sábado, 7 de março de 2015

Desmistificando a dez


Aos três de março de 1953, às sete da manhã, nascia na casa de número sete da rua Lucinda Barbosa, em Quintino... Bom, essa história todo mundo já conhece, eu não preciso repetir. Outra história que sempre se repete é a busca incessante por um novo camisa 10 depois da despedida do maior jogador da história flamenga. Pintinho, Alex, Gilmar Popoca, Carlos Eduardo, Djalminha, Sávio, Fellype Gabriel, Iranildo, Renato Augusto, Adryan, não necessariamente nessa ordem, vários receberam a pecha de "Novo Zico". Nenhum deles vingou. Petkovic, talvez, foi quem mais se aproximou daquilo que o imaginário coletivo entende como "o dez". Mas será que estamos procurando certo?


Em 1976, antes de virar Benjor, Jorge Ben cantava:

Ele tem uma dinâmica, física, rica e rítmica
Seus reflexos lúcidos
Lançamentos, dribles desconcertantes
Chutes maliciosos são como flashes eletrizantes
Estufando a rede num possível gol de placa

Quase quarenta anos depois, a dificuldade para encontrar um jogador que seja, ao mesmo tempo, o arco e a flecha é imensa. Para o futebol que se joga hoje em dia e para o elenco que nós temos, a necessidade é de alguém que tenha a capacidade de propor o jogo, armar as jogadas ofensivas da equipe. É o criador de jogadas ou, como os ingleses dizem, o playmaker. E o playmaker pode vir em diversas formas e posições.

Na época do Zico, ou da música do Benjor, o playmaker era o terceiro homem do meio de campo, aquele que ficava por trás dos atacantes e ditava o ritmo do jogo. Carimbava todas as jogadas de ataque e decidia com passes perfeitos. Hoje, com um jogo mais forte, marcação mais pesada, ele precisa de mais movimentação para sair dos adversários. Dependendo de suas características físicas, ele pode preferir encontrar outra posição em campo para armar o time ou pode aprender a "pensar correndo", como disse André Rocha, analista da ESPN, a respeito da evolução do Philippe Coutinho.

Sobre a primeira opção, a situação mais clássica é a do armador recuado. Andrea Pirlo se transformou em um dos melhores jogadores italianos de todos os tempos quando, na 2ª temporada depois de trocar a Internazionale pelo rival Milan, seu treinador na época, Carlo Ancelotti, resolveu recuá-lo da posição de trequartista, o famoso 10, para regista. O regista é o meia que joga à frente da linha de defensores e arma a equipe a partir daí. Xavi, Modric, Toni Kroos, Fàbregas e Xabi Alonso são outros exemplos para a função. Existem variações dentro do mesmo papel, uns com mais atribuições defensivas, outros com menos. Vejo o Canteros com total possibilidade de exercer esse trabalho no time do Flamengo.

Mapa de calor do Pirlo

Outra possibilidade é armar a partir dos flancos. A imagem de Messi aberto pela direita vem logo à mente mas o nosso próprio Galinho já fazia isso, pela esquerda, no final da sua carreira, lá no Kashima. Não é a mesma função que o Robben exerce no Bayern. O holandês, canhoto, parte da ponta para a área adversária com velocidade e dribles. O armador, na maioria das vezes também com o "pé trocado", recebe a bola de frente para o campo, com mais espaço para encontrar opções de passe. Aqui no Brasil, D'Alessandro o faz como poucos no Internacional, mas, recentemente, pudemos ver Ganso e Kaká armando o São Paulo pelos lados do campo, mesmo com características bem distintas.

Enfim, precisamos parar de buscar um novo Zico, sob pena de procurar eternamente e não achar. Talvez um Montillo da vida, que dizem já estar acertado, funcione, mesmo sendo mais atacante do que meia.



...


Sobre o jogo de logo mais, não tenho muito a falar, a não ser que só a vitória interessa. Voltamos ao Engenhão depois de quase dois anos, onde já vencemos 42 vezes, empatamos outras 30 e só perdemos 12 partidas. Nos últimos três jogos, no entanto,foram derrotas para Botafogo e Resende e empate com o Boavista. Luxa não divulgou ainda o onze que vai a campo. Pico pode voltar surpreendentemente cedo e Bressan deve herdar a vaga do lesionado Samir. Do meio pra frente, certeza só as escalações do Canteros e do Cirino. Qualquer que seja o time, temos obrigação de vencer para voltar ao G-4.