terça-feira, 15 de outubro de 2013

Construção: Descontrução


Durante um papo com um "Butequeiro" que prefere não se identificar, relacionei por curiosidade as construtoras dos novos estádios da copa ou os influenciados diretamente por ela, inclusive o Engenhão. Nada contra os negócios, apenas ilustrei o mercado e o que o Flamengo pode ganhar com isso. Perdemos grandes oportunidades de negócio e parceria, "fixando" apenas o Maracanã e a Odebrecht, a "tábua de salvação". Abaixo os consórcios e as construções com estádios listados:

Estádios e Construtoras:
Maracanã – Odebrecht, Delta (Saiu), Andrade Gutierrez, SEOP/Rio (Secretaria de Obras Públicas)
Engenhão – Odebrecht, OAS, Delta, SEOP/Rio
Beira Rio – Andrade Gutierrez
Arena do Grêmio – OAS
Itaquerão – Odebrecht
Arena Palestra – Allianz Parque – Wtorre
Mineirão – Construcap/Egesa/Hap
Independência – Governo do Estado de MG e BWA.
Fonte Nova – OAS, Odebrecht
Pituaçu – Companhia de Obras do Estado da Bahia
Fortaleza – Galvão/Serveng/BWA
Presidente Vargas – Prefeitura Municipal de Fortaleza
Cuiabá – Santa Bárbara, Mendes Junior
Manaus – Andrade Gutierrez
Brasília – Camargo Correa*, Via Engenharia, Andrade Gutierrez * fontes diferentes
Recife – Odebrecht
Natal – OAS
Arena da Baixada – O Atlético Paranaense formou uma S/A para construir a Arena, com ajuda do Governo do Estado do Paraná e da Cidade de Curitiba.


É perceptível (e normal) a intercessão das construtoras em alguns empreendimentos. Existem opções variadas em relação a parcerias, modelos de negócios com construtoras, empreiteiras, qualquer coisa que não nos deixe presos a visão momentânea e a sensação de que não há jeito ou solução para um futuro próximo. Podemos sim pensar e planejar o médio prazo com critério, porque o conteúdo somos nós: clube + torcida + time = Marca Flamengo. Os azuis devem pensar nesse sentido, porém sabemos que a prioridade momentânea é pagar as dívidas e tirar a corda do pescoço (mas sem ganância, de preferência). 

Um modelo interessante é o do Atlético-PR, que criou uma S/A apenas para a reforma de seu estádio. Executivos foram contratados pelo clube somente para isso. Estão inclusas nesta S/A verba e parceria do Governo do Estado do Paraná e da Prefeitura de Curitiba, coisa que não teremos no Rio de jeito algum. No caso do Flamengo, o modelo de administração ficaria para gestão do estádio, não somente para a construção dele.

O acordo firmado com o Consórcio Maracanã S/A até 2016 foi bom, mesmo que eu ressalve que um contrato de ganho percentual por público (quanto maior o público, maior o percentual do clube) seria bem mais vantajoso do que foi acertado, o de ganho percentual por renda (quanto maior a renda, maior a fatia embolsada). Penso sinceramente que se o Flamengo agregar como cláusula, a obrigatoriedade de construção de um estádio na Gávea, como querem alguns conselheiros (e parece ter sido agregado), será um engano estratégico de médio prazo, uma desvantagem competitiva.

Pelos moldes especulados é criticável a questão da “elitização” forçada, imposta do torcedor. Um estádio “Vipão/Vipinho" na Gávea. Casa do FLAMENGO para 10 mil espectadores, não pode ser verdade?! Seria caro para um "torcedor comum" assistir a uma partida do time. Se pensarmos em uma família, piora. Fora a mudança BRUSCA no perfil desse torcedor. Melhor jogar logo no João Caetano, no Carlos Gomes, no Municipal... Teatro, né? 

Um estádio aceitável para o Flamengo gira entre 40 e 50 mil pessoas (o especulado neste momento é de 25 mil pessoas). Vejamos o exemplo inglês, onde estádios "médios" (35 a 50 mil pessoas em sua maioria) estão lotados. Comparemos com a demanda brasileira. Não é verdade afirmarmos que na década de 1980 só existiam estádios lotados, com públicos gigantescos. Existiam muitos jogos para 10 mil pagantes no Maracanã, também.

Corinthians, Palmeiras, Náutico, Atlético-PR, Botafogo e o Engenhão podem ser incluídos nesta nova lógica de estádios médios. Atualmente, não existe condição de lotar e construir estádio pra 120 mil presentes, não no Brasil de hoje. Aceitaria na "menor" das hipóteses um estádio para 30 mil pessoas ampliável, nada menos do que isso. Neste caso, jogaríamos no Maracanã os clássicos e  as partidas decisivas de copa (do Brasil, Sul-americana e Libertadores), de maior apelo.

As listagens abaixo demonstram que existem outras opções de investimento e empresas que possam querer ter o clube como aliado. Além disso, impressiona a quantidade de empreendimentos de algumas construtoras. Penso ser mais viável para o Flamengo trazer ao mercado carioca uma parceira que não esteja por aqui e que tenha poucos negócios exatamente para dar a “exclusividade”, que o clube merece:

Odebrecht – 5 estádios
OAS – 4 estádios
Andrade Gutierrez – 4 estádios
BWA (Tinha outros negócios, mas investiu para cuidar da gestão) – 2 estádios
Delta (interditada por decisão judicial, corrupção) – 2 estádios
Camargo Correa – 1 estádio
WTorre (preferiu ficar de fora da Copa) – 1 estádio
Mendes Júnior – 1 estádio
Santa Bárbara – 1 estádio
Galvão – 1 estádio
Serveng – 1 estádio
Egesa – 1 estádio
Construcap – 1 estádio
HAP – 1 estádio
Secretarias de obras estaduais ou municipais – 6 (contando a parte externa do Maracanã e o Engenhão, a SEOP/Rio)

Fonte principal:


Existem atores interessantes fora desta listagem, que chamaram atenção durante a simples pesquisa: o Grupo Advento, que promete construir estádios mais baratos e a construtora Ferreira Guedes que constrói estádios com módulos pré-moldados. Ambos foram alijados do processo quando estavam negociando diretamente a construção do estádio Itaquerão, eram favoritos.

Para além disso, nosso maior problema hoje é o terreno e o papo deve ser com o governo federal. O único local que a municipalidade não tem gerência são as ilhas, porque toda ilha pertence a UNIÃO. A melhor das opções é a ilha do Fundão, então nosso estádio poderia ser lá, desde que haja uma infraestrutura de transportes decente para isso. 

Há uma demanda atual e futura, com o estádio, para acreditar que pode dar certo. Lá estão alocadas empresas como Petrobras, Eletrobras, Detran-RJ (exames de habilitação), a UFRJ e o hospital do Fundão,  e outras que estão de mudança garantida para lá, como a GE e a Siemens. Ainda é possível se construir uma linha de BRT ligando aos aeroportos passando pela Ilha do Fundão. É só querer. Busque o mapa da cidade e confira a distância entre a ilha do Governador, a ilha do Fundão, o porto do Rio e as obras para o centro da cidade e veja se não é possivel.

Está claro com o xadrez político atual, que o clube não conseguiria nada com estes “governos vascaínos” (isso não é xingamento, conheço vascaínos honestos, muitos, como deve ser a maioria, só tem mau gosto, tadinhos...), nenhum licenciamento ou aprovação ambiental ou de qualquer outra ordem na região, isso é fato. Temos muitos inimigos.

Reafirmo que nada deve ser negociado diretamente com os governos locais, porque estes não vão dar vantagem para algo que sempre forram contra, os interesses do Flamengo. Bom seria não entrar em confronto, ao menos agora. O maior exemplo é o dinheiro prometido pela prefeitura e não entregue para a construção do CT. Que o Flamengo faça valer seu peso eleitoral e comece a construir e comunicar “algo” contra quem o prejudica. Sabemos quem está contra nós.

Caso o Flamengo queira, as listagens tem dados que "revelam" possíveis parceiros, diferentes dos presentes nos estádios do Rio de Janeiro, e que podem ter interesse no mercado do RJ. Pode ser muito mais lucrativo e longevo do que uma parceria atada às pressas com o Consórcio Maracanã. Isso pode nos “dar” além do estádio, caso seja construído fora da Gávea, um ginásio poliesportivo multiuso, dentro da Gávea, aumentando o patrimônio do clube. Pra mim uma opção bem melhor. E como não ficarei em cima do muro, escolheria entre WTorre, Mendes Júnior e Camargo Correa.  

FLAMENGO HIC ET UBIQUE!

P.S.: Vejam porque eu não gostaria que o Flamengo fizesse negócios com a Odebrecht: 
http://blogs.lancenet.com.br/rio2016/2013/10/03/e-a-conta-vai-para-o-povo/