terça-feira, 20 de maio de 2014

Sócio que é Sócio


Como lidar com o Maracanã e favorecer ao clube e a seu torcedor? Apresentamos uma ferramenta que pode ser importante, para nós curiosos, que sempre se perguntam como é que com uma renda “x” o Flamengo arrecada apenas “y”? Trata-se de um site, o Sócio que é sócio, que se propõe a ajudar aos torcedores que não tem ferramentas à mão para entender o quanto custa para o Flamengo, cada ingresso vendido. Nos termos atuais, a relação com o Maracanã S/A é prejudicial. Observaremos todo e qualquer valor descrito nos borderôs dos jogos com a nova ferramenta, uma calculadora de ingressos.

Esse post é uma construção coletiva, um projeto que gostaríamos de apresentar para os leitores dos blogs e torcedores do Flamengo, principalmente. Conhecer o que está por trás de alguns aspectos obscuros do futebol é bom, conhecimento sempre é bom, até para pressionar ao consórcio, ao Governo do Estado, que construiu o estádio, mas o licitou e ao próprio Flamengo, como instituição, pois existem situações perceptíveis em seria melhor baixar o valor do ingresso médio para se obter lucro e mais público.

Trata-se de um projeto independente e os envolvidos nele são Gustavo Berocan, do Acima de Tudo Rubro-NegroGustavo Garcia, do SouFla; e Gustavo Manso, dono do Histórico futebol melhor, do Twitômetro; e Luiz Filho, colunista do Buteco do Flamengo. Também está associado ao projeto o colunista do Buteco, Guilherme de Baère.

A página buscará a interatividade através da simulação dos resultados financeiros dos jogos do Flamengo, por uma base histórica pesquisada e criada no portal. Cada usuário poderá simular valores, público e ingresso médio, buscando entender o que se passa por dentro do borderô, sabendo de despesas, penhoras, lucros, etc., detalhando como, onde e para quem vai o dinheiro dos ingressos, pago pelos torcedores. A comparação crescerá na medida que recebermos o feedback dos usuários, além de conseguirmos desvendar os mistérios de borderôs de outras equipes, para que haja uma comparação justa.

Para um futuro próximo, estão no campo de visão, análises comparativas dos contratos do Fluminense para tentar descobrir até que ponto o contrato do Flamengo com o Consórcio Maracanã S/A é vantajoso ou desvantajoso. A ideia é (se possível) estender as comparações e a “brincadeira” dos valores no Maracanã para os contratos de Brasília, onde a arrecadação é mais vantajosa, os do Fluminense, Cruzeiro (Minas Arena), Bahia (Fonte Nova S/A), onde há concessão, e numa terceira fase Internacional e Corinthians (Copa do Mundo), e Palmeiras e Grêmio (contratos independentes).

Os cálculos já executados com a calculadora de ingressos, nos demonstrou o quanto o Maracanã é prejudicial, com suas taxas excrescentes. Perceberemos com mais clareza e objetividade, o como e o porque o estádio se tornou o "mais caro do Brasil". Com o nascimento das novas arenas, surgiram “penduricalhos” nos borderôs de boa parte dos clubes que são mandantes, tendo “mais gente para dividir o bolo”.

No Rio, o Consórcio é “apenas mais um encostado”, que os clubes são obrigados a sustentar, como se já não bastasse a farra das gratuidades e meias-entradas, a FERJ, os Escoteiros (você não leu errado!), os ex-atletas (FUGAP) e cronistas esportivos (Acerj), chegou mais um faminto para dividir o bolo solado. Quando os cronistas esportivos defendem que o Flamengo deve jogar no RJ e não fora do estado, fica mais fácil entender o lado deles, afinal dói no próprio bolso. Se o preço dos ingressos está caro, agora temos uma lista de culpados, não apenas o clube.

Simulamos as rendas dos outros 19 clubes do Brasileirão para entendermos como seriam jogassem no Maracanã, com as mesmas condições, com o contrato do Flamengo. Para isso, utilizamos os borderôs das últimas partidas jogadas em suas casas. Este levantamento foi feito em 14 de maio de 2014. Reiteramos que a ferramenta utilizada, foi obviamente, a calculadora projetada para o site Sócio que é Sócio. Vamos aos números:


Entendendo as tabelas acima, demonstramos a rodada que aconteceu o último jogo em casa (até a data pesquisada), o público pagante, a renda bruta da partida, renda líquida para o clube mandante, a renda líquida se o mandante jogasse no Maracanã (contrato Flamengo), a diferença entre a renda real do mandante e a renda que o mandante receberia caso jogasse no Maracanã. Em apenas dois casos, o mandante receberia uma renda maior se jogasse no Maracanã, sob o contrato do Flamengo. Seria o Palmeiras e pasmem senhores, o Botafogo. Que situação!

Botafogo mandou seu jogo no Maracanã, mas seu contrato parece ser bem ruim. Se tivesse o contrato do Flamengo teria obtido lucro de R$ 748,65, porém, teve prejuízo de R$ 65.514,17. Tem coisas que realmente só acontecem com o Botafogo... O Palmeiras jogou no Pacaembu e conseguiu a façanha de uma renda menor que a dos clubes cariocas, sob contrato com uma concessionária. Sob o contrato do Flamengo, teria R$ 17.481,12 a mais em seus cofres.

O exemplo extremo oposto é o caso do Internacional, que se tivesse que sustentar o Consórcio Maracanã, a Ferj, os Escoteiros, os ex-atletas e os cronistas esportivos, teria uma renda de apenas R$ 285.641,06, ao invés dos R$ 808.158,00. Seriam R$ 522.516,94 a menos nos seus cofres. Parece não ser muito olhando um jogo separadamente, mas isso representaria R$ 9.927.821,86 durante todo o campeonato. Faria falta no bolso de qualquer clube brasileiro, uma grande diferença.

Tentando entender a situação como um todo, "descobrimos" como a lei de meia-entrada prejudica aos clubes do RJ. A lei obriga aos clubes de futebol e casas de espetáculo a "entregar" a meia-entrada inclusive em ingressos promocionais, a famosa "meia da meia" pro Sócio Torcedor. Ela por si só atrapalha a opção por um ingresso médio mais baixo, derrubando a relação custo-benefício. A lei sancionada em 2000, e se somada a lei das gratuidades, que só existem no Estado do RJ, se transformam no “combo jabuticaba carioca”. Anthony Garotinho, era o governador (link da lei na íntegra). Vejam ao trecho que na prática obriga o repasse do “desconto”:
Art. 2º - Consideram-se casas de diversões, para efeitos desta Lei, os estabelecimentos que realizem espetáculos musicais, artísticos, circenses, teatrais, cinematográficos, atividades sociais, recreativas e quaisquer outros que proporcionem lazer e entretenimento.
Parágrafo único - A meia-entrada corresponderá sempre à metade do valor do ingresso cobrado, ainda que sobre os preços incidam descontos ou atividades promocionais”.

O modelo atual do Maracanã é muito ruim para o Flamengo, que deve pensar em alternativas viáveis, sem ter que sustentar todos os pesados "penduricalhos" dos borderôs, com todos os seus dependentes. A taxa cobrada pela Ferj é mais do que o dobro do que a taxa cobrada pela Federação Gaúcha. Qual a razão para isso? Reduzir esta discussão e colocar toda a culpa dos preços dos ingressos na conta dos clubes cheira a populismo barato, de quem não se dá ao trabalho de se informar e estudar as raízes do problema.

Para que os preços dos ingressos possam cair, sem prejudicar os clubes do Rio, o debate deve ser mais amplo, colocando na mesma mesa o Consórcio, a FERJ, o governo do estado (gratuidades), os escoteiros, os cronistas esportivos e os ex-atletas. Enquanto a mídia insiste em atacar apenas os clubes, o Consórcio e a FERJ vão faturando alto. Compare as arrecadações do Consórcio, da FERJ e dos clubes do estado do RJ, no Campeonato Brasileiro de 2013, e tire suas próprias conclusões:

Objetivamente, a melhor forma de se trazer torcida para os jogos e renda para o Flamengo é a produção de um carnê de temporada, um “season ticket”. Ainda dá tempo para se construir um pacote para os últimos dez jogos com mando de campo no Brasileirão 2014. Não podemos esquecer que neste ano corrente, o clube realizou a comercialização de 23.500 pacotes para a Taça Libertadores, mesmo com a “não tradição” nesse tipo de promoção e venda. Uma marca considerável. Jogos das últimas 10 rodadas:
São boas as partidas para se oferecer um pacote. Os primeiros jogos são clássicos, os últimos são contra rivais de relevância e torcida regional, e em reta final de campeonato. O clube teria o mês de Junho, a Copa do Mundo para poder massificar a propaganda, com o marketing trabalhando na venda dos pacotes, já que existirá o fator “saudade do Flamengo”. Vendendo parcelado, o custo para o torcedor seria diluído, não esquecendo que esse torcedor arca com o valor das mensalidades do programa Nação Rubro-Negra. Se parcelável em até 6x (Jul, ago, set, out, nov, dez), esse pacote seria uma alternativa capaz de obter uma “base de torcedores” no estádio, receita nova e limpa, empurrando a equipe e criando uma demanda de nova de ingressos avulsos, nos dias de jogos.Tabela de valores, pacotes, capacidade, disponibilidade e outros itens:
Como existe o Fla-Flu com mando do Flamengo, e um acordo entre os clubes, não existiria venda de pacotes para setor sul do estádio, destinado à torcida do Fluminense no clássico, porém todos os outros setores estariam disponíveis, inclusive os “mistos”. Com a medida, o setor Sul seria vendido como ingresso avulso em sua totalidade (85%, desconta-se 15% para as gratuidades por lei), com o valor majorado em relação ao setor Norte. 

O pacote poderia ser vendido até o dia 20/09 véspera do Fla-Flu, terceiro jogo do pacote. Após a esse período somente ingressos avulsos. Seriam postos a venda 26.050 ingressos, que representam 53.1% da capacidade a ser vendida pelo Flamengo e 33% do total do estádio. Não há empecilho algum para a criação de carnês de temporada, basta apenas que a diretoria repassasse o valor referente aos ingressos vendidos nos pacotes para a concessionária, a cada partida disputada, transformando-a em “prestadora de serviços para o clube”, não parceira na venda dos ingressos.

Atualmente, a bilhetagem dos jogos do Flamengo no Maracanã fica por conta do consórcio, no novo contrato firmado. É perceptível com uma análise minuciosa dos borderôs dos jogos com mando do clube, no estádio. A possibilidade de vender os pacotes mesmo sem a “bilhetagem controlada” pela concessionária é real e possível com o cartão-ingresso do Sócio Torcedor, que seria ativado. Certamente, o clube ganharia com novos STs e teria ainda a Copa do Brasil para aumentar o valor do ingresso avulso e por consequência do ticket médio fora do pacote, se necessário. 

Culturalmente, o torcedor de futebol no Rio de Janeiro decide ir aos jogos no dia ou muito próximo, e esse é um complicador em relação ao planejamento e antecipação de receitas para a montagem do elenco. O Ingresso de temporada reduz essa defasagem e é utilizado a mais de 120 anos na Europa, e como podem perceber, é mais antigo do que o Clube de Regatas do Flamengo, uma curiosidade.

Conhecendo a peculiaridades da torcida do Flamengo posso afirmar que ela prefere estádios cheios, logicamente. Quando exiete uma base, uma previsão de casa cheia, confirmada pelos pacotes vendidos anteriormente, fica “mais fácil” lotar o estádio. Essa afirmação é subjetiva, uma percepção da realidade baseada em observação. Quantas foram as vezes que nós rubro-negros não fomos ao estádio por imaginá-lo lotado? Há o famoso “ih, o jogo é domingo... venderam 30.000 até ontem... vamos comprar”?! Na hora da partida (Bum!), 50.000 pessoas no estádio.

O torcedor é passional, movido pelo espetáculo que promove nas arquibancadas, curte entrar no jogo e cobrar, participar. Se houver um pacote garantindo uma presença mínima de pessoas no estádio em todos os jogos, outros torcedores se “contagiarão” e irão aos jogos, mesmo “pagando mais” num ingresso avulso. Essa é a parte aproveitável da cultura do em cima da hora compro até com cambista! Essa base de exatamente 26.050 torcedores, impulsionará a venda de ingressos avulsos, gerando arrecadação maior. Com uma média que enxergamos como possível de 40.000 pagantes, os quase 14.000 pagantes avulsos elevariam o ingresso médio e o lucro do clube.

Abaixo, uma projeção de receita com a arrecadação mínima possível e a arrecadação máxima possível dos pacotes demonstrados. Já estão descontados os impostos e tudo o que normalmente é descontado nos borderôs das partidas do Flamengo no Maracanã, inclusive o valor de bilhetagem. Os valores afirmados abaixo são referentes a cada partida e produto da calculadora de ingressos. Para saber do valor referente a todo o pacote, basta multiplicar os valores por 10x (Nº de jogos):


Dá para notar um ingresso médio dos pacotes mais baixo do que o normalmente é buscado pela diretoria (“meta” de R$ 50,00, observada nos borderôs analisados, com pouca oscilação). Assim, o clube não teria prejuízo, mas o lucro seria menor. Em contrapartida, esse lucro baixo compensaria de duas formas: Primeiro, os ingressos avulsos automaticamente subiriam o valor do ingresso médio e o lucro buscado pelo contrato, onde o valor mais alto do ingresso dá mais luro para o Flamengo. Segundo, há a questão imaterial do ingresso mais barato e um público maior com mais pessoas no estádio. 

A força do time em campo é inegavelmente maior com a pressão das arquibancadas. Hoje, nem de graça os torcedores querem ir aos jogos do Flamengo, basta perceber que a maior parte dos ingressos separados para gratuidades são devolvidos. Então como mudar o “estigma do estádio vazio, mas bolso cheio”? Com o ingresso de temporada e valor mais baixo, repito. 

O pacote de ingressos é um modo de “dar tempo” para uma reformulação no programa de sócio torcedor, que atualmente só oferece uma pequena contrapartida ao associado. O ingresso traz receita dividida com a concessionária, mas o plano de ST dá receita direta ao clube. O pacote equilibra a questão. Há de se pensar nele, para ontem. Aproveite e calcule o que quiser com a calculadora de ingressos do Sócio que é Sócio.


P.S.: Não posso deixar de lembrar que um dos responsáveis por este projeto foi a calculadora do Thiago, que deu base para o inicio das pesquisas, abriu para mim o "mundo dos borderôs". Muito Obrigado, Thiago Gonçalves!