sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ação e reação

Na física, uma das leis de Newton diz que toda ação gera uma reação. Na política envolvida no futebol, não é diferente. Ao longo da semana que passou, em paralelo às notícias sobre escalações, treinamentos, mudanças taticas e contratações, a novela que conta a guerra fria entre o Flamengo e a Federação também teve bastante destaque.

A nota emitida pelo Flamengo na última sexta feira explodiu como uma bomba no colo do presidente da federação, que desprevenido, acusou o golpe. A resposta na base das ofensas pessoais deixou ainda mais evidente que não era ele o arquiteto da armadilha bem calculada que prendeu o Flamengo ao campeonato estadual. Mais ainda deu ao Mais Querido a oportunidade para atacar de forma aberta todo o sistema que desde os tempos do velho Caixa D'água, afundam o futebol do Rio de Janeiro.

A primeira partida do Mengo no estadual mostrou que reação não tardaria. A estranhíssima invasão, clima de guerra e comentaristas batendo sem dó na postura do clube mostraram que a guerra não é um caminho fácil. E começaram a surgir as primeiras notícias de acordo. Ainda assim, o clube manteve a postura de não aceitar a conciliação proposta como um acordo. O presidente Bandeira mantém as declarações de que o Flamengo estuda uma maneira de romper relações com a fferj, enquanto esta parece capitular cedendo à poderosa pressão do consórcio Maracanã reforçada pelo governo do estado.

Mas até onde o Flamengo pode ir nesta batalha? Não se pode esquecer que o regulamento prevê diversas punições para os casos de rebeldia, que podem culminar até em rebaixamento. Uma das reações da federação, que passou quase sem discussão na mídia e em fóruns rubro-negros como o Buteco inclusive, foi a criação de uma seletiva no próximo campeonato para  os times que ficarem abaixo do 9o lugar. Já imaginaram se o Flamengo joga com os reservas de propósito, chega em 10o e fica obrigado a fazer mais 6 jogos deficitários no próximo ano?

Outro aspecto é que, por mais nobre que seja o objetivo de livrar o futebol carioca de uma federação falida moral e institucionalmente, a mudança no status quo mexe indiretamente nos alicerces de todo o futebol brasileiro. Da mesma maneira que ocorre na fferj, a CBF mantém um sistema arcaico, planejado cuidadosamente para evitar mudanças bruscas em seu comando. O sistema se apóia nos mesmos recursos oriundos da TV e na dependência financeira que os clubes, falidos na maioria dos casos, têm dos recursos repassados pela entidade.

A disputa, no fim das contas, é contra esse grande sistema que, indiretamente é sim, benéfico ao Flamengo. Ao sugerir a criação de uma liga de clubes por exemplo, o Mais Querido teria que fazer concessões para atrair outros clubes a sua pequena revolução. Estaria disposto a colocar na mesa de negociações a redistribuição das cotas de TV, grande desejo da maioria dos outros clubes ditos grandes?

A postura combativa adotada pela diretoria levou o Flamengo de volta à vanguarda do futebol brasileiro. Sabemos que o Clube é comandado por pessoas inteligentes e extremamente capazes, como já foi demonstrado inúmeras vezes. Se tiverem a tenacidade necessária para bancar esse enfrentamento até o fim, certamente escreverão um capítulo fundamental na história do futebol brasileiro.


Sobre o jogo desta quarta-feira, não sei se podemos tirar alguma coisa como análise real. O adversário, além de muito fraco, vinha em seríssima crise e praticamente não conseguiu jogar, como disse um dos jogadores deles na saída do campo. Nesse aspecto, mérito do Flamengo que, pelo menos até a metade do segundo tempo, continuou impondo seu ritmo sem parar de atacar, apesar de estarmos ainda em ritmo de pré-temporada. Nos últimos quinze minutos o time cansou e se desorganizou bastante, mas antes disso deu mostras de que o sistema de jogo proposto por Luxemburgo pode funcionar contra times fechados, se o Flamengo jogar bem e conseguir criar situações de gol. Dois grandes exemplos foram a jogada em que a bola explodiu na trave logo no início em chute do Nixon e o belíssimo gol do Marcelo Cirino em passe do mesmo Nixon.

Achei que vale destacar também a troca de passes rápidos na saída da defesa, passes que realmente fluíram melhor com a presença do Márcio Araújo no lugar do Cáceres. Aliás, funcionou bem contra um Barra Mansa em crise, mas será que funcionará contra um oponente mais forte? Por outro lado, é bom que o time possa variar a escalação principal dependendo das características do oponente, podendo propor o jogo mais físico ou mais técnico. Será que temos elenco para isso?

Não poderia encerrar sem mencionar a inacreditável força da torcida do Flamengo. Jogo contra o time mais fraco desse campeonato ridículo, quarta-feira às 22h, chovendo e passando ao vivo na TV aberta. E mais uma vez a Magnética marcou recorde de público da rodada e o percentual de ocupação do estádio mais alto da rodada (considerando apenas a parte do Maraca que abriu). Realmente, dá para entender o desespero dos caras. Sem o Flamengo, o futebol do Rio não é nada.

abraços a todos e SRN!