segunda-feira, 13 de abril de 2015

Muita Emoção e Pouco Futebol

Salve, Buteco! A partida de ontem era aguardada por todos com ansiedade. Após o fracasso em Macaé contra o Nova Iguaçu, envolto pela confusão causada a partir das reações titubeantes de Vanderlei Luxemburgo à investida do São Paulo, o Flamengo enfrentaria o Vasco da Gama com a volta de quatro jogadores importantes, o que em tese lhe dava a condição de favorito para o clássico. Como comentei antes da partida, preocupavam-me situações que pudessem colocar os jogadores em situação de serem advertidos com cartão amarelo ou expulsos. Havia mencionado expressamente o meu temor em relação a Jonas e Anderson Pico. Contudo, a escalação do mesmo árbitro que, duas semanas antes, expulsara quatro jogadores de ambas as equipes (Paulinho injustamente) acabou por elevar a temperatura do clássico dentro de campo e, contraditoriamente, a evitar as próprias expulsões, pois o soprador de apito entrou em campo determinado a não exibir o cartão vermelho, evitando assim se meter em mais confusão. No final das contas, sobrou emoção, mas faltou futebol ontem no Maracanã, principalmente ao Flamengo.

***

No primeiro tempo, como o amigo  alertara antes da partida, a formação com três volantes e Márcio Araújo adiantado como meia-atacante puxando os contra ataques se revelou uma má ideia, tendo funcionado por alguns minutos, bem no início. Logo o Vasco da Gama tomou conta da partida e exerceu uma forte pressão sobre o Flamengo, que sequer conseguia responder com contra-ataques. O destempero de Jonas, porém, acabou por forçar a antecipação de uma substituição que Luxemburgo só programara para fazer no segundo tempo. A entrada de Everton, por volta dos 25 minutos de jogo, forçou o recuo do Vasco da Gama simplesmente por tornar o time mais ofensivo. O Flamengo primeiramente equilibrou o jogo e aos poucos e envolveu o adversário, terminando a primeira etapa com muito mais volume e criando situações de gol. Everton, Cirino e Gabriel, além de Canteros, quando subia ao ataque, entenderam-se muito bem. Gostei do Canteros como segundo volante imprimindo boa saída de bola, participando de boas tabelas, como do Gabriel, que cresceu na partida e criou algumas jogadas. O time chegou a colocar a bola no chão e apresentar um esboço de qualidade em alguns lances nesses vinte minutos finais de primeiro tempo. Deu-me alguma esperança de melhora no futuro, especialmente se chegarem reforços para o meio e ataque.

***

Já o segundo tempo representou uma verdadeira reversão de expectativas para o torcedor rubro-negro, para não dizer pura frustração. Foram 45 minutos de domínio do Vasco da Gama, que marcou o Flamengo em seu próprio campo em uma demonstração incomum e surpreendente de superioridade física. O Flamengo não saiu derrotado graças a Paulo Victor e o pouco que conseguiu criar se deu através de arrancadas de Marcelo Cirino, todas paradas com falta. Todas as peças do Flamengo foram anuladas. Canteros não conseguiu organizar o jogo e nem proporcionar a saída de bola com a qualidade que fez no primeiro tempo; Éverton e Gabriel simplesmente sumiram na partida e não conseguiram superar a marcação, assim como Paulinho e Arthur Maia, que entraram no decorrer da etapa final. Alecsandro, antes de sair para a entrada de Paulinho, passou de uma péssima atuação para ser um espectador privilegiado dentro de campo, tamanho o seu grau de nulidade.

Tentando analisar os fatos racionalmente, separando-os da decepção, sou forçado a reconhecer que o Flamengo, na segunda etapa, chegou a ter em campo quatro jogadores recém liberados pelo Departamento Médico, não sendo nenhum absurdo considerá-los curados clinicamente, porém sem ritmo de jogo, o que produziu inevitáveis prejuízos sob o prisma tático, inclusive em nível de entrosamento, pois durante a recuperação desses jogadores a formação que esteve em campo, ainda que seja em tese a melhor possível, não treinou junta. Tampouco acho que seja especulação irresponsável lembrar que no Campeonato Estadual do Rio "marmotamente" não há exame antidopping. Acho que todo esse contexto pesou como um dos fatores para o Vasco da Gama ter demonstrado tamanha supremacia física e anulado o Flamengo no segundo tempo. Apesar disso, não justifica a atuação do Mais Querido.

Em primeiro lugar, não estamos falando em simples superioridade durante determinado período da partida, como ocorreu com o próprio Flamengo nos vinte minutos finais da etapa inicial, mas da suposta melhor equipe não conseguir encaixar uma jogada sequer de contra-ataque em todo o segundo tempo. Piora ainda mais ao se considerar que, além do lance do Jonas, o Wallace, capitão do time, revidou uma entrada do adversário com o lance já parado, Cirino entrou na canela de um adversário com as travas da chuteira e Paulinho jogou o braço para trás após receber uma entrada desleal de Dagoberto, o que me leva a reconhecer que o Flamengo, time com jogadores mais experientes e técnicos do que o Vasco da Gama, foi banalmente envolvido pela catimba cruzmaltina e, se não fosse o árbitro intimidado pelo recente contexto do clássico anterior, poderia ter terminado a partida com menos atletas em campo, independentemente das muitas críticas que se possa fazer pelos prejuízos causados ao Flamengo por várias marcações erradas, invertidas ou mesmo pela ausência delas.

Então, se o time mais tarimbado e experiente, além de não ter conseguido colocar a bola no chão no segundo tempo, teve comportamento infantil e se mostrou mais irritadiço do que o histérico adversário que não o vence há seis anos e não conquista um título estadual há mais de uma década, eu pergunto a vocês se uma atuação como essa pode ser qualificada como aceitável.

***

Luxemburgo, aliás, poderia desistir de disputar jogos mentais com a Diretoria e aproveitar para trabalhar individualmente algumas peças do elenco, a começar por Jonas, que, se quiser se tornar um jogador confiável para as competições mais importantes do Flamengo, precisa ser mais responsável e aprender a controlar suas emoções dentro de campo. Wallace poderia participar da conversa e ouvir que o capitão do Flamengo não pode agredir um adversário com o lance parado, em hipótese alguma. Poderia lembrar a Anderson Pico que, até menos de um ano atrás, era um jogador obeso recém dispensado pelo Novo Hamburgo/RS implorando por uma oportunidade, e por isso mesmo não pode, dentro de campo, voltar a arriscar lances inconsequentes tendo companheiros livres ao seu lado, como se fosse um craque consagrado. Poderia, também, explicar ao ótimo Marcelo Cirino, que continua a ser o nosso principal, mais inteligente e criativo jogador, mas que agora joga no time de maior torcida do mundo, que precisa controlar a sua ansiedade e ser mais firme e decidido na hora de finalizar, quem sabe imprimindo mais força aos chutes e procurando os cantos do gol ao invés do meio, onde sempre se posiciona o goleiro adversário.

Então, Luxemburgo, mãos a obra porque você tem muito trabalho e apenas uma semana. Não adianta ter apenas o melhor elenco sem fazer dele o melhor time. É preciso ter espírito de decisão e querer autenticamente ser campeão, não bastando se sentir superior aos outros. E não preciso nem lembrar que esse elenco, embora seja o melhor do campeonato em nível individual, não tem essa bola toda para ter menos vontade e concentração do que os adversários.

Bom dia e SRN a tod@s.