terça-feira, 25 de março de 2014

Em Qualquer Lugar, Flamengo!


A conquista da Liga das Américas, pelo time de basquete do Flamengo tem algo a ensinar ao futebol. Não vou aqui me referir a vontade, espírito rubro-negro, porque isso não falta ao futebol, mesmo nessa difícil Libertadores. Falo de planejamento, execução, evolução. A "diretoria azul" assumiu um clube péssimo como um todo. Modalidades ocas, mal administradas, o clube quase falido e envolto em dívidas, porém com um “oásis improvável”, o basquete. O que fazer? O mais normal, seria implodir o que há de bom, para construir algo novo, ora! É da tradição politica brasileira. E o que fizeram? “Apenas” melhoraram o que já era bom. 

O basquete tinha sido semifinalista do NBB4 e Arnaldo Szpiro, ex-diretor da modalidade, com sua equipe, ancorada em estrutura anterior, configurada por João Henrique Areias em 2009, montou um time fortíssimo. Mesmo com o 3º lugar no NBB4 foi realizada uma limpa! 

Permaneceram apenas três jogadores: Marcelinho Machado (que se contundiu na primeira partida do NBB5), Duda e Caio Torres. Seis reforços chegaram, todos importantes em seus clubes anteriores e com brilho na temporada. Foram eles: os armadores Gegê e o ganês Kojo Mensah; o escolta Vitor Benite, o ala Marquinhos, o ala-pivô Olivinha e o pivô Shilton, além do Treinador José Neto, assistente-técnico da seleção brasileira.

A equipe montada para a temporada 2012/2013 já era a mais versátil do Brasil e sua força estava na coletividade, comprovada com o título do NBB5, já na nova gestão (o início do NBB é em Novembro e o término em Maio). Algumas situações encontradas e praticadas no basquete foram cruciais para chegarmos no ponto onde estamos:
  • A modificação da filosofia de jogo, tentada já em 2011/2012, mas que funcionou de fato em 2012/2013 com a troca do comando técnico (vinda de José Neto e saída de Gonzalo Garcia). Implementada pelo novo direcionamento da modalidade;
  • Da equipe efetiva do basquete são aproximadamente 55% formados em casa 5/9 (Marcelinho, Duda, Olivinha, Benite e Gegê) e 45% de fora, 4/9 (Shilton, Marquinhos, Caio Torres e Kojo). A formação no basquete é muito boa e a safra sendo trabalhada teremos times por muitos anos:
  • Atenção à formação, com o treinador profissional, o vencedor Paulo Chupeta, indo para a reorganização das categorias de base (essa condução não pareceu bacana naquele momento, porém deu certo);
  • Como no basquete moderno o jogo coletivo é o mais importante e ele somente, e tão somente, realça as qualidades individuais de cada atleta. À princípio, na temporada 2012/2013 só existia um jogador "fixo" por característica de jogo, estilo, Caio Torres  na posição 5 (pivô).
  • Versatilidade total. Marquinhos, por exemplo, poderia jogar em três posições diferentes 2/3/4, mas preferencialmente joga na posição de definição das jogadas, a posição 3, na Ala.
  • Com a contusão de Marcelinho Machado, foi contratado um jogador para suprir algumas das necessidades da EQUIPE. Bruno Zanotti é um bom jogador, mas foi fundamental na decisão do campeonato, onde o Flamengo se sagrou campeão, em jogo único. Ajudou demais a anular as principais características do adversário.
  • Como a diretoria e a comissão técnica pensam em evolução, dispensaram algumas peças importantes no título, mas montaram um time novo, num elenco base. A equipe ficou mais forte e o elenco melhor distribuído, com peças e características novas. Zanotti não renovou, assim como Kojo, o armador e Caio Torres, o pivô eleito o melhor jogador da decisão. Caio Torres preferiu mudar de equipe.
  • As novas peças fizeram do time mais versátil ainda, perigoso, completo. Vieram Nico Laprovítola, armador; Jerome Meyinssse, pivô e Cristiano Felício, Pivô. Três excelentes aquisições. Logo depois da contusão do ala-armador Vitor Benite foi contratado Tony Washam.
  • Todas as peças contratadas são bem utilizadas, e ainda assim, há espaço para jogadores mais jovens, das categorias de base como Gegê, Diego, Chupeta e o próprio Felício, que foram campeões da liga de desenvolvimento, o campeonato sub-22 do NBB (LNB – Liga Nacional de Basquete).
O próprio treinador ressalta a diferença dos dois times. O de 2012/2013 para o de 2013/2014:


"De acordo com Neto, a diferença entre o elenco atual e o do ano passado, que sequer figurou entre os quatro primeiros, passa pela questão da experiência das equipes. 
- É um grupo diferente, jogamos taticamente de maneira diferente. Mas um quesito muito importante é a determinação, isto que não pode faltar. Depois, taticamente e tecnicamente, a gente vai mudando o que pode. Isto existia nos dois grupos. Neste grupo, nós temos o fator maior de experiência, que é a participação maior do Marcelo, que contribui muito como líder, e as vindas do Tony (Washam), Jerome (Meyinsse) e o Nicolás (Laprovittola), que somaram muito para o grupo com suas experiências vencedoras".
Mesmo que virtualmente, já que não dá para um jogador enfrentar a si mesmo, o Flamengo de 2014 venceria o Flamengo de 2013. Assim deve ser no esporte competitivo.

O “Final Four” da LDA, realizado e promovido pelo Flamengo, funcionou em todos os sentidos. Agora temos um mundial no Rio para realizar e vencer. O evento do final de semana passado foi bancado por dois patrocinadores, que não mancharam ao uniforme, ficou lindo com as marcas em branco no fundo vermelho e preto do Manto Sagrado, nada de Azul e Laranja...

Uma preocupação era a vinda dos torcedores da equipe do Aguada, do Uruguai, adversário do Flamengo na semifinal, fizeram uma bonita festa, tentando rivalizar com a nossa torcida. Quase 1000 torcedores de basquete. Bacana. Mesmo, perdendo a cabeça durante o jogo e com a arbitragem e a derrota, trouxeram ao Rio de janeiro o valor de uma palavra: Solidariedade. "Sacramentaram" um acordo com o Vasco da Gama para encher as cisternas de nosso rival. Além da torcida, e do choro pela derrota, trouxeram do Uruguai a chuva. Parabéns Aguada! Mas nosso chope foi 100%! 

Houve ainda uma receita de R$ 442.040,00 e um público pagante de 16.657, sendo 9.546 na decisão ou 95% da CAPACIDADE DO GINÁSIO. O trabalho foi muito bem feito. Acho que ao menos paga os prêmios do título e ainda sobra uma grana. Não posso de modo algum esquecer, ressaltar, enaltecer, o que essa diretoria trabalhou para que a decisão fosse na casa do Flamengo.

Hoje os comandantes dos esportes olímpicos do clube (em especial o basquete) não tem paralelo em lugar algum do Brasil. Mesmo no excelente Pinheiros, atualmente o maior clube olímpico do país, quem sabe das Américas, adversário da decisão. Alexandre Póvoa, Marcelo Vido, André Guimarães e outros menos conhecidos do grande público, trabalham demais. É o que a gente lê, ouve e percebe. Eles são os responsáveis por esse novo Flamengo. Um Flamengo que tenta sair do buraco com criatividade e trabalho competente, duro. Com CND, incentivo fiscal via contribuinte e projetos aprovados, patrocínios, bilheteria e sem dever nada a ninguém.

Teremos um clube mais forte no futuro, já temos no presente. Quero um Flamengo forte, rico, global, mas campeão, sempre competitivo. O mais legal de tudo foram os momentos que ficarão guardados na lembrança, na história do clube. Mesmo que alguns não curtam basquete, não se pode desmerecer uma conquista legitima e histórica do clube. Jamais! Somos todos Mengo!

O Esporte Olímpico do Flamengo parte para a sua sustentabilidade e com vitórias como esta, consolida sua competência. Houve uma continuidade competente na modalidade, difícil de existir, mesmo que apenas um jogador tenha permanecido por todo o tempo, o maior jogador de basquete da História do clube, Marcelinho Machado. MarceZico, para os mais eufóricos. Eu mesmo fui contra sua permanência em certo momento, mas vejo em MM respeito por sua própria careira, seu clube, sua história. Quem imaginaria no ultimo quarto de uma partida decisiva a bola fora das mãos dele? Estava "debaixo do braço" de Marquinhos, outro monstro!

É o senso coletivo e a experiência citada e imposta por José Neto. Flamengo campeão da LDA e preocupação ZERO com as renovações do time para o mundial, já que somente Marquinhos, Marcelinho e Felício tem contratos longos. Alguém vai querer ficar de fora do mundial? Acho que não. Não é preciso destruir o que é bom. Se há competência tente evoluir, foi o que ocorreu. Obrigado por tudo! O BASQUETE É O ORGULHO DA NAÇÃO! Eu teria um desgosto profundo, se faltasse o Flamengo no mundo...

Pela primeira vez farei uma coluna dedicada. Dedico essa coluna a meu pai que me fez Flamengo, não há sensação melhor, e à minha namorada, a quem transformei em uma nova Rubro-Negra. Ela não gosta de futebol, nem deve assistir aos jogos da copa do mundo, onde boa parte que não acompanha o dia a dia do futebol, assiste. Na sexta, me acompanhando no Maracanãzote, ela perguntou sobre regras e bateu palmas tímidas; no sábado ela pediu faltas, bateu palmas efusivas, comemorou pontos. Entrou no ginásio com dor de cabeça e saiu “boa”, com uma vitória do Flamengo. Aprendi direito com meu pai, repassei: Ubique, Flamengo! 


P.S.: Recomendo demais os blogs Garrafão Rubro-Negro e Ninho da Nação. O trabalho desses caras é sensacional. Para quem não conhece: