domingo, 5 de outubro de 2014

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Peço desculpas pelo atraso, mas hoje quero dedilhar ainda umas duas linhas de prosa sobre a conquista maiúscula do Flamengo semana passada, o maior título da história dos esportes olímpicos brasileiros, nível clubes, ao lado do feito do saudoso Sírio-SP em 1979.

O Campeonato Mundial de Basquete. MUN-DI-AL.

Gosto de basquete, acho muito mais interessante e dinâmico que vôlei, por exemplo. Aliás, talvez dinâmico em excesso, de forma que evito assistir a jogos em que o Flamengo esteja envolvido, pois o desgaste emocional é absurdo. É um jogo diabólico, que já matou gente, e, torcedor passional que sou, prefiro manter distância segura.

Mas mandei isso tudo às favas e acompanhei a Final do Mundial. E me impressionei com o altíssimo nível desse atual time do Flamengo. Não vou pagar de “especialista” que não sou, mas achei nosso time extremamente sólido, competitivo e disciplinado e, em que pese o nervosismo da partida, pode-se dizer que, salvo alguns momentos ali pelo terceiro quarto, o rubro-negro soube controlar o jogo, mantendo a vantagem de que precisava. Fiquei particularmente impressionado com Laprovittola (é isso tudo mesmo que dizem), Benite, e especialmente Meyinsse. Sem falar naquele demônio chamado Herrmann. Senhoras e senhores, Doval está de volta. E ele agora joga basquete.

Mas, repito, não é do jogo em si que quero falar, até porque vários portais e blogs já o fizeram com a peculiar competência.

Foi fantástico, emocionante, comovente mesmo, ver o Flamengo e sua gente comemorando, em belíssima comunhão, a conquista do topo do mundo. As imagens da taça boiando em um oceano negro e vermelho de gente são emblemáticas e dizem muito do que somos e representamos.

Mas o mais divertido, o mais suculento, o espetáculo farsesco, quase inverossímil, teve início tão logo acionou-se estridente a sirene indicando o zero no cronômetro.

A reação dos “outros”.

Sim, houve manifestações de elegância e esportividade, a começar pelo próprio adversário derrotado, um dos primeiros a felicitar, expressamente e sem entrelinhas, os novos campeões. Outros cumprimentos e palavras de estímulo também jorraram, no Brasil e no Exterior, como costuma acontecer diante de uma conquista expressiva. É campeão, parabéns, mereceu. Ponto. Não dói nada.

Campeão MUN-DI-AL.

Mas a praga clubista que assola e envenena a indústria de entretenimento esportivo brasileiro em TODOS os níveis (dirigentes, imprensa e torcida) jamais irá reconhecer a glória de um clube como o Flamengo. Diante do que li por aí, é de se imaginar a seguinte conversa (fictícia, mas nem tanto).

“Você viu? O Brasil ganhou o Mundial de Clubes de Basquete”.

“FOI MESMO? Não sabia! Que façanha impressionante! Que orgulho, ver o Brasil no topo do basquete”

“Verdade, foi uma belíssima vitória do Flamengo.”

“Epa, Flamengo? Ahn, não... pera... algo há de errado... Não, não, esse campeonato não é o principal... o outro time tava desfalcado... não, alguma coisa houve... merda, o Brasil continua sem ganhar nada.”

“Mas o Flamengo acabou de ser campeão”

“Se foi o Flamengo, não vale.”


E nesse contexto surgiram as mais diversas tentativas de desmerecer, diminuir ou relativizar a maior conquista a que pode almejar um clube de basquete masculino, o Mundial de Clubes, título que o Flamengo acaba de trazer para a Gávea. E o mais interessante foi constatar que mesmo “jornalistas”, “comentaristas” e “especialistas” embarcaram nas mais delirantes teses de tentativa de desconstrução, num embate desigual, visto que perdido de início, com os fatos. Ah, os fatos.

Repetindo: Campeão MUN-DI-AL.

Buscaram retirar legitimidade invocando a ausência de um representante de uma liga paralela (“não havia clube da NBA”). Talvez também estivessem sentindo falta dos Globetrotters. Outros, num risível esforço acrobático, simplesmente tentaram se desviar da natureza do título (“não foi Mundial, foi Intercontinental”), “ignorando” o singelo fato de que se tratou de uma partida entre o campeão europeu e o campeão das Américas (Intercontinental não pode, mas “Copa Rio”, “Torneio de Paris” pode. Claro, claro...). Alguns ainda, demonstrando impressionante “conhecimento”, invocaram a “inexpressividade” do rival (“Flamengo enfrentou galinha-morta”), um adversário que é somente o SEGUNDO maior vencedor da história da Euroliga de Basquete, com SEIS títulos, sem falar na absoluta ignorância da realidade geográfica da modalidade, que possui ligas e clubes fortíssimos no Leste Europeu e arredores. Por fim, houve quem, num laivo de informação, alegasse que “o adversário estava se reestruturando”, o tipo de desculpa de quem já não tem para o que apelar.


Mais uma vez: Campeão MUN-DI-AL.

Portanto, caros flamengos, não esperem afagos ou demonstrações altivas de reconhecimento. Não procurem em vão grandeza onde viceja o recalque. Não tentem dialogar a sério com quem busca reduzir fatos a cambalhotas retóricas que distorcem acontecimentos com lisa desfaçatez. Com quem ainda acha que a Libertadores-81 não tinha argentinos ou que o Mundial do mesmo ano não valeu porque um site de humor inventou uma entrevista do goleiro dos ingleses alegando suborno.

Apenas desfrutem. Comemorem. E tripudiem. Tripudiem sem cansar.

Nunca, jamais, sintam pena.

Finalizo lembrando aos amigos o seguinte: foi disputado um troféu. Uma taça entre o melhor da Europa e o melhor das Américas (seus respectivos campeões). Desse cotejo emergiu um vencedor. Clube este que, ao erguer o troféu de campeão do mundo, desde já adquiriu o direito de ostentar a todos sua condição de melhor do mundo. É o campeão mundial, logo, trata-se do melhor do planeta.

Assim, o CR Flamengo possui hoje o MELHOR TIME DO MUNDO de basquete masculino.

Repetindo: ME-LHOR DO MUN-DO.

Isso é fato. É objetivo. A comprovação, sólida, palpável, é o troféu na prateleira. O resto é opinião subjetiva. Papo de torcedor.


Boa semana a todos.