O jogo final se
aproxima.
A consumação de uma
temporada dura, dolorida, marcada por crises e pela inesgotável capacidade
flamenga de ressurgir das cinzas, alimentando-se do caos e da terra arrasada, estapeando
as apressadas previsões de cassandras sequiosas por seu perecimento.
Porque, contra todas as
expectativas, o Flamengo está na decisão.
Decide o título contra
um adversário que, inicialmente, dispõe de um favoritismo largo, amplo, desses
que não se admitem discussão ou análises mais lúcidas. É o provável campeão e
pronto. Até há certo fundamento. Seu time é jovem, impetuoso, vertical, e
conseguiu montar um sistema ofensivo mortífero, capaz de marcar gols em cachos.
Tudo sob o comando do já experiente líder, anos e anos de clube, acostumado a diversas
batalhas.
O Flamengo possui um
time em construção, conjugando jovens da base, reforços baratos, apostas e
remanescentes de outras gerações, sob a batuta de um treinador em início de
carreira. Um time que vai sendo forjado no ardente fogo das incessantes
intempéries que permeiam sua trajetória. Uma penca de vezes é tido como eliminado
antes mesmo da peleja, somente para desafiar a lógica e seguir vivo.
Um time que tem fome.

Todos dão o favoritismo
ao adversário, que não hesitará em esmagar o claudicante time flamengo já no
início das finais, decidirá o título antes do jogo final. E, no entanto,
estamos aqui. O Flamengo está a um 0-0 do título, da glória. Anulou
meticulosamente o poderoso ataque adversário, suas tão decantadas peças pouco
produziram, seu líder cansou e sentiu o ritmo do jogo. Em nenhum momento seu
plano de jogo foi seriamente ameaçado. Inteligente, determinado e com muita fome,
o Flamengo, se não reverteu o favoritismo decretado pelos que sempre lhe
enxergam largos defeitos, ao menos dispõe de uma pequena, mas não desprezível
vantagem.

Assim sentirão na carne
os jovens Mauricinho, Geovani, Mazinho e Romário. Assim perceberá, novamente, o
experiente Roberto Dinamite. Assim ansiarão Bebeto, Jorginho, Aldair, Zé
Carlos, Marquinho. Assim se desenhará o capítulo final do Campeonato de 1986.
Assim seremos,
novamente, campeões.