Saudações flamengas a
todos,
Encerrado, na prática,
o primeiro semestre para o Flamengo, penso ser a hora de se elaborar mais um
daqueles balanços de temporada, pelo menos sob um prisma individual, ou seja, o
meu.
Acredito que toda
derrota e consequente objetivo não alcançado dá margem a abordagens mais
críticas e negativas, o que penso ser absolutamente normal, afinal de contas estamos falando de futebol, onde impera a inexorável Lei do Resultado.
Mas, passada uma semana
da atuação desastrosa da equipe nas semifinais do Estadual, desempenho que
abriu a possibilidade de se consumar o verdadeiro assalto a mão desarmada que
todo o Brasil presenciou, penso ser relevante ponderar algumas “cositas” sobre
o que tem ocorrido no futebol flamengo até aqui.
AS ATUAÇÕES
O Flamengo começou o
ano escalado com Paulo Victor, Léo Moura, Wallace, Samir e Pico; Caceres,
Canteros e Arthur Maia; Nixon, Cirino e Gabriel. Ou seja, um meio-campo
teoricamente leve, com dois volantes e um meia, mais povoado por dois “pontas”
que tinham a obrigação de recompor, enquanto se revezavam com o Cirino, que
atuava mais ou menos como um “falso nove” (o famigerado).
Com algumas poucas
variações sobre esse tema (a principal delas a troca do Caceres por Márcio
Araújo), o Flamengo, com essa escalação, conquistou o Torneio do Amazonas e
iniciou a Taça Guanabara. O time não foi brilhante, enfrentou certa dificuldade
ofensiva em função da falta de qualidade nas finalizações, alguns jogadores
(como Nixon e Arthur Maia) apresentaram rendimento irregular, mas mostrou alguma organização e transmitiu ao torcedor a sensação de que havia a
continuidade do trabalho iniciado ano passado.
Aí começaram os
problemas. Exatamente no jogo contra o Madureira.
Nessa partida,
Luxemburgo alterou a concepção do meio-campo. Sacou Nixon e escalou três
volantes (Cáceres, Márcio Araújo e Canteros). Arthur Maia também foi barrado,
dando lugar a Gabriel. O resultado não foi bom. A equipe começou bem,
apresentando razoável movimentação e criando chances de gol, mas desabou após
sofrer o gol do adversário (um sintoma que acompanharia a equipe no restante do
campeonato e seria uma espécie de marca negativa) e simplesmente emperrou. A
saída de Everton (lesionado) travou de vez o funcionamento do time, que somente
não saiu derrotado por conta de um gol duvidoso num lance isolado.
A partir daí, o time
passou a apresentar lampejos. O criticado esquema de três volantes colheu uma
importante vitória em Pelotas, mas a seguir o time, após alguns bons minutos,
foi totalmente envolvido pelo modesto Botafogo, levou duas bolas na trave e
sofreu uma merecida derrota. Diante disso, nos jogos seguintes Luxemburgo
cogitou tornar à formação do meio-campo com dois volantes.
No entanto, o
afastamento de Cáceres, Samir, Arthur Maia, Nixon e Éverton tirou do treinador
a possibilidade de tornar ao time original. Léo Moura se despediu (algo já
previsto), dando lugar ao voluntarioso Pará. Jogadores como o errático Mugni, o
irregular Luiz Antonio, o tosco Bressan e o veterano (ao menos nas condições
físicas) Eduardo da Silva passaram a frequentar o time titular. De bom, o
retorno do aguerrido atacante Paulinho, que fez bons jogos, marcou alguns gols
e voltou ao Departamento Médico, de onde sabe-se lá quando irá sair.
Mas, de todas as
alterações, a mais danosa, a mais perniciosa, a mais complicada foi a
efetivação de Alecsandro no comando do ataque.
Nada contra o rapaz.
Até acho interessante a forma como ele tenta demonstrar apego à equipe e
reconheço que, vez ou outra, o atacante marca gols, alguns até importantes. Mas
o vulgo “Alecgol” é daqueles centroavantes antigos, obsoletos. Não se movimenta,
permanece a partida estático, no máximo recuando até a intermediária
adversária. Isso engessa o sistema ofensivo. Trava. Torna a equipe previsível.
Sem movimentação, os atacantes não dão ao meio-campo alternativas de jogo. E o
time perde a fluidez. Com isso, passa a viver de chutões e bicudas.
Foi o que se viu nas
duas partidas contra o Vasco. O interessante é que em Salgueiro, com uma
formação próxima à que se iniciou o ano, o time voltou a praticar um futebol
mais interessante e organizado e chegou com certa facilidade ao objetivo dos
dois gols, em que pese a fragilidade do adversário.
CONDIÇÃO EMOCIONAL
Como pontuado acima, o
time começou a demonstrar problemas de equilíbrio emocional quando derreteu
após sofrer um gol inesperado do possante Madureira, num jogo que parecia
controlado. Após o revés, a equipe simplesmente parou de jogar e deixou-se
impor por um adversário de alguma qualidade, mas bem inferior tecnicamente. Foi
a senha. Na última rodada, o Flamengo menosprezou o Nova Iguaçu, tentando
cozinhar em banho-maria um jogo que nitidamente era o “jogo da vida” do
adversário. Quando percebeu que o gol não sairia por decreto divino, perdeu-se.
Nas semifinais, diante de um oponente mais rodado, o time, desde o primeiro
jogo, mostrou sérios problemas para controlar os nervos. E desabou de vez após
o pênalti.
O TREINADOR
Luxemburgo aparenta
mostrar algumas concepções táticas interessantes para essa equipe. Talvez
esteja, inclusive, buscando pinçar alguns elementos da forma de jogo da
Alemanha que venceu a Copa, como a busca por volantes qualificados e versáteis (o
que explica esse trabalho com o Mugni), a colocação de meias como “falsos-pontas”,
a abolição do atacante fixo, enfim. No entanto, não foi capaz de lidar com os
imprevistos, insistiu em demasia com determinadas soluções equivocadas e,
principalmente, tornou-se foco de desestabilização ao, seja lá por qual motivo,
manter acesa e alimentada a chama de sua eventual transferência para o São Paulo,
o que irritou a torcida, desnorteou os jornalistas e provavelmente
desconcentrou os jogadores. Nesse ponto, falhou também a diretoria ao não se
impor, impedindo o treinador de sair se oferecendo em peregrinação pelas tevês do
país.
AS LESÕES
Outro ponto crítico da
temporada é a questão das lesões. Samir, Pico, Cáceres, Canteros, Éverton,
Arthur Maia, Nixon e Paulinho estão ou estiveram às voltas com contusões que os
tiraram de vários jogos, muitos deles decisivos. É muito. É excessivo. E, na
maioria dos casos, estamos falando de titulares. A coisa se torna ainda mais
intrigante e inaceitável quando se constata que no ano passado o Flamengo viveu
algo semelhante no final do ano. É o tipo de coisa que requer reuniões de emergência,
planos contingenciais e, se for o caso, troca de nomes. Porque, mesmo não
entendendo de fisiologia do desporto, é possível supor que tem coisa errada aí.
ELENCO E PERSPECTIVAS
O time não é ruim. Mas não
está à altura do Flamengo que queremos. É uma equipe que, vestida com a camisa
de um Atlético-PR, um Grêmio ou um Cruzeiro, poderia chegar a uma colocação
interessante, brigando por posições elevadas. Mas, no Flamengo, com as pressões
e as repercussões inerentes ao clube, não vejo algo mais promissor do que a
briga pelas oito primeiras posições. Há bons jogadores, mas são todos
coadjuvantes. Não há alguém pra chamar o jogo, dar esporro, botar a bola
debaixo do braço. O mais próximo que temos a isso é o Cáceres, mas ele vive
lesionado, convocado e parece ter perdido de vez a posição de titular.
Daí eu enxergar com
ceticismo as declarações do VP Rodrigo Tostes, que preconiza ser o ideal para o
Flamengo trazer jovens de 19 a 24 anos, que podem ser trabalhados numa
negociação. Mas, em outro ponto, ele aparentemente se contradiz, quando fala
que o time precisa de jogador para chegar e ser titular, não para compor
elenco. Oras, conta-se nos dedos os meninos de vinte e poucos anos que possuem
baixo valor de mercado e estão em condições de “chegar chegando” no time.
Eu já acho que é a hora
de preparar o salto. Trazer jogadores capazes de agregar experiência e
competitividade. O Raul e o Carpegiani dos anos 70, o Fábio Luciano de 2007, alguém
com esse perfil. Sempre gosto de mencionar o caso de Augusto Recife, volante meia-boca
dos anos 2000. Ao lado do Maldonado, foi destaque e ganhou tudo no Cruzeiro. Ao
lado do Da Silva, matou bola no pescoço e brigou pra não cair no Flamengo.
Paulo Victor, Pará,
Wallace, Samir e Armero; Jonas, Felipe Melo e Canteros; Cirino, Robinho e
Everton.
Dois nomes. Dois. Nem
precisam ser exatamente esses. Mas é disso que falo. O salto.
Boa semana a todos.