segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Go Blues!

Buongiorno, Buteco! Hoje é dia de eleições no Mais Querido! Renova-se parte do Conselho Deliberativo, órgão ao qual competem, segundo os artigos 85 a 95 do Estatuto do Clube de Regatas do Flamengo, importantes atribuições tais como, exemplificativamente, eleger e empossar, a cada triênio, os membros efetivos e suplentes do Conselho Fiscal, o presidente e o vice-presidente do clube; julgar a prestação de contas do Conselho Diretor, aprovar os modelos da flâmula e dos uniformes do Flamengo, processar e julgar, originariamente, os presidentes dos poderes do clube, os membros do Conselho Fiscal e as revisões de suas decisões; julgar, em última instância, os recursos de decisões do Conselho de Administração e conceder anistia ou perdão das penalidades de advertência, suspensão e de caráter financeiro.

O Conselho Deliberativo é constituído de membros natos, que compõe o seu Corpo Permanente, e de membros eleitos, que constituem o seu Corpo Transitório. O Corpo Permanente é constituído pelos presidentes dos poderes em exercício, dos sócios grande-beneméritos, beneméritos, eméritos remidos e proprietários, estes com mais de dois anos de vida associativa ininterrupta. Já o Corpo Transitório é composto por, no mínimo, cento e vinte membros efetivos e quarenta suplentes, eleitos entre os sócios das categorias patrimonial, laureado e contribuinte.

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Acho que é cabível uma analogia com o que acontece em nossa sociedade, seja em nível federal, como também estadual ou municipal com os poderes executivo, legislativo e judiciário. O Conselho de Administração, o qual costumamos chamar de "Diretoria", e a Presidência do Flamengo, tal como os chefes dos poderes executivos federal, estadual e municipal, relacionam-se com as respectivas casas legislativas e no judiciário (este apenas federal ou estadual) em um sistema que se  costuma chamar de "freios e contrapesos". Enfim, um "modera" o outro. Um exemplo típico ocorre em relação ao processo legislativo geral: o executivo "executa" e age nos estritos termos das leis; o judiciário julga as relações conflituosas entre cidadão e o estado daí decorrentes; já as leis são editadas por via de um complexo sistema no qual muitas vezes a iniciativa é prerrogativa do chefe do executivo, mas o parlamento aprova o texto legal e o chefe do executivo pode vetar parcial ou totalmente esse mesmo texto, em geral modificado em relação ao que fora enviado originariamente ao parlamento. Mas essa decisão pode ser revertida por maioria absoluta da mesma casa legislativa. E o judiciário pode, ao final, declarar inconstitucional o texto, parcial ou totalmente, e nesse caso o legislativo pode editar uma lei regulando as relações baseadas no texto declarado inconstitucional. Enfim, um poder controla o outro sem relação de supremacia. Assim ocorre em um regime democrático baseado na tripartição de poderes.

Deixando o juridiquês de lado, no Flamengo as coisas não são tão complicadas, mas em alguma medida acabam sendo parecidas. A Diretoria não pode, por força do Estatuto, que é a "Constituição" do Flamengo, "governar" sozinha. Depende em muitos atos de aprovação do Conselho Deliberativo, órgão que, dentro das relações internas de poder do clube, acumula atribuições que costumamos ver no legislativo e no judiciário, considerando aquela analogia que propus.

Entramos então na parte prática do texto de hoje: o eleitor do Flamengo pode, com seu voto, facilitar ou tornar mais difícil, quem sabe até inviabilizando, o processo de transformação que há dois anos tomou o clube.

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Tudo bem. Se compararmos os dois primeiros anos da gestão dos "Blues", não podemos dizer que, em nível de efetividade, de títulos, tenhamos dado um salto de qualidade. Tirando a absurdamente desastrosa e catastrófica gestão que os antecedeu, na de Márcio Braga, por exemplo, na qual em dado momento houve a união de correntes políticas (Hélio Ferraz e Kleber Leite), o Flamengo também conseguiu conquistar estaduais, uma Copa do Brasil e fez até melhores campanhas no Brasileiro, além de ir bem na Libertadores. Mas será que é minimamente sensato analisarmos esse desempenho fora de contexto, sem levar em conta tudo o que está sendo feito no clube?

Redução de cerca de R$ 200 milhões na dívida e perspectiva de redução ainda maior em médio prazo, deixando o clube com grande capacidade de investimento no setor; Departamento de Futebol saneado e em paz, não gerando mais dívidas e sendo elogiado por todos os profissionais que por ele passam, desde atletas até diretores executivos remunerados; o clube fora das páginas policiais e de escândalos envolvendo atletas, seja por dívidas, seja por comportamentos indefensáveis extracampo (para atletas); programa de sócio-torcedor posto em prática, ainda que necessite de ajustes e aprimoramento; volta paulatina de patrocinadores, dado o resgate da credibilidade no mercado; regularização da dívida fiscal mediante a celebração de acordos com as fazendas federal, estadual e municipal, com isso sendo possível receber verbas de patrocínio de uma empresa pública federal sem qualquer atraso.

Mas os Blues foram perfeitos ou erraram na gestão do futebol até aqui? Sem dúvidas temos que reconhecer a existência de erros também. Dentre os erros, os mais relevantes foram as trocas e o número de treinadores e executivos do Departamento de Futebol, assim como a trapalhada jurídica no caso André Santos em 2013, e uma aparente demora na finalização do CT.

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Agora, prezado eleitor do Flamengo, eu lhe convido a uma reflexão: partindo da premissa, verdadeira, de que são figuras absolutamente estranhas ao meio futebolístico, podemos analisar esse desempenho sem levar em consideração todo o contexto exposto e que são novatos? E o mais importante: qual era e qual continua sendo a alternativa? Como transformar e modernizar o Flamengo? Isso por acaso ocorre em um passe de mágica, em um processo indolor e repleto de conquistas marcantes e vitórias?

A alternativa aos Blues, hoje, é abraçar o passado inglório e vexaminoso das duas últimas décadas e jogar no lixo as mudanças que evidentemente estão transformando o clube e o levarão ao mais alto patamar do futebol brasileiro em todos os níveis e não apenas nos aspectos de torcida e tradição/história.

A caminhada é árdua mesmo. Será que muitos de nós não nos deixamos tomar pela empolgação e achamos fantasiosamente que seria mais simples? Pois eu acho que o saldo até aqui é positivo e até esperado, se a análise for sincera e realista. E mais: eles errarão novamente e nós estaremos aqui, neste espaço, para apontar esses erros, pois críticas construtivas, acredito, são a maneira mais adequada de apoiar, como também para elogiar e festejar os acertos, pois torcemos sobretudo pelo Flamengo.

Mas para avançar, caro eleitor, você precisa, sem olhar para trás, continuar a caminhada e não parar no meio do caminho. Vote na Chapa Azul.

Bom dia e SRN a tod@s.