terça-feira, 14 de abril de 2015

Demonstrações do Flamengo de 2014, por Benny Kessel

Foram publicadas hoje as Demonstrações Financeiras do Flamengo, que eram aguardadas por boa parte daqueles que acompanham a evolução financeira do clube, para constatar se as promessas de austeridade e crescimento vêm realmente sendo cumpridas. Para ter essa resposta, dividimos a análise em capítulos: Receita, Resultado e Endividamento.

EVOLUÇÃO DA RECEITA
O clube continua no seu patamar de crescimento de receita, observados nos últimos anos. A Receita Bruta, conforme demonstrado no gráfico abaixo, apresentou um crescimento superior a 27% (29% na Receita Operacional Líquida), em um ano onde a maioria dos clubes experimentou uma redução.
A tabela abaixo demonstra as variações das principais rubricas, tanto em relação a 2013 como 2012:
Como aspectos positivos podemos destacar:
  • Crescimento de R$ 26,6 milhões (50%) na rubrica de Patrocínio, favorecida por ter um “ano completo” de patrocínios na camisa, fato que não ocorreu nem em 2013 e nem 2012, além da receita de patrocínio nas mangas, que se iniciou em 2014;
  • “Ano completo” de faturamento do programa de sócio-torcedor, que gerou sozinho uma receita superior a R$ 30 milhões bruta (R$ 21,9 milhões líquido). Se analisada a soma com a rubrica “Bilheteria”, analise completa que elimina a possível “canibalização” da Bilheteria pelo programa de Sócio-Torcedor, observa-se um crescimento de 7,7%.

Como aspecto negativo, destacamos a redução na rubrica “Bilheteria”, em razão do clube ter chegado a final da Copa do Brasil e ter realizado jogos lucrativos em Brasília em 2013, fato que não se repetiu em 2014. O aumento registrado nas receitas no ano de 2014 não foram observados nas despesas, que obtiveram uma redução de 1,1% (R$ 232 milhões em 2013 para R$ 230 milhões em 2014), razão que levou aos bons resultados obtidos no ano.
Pelo gráfico acima, pode-se observar a distribuição da receita bruta no ano de 2014. Vale notar que a dependência das cotas de TV vem se reduzindo a cada ano (já chegou a representar mais de 60% da receita total do clube) e aos poucos vem sendo alcançada a meta inicial de distribuição: 1/3 cota de TV, 1/3 Bilheteria + ST e 1/3 Patrocínio. Em relação ao orçamento para o ano, a Receita Bruta foi 14,6% e a Líquida 14,8% superior ao previsto, R$ 303 e R$ 291 milhões, respectivamente.

RESULTADOS OBTIDOS
O crescimento das receitas aliado a redução das despesas no ano de 2014 contribuíram para o resultado operacional superavitário em R$ 104,6 milhões, crescimento de 288,7% em relação a 2013.

O Centro de Custos que mais contribuiu para esse Resultado Operacional foi o Futebol, com resultado de R$ 111,4 milhões (R$ 39,5 milhões em 2013). A boa notícia é que os Esportes Olímpicos alcançaram a tão sonhada auto sustentabilidade, apresentando um Resultado superavitário de R$ 3,3 milhões, isto é, o Futebol não mais sustenta as demais atividades esportivas. A má notícia são os demais Centros de Custos, especialmente a sede social (Fla-Gávea), que apresentaram um déficit de R$ 10,1 milhões.

Pela primeira vez em muitos anos, conforme pode se observar no gráfico abaixo, o Resultado Operacional foi suficiente para cobrir as Despesas Financeiras, juros da dívida em sua maioria, e ainda assim apresentar um lucro que possivelmente seja o maior da história do futebol brasileiro, R$ 64,3 milhões.
Em relação ao orçamento para o ano, o Resultado Operacional foi 9,1% e o Resultado do Exercício 25,5% superiores ao previsto, R$ 95,9 e R$ 51,2 milhões, respectivamente.

ENDIVIDAMENTO
O Flamengo continuou em 2014 a sua estratégia de redução de endividamento, conforme demonstra o gráfico abaixo:
Obs: Endividamento = Passivo Total - Ativo Circulante – Ativo Não Circulante (sem considerar investimentos, imobilizado e intangível)

Como parte do Passivo do Flamengo se refere a luvas recebidas antecipadamente (rubrica Adiantamento de Contratos), contabilizadas no Passivo apenas para uma correta apropriação por vigência, calcula-se também o Endividamento Líquido (gráfico abaixo) desconsiderando essas contas.
Obs: Endividamento Líquido = Passivo Total (sem considerar Receitas Diferidas) - Ativo Circulante – Ativo Não Circulante (sem considerar investimentos, imobilizado e intangível)

Ainda que, tanto o endividamento total quanto o líquido tenham sofrido um decréscimo, o endividamento de curto prazo apresentou uma leve piora, conforme o gráfico abaixo:
Obs: Endividamento de Curto Prazo = Passivo Circulante (sem considerar Receitas Diferidas) - Ativo Circulante

O gráfico abaixo, que relativiza o endividamento pelo faturamento do clube (quantos anos de faturamento para pagar todo o endividamento), demonstra que o índice vem sendo reduzido a patamares mais próximos do histórico dos demais clubes melhores administrados:

CONCLUSÃO
Apesar de não ter obtidos resultados expressivos dentro das quatro linhas, o Flamengo segue firme no propósito de aumento de receita e redução do endividamento para que, em breve, consiga usufruir de todo o seu potencial de geração de receitas em investimentos na melhoria técnica e, aí sim, obter vantagem esportiva.


Apesar de ainda não ter sido divulgada nenhuma das Demonstrações Financeiras dos demais clubes grandes, pode-se afirmar tranquilamente pelas notícias veiculadas durante o ano, que o Flamengo vem na contramão da maioria desses clubes.

 P.S.: Balanço publicado no site do Flamengo.
http://www.flamengo.com.br/site/download/transparencia