terça-feira, 15 de julho de 2014

Um pouco de Ordem no Caos

Depois do “sapeca iaia” da Alemanha sobre o Brasil numa SEMIFINAL DE COPA DO MUNDO EM CASA, decidi reeditar e uma ideia antiga de post para formação e reestruturação do trabalho de base no futebol brasileiro. Foi uma vergonha o que se passou diante de nossos olhos, e não tem como fazer o Flamengo, nosso assunto diário, nosso amor maior evoluir, sem a responsabilização da CBF, que em nada ajuda aos clubes. Deixo claro que é muito melhor uma reestruturação do Flamengo do que do "futebol brasileiro".

O Trabalho feito pela DFB (Confederação Alemã de Futebol)  ficou visível, mas vem de "longe", 2000, depois de uma pancada da República Tcheca e uma eliminação traumática na primeira fase da Eurocopa. Com a cegueira dos vaidosos cebeefeanos não consegue que se avance, que se pense no futebol para além de dinheiro e poder. Lá na Alemanha todos estavam envolvidos, do presidente até a comissão técnica, houve cuidado com a estrutura dos clubes de 1ª, 2ª e agora terceira divisão da liga alemã. É impressionante.

O engraçado (engraçado...) é que a partir desta temporada 2014/2015 como o planejado pela DFB desde 2000 (não exatamente em 2000) as equipes da terceira divisão do futebol alemão tem a obrigação de ter além de equipes de base, CTs com instalações para profissionais e categorias inferiores certificadas e vistoriadas pela DFB. TERCEIRA DIVISÃO! Atualmente não há incentivo nem aos grandes clubes para investimento em estrutura. Acompanhamos o sofrimento do Flamengo para terminar o seu CT profissional (sofrimento ocasionado também por péssimas administrações anteriores), sem qualquer tipo de incentivo do Estado ou apoio da CBF, que deveria fomentar o futebol no país.

Há um padrão a ser seguido, há um modelo estruturado, há planejamento e execução, com intercâmbio. A DFB tem em seu cadastro atual mais de 366 Centros de formação de atletas, que alocam e formam treinadores, gestores, PROFISSIONAIS DO ESPORTE, no caso o futebol. A bola realmente não entra por acaso. Nem 7 vezes. Tenho quase certeza de que o modelo que proponho para formação de novos atletas de futebol no Brasil não é o ideal, mas como não há modelo algum e diante do tamanho do Brasil e nossas peculiaridades, poderia funcionar, ser o pontapé inicial para algo visando os próximos 10, 20 anos. Não tenho a pretensão, mas como amante do futebol, reflito sobre a condição geral. Acho apenas que dá para focar primeiro em 20, 30 grandes clubes e depois formar pequenos núcleos aprimorados depois das experiências nos clubes maiores.

O que forma um atleta em minha visão é treinamento e competição, condicionamento (isso se próximo da idade competitiva, para menores de 14 anos, o modelo não serviria). Hoje os clubes grandes do futebol do país se baseiam nos campeonatos estaduais para essa formação, que é até justo em se tratando de um país com as dimensões territoriais do Brasil. É muito bom para a garimpagem de talentos, mas é pouco no que se propõe às competições. A grande questão da formação é a dúvida entre “formar” e “competir”. As duas coisas podem andar juntas, desde que a CBF ajude aos clubes, com cursos, congressos, simpósios onde se possa discutir os rumos do futebol brasileiro desde a base.

Padronizar é quase impossível e nem seria legal para a formação, até porque, cada região tem sua característica e cada clube tem sua cultura. O futebol baiano é mais impulsivo, o gaúcho é mais físico, o paulista é mais tático, o carioca é mais técnico, em via de regra, mas nada fechado, pensado, preestabelecido. É algo cultural mesmo, que tem a ver com a formação do povo, características climáticas e outros aspectos. Quem se beneficia disso tudo é o futebol brasileiro, com características e regionalidades, escolas de futebol dentro do próprio país.

Penso ser ideal formar competindo, porque vencer ou perder faz parte da formação. Na Alemanha, Inglaterra e Itália existem os campeonatos de reservas (Itália não), de aspirantes (Sub-21) e sub-18, para os clubes da liga. É muito mais simples se modificar o calendário da base, do que no futebol profissional. E “financiar” também: Para quê servem os 14 patrocinadores da CBF? Uma medida para catalisar, aprimorar a formação dos atletas, principalmente os que jogam (ou jogarão) em grandes equipes, sem asfixiar as pequenas equipes é dar rodagem aos atletas. Aumentar o intercâmbio entre estas escolas tradicionais sem “uniformizar demais”.

O modelo que proponho é conhecido no tênis e aplicável ao futebol, mesmo que já exista na base, de forma não integrada, os grandes torneios abertos, como a taça São Paulo de futebol júnior ou a Taça BH. Se observarmos existem outros torneios com tradição, não apenas a copinha, porém estão “isolados” no calendário, poderiam se integrar e esta é a novidade proposta. Os torneios em questão são a Taça Rio Sub-17, a Taça BH de futebol júnior e o campeonato brasileiro sub-20, que é jogado no Rio Grande do Sul.

Um dos grandes erros na formação brasileira é a falta de padronização na idade dos atletas que estão disputando as competições. Tem clube que na mesma temporada disputa a torneios sub-18, sub-19 e sub-20. Isso eu ouvi do treinador do Atlético-MG, semifinalista da Copa São Paulo, em entrevista ao canal Sportv. Equalizando as idades nos torneios em sub-18 e sub-21, a formação seria menos “atabalhoada” e existiria mais tempo para a maturação dos atletas, melhor formação, pois alguns jogadores amadurecem mais tarde. Como disse, existe na Europa em torneios sub-21.

Caso a seleção precise modificar a idade para poder jogar a um torneio sub-19, seria apenas a seleção, não o clube e isso não atrapalharia a formação em si. A criação de um grande campeonato nacional e a integração dos grandes torneios daria visibilidade ao trabalho, e traria a torcida para perto de seu clube, só vejo vantagens nissoDefinindo a Copa SP e o Campeonato Brasileiro (no RS) que tem maior visibilidade (e que seria renomeado de “Taça dos Pampas”) para a categoria sub-21 e as tradicionais taças Rio e BH para sub-18, ajudaria a ampliar a cultura destas competições.

A própria CBF deveria criar uma liga de base para tomar conta destas competições, com seu suporte (entre os profissionais deveria estimular a liga e cuidar apenas da seleção brasileira e da copa do Brasil, mas isso é assunto pra outro post), para formaum campeonato Brasileiro Sub-21 e um Sub-18 (turno e returno) onde obrigatoriamente os clubes da primeira divisão do campeonato brasileiro profissional devem participar formando equipes (todos tem).

As partidas destas competições não seriam preliminares dos jogos dos profissionais. Preferencialmente os jogos da categoria sub-21 se realizariam no meio da semana pela tarde, com possibilidade inclusive, de transmissão por TV a cabo, de dois ou três jogos por semana e os da sub-18, nos finais de semana para favorecer aos estudos dos atletas (com as viagens). A CBF ou a liga definiria o seguinte:

Sub-21
A Copa SP, se tornaria o “1º slam”, sub-21 em janeiro, como é hoje, na mesma data e formato; de Fevereiro a Maio seria disputado o primeiro turno com 20 equipes em 19 rodadas; em Junho o “antigo Brasileiro Sub-20” se tornaria a Taça dos Pampas, e com o mesmo formato da Copinha, como um torneio aberto com equipes de todo o país, seria o segundo “slam”; de Julho a Novembro seria disputado o returno. A ajuda da CBF se daria por meio de seus patrocinadores, que teriam a possibilidade de comprar o direito de nome dos campeonatos, inclusive contribuindo na redução dos custos de viagem e estadia.

Em Novembro, os campeões dos “Slams” e os campeões dos turnos fariam um torneio rápido, um quadrangular, numa cidade que se candidataria, para ver quem se sagraria o “supercampeão brasileiro Sub-21", com transmissão de TV se possível aberta e por cabo. O supercampeonato seria disputado no formato “todos-contra-todos” com os dois melhores fazendo o jogo final e se tornando o grande campeão da temporada. Estes torneios sub-21, ajudariam no processo de desenvolvimento dos atletas, aqui, no futebol brasileiro, sem esquecer dos espaços para que os clubes fizessem excursões pelo Brasil e pelo mundo, gerando renda e levando as marcas onde normalmente onde eles não poderiam ir.

Com um calendário mais longo e espaçado favoreceria os treinos de fundamento e os técnicos, que junto com os táticos, formariam atletas melhores no médio prazo. Excelente seria se fossem costuradas parcerias com empresas aéreas e com redes de grandes hotéis para nomear os turnos e um aberto e o outro patrocinador para o returno e o outro “slam”, reduziriam se os custos.

Sub-18
Para os torneios Sub-18, o molde é o mesmo, repetido, apenas os “slams” teriam outras datas. A Taça Rio (nos mesmos moldes da Copinha, só que para o Sub-18, como um “open”) iniciaria a temporada Sub-18 em Fevereiro; o turno seria de Março a Junho; em Julho se disputaria o “2º open”, a Taça BH; de Agosto a Novembro o returno; com o Supercampeonato Sub-18 em Dezembro, numa cidade diferente do supercampeonato Sub-21. As federações estaduais cuidariam das competições sub-16 e menor. E dos outros que não participam da primeira divisão do campeonato nacional profissional.

O calendário das categorias de base seria diferente do calendário do profissional, porque o que importa é a formação dos atletas e dos homens, privilegiando aos anos letivos. Portanto, uma eventual mudança do atual calendário anual não impediria a subida de um talento para a equipe profissional. Não há formação apenas com o treinamento, Com competição também se forma atletas e clubes vencedores. Seria bom pra todo mundo.

Nem falo aqui de novas técnicas de formação e observação, acho que isso é trabalho dos clubes, e não tenho conhecimento técnico pra isso. Falo de integração entre os grandes centros formadores de atletas, onde há certa estrutura. Que se comece pelos “clubes de massa” e se espalhe pelos outros, como na Alemanha, que iniciou o trabalho da primeira divisão e hoje se estende até a terceira divisão. Todos os clubes de primeira divisão tem que disponibilizar um CT para as categorias de base, senão não participam da competição. Isto posto, os 18 clubes tem verba garantida para a manutenção destes CTS, verba disponibilizada pela DFB e pela Bundesliga (liga Alemã). O que falta para que isso ocorra no Brasil? Que a lei de responsabilidade fiscal do esporte imponha isso aos clubes, um novo direcionamento. A ver.