domingo, 17 de maio de 2015

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

O texto dessa semana atende a uma sugestão do colega Max Amaral, que outro dia andou indagando sobre a expectativa da Nação Flamenga antes dos campeonatos que o Flamengo venceu. Resolvi amplificar um pouco a ideia, e dessa forma segue um apanhado do ar que se respirava às vésperas de cada um desses campeonatos, bem como os respectivos resultados, as expectativas que se confirmaram, ou não. Boa leitura.

1980

FAVORITOS E COTADOS
Internacional (atual campeão, Falcão, manteve a base), Palmeiras (atual semifinalista, manteve o elenco), Vasco (atual vice, bom histórico recente), Corinthians (campeão paulista, Sócrates em ótima fase), Atlético-MG (contratou Palhinha, mostrou força nos amistosos), Santos (Meninos da Vila amadurecendo), Flamengo.

O FLAMENGO
O tricampeão estadual pratica um futebol vistoso e é tida como talentosa, mas a falta de títulos de expressão pesa. Ademais, a equipe não foi bem nos amistosos preparatórios (derrotas para Atlético-MG e Vasco, e um sofrido empate com o São Paulo). Zico, seu principal jogador, ainda sofre com a pecha de “jogador de Maracanã”.

RESULTADO
Internacional perdeu foco com a Libertadores e sofreu com a perda de rendimento de Falcão (lesões e iminente saída pro exterior). Palmeiras sentiu a saída de Telê, foi goleado pelo Flamengo e rodou na Terceira Fase. Vasco mostrou competitividade, mas foi superado pelo Atlético-MG na Terceira Fase, em dura disputa. Corinthians fez boa campanha, mas faltou força na reta final. Caiu diante do surpreendente Coritiba. O Santos chegou a empolgar, mas não resistiu ao Flamengo, a Zico e ao Maracanã. E o Atlético-MG confirmou as expectativas, fez campanha sólida e, com justiça, chegou às Finais.
O Flamengo: a torcida flamenga chegou ao entusiasmo com as duas primeiras vitórias sobre os fortes Santos e Internacional, mas a inacreditável derrota para o Botafogo-PB no Maracanã foi uma forte ducha de água fria. O nível de exigência aumentou, mas o time, que atuava sem centroavante (Cláudio Adão foi colocado à venda, e seu reserva Gerson Lopes estava lesionado. Improvisou-se Tita na função), não rendia. A equipe venceu alguns jogos sob vaias. A chegada de Nunes melhorou substancialmente o rendimento e, com a esmagadora vingança sobre o Palmeiras (6-2), o time enfim embalou junto com a torcida e arrancou rumo ao inédito título brasileiro.

1982

FAVORITOS E COTADOS
Flamengo (campeão mundial e detentor do favoritismo absoluto), São Paulo (uma das bases da seleção, bicampeão paulista e vice brasileiro), Atlético-MG (elenco parece desgastado, mas ainda é forte), Grêmio (melhorou o já competitivo time campeão de 1981).

FLAMENGO
Favorito absoluto ao título, acaba de ser campeão mundial e está motivado para buscar a única taça que faltou em 1981.

RESULTADOS
O Atlético-MG, esfacelado por lesões e brigas internas, não resistiu ao “Grupo da Morte” formado na Segunda Fase e caiu eliminado por Flamengo e o surpreendente Corinthians (egresso da Taça de Prata, a Segunda Divisão). O São Paulo protagonizou dois duelos sensacionais com o Flamengo (sendo derrotado em ambos), mas depois apresentou campanha instável, vitimado por problemas de relacionamento especialmente com o atacante Serginho. Caiu nas Quartas-de-Final diante do Guarani. Por fim, o Grêmio, que construiu uma campanha semelhante à do ano anterior (em que foi campeão), indo mal em jogos fáceis e crescendo nas partidas maiores. Assim voltou a alcançar as Finais e foi um oponente duríssimo para o Flamengo, por pouco não conseguindo o título.
O Flamengo: foi mais difícil que parecia. O Flamengo foi “o time a ser batido”, e com isso enfrentou sempre adversários no auge da motivação. Mesmo assim encantou torcedores e crônica com um belo futebol, notadamente na Primeira Fase, com as sensacionais viradas sobre São Paulo e Náutico. Depois, alguns problemas de lesão (especialmente Nunes) atrapalharam o andamento da equipe, que precisou muito do apoio da torcida para reverter situações complicadas (especialmente nas partidas contra Atlético-MG e Santos). Na reta final a equipe se reencontrou e mostrou força para se impor diante de adversários qualificados. Cumpre ressaltar que o Flamengo foi campeão enfrentando rigorosamente todas as principais equipes do país à época. Foi o campeonato de Zico, o artilheiro e melhor jogador da competição.

1983

FAVORITOS E COTADOS
Flamengo (apesar da crise interna, é tido como o melhor time do país), Palmeiras (que montou um time inteiro de ótimos jogadores), Santos (que encorpou o time com Serginho e Paulo Isidoro), Vasco (atual campeão estadual e com um time renovado), Grêmio (trouxe Tita e reforçou-se para a Libertadores).

FLAMENGO
O time afundou em crises internas após as derrotas na reta final do ano anterior. Crises de relacionamento afloraram, jogadores foram afastados e/ou negociados, o treinador Carpegiani pela primeira vez viu seu cargo seriamente ameaçado. Para piorar, o supervisor Domingos Bosco, uma espécie de ponto de equilíbrio do grupo, morreu de forma abrupta. O clima para o início do Brasileiro, assim, era o pior possível, apesar da chegada dos reforços Baltasar e Robertinho.

RESULTADOS
O Palmeiras rapidamente encaixou e mostrou força, especialmente na vitória sobre o Flamengo no Morumbi, na Segunda Fase (3-1, de virada). Mas andou subestimando alguns adversários, o que cobrou seu preço na Terceira Fase, em que não resistiu a Vasco e Santos. O Vasco iniciou irregular, claudicante. Na Segunda Fase, sofreu e escapou de ser eliminado no Maracanã pelo Bahia graças a um pênalti duvidoso nos minutos finais. No entanto, cresceu contra adversários mais fortes, despachou o Palmeiras da competição, mas acabou superado por um Flamengo que voava sedento de vingança. No fim, seus jogadores ainda protagonizaram um patético papelão, ameaçando agredir a arbitragem.
O Grêmio assustou o país ao enfiar 5-1 no São Paulo, mas logo perderia o interesse na competição, mais concentrado na Libertadores. Por fim, o Santos protagonizou dois interessantes duelos com o Flamengo na Primeira Fase (uma vitória para cada), mostrou poderio numa goleada histórica sobre o Cruzeiro (5-0), e chegou às Finais após calar o Mineirão com um empate em 0-0 com o surpreendente Atlético-MG (que vinha com elenco renovado).


O Flamengo viveu várias crises e recomeços, foi dado como morto dúzias de vezes, viveu a experiência de ser estrepitosamente vaiado no Maracanã em várias oportunidades, mesmo em vitórias (como os 2-0 sobre o Tiradentes que custaram a cabeça de Carpegiani), quase andou eliminado (buscou a duras penas um empate em Campos contra o Americano, evitando uma derrota que o complicaria), e inclusive chegou a protagonizar vexames, como o empate em 1-1 com o Moto Club, em pleno Maracanã. Mas, após a terceira mudança na comissão técnica, o time engrenou, justamente na reta final. A torcida entendeu, abraçou o time, e o Flamengo assim, arrancou para o tri brasileiro. O jogo-chave foi a espetacular goleada sobre o Corinthians (5-1). A partir dali, o título se tornou palpável e provável.

Semana que vem: segunda e última parte.