiu ao ponta-esquerda balançar as redes alvinegras sacramentando o gol da vitória e do título, nos últimos minutos da decisão;

Anteriormente e graças a esse saudável "status quo" reinante àquela época, um tio torcedor do América levou o sobrinho de calças curtas para ver o histórico Fla x Flu de 1963, a grande final para 200.000 torcedores, e tive a primeira aproximação com o maior de todos os estádios, o templo do futebol, e com um dos melhores jogadores que vi jogar e o melhor treinador que já dirigiu a equipe do Flamengo, o Bicampeão Brasileiro Luiz Carlos Nunes da Silva, o Carlinhos, conhecido também por causa da elegância e maestria como "O Violino";



Muito já foi falado e escrito sobre o ídolo que nos deixou na segunda-feira passada, e fica a conclusão que era impossível não passar a gostar de futebol depois de ver o Carlinhos jogar, um volante de um tempo em que se jogava com dois jogadores fazendo a ligação entre os quatro homens da defesa e do ataque, dotado de habilidade de meia-armador que colocava a bola onde e como queria, de categoria para desarmar o adversário sem lhe fazer falta e sair para o jogo, altivo, cabeça erguida e bola rente a grama para a armação do contra-ataque;

Enfim, uma vida no futebol pra lá de vitoriosa pelo Mais-Querido, tendo conquistado como jogador dois Estaduais (63 e 65) e um Rio-São Paulo (61) e como técnico venceu três Taças Guanabara (87, 88 e 99), duas Taças Rio (91 e 00), três Estaduais (91, 99 e 00), a Copa Mercosul de 99 e dois Brasileirões (87 e 92). Isso em impressionantes 830 jogos disputados pelo Flamengo: 517 como jogador e 313 na condição de treinador. Missão muito bem cumprida, estabelecendo o seu nome nos mais altos degraus de nossa rica e gloriosa história;



E agora partiu, deixando-nos um Flamengo muito maior do que o encontrou;

Muito obrigado, Carlinhos, gente com gente dentro, um craque em tudo o que fez!

Saudade!

SRN!